STF decidiu pela não extradição de Cesare Battisti
Supremo Tribunal Federal - STF |
- O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quarta-feira (8) que o ex-ativista italiano Cesare Battisti não será extraditado e poderá ser liberado da prisão para viver como cidadão comum no Brasil. Battisti foi condenado por um tribunal italiano que o considerou culpado pelos assassinatos de quatro pessoas na década de 70 e sua extradição era exigida pela Itália. O ex-ativista foi detido no Rio de Janeiro em março de 2007, durante uma operação conjunta realizada por agentes de Brasil, França e Itália, e desde então continuava preso.
Por 6 votos a 3, os ministros se posicionaram a favor da soltura e contra a extradição de Battisti, contrariando voto do relator, o ministro Gilmar Mendes. Votaram pela liberdade do ex-ativista Luiz Fux, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa, Ayres Britto e Marco Aurélio Mello. Contra a liberdade ficaram, além de Mendes, os ministros Ellen Gracie e Cezar Peluso. Os ministros José Antonio Toffoli e Celso de Mello não participam do julgamento, por se julgaram impedidos.
“Nada mais resta a fazer a esta Suprema Corte [a não ser emitir o alvará de soltura a Battisti]", resumiu Lewandowski. “Eu defiro uma imediata expedição de um alvará de soltura do extraditando”, afirmou Barbosa.
Segundo informações do advogado de Battisti, o ex-ativista deve ser libertado amanhã. “Acho que operacionalmente é complexo a saída ser hoje ainda. Possivelmente, amanhã de manhã. Não creio nem que as autoridades carcerárias tenham condições físicas e operacionais de executar a saída dele [hoje]", disse Luis Roberto Barroso.
Foto 1 de 19 - O ativista Cesare Battisti (o primeiro, à esquerda) na prisão em Milão, na Itália, em 1980 Mais Arquivo Corsera
Os magistrados concordaram que a extradição se trata de um assunto de relações internacionais e que fica a cargo do presidente da República e não do STF –uma vez que a reclamação da Itália feriria a soberania brasileira e o princípio da não interferência em assuntos internos.
Para advogado do governo italiano, decisão do STF é ilegal
Defesa e acusação
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e o advogado-geral da União, Luis Inácio Adams fizeram discursos semelhantes no sentido de apontar que a Itália não tem legitimidade para se contrapor a uma decisão soberana do Brasil.“[A rejeição da extradição] foi ato soberano da Presidência da República. Não se trata de litígio entre os dois Estados, mas de dois governos. Falta à República da Itália legitimidade para propor uma reclamação constitucional ao Supremo Tribunal Federal”, afirmou Gurgel.
Além da questão da soberania, o advogado de Battisti, Luis Roberto Barroso, definiu a decisão de Lula como “justa, juridicamente correta e moralmente legítima”.
Barroso destacou o “comportamento pacato” de seu cliente e o fato de ter passado mais de 32 anos dos últimos eventos relacionados a Battisti, que já não teria outra motivação do governo italiano senão a “vingança contra o ex-ativista”.
Para o advogado, Battisti é vítima de “uma vingança histórica dos vencedores contra os vencidos da Guerra Fria, quando havia um clima de tensão e perseguição entre capitalistas e socialistas”. “O Brasil concedeu anistia a militantes da esquerda e da direita e dos agentes do Estado pelos mesmos fatos ocorridos no período [e que Battisti é julgado na Itália]”, afirmou.
O advogado Nabor Bulhões, que representa a Itália, avaliou que o então presidente da República “deve ter sido induzido em erro”. “A execução da pena (...) é exercida por judiciário, e não por sessões da imprensa ou por parlamentar que pode ter produzido declaração infeliz. [Acreditar em perseguição] significa lançar sobre as instituições judiciárias italianas uma suspeita absolutamente infundada, absolutamente irrazoável e absolutamente insubsistente”, disse Bulhões.
Manifestantes pedem a liberdade de Battisti em frente ao STF
Histórico do caso
Battisti foi julgado por um tribunal italiano que o considerou culpado pelos assassinatos de quatro pessoas entre 1977 e 1979, quando era militante do grupo PAC (Proletários Armados pelo Comunismo). Sem estar presente no julgamento, ele foi condenado à prisão perpétua. O italiano nega os crimes, mas tanto o governo conservador como esquerdistas querem seu retorno ao país.Cesare Battisti foi detido no Rio de Janeiro em março de 2007, durante uma operação conjunta realizada por agentes de Brasil, França e Itália. De lá foi encaminhado o Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, onde permanece desde então.
A pendenga entre os dois países começou em 2007, quando o então ministro da Justiça, Tarso Genro, deu status de refugiado político a Battisti, alegando que ele sofria perseguição política na Itália. O governo Berlusconi reagiu com críticas públicas e ameaças ao Brasil, prometendo contestar a decisão na Justiça.
O Supremo decidiu pela extradição de Battisti em 18 de novembro de 2009, por 5 votos a 4, mas indicou que Lula teria a palavra final sobre o assunto, tendo como base o acordo entre os dois países para lidar com o assunto. Em 31 de dezembro do ano passado, o petista manteve o ex-ativista no Brasil.