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1 de nov. de 2011

O caso do morador de rua – O que você faria?


Expressão sofrida de um morador de rua
Estava com três amigos comendo uma Tereza no Boni, sábado à noite, descontraidamente quando, após algum tempo, chegou um homem, de aproximadamente 33 anos de idade, mulato, cheirando a álcool, vindo nos oferecer pedaços de sabão em troca de algum dinheiro. Todos os meus amigos recusaram veementemente, mas eu, como sou “pra frente” como minha mãe fala, fui dar uma de psicólogo e ao mesmo tempo bom samaritano com o rapaz. Então, tentando compreender a sua vida socialmente corrompida disse a ele que  ele deveria procurar algo que lhe desse suporte espiritual e moral pra ele mudar de vida. Indiquei-lhe a minha igreja e disse-lhe que Jesus o amava.  E ele virou-se para mim, começou a falar algumas coisas sem nexo e depois juntou algumas palavras inteligíveis: “se Jesus me amasse ele me daria uma casa. Se Jesus me amasse eu diria ‘Jesus, me dê comida’ e ele me daria comida.”. Meus amigos, apesar de não se manifestarem na hora, se manifestaram depois, mas deixe-me acabar de contar o caso.

     E então ele continuou, com certa arrogância “vocês poderiam me dar comida?” e nós respondemos “se você quiser levar a batata frita e a carne nós damos a você, por que já estamos satisfeitos” e ele respondeu “eu quero arroz e feijão” e nós “mas não temos arroz com feijão. Se você quiser nós mandamos fazer um marmitex com as batatas...”. E ele, em tom altamente desdenhoso disse “ah... pode ser então.”. E enquanto o marmitex estava sendo feito, comecei a conversar com ele sobre sua vida e a direcioná-lo a Jesus. Tinha uma garota no grupo que parecia que estava sendo violentada, de tão assustada que ficou com o rapaz perto de nós. Logo, após uns dois minutos de conversa, ele pegou sua comida e agradeceu (ou seja, Jesus o amava).
Jesus ama o morador de rua também

    Quando ele foi embora nós começamos a debater sobre aquela situação. Dois dos meus amigos crucificaram-me por puxar conversa com o mendigo, dizendo-me que ele estava sujo, bêbado, fedorento e que poderia a qualquer momento nos atacar. Disseram que ele blasfemou quando disse que se Jesus o amasse ele teria casa e comida e que eu era doido por dar papo para pessoas assim, potencialmente perigosas. Eu, por outro lado, defendi que justamente por estar sujo, fedendo e faminto, é que ele precisava de uma conversa. É claro que conversa apenas não enche barriga e comida apenas não vai mudar a realidade de ninguém. Disse que expulsá-lo dali, como os outros estavam fazendo de suas mesas só reforçaria o seu sentimento de desamor. Veja bem, uma pessoa, completamente à margem da sociedade, que chegou a uma situação dessas (pois certamente a história atrás desse fato de morar na rua é muito execrável), onde todo lugar que ele vai ele é empurrado, às vezes até agressivamente, teria motivos pra sair destilando amor por aí? Provavelmente não. Estamos careca de saber que o homem não é fruto apenas do meio, mas da sua relação com o meio, da maneira como ele internaliza suas experiências, pois caso contrário todos as filhas de prostituta, por exemplo, seriam prostitutas também.
Atitude correta?
Voltando ao caso do homem na mesa da lanchonete. Vocês acham que qual atitude deveria ser tomada: falar com ele, e dá-lo comida e correr o risco de ser esfaqueado e assaltado, como argumentaram meus amigos contra a minha atitude, todavia abrindo-lhe a possibilidade de ser amado (amado ele já é, mas a possibilidade de se sentir amado), ou não falar e continuar a nossa vida perfeita, sem ninguém nos incomodando, mas deixando uma oportunidade dessas passar? Fica difícil correr o risco. O caso é que havíamos acabado de sair da igreja e eu estava com um espírito missionário na minha alma e essa foi a primeira oportunidade que surgiu e eu aproveitei e fui com tudo. Como a Lauriete diz “a seara está madura e os campos brancos, mas são poucos os ceifeiros, Deus pergunta, quem irá?”. Responda você esta pergunta.
Fonte - Peripécias psicológicas