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26 de dez. de 2010

Enquanto te despes!...



A tarde morna, sensual, lânguida, no poente
vai descendo de manso, lentamente,
em dobras roxas pelos espaços...
- como a tua camisa quando te despes
displicente
para a ansiedade eterna dos meus braços...

A tarde
presa naquele cume de montanha,
fugindo suavemente, silenciosa,
com a cautela de alguém que espreitasse o horizonte
cheia de receios,
- parece, no teu corpo assetinado e quente,
a camisa cor de rosa
e indolente
que encontrou ao cair a arrogância dos bicos
dos teus seios...

A tarde vai caindo, e vacila, e demora
naquele cimo de montanha
que esbatido no azul das distâncias, agora,
num forte tom vermelho
se ruboriza,
- tal como a tua camisa
toda vez
que indiferente à minha sofreguidão,
roçando em teus quadris, parando em teu joelho,
vai descendo, descendo, em dobras, molemente,
em dobras suaves de seda a desmaiar plisses
sobre o chão

A tarde morna, com seus tons dúbios de luz
fugidia,
tem esse calor distante
esse vago perfume
e esse gesto indolente e cheio de torpor,
- da camisa ao soltar-se dos teus ombros nus
em carícias estranhas,
no instante em que teu corpo, branco como o dia,
encontra nos meus braços o abraço das montanhas
para a Noite de amor...