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29 de mai. de 2011

A fábula das flores


Por volta do ano 250 a.C., na China antiga, um certo príncipe da região de Thing-Zda, norte do país, estava às vésperas de ser coroado imperador, mas, de acordo com a lei, ele deveria se casar. Sabendo disso, ele resolveu fazer uma "disputa" entre as moças da corte ou quem quer que se achasse digna de sua auspiciosa proposta. No dia seguinte, o príncipe anunciou que receberia, numa celebração especial, todas as pretendentes e lançaria um desafio. Uma velha senhora, serva do palácio, há muitos anos, ouvindo os comentários sobre os preparativos, sentiu uma leve tristeza, pois sabia que sua jovem filha nutria um sentimento de profundo amor pelo príncipe. Ao chegar em casa e relatar o fato à jovem, espantou-se ao ouvir que ela pretendia ir à celebração, e indagou incrédula: “Minha filha, o que você fará lá? Estarão presentes todas as mais belas e ricas moças da corte. Tire esta idéia insensata da cabeça, eu sei que você deve estar sofrendo, mas não torne o sofrimento uma loucura”. E a filha respondeu: “Não querida mãe, não estou sofrendo e muito menos louca, eu sei que jamais poderei ser a escolhida, mas é minha oportunidade de ficar pelo menos alguns momentos perto do príncipe, isto já me torna feliz, pois sei que meu destino é outro”. À noite, a jovem chegou ao palácio. Lá estavam, de fato, as mais belas moças, com as mais belas roupas, com as mais belas jóias e com as mais determinadas intenções. Finalmente, o príncipe anunciou o desafio: “Darei, para cada uma de vocês, uma semente.  Aquela que, dentro de seis meses, me trouxer a mais bela flor, será escolhida minha esposa e futura imperatriz da China”. A proposta do príncipe não fugiu às profundas tradições daquele povo que valorizava muito a especialidade de "cultivar" algo, sejam costumes, amizades, relacionamentos etc... O tempo passou e a doce jovem, como não tinha muita habilidade nas artes da jardinagem, cuidava da planta com muita paciência e ternura, pois sabia que, se a beleza das flores surgisse na mesma extensão de seu amor, ela não precisava preocupar-se com o resultado. Passaram-se três meses e nada surgiu. A jovem de tudo tentara, usara de todos os métodos que conhecia, mas nada havia nascido e, dia a dia, ela percebia, cada vez mais longe, o seu sonho, mas cada vez mais profundo o seu amor.  Por fim, os seis meses haviam passado e nada ela havia cultivado. 

Consciente do seu esforço e dedicação, comunicou à sua mãe que, independente das circunstâncias , retornaria ao palácio, na data e hora combinadas, pois não pretendia nada, além do que mais alguns momentos na companhia do príncipe. Na hora marcada, estava lá, com seu vaso vazio, ao passo que cada uma das pretendentes trazia uma flor mais bela do que a outra, com as mais variadas formas e cores. Ela estava absorta, nunca havia presenciado tão bela cena. E, finalmente, chega o momento esperado, o príncipe chega e observa cada uma das pretendentes com muito cuidado e atenção e, após passar por todas, uma a uma, ele anuncia o resultado e indica a bela jovem como sua futura esposa. As pessoas presentes tiveram as mais inusitadas reações, ninguém compreendeu porque ele havia escolhido justamente aquela que nada havia cultivado, então, calmamente ele esclareceu: “Esta foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de se tornar uma imperatriz, a flor da honestidade, pois todas as sementes que entreguei eram estéreis”.