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21 de abr. de 2011

Tiradentes, Tancredo, Brasília - O Brasil comemora!






DIA DO TIRADENTES - 21 DE ABRIL

Joaquim José da Silva Xavier

Morreu a 21 de abril

Pela independência do Brasil

Foi traído e não traiu jamais

A inconfidência de Minas Gerais

Os autores desse samba-enredo da Escola de Samba Império Serrano, em 1949, são Mano Décio da Viola, Penteado e Stanislaw Silva, mas a música só fez sucesso mesmo no carnaval de 1955, na voz de Roberto Silva. Tempos depois, a cantora Elis Regina regravou a música, fazendo também imenso sucesso.
Joaquim José da Silva Xavier
Tiradentes não tira dentes
Sonhador e idealista Tiradentes e o Rio de Janeiro
Mártir 98 anos depois

Tiradentes nasceu no ano de 1746, na Fazenda do Pombal, em Minas Gerais, propriedade da família. Não há registro da data de seu nascimento, apenas do seu batismo, em novembro daquele mesmo ano. Ficou órfão cedo - perdeu a mãe aos nove anos de idade e o pai aos 11, sendo criado, desde então, por um padrinho, que lhe ensinou a prática da odontologia.

A família não era pobre. Pertencia à nobreza civil, diferente da nobreza concedida por títulos.

Joaquim José da Silva Xavier, todos sabem, praticava a odontologia. E daí seu apelido: Tiradentes. Mas o que poucos sabem, ao contrário do que seu codinome insinua, é que o nosso herói da inconfidência não suportava arrancar dentes. Isso mesmo! Já era um adepto, então, do que se costuma chamar, hoje em dia, de odontologia preventiva. Ou seja, Tiradentes era muito mais a favor de preservar os dentes do que arrancá-los. Além do mais, não se preocupava apenas com os dentes. Preocupava-se também com o resto do corpo, fazendo uso, inclusive, de plantas medicinais, um modismo típico da medicina praticada na Europa do século dezoito.

No caso de Tiradentes, sua recusa em usar métodos terapêuticos agressivos se deve à influência exercida sobre ele pelo seu primo Frei Veloso, na época um grande botânico, que catalogou mais de 2000 plantas no Vale do Paraíba do Sul e organizou o Jardim Botânico, no Rio.

O idealismo de Tiradentes o levou a se envolver de corpo e alma na Inconfidência Mineira (movimento revoltoso ocorrido em 1789, na cidade de Vila Rica, hoje Ouro Preto, a favor da emancipação do Brasil da Corte Portuguesa). Seu envolvimento com a Inconfidência aconteceu após uma viagem ao Rio de Janeiro, em 1787, quando ele entrou em contato com as novas idéias políticas e filosóficas recém-chegadas da Europa. Esses novos pensamentos o influenciaram fortemente. Ao voltar para Vila Rica, em 1788, passou a divulgar em público os propósitos do movimento mineiro. Foi traído por Joaquim Silvério dos Reis, em 1789, quando foi preso no Rio de Janeiro. Ficou confinado numa cela durante três anos e no processo de investigação, conhecido como Devassa, foi interrogado quatro vezes e confrontado com todos que o denunciaram. Assumiu a responsabilidade da conspiração, inocentando os outros co-réus e, em 18 de abril de 1789, ouviu sua sentença de morte. Antes de ser enforcado no campo da Lampadosa - atual Praça Tiradentes - no Rio de Janeiro, disse: "Cumpri a minha palavra! Morro pela liberdade!"

Seu corpo foi esquartejado e a cabeça exposta em Vila Rica. Os outros pedaços foram espalhados pelo caminho, seus bens confiscados e sua memória difamada.

Só em 1822 Tiradentes foi reconhecido como mártir da Inconfidência Mineira e em 1865 proclamado Patrono Cívico da nação brasileira.


