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29 de out. de 2011

Revivendo emoções


A Lista - Uma análise crítica da canção de Oswaldo Montenegro

Conheço muita gente que se impacta com a música "A Lista", de Oswaldo Montenegro. A música foi composta para uma peça teatral do mesmo nome. 
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Quando a ouvi pela primeira vez, pensei com detalhes da letra... dos amigos que se foram, dos sonhos que não se realizaram, dos amores que a vida trouxe e levou embora. Uma vida que remete a um passado de sonhos, de amigos, de segredos, de busca de mistérios, de "defeitos encantadores", de pessoas que se amavam e que hoje não o amam mais...
A letra, composta de estrofes de quatro versos, compara o passado e o presente, um presente de desecanto, em que a mentira, os "defeitos sanados" e as músicas quase esquecidas se contrapõem à juventide de sonhos, amigos e esperança...
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Quando se pesquisa sobre a letra da música em blogs e textos, é difícil perceber quem faça uma análise crítica de sua letra. A maioria dos textos exprimem uma identificação, admiração pelo texto, pela mensagem. Ela foi classificada como "emocionante", "impressionante", "um tapa na cara"... Não há dúvida que é uma música nostálgica de quem se sente infeliz por ter desperdiçado a vida, os sonhos, os amores...  
Não há dúvida de que se trata de uma música nostálgica. Todas as referências ao passado são idílicas. Imagina-se o eu-lírico no passado, cheio de juventude, de sonhos, de amigos, cheio de amor para dar e receber... quantas ideias, quantos segredos, quantos mistério...
O hoje é tratado de maneira sombria e melancólica. É como se o tempo tivesse corrompido a pureza da juventude, ao ponto do sujeito não mais reconhecer sua "essência", pois ela está na "foto do passado" ou no "espelho de agora?"
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Os sonhos se perderam, como se perderam "os amores jurados pra sempre"... há um pouco da famosa "síndrome de Peter Pan" na canção, porque ela relaciona o devir do tempo com corrosão, corrupção, o passar dos anos conspurca sua vida, seus sonhos, e por isso é uma canção de desencanto e de desesperança.
A mensagem final passa que éramos melhores quando éramos jovens, cheios de sonhos e de ingenuidade...  enfim... I want to be forever young... enfim, é uma idealização da própria juventude, em contraponto com a maturidade... e como toda idealização, exagerada e parcial, o que não retira o valor da canção...
A letra...
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...


Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?


Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?


Por que a gente é assim?

Numa madrugada de 1984, Cazuza e Ezequiel Neves (que seria uma espécie de "mentor" de Cazuza compuseram a música "Por que a gente é assim", que teve também participação de Frejat. A música é um verdadeiro hino de uma geração. 
Ezequiel Neves, comentando a letra no Livro "Cazuza - preciso dizer que te amo (Globo, 2001), comenta mais ou menos como a letra surgiu:
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Ezequiel Neves e Cazuza
Eu e Cazuza tínhamos esse bordão, que a gente repetia sempre que aprontava alguma na noite. A letra nasceu numa madrugada de 1984. Foi numa noite em que estávamos doidos demais. Olhei para o Cazuza e disse: 'Você sabe que eu tenho quatro versos que explicam isso?' Os versos eram: 'Canibais de nós mesmos/ Antes que a terra nos coma/ Cem gramas, sem dramas'. E Cazuza completou: 'Por que a gente é assim?' E ali mesmo começou a criar a letra, que considero o manifesto de uma geração. cazuza teve logo a ideia de outra imagem forte: Você tem exatamente três mil horas pra parar de me beijar. Os meninos do Barão, no começo, resistiram a esse verso, que remete, na verdade, para uma piada sobre homossexuais, mas acabaram cedendo". 
 A música é absolutamente hedonoista, que começou justamente com o "canibais de nós mesmos/ antes que a terra nos coma":  Em outras palavras, cada pessoa deve se consumir, se devorar, se aproveitar antes de morrer... uma bebida, a noite e o desejo... há uma clara inferência às drogas, ao álcool, e ao desejo ela associado, um pedido de que alguém seja devorado, mastigado, beijado, tudo parece o amor eterno de uma noite de prazer...

Mais uma dose?
É claro que eu estou a fim
A noite nunca tem fim
Por que que a gente é assim?
Agora fica comigo
E vê se não desgruda de mim
Vê se ao menos me engole
Mas não me mastiga assim
Canibais de nós mesmos
Antes que a terra nos coma
Cem gramas, sem dramas
Por que que a gente é assim?

