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4 de dez. de 2011

Álbum de recordações


Fera Ferida - o rompimento na voz de Roberto Carlos

O fim de uma relação em que há amor deixa sempre estilhaços. E ela sempre acaba permeada por canções tristes... Faço essa introdução para fazer uma referência a uma música de Roberto carlos, lançada no álbum de 1982, "Fera Ferida", que, como tantas outras canções de Roberto, é autobiográfica.
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Fera Ferida - o rompimento na voz de Roberto CarlosRoberto Carlos e Nice
Segundo conta Paulo César de Araújo, na biografia não autorizada de Roberto Carlos (Roberto Carlos em Detalhes, Ed. Planeta), a música foi composta após o rompimento com Nice, quando as brigas entre o casal se tornavam cada vez mais frequentes. Narra Paulo Cesar:

Nice se preocupava com os frequentes boatos que falavam da separação do casal. E, como forma de cessar esses boatos, ela propôs que os dois se casassem legalmente - já que após a aprovação da lei do divórcio, em 1977, isso se tornara possível. Roberto carlos não dizia nem sim nem não, simplesmente desconversava. Numa certa noite, após o jantar, Nice insistiu na proposta. Foi então que Roberto Carlos afirmou que, como eles estavam brigando muito ultimamente, seria melhor esperar um pouco mais antes de se casarem oficialmente. `Fiquei boba, estarrecida. Aí tivemos a maior briga. Virei a mesa, literalmente, quebrei copo, porque achei aquilo um desaforo brutal'. Revelou Nice...     
A partir daí, Roberto Carlos saiu de casa e compôs uma música para cantar de modo sofrido a separação (como já cantara o amor por ela, nas músicas Como é grande o meu amor por você e Amada Amante, por exemplo). Essa música foi Fera Ferida. 
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A letra fala de maneira dura de um rompimento, que atinge o corpo, a alma e os sonhos. As brigas deixaram marcas, e o modo com o qual Roberto põe os sentimentos sugere que  ele está chorando essa dor...
Em seguida, se diz domesticado, e por isso se deixou enganar e levar, e a música denota e reflete toda a mágoa que se recusa a esquecer... a razão diz que se deve perdoar, mas o coração guarda ressentimento.
Mas o refrão mostra o inconformismo com os rumos da relação, e o sujeito, mesmo ferido, toma a iniciativa do rompimento.
O eu-lírico procura afago após toda a tristeza e dor da separação... pois está decidido. Rcorda os bons momentos, e também das cicatrizes. 
Como todas músicas confessionais, é pungente. Traduzida na mágoa do fim de uma relação turbulenta, Roberto Carlos entrega os pontos e expõe suas chagas... A letra, que inspirou o título de uma novela e foi também gravada por Caetano e Bethânia.
Acabei com tudo
Escapei com vida
Tive as roupas e os sonhos
Rasgados na minha saída
Mas saí ferido
Sufocando meu gemido
Fui o alvo perfeito
Muitas vezes no peito atingido
Animal arisco
Domesticado esquece o risco
Me deixei enganar
E até me levar por você
Eu sei
Quanta tristeza eu tive
Mas mesmo assim se vive
Morrendo aos poucos por amor
Eu sei
O coração perdoa
Mas não esquece à toa
E eu não me esqueci
Eu andei demais
Não olhei pra trás
Era solto em meus passos
Bicho livre, sem rumo, sem laços
Me senti sozinho
Tropeçando em meu caminho
À procura de abrigo
Uma ajuda, um lugar, um amigo
Animal ferido
Por instinto decidido
Os meus rastros desfiz
Tentativa infeliz de esquecer
Eu sei
Que flores existiram
Mas que não resistiram
A vendavais constantes
Eu sei
Que as cicatrizes falam
Mas as palavras calam
O que eu não me esqueci
Não vou mudar
Esse caso não tem solução
Sou fera ferida
No corpo, na alma e no coração
Não vou mudar
Esse caso não tem solução
Sou fera ferida
No corpo, na alma e no coração