É sabido que, entre os anos de 1786 e 1789, Tiradentes fez várias viagens ao Rio e que, nessa época, já devia estar conspirando em favor da inconfidência. No Rio, além do contato com idéias revolucionárias, se dedicou a muitos projetos de melhoria urbana.

Ele conhecia bem a cidade, seus morros, seus arredores, o povo do lugar, que também o conhecia como dentista prático. Suas habilidades, no entanto, não se limitavam apenas aos da odontologia. Tinha bons conhecimentos de topografia, o que fez com que Tiradentes intuísse grandiosos projetos de melhora urbanística para o Rio.

Documentos datados daquela época possibilitam concluir que o nosso impetuoso alferes idealizou diversas obras para a cidade. São elas:

Tiradentes só começou a ser cultuado 98 anos depois de sua morte - sendo considerado herói nacional a partir de 1890. A imagem de mártir e patrono da nação foi construída pelos republicanos que representasse a luta pela ruptura do domínio português.
O mártir está diretamente ligado ao movimento que ficou conhecido como "Inconfidência Mineira". Os historiadores preferem "Conjuração Mineira" já que o que aconteceu em Minas Gerais foi um ato organizado para conquistar a independência do país e não um ato de deslealdade, traição ou infidelidade, que servem para traduzir a palavra inconfidência. Somente sob a ótica dos colonizadores, os "inconfidentes" foram considerados traidores.


A cabeça de Tiradentes foi levada do Rio de Janeiro para Vila Rica, em Minas Gerais e ficou exposta num poste em frente à Igreja Nossa Senhora dos Remédios dos Brancos. Na terceira noite, foi roubada e nunca mais foi encontrada.

Tiradentes seguiu carreira militar, ocupando o posto de alferes, palavra que vem do árabe "al-fars", o cavaleiro. Significa o antigo oficial do exército com posto logo abaixo do tenente.

FONTE:



Tancredo de Almeida Neves

(1910-1985)

Sua morte ocorreu, exatamente, no dia 21 de abril de 1985.
 “Se todos quisermos, dizia-nos há quase 200 anos, Tiradentes, aquele herói enlouquecido de esperança, poderemos fazer deste país uma grande nação.
Vamos fazê-la”.

Tancredo Neves

Pesquisa: Celso Brasil - ABRALI 

 



Pequena história e Pensamentos

Tancredo Neves nasceu no dia 4 de março de 1910 em São João Del Rei, Minas Gerais. Diplomou-se em Direito pela Universidade de Minas Gerais e iniciou sua carreira política em 1933, quando filiou-se ao Partido Progressista.

Com a decretação do Estado Novo getulista, em 1937, interrompeu sua carreira, voltando à política em 1945, com a queda do Estado Novo. Foi eleito deputado federal em 1950 e em 1953, com o apoio de Juscelino Kubitschek, foi ministro da Justiça. Exerceu também os cargos de Primeiro-Ministro no governo de Jânio Quadros e de governador do Estado de Minas Gerais em 1982.

Tancredo aceitou o desafio de se candidatar à Presidência da República e, com o apoio de Ulysses Guimarães venceu as eleições, sendo eleito o primeiro Presidente civil em mais de 20 anos, no dia 15 de janeiro de 1985. A posse estava prevista para o dia 15 de março mas, na véspera, Tancredo foi internado no Hospital de Base, em Brasília, com fortes dores abdominais e José Sarney tomou seu lugar interinamente. Depois de sete cirurgias, veio a falecer em 21 de abril de 1985, aos 75 anos de idade, vítima de infecção generalizada.


