O  inverno pode ser uma grande chatice – principalmente se ele der as  caras com dias feios e chuvosos. Mas as baixas temperaturas não devem  detonar sua saúde nem seu humor. Ao contrário do que muita gente pensa,  nessa estação você pode, sim, fazer muito sexo, sair com o cabelo  molhado (sem o risco de adoecer), controlar as alergias e driblar  resfriados, rinites e depressões. Com a ajuda de especialistas,  derrubamos nove mitos que rondarão os próximos meses e mostramos como  você pode ser mais esperto que a temporada. Assim, haverá tempo de sobra  para se concentrar no que realmente eleva a temperatura. 
Mito 1 
Sair com o cabelo molhado deixa você resfriado 
Cabelo  molhado, temperaturas geladas e cabeças expostas não causam resfriado –  vírus, sim. “O vírus do resfriado comum sobrevive melhor do fim da  primavera até o início do outono, quando a umidade está elevada”,  explica o médico Jack Gwaltney Jr., da Universidade da Virgínia (EUA). 
Sua  nova estratégia: Desinfetantes de mão à base de álcool matam esse vírus  com mais eficácia do que água e sabão – mas não eliminam o risco de  você pegar um resfriado, segundo pesquisa da Universidade da Virgínia.  “A transmissão pelas mãos não tem um papel significativo na propagação  desse vírus. Já a transmissão pelo ar é mais poderosa do que  imaginávamos”, afirma o autor do estudo, o médico Ronald Turner. A boa  notícia é que podemos amenizar os sintomas do resfriado. Portanto, não  assoe o nariz o tempo todo nem o aperte ao espirrar. Segundo uma  pesquisa de Jack Gwaltney, a pressão no nariz leva o muco cheio de  germes para as cavidades ósseas da face, causando mais inflamação. Tussa  ou espirre com as narinas abertas num lenço de papel. 
Mito 2
Isso  é verdade – desde que você esteja sentado a 60 centímetros das chamas.  Já o resto da casa pode ficar gelado. Isso ocorre porque a lareira suga o  ar quente para fora, segundo o professor de saúde ambiental Kirk Smith,  da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos. Mas,  infelizmente, ela não elimina todas as substâncias nocivas à saúde  presentes na fumaça. Em partículas minúsculas, essas substâncias  penetram fundo nos pulmões, levando muita gente a desenvolver infecções.  Pior ainda para quem tem bronquite e asma. “Há pequenos macrófagos, um  tipo de glóbulo branco, nos minúsculos sacos de ar dos pulmões. Eles têm  a função de capturar as bactérias”, afirma Smith. “Com a fumaça da  lenha, eles ficam danificados e não funcionam tão bem.” As partículas de  fumaça podem também se infiltrar na corrente sanguínea e causar doenças  cardíacas, explica. Estudos revelaram que os níveis de benzopireno, um  carcinogênico humano em potencial, eram quatro vezes mais altos no ar de  casas que ficaram com a lareira acesa por mais de oito horas. 
Sua  nova estratégia: Opte por madeiras duras, como nó de pinho, freixo e  faia. Elas emitem menos partículas prejudiciais à saúde do que as  madeiras moles. É importante também usar uma porta de proteção de vidro  na frente da lareira. Elas irradiam calor no ambiente e protegem você da  fumaça. Outra opção são as lenhas ecológicas, briquetes feitos com  resíduos agrícola ou florestal. Além de emitirem menos quantidade de  impurezas no ar, eles pegam fogo mais facilmente. 
Mito 3 
As alergias hibernam no frio. 
No  Brasil, a temporada de alergias está apenas começando. “As alergias  respiratórias são mais comuns no inverno”, avisa o médico alergista João  Negreiros Tebyriçá, presidente da Associação Brasileira de Alergia e  Imunopatologia. “Isso porque o alérgico é mais sensível a mudanças de  temperatura e umidade.” Outro perigo: roupas e cobertores guardados por  mais de três meses estão infestados de ácaros. “ao entrar em contato com  essas peças, o paciente inala proteínas de ácaros que podem precipitar  as crises alérgicas”, diz Tebyriçá. 
