Existem no Brasil mais cabeças de gado do que gente, mesmo que mandemos todos os anos mais de 50 milhões de bovinos para o abate
É assim que o bife chega ao seu prato.
1. Monta Natural
É o jeito clássico de fazer filhos: na época de chuvas, a vaca entra no cio e o touro faz o que o touro deve fazer. Cerca de 90% dos bezerros nascem assim.
2. Inseminação artificial
Há ainda a fertilização induzida. Mas como detectar o cio? Para isso, usam-se vacas lésbicas (que recebem hormônio masculino) ou touros que não conseguem fecundar (por causa de cirurgias que entortam o pênis ou “amarram o prepúcio”). Esses animais carregam sacos de tinta e, ao tentar acasalar, mancham a vaca.
3. Fazendo bezerros
Identificado o cio, o veterinário usa uma das mãos para injetar a pipeta com sêmen na vagina da vaca. A outra ele coloca no ânus, para sentir se está injetando no lugar certo. Também é preciso estimular o clitóris para provocar um orgasmo. O líquido liberado no clímax é imprescindível à fecundação.
4. Nascimento
Os bezerrinhos nascem 10 meses depois. Eles serão amamentados e vacinados por 7 meses. Período concluído, as fêmeas voltam a engravidar. E os bezerros começam a engorda.
5. Pasto
Nos próximos dois anos e meio, o boi levará a vida que pediu ao deus bovino. Vai comer, beber, mugir com os amigos e fazer boizinhos. Só tem uma obrigação: engordar normalmente.
6. Confinamento
O abate se aproxima e a engorda é acelerada. Os bois são castrados e, para não perder peso, passam quase 3 meses sem andar. Mas a ração é de primeira: capim, cereais, melaço de cana, vitaminas e sais.
7. Transporte
Para um boi, a morte pesa 450 kg. Ao atingir esse peso, o animal é enviado ao matadouro. A viagem é estressante. O animal urina e sua mais do que o normal e chega a perder até 3% do peso.
8. Banho relax
As primeiras 24 horas no matadouro não são ruins. Para relaxar, recuperar o peso e esvaziar o intestino (o que facilitará a limpeza das tripas), os bois só bebem água e tomam duchas.
9. Exame final
Uma hora antes do abate, os bois são examinados. Quem passar no teste vai para a fila do abate. Os doentes são mortos separadamente. Se a doença for grave, carcaça é incinerada.
10. Corredor da Morte
Normalmente, há curvas para que os animais não saibam o que está acontecendo. E, nas paredes, dispositivos anti-empaque dão choques leves ou emitem ruídos. Um banho evita que a sujeira contamine a carne.
11. Tiro certeiro
No boxe de atordoamento, o animal recebe um tiro com pistola de pressão – ou um dardo que perfura o cérebro – e desmaia. A partir daí, para que não corra o risco de acordar, o boi deve ser morto em no máximo 3 minutos.
12. Desmaio
Uma portinhola se abre e o animal cai desacordado numa espécie de esteira. Ele será içado pelas patas para ficar com o pescoço para baixo.
13. Corte certeiro
Primeiro, um corte na pele do pescoço. Depois, é só esticar o braço e chegar à jugular: o boi está oficialmente morto. Durante 3 minutos, seus 20 litros de sangue escorrerão numa canaleta para ser vendidos a fábricas de ração para cães e gatos.
14. Corte e costura
Começa o desmonte do boi. Os chifres são serrados, patas e rabo são cortados, o couro é retirado e o abdômen é aberto para a separação das vísceras. Só então a carcaça é colocada numa câmara de resfriamento para que a carne recupere seu ph normal – o estresse pré-morte libera ácido láctico, que endurece a carne.
15. Bife no prato
Cada brasileiro consome cerca de 26 quilos de carne por ano – 3º maior consumo per capita do mundo, atrás da Argentina e dos EUA. Se considerarmos somente o consumo do Rio Grande do Sul, seriamos os 2º colocados com 39 Kg de carne/ano.
A vaca que não engravida vai para o abate. E a carne, considerada mais dura, é vendida a mercados secundários, como Bolívia e Peru.
Boi doente vira vela.Se a doença não for grave, depois do abate a carcaça é enviada para a graxaria, onde será cozida numa panela de pressão gigante. O que sai é um caldo gorduroso, usado para fazer velas, detergentes, explosivos, tintas e pneus.
Utilidades da carcaça:
Mucosa do estômago – Coalho e laticínios.
Pêlos do rabo – Pincéis e filtro de ar.
Tripas – Fios cirúrgicos, cordas para raquete e capa de salsicha.
Casco das patas e chifres – Pó para extintor de incêndio e lubrificantes.
Cálculos biliares – Pérolas artificiais.
Couro – Filme fotográfico, cola, gelatina e cápsulas farmacêuticas.
FONTE: Texto de Patrícia Vieira
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