O pensamento de Tancredo




“União nacional, diálogo, entendimento, conciliação, trégua são nomes de um estado de espírito que está se formando na comunidade nacional”. Trecho do discurso de despedida de Tancredo Neves do Senado, em 1983
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“O Brasil dos nossos dias não admite nem o exclusivismo do governo nem da oposição. Governo e oposição, acima dos seus objetivos políticos, têm deveres inalienáveis com o nosso povo”. Idem
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“Se todos quisermos, dizia-nos há quase 200 anos, Tiradentes, aquele herói enlouquecido de esperança, poderemos fazer deste país uma grande nação. Vamos fazê-la”. Discurso perante o Congresso Nacional, logo após sua vitória no Colégio Eleitoral sobre o deputado Paulo Maluf, 15 de janeiro de 1985
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“Com o êxtase e o terror de haver sido o escolhido, como diria Verlaine, entrego-me hoje ao serviço da nação”. Idem
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“Esta foi a última eleição indireta do país”. Idem
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“Ainda que o movimento de 1964 tivesse transformado a nossa pátria em um paraíso, eu não me arrependo de lhe ter feito oposição. Para meu ideário político, o valor absoluto da vida é a liberdade. O paraíso, se estiver cercado, será sempre o inferno”. Ao receber o título de Personalidade do Ano, da Associação Brasileira de Propaganda, em março de 1984
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“Cada governo tem a oposição que merece. A um governo duro, intransigente e intolerante corresponde sempre uma oposição apaixonada, veemente e destrutiva”. Então deputado, em 1977, logo após o fechamento do Congresso Nacional pelo presidente da República, Ernesto Geisel
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“O meu MDB não é o MDB do senhor Arraes e o MDB do senhor Arraes não é o meu, e nós dois sabemos disso há muito tempo”. Às vésperas da reforma partidária de 1979, que desaguaria na criação do PP
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“Nós somos amigos há mais de trinta nos e nos últimos dez sempre disputamos a liderança do partido. Eu comandando os moderados e eles os radicais. Neste momento, só eu tenho a liderança das duas alas. Mas não me arriscaria a deixar o governo de Minas Gerais e enfrentar uma candidatura à Presidência da República se o Ulysses não me apoiasse”. Sobre o presidente do PMDB, Ulysses Guimarães, em 1984
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“Não se tira o sapato antes de chegar ao rio. Mas também ninguém chega ao Rubicão para pescar”. Muitas vezes para amigos, políticos e colaboradores
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“Podem ficar tranquilos. Vou ser presidente nos mesmos termos do marechal Deodoro: meus ministros vão poder fazer tudo, menos o que eu não quiser que façam”. A um grupo de parlamentares do PMDB, em março de 1985
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“Nosso propósito é o de presidir um grande acordo nacional para a transformação do Brasil num país restaurado em sua honra, em sua riqueza e em sua dignidade”. Discurso na convenção do PMDB, em agosto de 1984, ao ser indicado oficialmente candidato do partido à Presidência da República
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“A esperança é o único patrimônio dos deserdados, e é a ela que recorrem as nações, ao ressurgirem dos desastres históricos”. Idem
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“Até agora ele só enfrentou amadores, não enfrentou ninguém profissional”. A um jornalista que se referiu à fama de imbatível do deputado Paulo Maluf
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“O meu será um governo de centro, com tendências para a esquerda conservadora”. Após sua escolha como primeiro-ministro do governo João Goulart, em 1961
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“Nação sem Constituição oriunda do coração de seu povo é nação mutilada na sua dignidade cívica, violentada na sua cultura e humilhada em face de sua consciência democrática”. Ao desperdir-se do Senado, em março de 1983, para assumir o governo de Minas
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“E então, vamos conversar? Mas não em sigilo. Esta é a maneira nais rápida, eficiente e segura de se propagar por todo o país quem disse, o que e onde”. A um grupo de jornalistas
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“Não é nada disso, minha filha. Macho é hoje uma palavra unissex”. À deputada Ruth Escobar, desculpando-se por ter dito que a campanha eleitoral era “uma luta para machos”
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“As alvoradas da liberdade não surgem como um acontecimento natural. As manhãs da liberdade se fazem com a vigília corajosa dos homens que exorcizam com sua fé os fantasmas da tirania”. Ao deixar o governo de Minas Gerais, em agosto de 1984, para concorrer à presidência