Sua  nova estratégia: este não é o momento para interromper qualquer  tratamento relacionado a problemas nasais. “Também recomendamos às  pessoas que sofrem do mal tomar a vacina antigripal”, diz. Para escapar  dos ácaros, escolha agasalhos de moletom e lave-os antes de o inverno  chegar. retire tapetes e almofadas da casa, pois ambos são hotéis para  esses microrganismos, e revista colchas com capa antialérgica. 
Mito 4 
No Brasil, mal sentimos o inverno. 
Isso  depende de onde você vive. Quem mora no Sul do país não deve subestimar  o poder dos dias cinzentos. Lá, a temperatura cai, a luz solar diminui e  as pessoas se sentem mais deprimidas. “O sol afeta o sistema nervoso  porque é um dos grandes fornecedores de vitamina D, essencial para seu  funcionamento”, afirma a psicóloga Ana Maria Rossi, da International  Stress Management do Brasil (ISMA-BR). “Outro problema é que o  brasileiro se acovarda diante do inverno. As pessoas se trancam em casa,  ficam mais sedentárias e comem mais.” 
Sua  nova estratégia: Não hiberne. Agasalhe-se e saia de casa. A academia é  sempre uma boa pedida: caminhe na esteira, nade em água aquecida e dê  uma corridinha na rua. 
Mito 5 Você faz menos sexo no inverno.
Uma  pesquisa realizada nos Estados Unidos pelas empresas Associated Press e  Weather Underground constatou que no último inverno 15% dos americanos  fizeram mais sexo do que o normal e 60% não tiveram o desejo afetado. É  fato que no frio as pessoas sentem mais preguiça. Mas se os gringos, que  encaram temperaturas gélidas, conseguem, vale a pena tentar. “É  importante ressaltar que o fato de convivermos com mulheres com menos  roupa não significa sexo de mais qualidade”, explica o ginecologista e  sexólogo Amaury Mendes Júnior, da Sociedade Brasileira de Estudos em  Sexualidade Humana. 
Sua  nova estratégia: O frio não é desculpa. Esforce-se para manter o  interesse. O sexólogo sugere falar sobre sexo, comprar brinquedos  eróticos e usar as ferramentas que a estação oferece: que tal começar  com um banho quente juntos? 
Mito 6
Com menos atividade, há menos dores.
Não  há estudos que comprovem que as dores físicas piorem no inverno, mas os  médicos afirmam que as queixas nos consultórios crescem nessa estação.  “A doença que causa a dor continua a mesma, mas a percepção que o  paciente tem da dor aumenta”, explica o anestesiologista João Batista  Santos Garcia, presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor.  “O que acontece é que as pessoas ficam mais contraídas para se proteger  do frio, o fluxo sanguíneo para partes do corpo mais expostas reduz e o  líquido sinuvial das articulações, que faz com que elas funcionem  melhor, fica mais espesso.” 
Sua  nova estratégia: Além de se manter aquecido e assim reduzir a contração  muscular com roupas adequadas, não interrompa sua rotina de exercícios.  Um estudo da Universidade Marquette (EUA) mostrou que a atividade  física ajuda a reduzir a dor tanto em jovens quanto em idosos. Mais:  sempre que possível, procure o sol. Ele estimula a produção de vitamina  D, que promove a absorção do cálcio. A falta desse mineral pode causar  dores musculares. 
Mito 7 
Bebidas alcoólicas aquecem. 
O  álcool é um vasodilatador. Ele deixa as veias mais abertas, aumentando o  fluxo de sangue até a pele. Por isso, ao virar o copo, a sensação  inicial é de calor – principalmente no rosto. Mas logo a temperatura  corporal cai. Para se aquecer de fato, você precisa do efeito oposto,  que seus vasos sanguíneos mais externos se contraiam (vasoconstrição).  Moral da história: no curto prazo, uma bebida cai bem. “A longo prazo,  ao aumentar as trocas térmicas com o meio externo, acaba perdendo  calor”, explica o neurofisiologista Luiz Eugênio Mello, da Unifesp. O  álcool também debilita as reações normais do organismo. Por exemplo, a  bebida reduz sua capacidade de tremer, a maneira natural de o corpo  gerar calor. 
