Expressão sofrida de um morador de rua |
E então ele continuou, com certa arrogância “vocês poderiam me dar comida?” e nós respondemos “se você quiser levar a batata frita e a carne nós damos a você, por que já estamos satisfeitos” e ele respondeu “eu quero arroz e feijão” e nós “mas não temos arroz com feijão. Se você quiser nós mandamos fazer um marmitex com as batatas...”. E ele, em tom altamente desdenhoso disse “ah... pode ser então.”. E enquanto o marmitex estava sendo feito, comecei a conversar com ele sobre sua vida e a direcioná-lo a Jesus. Tinha uma garota no grupo que parecia que estava sendo violentada, de tão assustada que ficou com o rapaz perto de nós. Logo, após uns dois minutos de conversa, ele pegou sua comida e agradeceu (ou seja, Jesus o amava).
Jesus ama o morador de rua também |
Quando ele foi embora nós começamos a debater sobre aquela situação. Dois dos meus amigos crucificaram-me por puxar conversa com o mendigo, dizendo-me que ele estava sujo, bêbado, fedorento e que poderia a qualquer momento nos atacar. Disseram que ele blasfemou quando disse que se Jesus o amasse ele teria casa e comida e que eu era doido por dar papo para pessoas assim, potencialmente perigosas. Eu, por outro lado, defendi que justamente por estar sujo, fedendo e faminto, é que ele precisava de uma conversa. É claro que conversa apenas não enche barriga e comida apenas não vai mudar a realidade de ninguém. Disse que expulsá-lo dali, como os outros estavam fazendo de suas mesas só reforçaria o seu sentimento de desamor. Veja bem, uma pessoa, completamente à margem da sociedade, que chegou a uma situação dessas (pois certamente a história atrás desse fato de morar na rua é muito execrável), onde todo lugar que ele vai ele é empurrado, às vezes até agressivamente, teria motivos pra sair destilando amor por aí? Provavelmente não. Estamos careca de saber que o homem não é fruto apenas do meio, mas da sua relação com o meio, da maneira como ele internaliza suas experiências, pois caso contrário todos as filhas de prostituta, por exemplo, seriam prostitutas também.
Atitude correta? |
Voltando ao caso do homem na mesa da lanchonete. Vocês acham que qual atitude deveria ser tomada: falar com ele, e dá-lo comida e correr o risco de ser esfaqueado e assaltado, como argumentaram meus amigos contra a minha atitude, todavia abrindo-lhe a possibilidade de ser amado (amado ele já é, mas a possibilidade de se sentir amado), ou não falar e continuar a nossa vida perfeita, sem ninguém nos incomodando, mas deixando uma oportunidade dessas passar? Fica difícil correr o risco. O caso é que havíamos acabado de sair da igreja e eu estava com um espírito missionário na minha alma e essa foi a primeira oportunidade que surgiu e eu aproveitei e fui com tudo. Como a Lauriete diz “a seara está madura e os campos brancos, mas são poucos os ceifeiros, Deus pergunta, quem irá?”. Responda você esta pergunta.
Fonte - Peripécias psicológicas