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“1984 foi o ano da alvorada, anunciador das grandes mudanças que deveriam começar em 15 de março de 1985, mas que já são visíveis e profundas e enchem de orgulho toda a sociedade brasileira”. No artigo que escreveu para a seção Ponto de Vista da última eleição de Veja, 1984
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“Partidos que renunciam à luta, que abdicam de seu dever de pelejar pela harmonia das condições do povo, não são partido políticos. Podem ser, quando muito, um grêmio literário ou uma confraria de São Vicente de Paula”. Crítica à decisão do PT de não comparecer ao Colégio Eleitoral
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“Por favor, me deixem em paz. Não tenho nada a dizer. Não quero ser a Sandra Bréa do MDB”. A um grupo de jornalistas
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“A cabeça do Magalhães funciona como um terreno baldio, onde há sempre alguém atirando alguma sujeira”. Aborrecido com o deputado Magalhães Pinto por ele ter pregado um golpe, em 1984
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“Para descansar, temos a eternidade”. Muitas vezes, a amigos, políticos e colaboradores
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“A grande decepção da minha geração é que achávamos que a democracia estava definitivamente assegurada no país. Hoje vemos que quem tinha razão era o Otávio Mangabeira, para quem nossa democracia era uma plantinha muito tenra”. Numa entrevista em 1977, pregando a volta aos princípios democráticos
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“É tapar o nariz com o lenço e ir ao Colégio Eleitoral, se isso for necessário. Pode ser ruim, mas não ir pode ser péssimo”. Em junho de 1984, quando sua candidatura indireta à Presidência da República já era fato consumado
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“Para a esquerda eu não vou. Não adianta empurrar”. Durante a reformulação partidária de 1979
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“Ocupei, sem que houvesse disputado, os mais altos cargos do governo e a oposição do meu país e os deixei empobrecido, vivendo dos meus subsídios, reforçados com os 'papagaios' que renovo de três em três meses nos bancos amigos”. Numa entrevista em 1979
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“O processo ditatorial, o processo autoritário, traz consigo o germe da corrupção. O que existe de ruim no processo autoritário é que ele começa desfigurando as instituições e acaba desfigurando o caráter do cidadão”. Discurso em 1982
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“A campanha pelas diretas é necessária, porém lírica”. Junho de 1983
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“Se as esquerdas tivessem condições de mobilizar a massa humana que nós vimos na Praça da Sé, em Curitiba e Salvador, já teriam tomado o poder neste país”. Fevereiro de 1984
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“Restaurar a democracia é restaurar a República. É edificar a Nova República, missão que estou recebendo do povo e se transformará em realidade pela força não apenas de um político, mas de todos os cidadãos brasileiros”. No discurso de novembro de 1984, em Vitória, Espírito Santo, em que lançou a Nova República
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“De Norte a Sul do Brasil, estou pregando, em praça pública, a unidade nacional. Prego a concórdia, a construção do futuro, e não me prendo aos pesadelos do passado”. Idem
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“O povo é a substância da República, como prova a raiz latina da palavra. A República deve, pois, ser o compromisso fundamental do Estado para a solução dos problemas do povo, o atendimento de suas necessidades básicas até de sobrevivência”. Idem
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“Podem os brasileiros estar seguros de que faremos, com prudência e moderação, as mudanças que a República requer”. Idem
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“Então, como foi? O Sarney tomou posse? Correu tudo bem?” Dia 15 de março de 1985, ao sair da anestesia da primeira cirurgia
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“Rezem por mim”. Antes de ser anestesiado para a segunda cirurgia
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“Preciso não, eu devo sarar”. Aos médicos, recuperando-se da segunda cirurgia
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“Mas, doutor, eu estava tão bem ontem, tirei até fotos, e agora estou aqui?” Ao chegar ao Instituto do Coração, em São Paulo, para novos exames
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“Não pode ser depois? Estou tão cansado”. Ao ser informado de que seria submetido à terceira operação
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“Nós vamos vencer mais essa”. À dona Risoleta, antes da terceira operação
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“Se é necessário, vamos lá. Vamos acabar logo com isso”. Aos médicos, quando foi avisado da quarta cirurgia
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“Eu não merecia isso”. Ao neto Aécio, indo para a sexta operação.