Put your records on - Corinne Bailey Rae. Imobilismo, movimento e homenagem a Bob Marley

Algumas músicas a gente escuta uma vez e ficam, outras se perdem e retornam a seus ouvidos... recentemente estava ouvindo a música Put your records on, de Corinne Railey Bay, do ano de 2006. 
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Corinne, inglesa cujo pai é da ilha de São Cristóvão, cantora de soul músic, com uma boa formação musical, uma voz afinada, e uma música que evoca sentimentos de liberdade...
 Quando se analisa o refrão:
Girl, put your records on,
tell me your favorite song.
You go ahead, let your hair down.
Sapphire and faded jeans,
I hope you get your dreams.
Just go ahead, let your hair down.
You're gonna find yourself some where,some how.

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Numa tradução livre, pode ser algo como assim:Garota, coloque seu som para tocar, me diga sua musica favorita, vá em frente, deixe seus cabelos soltos, coloque seu jeans desbotado, pois de alguma forma, você vai se encontrar... é como se o refrão dissesse, aproveite, não se preocupe tanto...
No começo da canção, uma homenagem a Bob Marley (Three little birds, sat on my window), em homenagem à famosa canção Three little birds. (Aliás, Corinne gravou is this love, de Marley, o que mostra não ser por acaso a referência ao jamaicano), e num clima bem relaxado, esses pássaros dizem que não é preciso se preocupar, e se faz referência ao verão com cheiro de canela, as crianças brincando...
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A partir daí, a música passa a fazer suas antíteses entre mudança e movimento, na medida em que as coisas mudam na medida em que parecem as mesmas, e que quanto mais você permanece o mesmo, mais as coisas mudam... o relativismo da imobilidade e da mudança  
A personagem com quem o eu-lírico dialoga é instado a relaxar, mesmo havendo erros, mesmo com medo, é chamada a vencer a melancolia... o video da canção, com sol, paisagens abertas e bicicletas, é um convite à alegria e à felicidade, embora seja talvez mais interessante ouvir essa musica ao cair da noite... ou quem sabe, ao cair da madrugada. 
Música boa de se ouvir...

A banda mais bonita da cidade - Ainda sobre "Oração"

Estava aqui pensando se há algo de novo a ser dito sobre a Banda Mais Bonita da Cidade, e seu megassucesso da internet, a curta e  viciante música "Oração"... 
Para quem não conhece a história, a banda curitibana se reuniu num casarão na divisa do Paraná com Santa Catarina em fevereiro de 2011, e gravaram três clipes, sendo que um deles, "Oração", já teve mais de 5 milhões de visualisações no Youtube, e se espalhou pela internet como se espalham milhares de videos com mensagens divertidas, engraçadas, intrigantes...
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Mas o que faz esse video diferente e especial, para que não seja mais um sucesso tão passageiro como "as arvores somos nozes", "sanduíche-iche" entre outros fogos-fátuos que se espalham e desaparecem? 
Na verdade, chama a atenção que, embora simples, o vídeo, a canção são produzidos com apuro e com cuidado. É feito como se fosse amador, mas com um apuro profissional.
A canção com cinco acordes e dez versos, é circular, pois o fim remete ao começo, sem refrão, com uma referência ao amor  que começa e terminam como um círculo, uma oração que faz referência ao quão grande é o amor que cabe no coração, e maior que elementos do cotidiano, como a despensa e a penteadeira.
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Muita gente faz referência ao clipe como uma experiência hippie, mas na verdade ela remete a algo completamente pós-moderno, idílico, em que pessoas se reúnem apenas para ter a oportunidade de cantar e compartilhar uma música. Se um observador de Marte visse a cena (só uma breve homenagem a Karl Popper, que não tem nada a ver com música), certamente estranharia pessoas se comportando daquele jeito, mas apenas celebrando, celebrando o cantar, num arranjo cheios de cordas (numa contrapartida à tendência percussiva da contemporaneidade). 
O clipe tem 6 minutos, afinal, reflete aqueles momentos em que pessoas cantam e que parecem não ter começo nem ter fim. Pessoas juntas cantando ao redor de um ou mais instrumentos, jovens, felizes, alegres, parece que estão cantando desde sempre e que a música hipnótica não vai parar.
Ninguém sabe se a Banda Mais Bonita da Cidade é um raio ou se veio para ficar. Às vezes um sucesso fenomenal pode ser um grande começo. Ou talvez o fim de uma banda. Muita gente falou bem, mal, alguns disseram que não trouxeram nada de novo, ressaltaram a influência Indie da canção.
É certo que essa música já fez sua parte na história da Banda. Se ela vai se multiplicar, ninguém sabe. Se eles vão ficar reféns desse sucesso, ninguém sabe também. Talvez seja uma música em que eles se serão obrigados a tocar sempre (assim como os Rolling Stones tocam Satisfaction até hoje), ou uma música da qual eles vão querer se livrar (Os Los Hermanos deixaram de tocar Anna Júlia - e ninguém que gosta da banda se incomodou com isso) 
Mas esse primeiro sucesso traz uma marca. De uma banda que não começou ontem. Mas que saiba resistir aos excessos naturais do primeiro sucesso e que possamos falar dela depois de amanhã. 
A letra: 
Meu amor essa é a última oração
Pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa
Cabe o meu amor!
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe nós dois
Cabe até o meu amor, essa é a última oração
Pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa
Cabe o meu amor!
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe nós dois
Cabe até o meu amor...

