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15 de jun. de 2011

O que eu queria ter sabido na escola!...

Eis aqui as cinco coisas que eu gostaria de ter percebido mais cedo na escola, e, por que não dizer, na vida.
 
1. Dar duro é muito, muito legal

“O Marty está se saindo muito bem na escola com pouquíssimo esforço. Ele costuma atrapalhar os outros.” Podiam ter tirado xerox do meu boletim do jardim de infância e usado nos 12 anos seguintes. Fui incrivelmente sortudo por ter nascido com um QI altíssimo. Quando nos testavam, a minha nota era melhor que a do meu professor – eu sei, sou uma aberração. Papai costumava dizer que eu ia acabar primeiro-ministro ou morando num vulcão, acariciando um gato e dizendo: “Eu o estava esperando, Sr. Bond.” Em consequência disso, eu era aquele idiota da turma todo metido a besta que achava indigno estudar com afinco e “bem legal” zombar de qualquer um que o fizesse. Infelizmente para mim, ser capaz de percorrer esses anos de formação me fez pensar que a minha vida inteira seria igual. Precisei de algumas grandes reprovações na faculdade de Farmácia, e que os meus primeiros patrões me dessem gentis pontapés no traseiro, para me fazer perceber que conseguir notas para passar – sem esforço algum – pode nos trazer um diploma, mas não nos dá a instrução necessária. Existe mais um boletim, chamado caráter, em que só se consegue nota máxima quando o esforço chega ao limite da capacidade, só pela satisfação de poder dizer: “Dei o melhor de mim.”
 
2. Enfrentar obstáculos é saudável 

Vemos pais que lavam as mãos dos filhos para protegê-los contra infecções. Naturalmente, assim que nossos filhos saem de perto, não existe desinfetante de mãos que os impeça de compartilhar mucos, piolhos e bactérias nos locais mais improváveis. E isso é bom. Fortalece o sistema imunológico e os mantém saudáveis.
 
Acontece o mesmo com ideias novas e opiniões diferentes. Precisamos misturar as coisas e conhecer gente nova ao longo da vida, só para manter uma perspectiva saudável.
 
Muitos colegas aos quais jamais dei uma chance na escola se tornaram grandes pessoas. Então, eu diria ao meu eu mais jovem: “Não se atenha só aos seus amigos. Faça um esforço para falar com pessoas que não caibam no molde usual, que desafiem o seu raciocínio e tornem a vida muito mais interessante. Não chegue aos 50 apenas com os mesmos amigos do ensino médio.”
 
3. Sempre se aprende com alguém

Meus amigos adolescentes e eu desperdiçávamos muito do tempo que poderíamos ter gasto estudando; éramos sarcásticos com todos os professores que não fossem exatamente iguais a nós ou aos nossos pais. O simples fato de seu professor de Geografia usar camisas que parecem feitas com pano de cortina não quer dizer que ele não sabe nada.
 
Lembro-me de um professor substituto que passara anos em comunidades aborígines. Ele podia ter ensinado muito ao meu ego de 15 anos, esnobe e de nariz em pé. Mas rejeitamos o cara de imediato porque ele tinha um olho virado para a direita. Então, quando o coitado olhava para nós e dizia “Você aí. Levante-se!”, dois alunos se levantavam. Hilário na época, constrangedor agora.
 
4. Todos somos provocados por coisas distintas

O que eu acho fácil e prazeroso pode aterrorizar você. Ouvi isto em conversa com uma alemã chamada Karen Goeb, cujo filho, Jensen, é cadeirante. Karen disse que vivia preocupadíssima, querendo saber como ele lidaria com a escola. Não precisava se preocupar, pois Jensen adora a escola e a escola o adora. Um dia, porém, quando Karen já ia começar a se parabenizar, Jensen chegou do colégio banhado em lágrimas, falando de “algo que aconteceu na aula de Ciências”.
 
Quando Karen perguntou:
 
– O que houve? Você se machucou? Alguém te provocou?
Jensen gritou, chorando:

– Não. Uns cientistas burros decidiram que Plutão não pode mais ser planeta!
 
5. Os resultados das provas não definem a nossa vida, o que a define é a nossa postura com relação ao aprendizado

É perfeitamente normal sair da escola sem saber que o permanganato de potássio gera uma chama roxa. Com todos os conhecimentos acumulados pela humanidade à distância de apenas uma pesquisa no Google, não são as nossas notas comparadas às dos outros alunos que importam, mas as nossas notas comparadas a como poderíamos ter nos saído bem. São hábitos e posturas formados pelo empenho dedicado à preparação para as provas que nos darão a vida que queremos.
 
Passei 20 anos tentando descobrir o que queria ser quando crescesse. Mas foi só no ano passado que descobri a resposta: “Continuar evoluindo. E escrever a respeito.” É por isso que agora, de todo o coração, sou grato aos meus professores – principalmente aos que tratei com tamanha falta de consideração – por me ensinarem o que o legendário físico Richard Feynman chamava de “o prazer de descobrir as coisas”.
 
Quando meu filho trouxe para casa seu primeiro boletim no ano passado, tivemos uma conversa proveitosa e eu disse a ele que, sim, ficara contente com as notas, mas o que me empolgou mesmo foi o comentário que dizia: “Connor adora aprender.”
 
Um brinde a mais um ano de provocações!    
 
 
Marty Wilson é comediante e palestrante. Seu livro mais recente é What I Wish I Knew About Love (O que eu gostaria de ter sabido sobre o amor), ainda não disponível no Brasil.