21 DE ABRIL


ANIVERSÁRIO DE BRASÍLIA

"Deste Planalto Central, desta solidão em que breve se transformará em cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com uma fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino".





Juscelino Kubistchek



Brasília, a capital do Brasil, inaugurada em 21 de abril de 1960, continua sendo uma das mais belas e a mais moderna cidade do país. Mas a sua história começa há mais tempo do que a maioria das pessoas imaginam.

 O começo do sonho 

Desde a época do Brasil Colônia, já se pensava em construir uma nova capital.
O Brasil tinha um imenso território e, além das escaramuças de piratas e contrabando de pau-brasil, muitas nações européias foram tornando constantes os seus ataques à costa brasileira, desafiando a Coroa Portuguesa.

De nada valeram os esforços de D. João III em tentar criar um sistema de policiamento da costa do Brasil. Os ataques estrangeiros foram ficando cada vez mais frequentes e revelavam a intenção de algumas nações em ocupar partes do território brasileiro.

Basta lembrar que Salvador, a primeira capital do Brasil, sofreu diversos ataques de piratas ingleses e foi tomada pelos holandeses liderados pelo almirante Willenkens.

Os invasores só foram expulsos da capital brasileira um ano depois.

Aos poucos, alguns brasileiros começaram a perceber que o Brasil estava de costas para o Brasil. Era um povo agrupado no litoral, lançando um olhar nostálgico para o continente europeu.

Surgiriam, então, as primeiras vozes a defender a interiorização do país. Uma nova capital, no interior do Brasil, teria muito mais segurança longe do litoral e dos ataques de canhões das naus inimigas,.

Essa idéia foi defendida pelo Marquês de Pombal, em 1761. A Inconfidência Mineira, em 1789, já demonstrava a insatisfação dos brasileiros com a Coroa portuguesa e um anseio latente por um processo de interiorização do Brasil.

Entre os planos dos inconfidentes estava a transferência da capital do Rio de Janeiro para São João Del Rei. Em 1808, o jornalista Hipólito José da Costa defendia a independência política do Brasil e fundou no exílio, em Londres, o jornal "Correio Braziliense".

Hipólito José da Costa pregava a mudança da capital para o interior do país, que ele chamava de "paraíso terreal".
A Independência do Brasil, em 1822, trouxe mais ânimo para os defensores da interiorização.

Na Assembléia Constituinte de 1823, José Bonifácio defendeu a construção de uma nova capital que, segundo ele, seria uma grande chance de estimular a economia e o comércio. Essa foi a tese que José Bonifácio apresentou no documento que se intitulou "Memória sobre a necessidade e meios de edificar no interior do Brasil uma nova capital".

José Bonifácio chegou a sugerir dois nomes para a nova cidade, que ele imaginou no Planalto Central: Petrópolis e Brasília.

O diplomata e historiador Francisco Adolfo de Varnhagem, Visconde de Porto Seguro, também foi outro importante defensor da mudança da capital. Ele chegou a realizar estudos e também concluiu que a região do Planalto Central seria o local ideal para a nova capital.

Em 1891, na elaboração da primeira constituição republicana, a transferência da capital voltou a ser discutida. Foi aprovada a emenda do deputado catarinense Lauro Müller, que estabeleceu a demarcação de uma área no Planalto Central de 14 mil quilômetros para a construção da nova capital da República.

Aquele foi o primeiro passo constitucional para a mudança. Mas, se você acompanhar os próximos capítulos, verá que houve uma longa jornada, cheia de acidentes políticos, que percorreram a Primeira e a Segunda República.