Carro Velho: 2 versões... Banda Eva (Com Ivete Sangalo)  A diversão

Falei há pouco da versão revoltada com a injustiça que permeia a música "Carro Velho", dos Paralamas, gravada em 1991. Em 1998, outra música com o nome de "Carro Velho" faz sucesso. Foi no último disco de Ivete Sangalo à frente da Banda Eva. 
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Carro Velho: 2 versões... Banda Eva (Com Ivete Sangalo) (Parte 2) A diversão
Nesse caso, o carro velho é visto de uma maneira muito mais lúdica, como uma alternativa ao "andar a pé"... me fez lembrar do meu primeiro carro... carro velho, usado, que tinha o não honroso apelido de "Fumaça" (repararam que apenas carro velho tem apelido? Como se fosse para dar um certo charme ao veículo...)"
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Carro Velho: 2 versões... Banda Eva (Com Ivete Sangalo) (Parte 2) A diversão
Nas música, os defeitos do carro velho são elencados de maneira bem-humorada, como o pneu queimado e o  carburador furado, mas não tem problema, porque o importante, afinal, para o "eu-lírico" feminino, é ter o negão do lado, com quem ela pode se soltar, beber, e ele até guiá-la depois da bebida. 
Afinal, esse carro velho, diferente da canção do paralamas, não é de alguém frustrado por não ter o carro novo e cuja saída é ganhar na loteria... aqui o carro velho não é vergonha, parece o primeiro veículo de alguém que andava a pé, ou, como se diz na Bahia, de "buzu", e que agora pode dirigir sua "arabaca", feliz da vida, com o negão do lado, de noite ou de dia, sem se preocupar com a carona ou com o horário do ônibus.
Composição de Ivete Sangalo e Ninha (muitos anos a voz da Timbalada), a músicva tem a cara e irreverência da sua intérprete, na época vocalista da Banda Eva. 
Cheiro de pneu queimado
Carburador furado, coração dilacerado
Quero o meu negão do lado
Cabelo penteado no meu carro envenenado

Eu vou, eu vou
Então venha
Pois eu sei que amar a pé amor
É lenha

Eu vou pra la dançar, seja noite ou seja dia
E se eu beber alguma amor, ouou me guia

Quer andar de carro velho, amor
Que venha, pois eu sei que amar a pé amor
É lenha

