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17 de jun. de 2011

Governo Dilma: balancete de seis meses



Aproxima-se o fim do primeiro semestre do governo Dilma. Sem entrar em reflexões profundas, vamos avaliar o saldo da estação partindo de quatro vetores: economia, política, sociedade e diplomacia.
Comecemos pela diplomacia. A questão central é saber se houve ou não uma ruptura com o modelo anterior de política externa; em seguida, ver se seus resultados foram positivos.
Inicialmente, considerávamos que a política externa de Dilma apresentaria mais uma evolução do que uma ruptura. Mantemos tal enfoque. No entanto, a postura adotada por Antonio Patriota guarda diferenças marcantes em relação ao modelo anterior, o que, num certo sentido, pode ser encarado como ruptura.
Entre essas diferenças, destacam-se um melhor diálogo com os Estados Unidos, a condenação do Irã na questão das sanções da ONU, uma relação menos calorosa com Hugo Chávez, a canelada na Argentina por conta do comércio exterior (licenças não automáticas) e a atitude mais dura na questão do antidumping.
O Brasil de Dilma continua a manter protagonismo positivo nas relações internacionais. Assim, o saldo é favorável.
No campo econômico, o Brasil também vai bem, ainda que mantenha em pauta os desafios da inflação e da política cambial. Nem mesmo a saída de Antonio Palocci da Casa Civil trouxe perspectivas negativas para o cenário de curto prazo.
Ainda que existam críticas à condução da política econômica, em especial aos gastos públicos, o modelo brasileiro está funcionando no que se refere à promoção de crescimento e de redução de desigualdades, amparada por um extraordinário colchão de reservas.
Vale ressaltar que, conforme recente pesquisa Datafolha (de 9 e 10 de junho), pioraram as expectativas da população em relação à inflação, ao desemprego e ao poder de compra.
A taxa de brasileiros que acredita em subida da inflação daqui para a frente subiu dez pontos percentuais nos últimos três meses. Em março, correspondia a 41% dos entrevistados; agora chega a 51%. Quanto ao desemprego, as opiniões se dividem – 32% acham que vai aumentar; 31%, que vai diminuir; e 33% apostam na manutenção dos números atuais. No levantamento feito há três meses, tais percentuais correspondiam a 27%, 39% e 31%, respectivamente.
Em relação ao poder de compra dos salários, também se nota maior equilíbrio na percepção da população. Em março, a maior parte (43%) contava com aumento do poder de compra, contra 18% que achavam que ele baixaria. Hoje, essas taxas são de 33% e 25%, respectivamente.
No campo político, a gestão de Dilma ainda não se encontrou. Os erros vêm desde o início em diversos setores: montagem de ministério, preenchimento de cargos de segundo e terceiro escalões, demora na liquidação de pendências orçamentárias (restos a pagar), práticas inconsistentes de diálogo com a base governista, insatisfações de lado a lado. É considerado um governo fechado demais.
O mais sério aspecto é o fato de que existem graves diferenças de percepções e de expectativas entre os principais “sócios” do governo. Uns acreditam que o PMDB é um mero coligado; já o partido se vê como sócio preferencial em uma estrutura de coabitação.
As fragilidades desembocaram em um prematuro encerramento da lua de mel com o Congresso, ainda que, em nome da precisão, não se possa dizer que o governo Dilma tenha perdido as condições de dialogar politicamente. Com um pouco mais de interlocução e alguns ajustes de expectativas, tudo pode voltar a melhorar.
Perante a sociedade, as fragilidades da nova gestão não pesam. O que vale é o governo conduzir bem a economia, a presidente manter-se blindada diante dos problemas internos e o diálogo com a mídia continuar muito bem conduzido por Helena Chagas.
Isso explica o resultado da pesquisa Datafolha, que apontou que metade dos brasileiros (49%) considera ótimo ou bom o novo governo. Em março, esse percentual era de 47%.
Assim, entre mortos e feridos, salvam-se todos, e o balancete de seis meses deve ser considerado positivo, apesar dos percalços e da prematura saída de Antonio Palocci. Dilma conseguiu se firmar como presidente. Mas, de ora em diante, os desafios tendem a ser mais complexos.


Murillo de Aragão é cientista político