A Assembléia Constituinte de 1891 aprovou a emenda do deputado Lauro Müller, que propunha a mudança da capital para o interior do país. Coube então ao novo governo republicano organizar uma missão de reconhecimento e demarcação da área do futuro Distrito Federal.

O diretor do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, Luís Cruls, foi encarregado de chefiar a missão.

Primeiras Concretizações

Em 9 de Junho de 1892, os vinte e dois membros da missão Cruls partiram de trem, com destino a Uberaba, Minas Gerais. Eles levavam quase dez toneladas de equipamentos, como lunetas, teodolitos, sextantes, barômetros e material fotográfico para demarcar a área da futura capital no Planalto Central.

A partir de Uberaba, a expedição seguiu em cavalos e mulas, passando por Catalão, Pirenopólis e Formosa. A missão formada por biólogos, botânicos, astrônomos, geólogos, médicos e militares percorreu mais de quatro mil quilômetros.

Foram sete meses de muitas caminhadas e trilhas percorridas a pé ou em mulas, descobrindo a imensidão do Planalto Central do país.

Através dos relatórios da Missão Cruls, o Brasil pôde, pela primeira vez, conhecer em detalhes o clima, o solo, os recursos hídricos, minerais, a topografia, a fauna e a flora do Planalto Central. Cruls destacou a qualidade do solo pesquisado, suas possibilidades para a agricultura e fruticultura e também o clima da região.

"É inegável que até hoje o desenvolvimento do Brasil tem-se sobretudo localizado na estreita zona de seu extenso litoral, salvo, porém, em alguns dos seus Estados do sul, e que uma área imensa de seu território pouco ou nada tem se beneficiado com este desenvolvimento. Existe no interior do Brasil uma zona gozando de excelente clima com riquezas naturais, que só pedem braços para serem exploradas."

O Arquivo Público do Distrito Federal mantém os documentos originais da expedição. É emocionante verificar os diários, as anotações e dados científicos misturados a pequenos bilhetes de amor dos integrantes da missão endereçados às suas esposas e namoradas.

O Presidente Epitácio Pessoa, amparado na constituição de 1891, lança a pedra fundamental da nova capital do Brasil, no Morro do Centenário, em Planaltina, no estado de Goiás.

O Presidente atendia ao pedido de alguns deputados, entre eles um de nome bastante curioso: Americano Brazil, que disse: "a pedra fundamental, em Planaltina, é um alento para a fibra adormecida do ideal nacional." Americano Brazil seguiu sua cruzada, discursando no Congresso Nacional em defesa da mudança da capital. Ele até lançou um título para a dura caminhada "rumo ao Planalto." Mas nada aconteceu durante um longo tempo.

Era Juscelino
 
No dia 2 de outubro de 1956, pousou numa pista improvisada, no Planalto Central, um avião da FAB trazendo o Presidente Juscelino Kubitscheck. Na comitiva presidencial estavam o Ministro da Guerra, General Lott, o Governador da Bahia, Antonio Balbino, o Ministro da Viação, Almirante Lúcio Meira, o arquiteto Oscar Niemeyer, a diretoria da Novacap e ajudantes do presidente.

Eles foram recepcionados pelo Governador de Goiás, Juca Ludovico e por Bernardo Sayão. O avião aterrisou às 11:45h, numa manhã de outubro.

Olhando as fotografias daquele ensolarado dia, dá para imaginar o desafio que se apresentava aos olhos do Presidente: o vasto e imenso horizonte de um cerrado virgem, longe de tudo e de todos, sem estradas, sem energia ou sistemas de comunicação.

Juscelino, em seu livro "Por que construí Brasília", conta que "de todos os presentes, o General Lott era o que se mostrava mais desconcertado.

Distanciado-se dos presentes, deixou-se ficar à beira da pista. O presidente lembra em sua obra: " Ao me aproximar dele, não se conteve e perguntou: O senhor vai mesmo construir Brasília, Presidente ?"