Carro Velho:  Paralamas do Sucesso  A revolta

O que significa ter um carro velho? A música brasielira (menos que as americanas, é claro) destaca algumas canções em que o carro aparece como personagem principal. Pode-se lembrar o "Carango", cantada por Simonal, bem como algumas músicas de Roberto Carlos, com destaque para "O  Calhambeque". 
Mas e o carro velho? Motivo de orgulho ou de vergonha? De carinho ou de revolta? Duas músicas, uma gravada pelos Paralamas do sucesso, e outra, por Ivete Sangalo, tratam o assunto de maneira absolutamente paradoxal. 
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Carro Velho: 2 versões... Paralamas do Sucesso (Parte 1)  A revolta
A primeira música, dos Paralamas, é uma música revoltada... começa dizendo que se é pra ter carro velho, é melhor nem ter, pois se é pra ficar no caminho, é melhor ficar a pé. Por trás da música, o sonho de ganhar sozinho (na loteria, certamente), e aí que todos vão ver...
O carro velho é um símbolo de um sujeito pobre, que não tem acesso aos bens de consumo, e que não quer um carro para que os filhos tenham vergonha dele, nem que seja motivo de chacota dos vizinhos.
A música de um trabalhador revoltado com a tristeza, que não se contenta com pouco, mas que não vê meios de mudar essa situação pelos meios ordinários... O ano era 1991, no disco Os Grãos... Collor era o Presidente da República, e o Brasil vivia numa eterna crise, política, econômica, social e ética...
Vale o video do Programa Livre, em 1984.   

A Lista - Uma análise crítica da canção de Oswaldo Montenegro

Conheço muita gente que se impacta com a música "A Lista", de Oswaldo Montenegro. A música foi composta para uma peça teatral do mesmo nome. 
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Quando a ouvi pela primeira vez, pensei com detalhes da letra... dos amigos que se foram, dos sonhos que não se realizaram, dos amores que a vida trouxe e levou embora. Uma vida que remete a um passado de sonhos, de amigos, de segredos, de busca de mistérios, de "defeitos encantadores", de pessoas que se amavam e que hoje não o amam mais...
A letra, composta de estrofes de quatro versos, compara o passado e o presente, um presente de desecanto, em que a mentira, os "defeitos sanados" e as músicas quase esquecidas se contrapõem à juventide de sonhos, amigos e esperança...
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, A Lista - Uma análise crítica da canção de Oswaldo Montenegro
Quando se pesquisa sobre a letra da música em blogs e textos, é difícil perceber quem faça uma análise crítica de sua letra. A maioria dos textos exprimem uma identificação, admiração pelo texto, pela mensagem. Ela foi classificada como "emocionante", "impressionante", "um tapa na cara"... Não há dúvida que é uma música nostálgica de quem se sente infeliz por ter desperdiçado a vida, os sonhos, os amores...  
Não há dúvida de que se trata de uma música nostálgica. Todas as referências ao passado são idílicas. Imagina-se o eu-lírico no passado, cheio de juventude, de sonhos, de amigos, cheio de amor para dar e receber... quantas ideias, quantos segredos, quantos mistério...
O hoje é tratado de maneira sombria e melancólica. É como se o tempo tivesse corrompido a pureza da juventude, ao ponto do sujeito não mais reconhecer sua "essência", pois ela está na "foto do passado" ou no "espelho de agora?"
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Os sonhos se perderam, como se perderam "os amores jurados pra sempre"... há um pouco da famosa "síndrome de Peter Pan" na canção, porque ela relaciona o devir do tempo com corrosão, corrupção, o passar dos anos conspurca sua vida, seus sonhos, e por isso é uma canção de desencanto e de desesperança.
A mensagem final passa que éramos melhores quando éramos jovens, cheios de sonhos e de ingenuidade...  enfim... I want to be forever young... enfim, é uma idealização da própria juventude, em contraponto com a maturidade... e como toda idealização, exagerada e parcial, o que não retira o valor da canção...
A letra...
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...


Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?


Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?



Fonte -