Sua  nova estratégia: Saiba quando e quanto beber. Se você estiver na rua  com sensação de frio nas extremidades, beber uma dose ao entrar em um  lugar quente acelera a recuperação da temperatura. Mas não beba se  estiver exposto ao frio por muito tempo nem exagere na quantidade, pois  isso não resolve a questão. 
Mito 8 
Cabelo cai mais no verão.
É  o contrário. A maioria dos hábitos que cultivamos no inverno propicia a  queda dos fios, segundo o tricologista Luciano Barsanti, diretor do  Instituto do Cabelo, em São Paulo. Veja quais são: banho muito quente,  que aumenta o desgaste do fio e a oleosidade do couro cabeludo; dieta  rica em açúcares e gordura de origem animal, que eleva a produção de  gordura pelas glândulas sebáceas e provoca a dermatite seborreica; pouca  ingestão de água, que desidrata o bulbo capilar, fazendo com que ele  morra; e o uso de gorros e bonés, que também eleva a produção de sebo. 
Sua  nova estratégia: O fundamental é combater a oleosidade. Para isso,  deixe o couro cabeludo respirar, consuma menos doces e gorduras e beba  bastante água. Tente também ficar no sol durante 20 minutos por dia. “Os  raios ultravioleta ajudam na prevenção de fungos, que facilitam a  descamação do couro cabeludo e a queda dos fios”, explica Barsanti. E  mantenha a água do banho em torno de 20 graus, temperatura quase fria.  Não rola? Então, antes de sair do chuveiro, tome uma ducha fria. Isso  ajuda a evitar a oleosidade. 
Mito 9
No  inverno, você sente menos sede e transpira menos. Mas nem assim deve  deixar a água de lado. A quantidade necessária para manter a temperatura  corporal estável é menor, porém o organismo continua precisando do  líquido para combater a desidratação que pode acontecer no clima seco. 
Sua  nova estratégia: Mantenha a meta de cerca de dois litros de água por  dia. Segundo a nutricionista Leila Ali Hassan Kassab, do Hospital do  Coração (Hcor), em São Paulo, essa quantidade é suficiente para garantir  as funções fisiológicas. Chás quentes também hidratam, mas cuidado com a  quantidade de açúcar para não turbinar o número de calorias. Em tempo:  frutas, verduras e legumes são ricos em água. Já bebidas alcoólicas e  refrigerantes não devem entrar na conta. 
Vitamina C: funciona mesmo? 
Saiba se vale investir nessa prevenção 
Depende  do objetivo. Por ser um antioxidante, ela auxilia o sistema imunológico  a combater infecções. Mas, em relação às doenças de inverno, o assunto é  controverso. Estudos mostram que a incidência de gripe não diminui  entre pessoas que tomam a vitamina. Porém, há trabalhos que revelam que  atletas expostos a muito frio ou estresse físico podem se beneficiar da  profilaxia com a vitamina C. “Ela ajuda a reduzir a duração dos  sintomas”, afirma a otorrinolaringologista Eliézia Helena de Lima  Alvarenga, do Hospital Samaritano de São Paulo. 
3 coisas que você nem sempre associa ao inverno 
• As doações de sangue caem até 30%, de acordo com a Secretaria da Saúde de São Paulo. 
•  A grana fica curta. Segundo dados do Serasa, datas como Dia das Mães e  Dia dos Namorados explicam o aumento de 1,5% da inadimplência em julho  de 2010 em comparação a junho do mesmo ano. 
•  As contas de luz aumentam de 20% a 30%. O chuveiro elétrico é o vilão,  segundo o engenheiro Norberto Augusto Júnior, do Instituto Mauá de  Tecnologia.
 
 


 