Juscelino escreveu no livro de ouro de Brasília: "Deste Planalto Central, desta solidão em que breve se transformará em cerébro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com uma fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino".

A primeira visita do Presidente Juscelino Kubitschek ao Sítio Castanho, escolhido para sediar a futura Capital, não foi apenas simbólica. Na ocasião, foram determinados o local para construção do aeroporto de Brasília, a restauração e melhoria das estradas para Goiânia e Anápolis, a construção das estradas entre os canteiros de obras, dos prédios provisórios para os operários e a elaboração do projeto do Palácio da Alvorada.

Mas, antes da conclusão do projeto do Alvorada, um grupo de amigos de Juscelino resolveu presentear o Presidente com uma residência provisória no Planalto.
 
Nascia, assim, o "Catetinho", primeiro prédio de Brasília, um palácio de tábuas projetado por Oscar Niemeyer.
O nome veio do diminutivo do palácio presidencial no Rio, Palácio do Catete. Niemeyer elaborou um projeto simples, apenas com o uso da madeira e que pudesse ser executado em dez dias. Apesar da simplicidade de seu projeto, o Catetinho traz os traços da arquitetura moderna brasileira.

É como se Niemeyer tivesse criado uma maquete de sua futura e imensa obra na Capital. O Catetinho é um símbolo dos pioneiros, um palácio de tábuas, mas que serviu como a primeira residência de Kubitschek e foi também a primeira sede do Governo na Capital. Foi construído próximo à sede da antiga Fazenda do Gama, onde Juscelino descansou e tomou o seu primeiro cafezinho no Planalto.

Houve quem acreditasse em Brasília e, tão logo a notícia se espalhou, surgiria na poeira do cerrado um herói anônimo: o candango. A expressão candango, que no ínicio teve um tom pejorativo, aos poucos, passou a ser a marca dos pioneiros que se engajaram na aventura de construir Brasília.

A nova capital abria a chance de uma vida melhor. Os candangos foram chegando e erguendo barracos e casas de madeira na cidade provisória. Em dezembro de 1956 eram apenas mil habitantes; em maio de 1958 já havia mais de trinta e cinco mil.

O movimento era frenético, jipes e tratores cortando o cerrado. Um trabalho duro, sem domingo nem feriado. Israel Pinheiro organizou suas equipes de trabalho com uma disciplina de guerra. Dia e noite, sol ou chuva, Brasília não parava.

No dia 19 de setembro de 1956, foi lançado o edital para o concurso do plano piloto, que estabelecia o prêmio de um milhão de cruzeiros para o autor do projeto vencedor.
A nova capital nascia sob o signo de uma grande aventura e havia a expectativa de se encontrar um projeto que imprimisse a contemporaneidade e a ousadia esperada de Brasília.

Sonho realizado

Cabe lembrar que a arquitetura moderna brasileira despontara a partir de 1927 com a construção da primeira casa modernista de Warchavchik, em São Paulo. Rino Levi, Lúcio Costa, Álvaro Vital Brazil, o polêmico Flávio de Carvalho e Oscar Niemeyer deram grande impulso à criação da arquitetura moderna no país.

Era grande a influência das idéias de arquitetos como Mies Van der Rohe, Frank Loyd Wright, Gropius e, sobretudo, o grande mestre Le Corbusier, que teve imensa importância na formação e avanço da moderna arquitetura no Brasil.
 
Até o dia 11 de março de 1957, a comissão julgadora do concurso tinha recebido 26 projetos, num total de 63 inscritos. Dentre os jurados estavam o arquiteto Oscar Niemeyer, um representante do Instituto de Arquitetos do Brasil, outro do Clube de Engenharia do Brasil, bem como o urbanista inglês William Holford, o francês André Sive e o americano Stamo Papadaki. Havia projetos ousados e até mesmo curiosos como o de M.M.M Roberto, que previa uma cidade construída em sete módulos circulares com 72.000 habitantes em cada módulo.

