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16 de out. de 2011

A vida do viajante


É duro ser filho de um grande artista. Quem carrega consigo uma ascendência brilhante vai sempre carregar um peso caso queira seguir a carreira do pai, e sempre vai haver quem diga - por melhor que o filho seja - que ele jamais será uma sombra do que foi o pai. 
Nessa linhagem de pais e filhos, todavia, há um que se destaca, jutamente por ter trilhado seus próprios caminhos, sem dependência do sobrenome ou da influência do pai ilustre. O pai, nordestino, militar, de direita, tornou-se unanimidade como o "Rei do Baião": Luiz Gonzaga, o Gonzagão. O Outro, participou de festivais universitários, é carioca, canta músicas urbanas e é de esquerda. Falo de Gonzaguinha... 
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, A vida do ViajanteGonzaguinha teve uma vida cheia de caminhos tortuosos até firmar-se como artista: perdeu a mãe muito cedo, aos dois, anos, e como o pai não conseguia cuidar dele, pois estava sempre viajando, foi ele criado no Morro de São Carlos, no Rio de Janeiro com os padrinhos Dina e Xavier, um baiano que tocava violão, e por aí se vê que o instrumento musical de Gonzaguinha não era a sanfona, mas o violão. 
Depois de passar pelo M.A.U. (Movimento Artístico Universitário) e ter a maioria de suas músicas censuradas (para se ter ideia, para gravar 18 músicas, teve que submeter 72 à censura, isto é, 54 foram vetadas), somente após a consagração nacional é que Gonzaguinha se aproximou de Gonzagão artisticamente. 
E a redenção de ambos veio em 1980, com a realização do show conjunto "A Vida do Viajante", que reuniu pai e filho cheios de atenção um pelo outro, um rendendo homenagens ao outro. No livro "Gonzagão e Gonzaguinha" (Ediouro, 2006), Regina Echeverria transcreve depoimentos de um sobre o outro, fazendo referência à turnê de "A vida do viajante".

Gonzagão sobre Gonzaguinha

Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, A vida do Viajante"Gonzaguinha não ia querer, jamais, que pensassem que ele estava usando minha fama para se projetar. Esperou ser respeitado como cantor e compositor para depois ir enfrentar o povo do Nordeste, onde o pai dele é rei."
"Não vou ter maior chance artística na minha vida: me apresentar com o maior som e o artista mais badalado do momento, um rapaz que a cada dia se aperfeiçoa e é o meu próprio filho. Acho que ele está até mais bonito, faz charminho no palco e, se ganhar mais alguns quilinhos, então, as mulheres não vão resistir"
"Eu tenho medo de perder o privilégio de ser amigo de meu filho, que além de tudo é genial. Hoje ficou tão importante o nome de Gonzaga quanto o de Gonzaga Junior"

Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, A vida do Viajante"Mas acho que ele (Gonzaguinha) se encontrou com essas canções de amor mal vivido. Ele faz um baita sucesso"
Gonzaguinha sobre Gonzagão

"Nunca fui o Junior, com o instrumento e a simpatia do pai e por isso há quem pense que nem sou filho dele. O que fazer, não? Os rótulos nos são impostos e o importante é não vivê-los. Não é porque meu pai é quem é que eu deveria me dar bem com ele. Para falar a verdade, nem fui criado por ele, e hoje consigo entrar nesse assunto sem mágoa alguma. Aliás, foi ótimo não ter sido assim, porque vi de fora pra dentro o que ele significava nesta terra, o que ele significava na minha vida".
Um encontro de pai e filho... o pai, do nordeste, bonachão, carismático, com pouca formação, nordestino, militar; o filho, do Rio de Janeiro, comedido, universitário, de esquerda, tímido e com suas canções urbanas. Dois artistas distintos, um caso do filho que escapou à sombra do pai.  
A música Vida de Viajante, parceria de Gonzagão com Hervê Cordovil, é quase uma biografia daquele que sai pelo Brasil, com sua sanfona, deixando um poucoi de si e levando muito consigo com sua sanfona... título perfeito para o show de ambos... 

Fonte - musiblog