Mais uma dose?
É claro que eu tô a fim
A noite nunca tem fim
Baby, por que a gente é assim?

Você tem exatamente
Três mil horas pra parar de me beijar
Hum, meu bem, você tem tudo
Pra me conquistar
Você tem exatamente
Um segundo pra aprender a me amar
Você tem a vida inteira
Pra me devorar
Pra me devorar!
Mais uma dose?
É claro que eu estou a fim
A noite nunca tem fim
Por que que a gente é assim?

As músicas de pai para filho fazem um capítulo à parte na história da música.Tais músicas tratam de um amor que a gente só sabe que existe quando tem um filho. Por isso as mensagens para os filhos são tenras, cheias de amor e esperança..
Uma dessas canções é Ao que vai chegar, composição de Toquinho e Mutibho, em 1984, João Carlos Pecci e Wagner Homem contam em Toquinho: História das canções (Leya, 2010), A ORIGEM DESSA MÚSICA: 

"Em 1984, Toquinho queria muito receber Pedro, o filho que estava para nascer, com um tema musical. Mas a ideia não vinha provavelmente devido à ansiedade de ser pai pela primeira vez. Percebendo a dificuldade do parceiro, Mutinho, durante uma viagem de trem para Milào, deu a Toquinho um gravador com uma fita cassete dizendo: 'escuta, é a música do Pedro'. Ele ouviu, fez uma cara de felicidade e falou: 'Estava faltando isso em minha vida!' E depois fez a letra. E assim o perceiro transformou-se também em parteiro musical"
A música, na primeira parte, associa o filho que vai chegar como uma luz, uma energia...  a letra fala de sol, brilhar, luz, clareia, acende, aurora, enfim, referências constantes à luminosidade que o filho traz para a sua vida. 
Na segunda parte, fala-se das coisas boas desejadas ao filho: o brilho da paixão, a fé, a paz, e uma casinha onde se possa ser feliz... quando se conhece a história da canção, ela se torna mais bela e comovente...
Toquinho conta também a história da música, que foi tema de abertura da novela Voa Coração, da Rede Globo: 
"Ao que vai chegar é uma música muito importante para mim . É uma festa, uma festa utópica, é claro, preparada para essa pessoa especialíssima, para a qual temos um tipo de amor dentro da gente que só sabemos e sentimos quando temos um filho. E antes disso, nem sabemos que esse amor existe. Quando vem essa criança e começamos a conviver com ela, a gente pensa: 'puxa, eu podia amar tanto e não sabia`... Então, essa música é um pouco isso, a descoberta desse amor que eu tenho dentro de mim e que só aflorou com a presença desse ser estranho que passei a gostar tanto, que é meu filho Pedro". 
 A letra:
Voa, coração
A minha força te conduz
Que o sol de um novo amor em breve vai brilhar
Vara a escuridão, vai onde a noite esconde a luz
Clareia seu caminho e acende seu olhar
Vai onde a aurora mora e acorda um lindo dia
Colhe a mais bela flor que alguém já viu nascer
E não esqueça de trazer força e magia,
O sonho e a fantasia, e a alegria de viver
Voa, coração
Que ele não deve demorar
E tanta coisa a mais quero lhe oferecer
O brilho da paixão, pede a uma estrela pra emprestar
E traga junto a fé num novo amanhecer
Convida as luas cheia, minguante e crescente
E de onde se planta a paz,
Da paz quero a raiz
E uma casinha lá onde mora o sol poente
Pra finalmente a gente simplesmente ser feliz


Canção pra ninar neguinho

Zeca Baleiro compös a "canção pra ninar neguinho" em homenagem a Michael Jackson. Na verdade é um acalanto, foi composta em 1993, quando Zeca viu uma foto de Michael Jackson numa capa de revista com um olhar triste, ou de choro, muito sincero, e a partir daí surgiu a letra da música. 
 O interessante é que Zeca Baleiro conta, nos shows, a origem da música e a plateia dá risada, como se visse em Michael um personagem pitoresco, e por essa razão, Zeca, que jamais acreditara nas acusações comra Michael, chegou a dizer que  que jamais gravaria a canção, sobretudo após a morte do cantor. 
Segue abaixo entrevista de um parceiro de Zeca para o Terra. (http://terramagazine.terra.com.br/in...l+Jackson.html)
"No ano em que surgiram as primeiras denúncias de pedofilia contra Michael Jackson, um admirador brasileiro se compadeceu e fez uma música em homenagem ao astro. A composição de Canção Prá Ninar Um Neguim, por Zeca Baleiro, coincide com o ano em que o astro, veio pela segunda vez ao Brasil: 1993.
Zeca Baleiro nunca gravou a música. Toca, de vez em quando em um ou outro show.
Numa tarde de 2002, seu amigo e parceiro Renato Braz se preparava para gravar um disco, Quixote. Passou na casa de Baleiro, em São Paulo, a fim de colher do amigo uma música nova para incluir no CD.
Acabaram tocando, sem combinar, "Canção Prá Ninar Um Neguim". "Não fui eu que escolhi a música. Foi a música que me escolheu", diz Braz, que gravou a canção e venceu o Prêmio Visa de MPB naquele ano.
Um verso:
Neguim jeitoso / É perigoso viver sim senhor / Tem espinho e tem flor / Neguim moderno / O inferno é frio e no céu faz calor / Traz o teu cobertor.

