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23 de ago. de 2011

Fuxico de cidade peuena



É certo que cidadezinhas possuem sua singularidade e cada uma possui o seu charme, independente da sua localização, cultura e costumes. E não é diferente com São José da Safira, como o relatado em Welcome to safira City! Mas uma coisa que eu tenho quase certeza que existe em toda cidade desse porte é o fuxico. Assim que cheguei à cidade, fui arrebatado, como uma onda de um mar bravio,  pelas várias atualizações fuxicais: soube de dois casais que haviam trocado os pares (não entre si, mas com outras pessoas, também casadas), soube de uma moça que foi desencaminhada pelo seu “ficante” e foi obrigada, pelo pai a se casar (soube mais tarde que ela queria namorar com o rapaz, mas ninguém aprovava,  e então ela se entregou pra ele), soube também de outra moça que foi flagrada no ato com um rapaz numa rua escura, quando antes, jurava até a morte que não se encontrava com ele, uma adolescente que engravidou aos 14 anos e muitas, mas muitas outras história, que se eu parar pra contar vai dar um blog inteiro só de “Bafões do Safira”.
O curioso é que a maioria vêm de pessoas ligadas à igreja (que são os fuxiqueiros master). Aí eu fico pensando o que leva uma pessoa a ficar espalhando boatos dos outros por aí. E para descobrir isso parti de mim mesmo, que sou de cidade pequena e devo confessar que gosto de saber um fuxiquinho de vez em quando.
E por que é bom saber?
Penso que seja por que nos sentimos melhor quando os outros estão em situação pior do que a gente (embora inconscientemente na maioria das vezes). Gostamos de ouvir os fuxicos e pensar “ainda bem que isso não aconteceu comigo, apesar de acontecer nas melhores famílias”.
E por que é bom passar?
Ter a exclusividade de ser o primeiro ou o que sabe mais detalhes ou falar “eu vi”, deve produzir uma quantidade considerável de adrenalina e serotonina. A sensação é muito boa: não por que você está falando mal da pessoa e esteja feliz com isso, mas passar e repassar o inédito  causa uma certa satisfação do locutor.
Fuxicos como o do exemplo abaixo rolam soltos em Safira:
“Tá sabendo? Diz que o João Foi pros Estados Unidos e a Maria tá levando homem pra dentro de casa de noite!”
Isso se espalha como fogo na palha. Às vezes os boatos são tão sem fundamento, mas a língua é tão maligna (a própria bíblia fala) que aumenta imensamente um simples fato ocorrido. Talvez a lâmpada de Maria havia queimado, e ela, com medo de levar choque, chamou qualquer um que estivesse passando na rua pra trocar a sua lâmpada. Alguém vê (é impressionante como sempre tem alguém que vê!) e fala “Maria leva homens pra dentro de casa à noite”. Se cair na língua de uma pessoa que tem raiva de Maria, com poucos dias o fuxico estará assim “bafão! Eu detesto falar da vida dos outros, mas o povo tá falando que a Maria liberou pra todo mundo, diz que tá safada de mais: não esperou o pobre do João virar as costas que já leva homem toda noite pra casa dela. Agora, ‘cumadi’, diz que ela tá esperando filho que nem ela sabe de quem que é. Mas não conta isso pra ninguém não, que se me perguntar eu desminto.”

E assim vira uma bola de neve ( figurativamente, não a igreja), que começa pequeno e vai só aumentando, se espatifar. Depois que eu me mudei me libertei desse mal, pelo menos uma boa parte (eu acho). Mas eu também acho que pra cidadezinhas do interior não tem jeito. O povo não tem nada ou pouca coisa pra se fazer, então gastam o tempo livre falando do seu dia-a-dia e ainda mais do dia-a-dia dos outros. Quem vai segurar a língua do povo? Quem é que consegue?
É, a vidinha do interior é assim. Ame-a ou deixe-a. Ou faça como eu: deixe-a amando-a.