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31 de jul. de 2011

CAUSOS COM Z E COM S



Uma crônica portuguesa, com certeza!


                 Waldeban Medeiros



Era considerado um tremendo marialva!

Sentado na esplanada, acenou ao empregado de mesa e pediu uma cerveja de pressão e como acompanhamento, uma punheta de bacalhau. Degustando, lembrou-se de comprar uma prenda para comemorar do aniversário da Maria, linda cachopa dona de um rabiosque pra ninguém botar defeito, que há muito tempo vinha tentando conquistá-la. O que ele não sabia é que  a mesma era um tanto pirosa.

Saiu da esplanada rapidamente, entrou numa dessas lojas “pronto a vestir”, comprou um fato de banho e saiu pussidônio de que levava a prenda mais bonita  e interessante .

Aparcou seu carro e dirigiu-se ao seu andar. Ligou o atendedor automático e escutou:
          
-Está lá, cá quem fala é Maria! Conforme promessa, estou te dando uma apitadela. Espero-te lá pelas nove ao pé da estátua do marquês de Pombal. Vens logo, pois o dia se arrefece muito rápido.
          
 Não restavam dúvidas – pensou ele – atempadamente a Maria havia decidido dar uma queca com ele. Valeu a espera!  Completou seus pensamentos.

Saiu feito um parvo que nem sequer chegou a notar a passadeira e quase foi atropelado. Engatou marcha-atrás para tirar seu carro do estacionamento e partiu em disparada, rumo ao tão esperado encontro! Deparou-se com um grande embotalhamento. Irritou-se com a bicha de autos, o trânsito estava condicionado. A estrada se encontrava em beneficiação devido a uma horrível buzaranha acontecida no dia anterior que havia destruído tudo, inclusive derrubando algumas árvores.

Ficou especado! As horas passavam–se céleres. Não chegaria a tempo para o encontro! Sua aparência era de alguém que tivesse levado um estalo na cara! Além do mais, para seu estorvo, o carro que conduzia começou a grilar. Num repente, abandonou o carro sabendo que o mesmo poderia  ser arrastado pela grua. Tomou o primeiro elétrico que passou! Sua fisionomia era a de um chalado com a cara de um Charlô. Precisava chegar a esse encontro de qualquer maneira!

Bem defronte à estátua de marquês de  Pombal, local do encontro, havia uma  grande esplanada. Ávido, sentou-se e ouviu do empregado de mesas:
        
 - A senhoria fez a marcação?

- Ora, pois! Não amola! Me traga uma espirituosa com água lisa ou vá dar de corpo! – respondeu deseducadamente, com grande estardalhaço.

Às páginas tantas, compreendera que tinha perdido o encontro com a Maria, pois já se passavam quinze minutos das seis horas. Começou a passar dos carretos com esta realidade, imaginando a Maria nos braços de outro, nomeadamente se for nos braços de um desses caras peneirentos, pois a Maria não era lá de tanta confiança.

Tomou mais duas espirituosas, acendeu discretamente uma ganza e meditou, quase filosofando:

- Onde já se viu um cabeça arrumada como o gajo aqui, ficar cadela por causa de uma cachopa qualquer?

Porém, seu maior drama era o medo de ficar cabrão, tormento que não lhe saia da cabeça. Afinal, chegara a conclusão de que o encontro redundara num enorme falhanço com fortes indícios de que havia perdido toda a ponta pela Maria, alimentado pela dúvida atroz que atormentava o seu juízo: não sabia se dava outra hipótese pra cachopa ou se aplicava uma tremenda tareia nela.

(Escrito com auxílio da 8ª edição do livro de Mário Prata, “Dicionário de Português - Schifaizfavoire” –  Editora Globo – 1993)

  

Dicionário de Termos Utilizados

Às páginas tantas – a certa altura

Chalado – doido

Grua – reboque, guincho

Ao pé da estátua... – significa ao lado

Charlô – o personagem Carlitos

Hipótese – chance

Água lisa – água sem gás

Condicionado – engarrafado, congestionado

Marialva – conquistador

Bicha – fila

Andar – apartamento

Dar de corpo –  cagar

Marcha-atrás – marcha a ré

Aparcar – estacionar o carro

Elétrico – bonde

Nomeadamente – principalmente

Atendedor automático – secretária eletrônica

Embotalhamento – engarrafamento

Passadeira – passagem de pedestre

Apitadela – telefonema

Especado – parado, imóvel

Passar dos carretos – perder a paciência

Arrefecer – esfriar

Empregado de mesas – garçom

Peneirentos – vaidoso, metido a besta


Obs.: Este artigo é do ex-coletor estadual Waldeban Medeiros. Ele trabalhou e residiu em Sousa por muitos anos e, ainda hoje tem suas recordações voltadas para nossa terrinha, a Cidade Sorriso da Paraíba!

Escritor, Waldeban nos envia por email esta obra prima da literatura. E aqui publico o artigo cheio de muito orgulho até, por tratar-se  de um texto de nível maior que  nossa Trilha do Castelo!

E o Waldebam tem um blog. Você que neste momento curte esta leitura descontraído e gosta do gênero, acesse http:/www./medewal-meuscausos.blogspot.com e, se não for pedir demais, siga o Blog para ler matérias incríveis!