No projeto de Rino Levi, Cerqueira Cezar e Carvalho Franco, seriam construídos superblocos de 300 metros de altura, que abrigariam 288.000 pessoas.

O projeto escolhido foi o de Lúcio Costa, que nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar, promovendo o encontro de dois eixos. Um conceito simples e universal.

Lúcio Costa foi o vencedor, não pelo seu detalhamento, que era pobre perto de outros concorrentes, que apresentaram maquetes, croquis e estatistícas, mas pela concepção urbanística e pela fantástica descrição de seu estudo. Não deixa de ser curioso que num concurso urbanístico, as palavras tenham vencido o detalhamento técnico.

Mas Lúcio Costa tratava as palavras com a precisão de um poeta, era a obra de um ser livre que se permitiu sonhar. O próprio Lúcio Costa destaca, entre os "ingredientes" da concepção urbanística de Brasília, as lembranças dos gramados ingleses de sua infância, das auto-estradas americanas, dos altiplanos da China e da brasileríssima Diamantina.

Lúcio Costa planejou uma Brasília moderna, voltada para o futuro, mas ao mesmo tempo "bucólica e urbana, lírica e funcional".

Ele eliminou cruzamentos para que o tráfego dos automóveis fluísse mais livremente, concebeu os prédios residenciais com gabarito uniforme e construídos sobre pilotis para não impedir a circulação de pessoas.

Uma cidade rodoviária com amplas avenidas e vasto horizonte, valorizando o paisagismo e os jardins. O plano de Lúcio Costa foi, contudo, vago no que se referia à expansão imobiliária e à criação de bairros operários.
 
Ele diz na memória descritiva do Plano Piloto: deve-se impedir a enquistação de favelas tanto na periferia urbana quanto na rural. Cabe à Companhia Urbanizadora prover, dentro do esquema proposto, acomodações decentes e econômicas para a totalidade da população.

Não foi preciso que muitos anos se passassem para que surgissem problemas ligados à habitação popular que, durante a própria construção da capital foram chamados de invasões e se multiplicaram.
 
Todos os dias, novos barracos eram erguidos na chamada Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante, e também próximos aos canteiros de obras. Os operários, que trabalhavam na construção da cidade, não pretendiam abandonar a Capital depois de sua inauguração.

As cidades satélites não surgiram como fruto de um plano detalhado, conforme o que regia a
construção do Plano Piloto, mas pela urgência imposta pelas invasões. Em junho de 1958, nascia a primeira cidade satélite, propriamente dita: Taguatinga, construída às pressas para abrigar 50.000 pessoas, em sua maioria operários com suas famílias.

As Satélites, aos poucos, se transformariam em importantes centros econômicos. Depois de Taguatinga, Israel Pinheiro iniciou a construção de outras Satélites: Sobradinho, Paranoá e Gama.

Durante três anos, Brasília viveu um ritmo de trabalho alucinante. O Presidente Juscelino Kubitscheck vistoriava as obras pessoalmente com Israel Pinheiro.

Os partidos de oposição alegavam que Brasília não ficaria pronta no prazo e insistiam para que adiassem a transferência da Capital.
 
Brasília, vencendo os prognósticos pessimistas da oposição, foi inaugurada em 21 de abril de 1960, com toda pompa que a capital merecia .

Hoje, Brasília é uma bela cidade como no sonho de um homem que um dia vislumbrou o futuro de olhos bem abertos.




Memorial e mausoléu de Juscelino

Webdesigner: Lika Dutra 









Hino Nacional do Brasil

Parte I

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.

Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó Liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança a terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.

Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza

Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

Parte II

Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
“Nossos bosques têm mais vida",
“Nossa vida" no teu seio "mais amores".

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro desta flâmula
- Paz no futuro e glória no passado.

Mas, se ergues da justiça à clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!