"Foi uma declaração de amor ao Michael Jackson", conta Braz, cantor de música popular brasileira, de uma tendência não visivelmente marcada pela influência do artista norte-americano. Uma prova da abrangência de Jackson. "Tenho todos os discos. Até os discos que eu acho ruins, porque, quem sabe algum dia, possso me encantar com algo que eu ainda não percebi..."
"Queria andar com os pés como se tivesse flutuando como ele fazia", lembra-se Braz. "Embalou minha infância". Quando criança em São Paulo, conta Braz, "ouvia Tim Maia e Michael Jackson como se fossem da mesma família". "A musica dele é universal, chegou no subúrbio quando estava só começando", impressiona-se o cantor.
Braz atribui o sucesso do popstar à "verdade com que ele conduziu sua carreira". Michael Jackson e Tim Maia, a dupla de novo: "não representavam uma só classe. Fazem música abrangente".
Confira a letra da música "Canção Pra Ninar Um Neguim" na íntegra:
Preto pretinho
Eu sou do gueto
Branquinho de alma negra como tu
Meu dialeto
Sem preconceito
I don't know how to dance tua dança
But, I like you
Preto pretinho
Qual o carinho da tua alma blue
Essa África do Sul
Preto pretinho
Será que há jeito de ser como tu
Meio rosa e azul
Chora neguinho
Chuva de efeito e gelo seco
Não sarará a dor
Duerme negrito
Sonha Soweto
Mama no peito da mãe
Que te fez cantor
Neguim jeitoso
É perigoso viver sim senhor
Tem espinho e tem flor
Neguim moderno
O inferno é frio e no céu faz calor
Traz o teu cobertor.

Se existe uma canção de dor-de-cotovelo, esta é "Nervos de aço", de Lupicínio Rodrigues... Ela trata do sofrimento de alguém que vê o ser amado na companhia de outra pessoa...
Lupicíno fez essa música em homenagem a um grande amor: a mulata Inah, que teria sido sua primeira namorada, sua primeira noiva e também sua primeira desilusão... Lupicínio e Inah namoraram durante seis anos, e Lupicínio não se decidia em casar... até que eles terminaram e Inah terminou casando com outro. (Dissera Lupicínio que foi a única mulata de sua vida... depois disso, só tivera problemas com loiras) 
Certo dia, Lupicínio viu Inah de braço dado com o marido, sentindo um choque tremendo, misto de "ciúme, despeito, amizade ou horror". Ficou assim com uma dor-de-cotovelo de uma vida, que virou dor-de-cotovelo de muitas vidas...
A música é direta, sem firulas... fala de alguém que tem um amor e se vê diante desse amor junto com um "outro qualquer". O personagem desdenha do rival, e consagra a velha expressão, "pessoas com nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração", e dizendo que, talvez elas, ainda assim, reagiriam passando o que Lupicínio passara.  E termina resumindo a sensação quando vê a moça... um desejo de morte ou de dor...
Ideal para quem está sofrendo de dor-de-cotovelo....
NERVOS DE AÇO
(Lupicínio Rodrigues)
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
Ter loucura por uma mulher
E depois encontrar esse amor, meu senhor
Nos braços de um outro qualquer

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer
E depois encontrá-lo em um braço
Que nenhum pedaço do meu pode ser

Há pessoas com nervos de aço
Sem sangue nas veias e sem coração
Mas não sei se passando o que passo
Talvez não lhes venha qualquer reação

Eu não sei se o que trago no peito
É ciúme, despeito, amizade ou horror
Eu só sei é que quando a ejo
Me dá um desejo de morte ou de dor .



Fontes: http://museudacancao.multiply.com/photos/album/20
Fonte - musicblog