Espião das alturas Projeto americano para estudar uma das camadas da atmosfera
de destruição em massa
A literatura e o cinema são pródigos em imaginar situações de mau uso
dos
empreendimentos científicos mais ousados. Nos livros da série Net
force, o escritor americano Tom Clancy descreve a ação de um grupo de
terroristas que, em 2010, assume o controle de um intrincado sistema de
antenas de propriedade do Departamento de Defesa dos EUA. Seu objetivo é
o mais torpe possível: controlar a mente do mundo todo.
O
projeto em questão existe, chama-se Haarp e é um campo de antenas
instalado no sudeste do Alasca. O emaranhado de fios funciona como uma
gigantesca antena de transmissão de ondas de rádio e deve ficar pronto
em 2007, quando então poderá refletir os sinais para qualquer ponto do
planeta. Seria um imenso espelho refletor de ondas eletromagnéticas com
visão superpoderosa. Detalhe: os sinais eletromagnéticos controlam quase
tudo nos dias atuais, desde televisores e computadores até foguetes e
potentes carros 4 x 4.
Sob o comando americano, o programa já
provocou todo tipo de celeuma e estimulou o ânimo dos adeptos das
teorias da conspiração. Um deles, o americano Jerry Smith, se debruçou
sobre o tema com a intenção de separar o joio do trigo. Ou, como
escreveu, “separar a verdade da ficção quanto às múltiplas e
contraditórias afirmações sobre o que o Haarp pode ou não fazer”.
Segundo
o autor, o projeto Haarp, uma abreviatura de Programa de Pesquisa de
Ativação de Alta Freqüência Auroral, é a fase final e extrema daquilo
que poderia ser o artefato mais perigoso jamais criado pelo gênero
humano. O resultado do trabalho de Smith pode ser conferido em seu
livro, cuja versão brasileira acaba de chegar às prateleiras com o
sugestivo título de Armas eletromagnéticas: seria o projeto Haarp a
próxima ameaça mundial? (Ed. Aleph, R$ 49,50).
No catatau de 380 páginas, Smith detalha os objetivos do Haarp, cuja missão
oficial é funcionar como uma superantena capaz de estudar a ionosfera, uma
das
camadas da atmosfera, a cobertura gasosa que envolve a Terra. De
extrema importância estratégica por centralizar as comunicações entre os
países, essa
é a região onde ocorrem as auroras boreais e onde as estrelas cadentes (ou meteoritos) se desintegram.
Seus
objetivos menos lícitos, por assim dizer, alimentariam de idéias muita
gente em Hollywood. Alguns exemplos: a instalação poderia localizar todo
tipo de alvo na Terra – desde submarinos ocultos e riquezas minerais
até bases subterrâneas e depósitos de mísseis – simplesmente enviando
ondas eletromagnéticas para o planeta. Isso inclui manter controle,
ativar ou destruir os sistemas de comunicação, de radar, de satélites e
bases espaciais inimigas.
A partir dessa imensa antena de
radiotransmissão seria possível interferir até mesmo no clima terrestre,
supõe Smith. Por sua capacidade técnica, o projeto poderia dar origem a
terremotos artificiais, provocar catástrofes ambientais e controlar os
impulsos elétricos do cérebro, influenciando o humor e o comportamento
humanos.
Se os temores são reais ou se se trata apenas de alimento para os fãs de teorias
da
conspiração, ainda é cedo para saber. Na prática, o projeto Haarp
retrata um cenário semelhante ao imaginado pelo cineasta Steven
Spielberg em seu mais recente filme, Guerra dos mundos. Ali, o diretor
americano mostra os efeitos de
uma bomba eletromagnética que os alienígenas explodem sobre a Terra.
Ao disparar a arma invisível, eles interrompem as transmissões elétricas, tirando
do
ar emissoras de rádio, de tevê e desativando todo o sistema elétrico e
eletrônico que comanda os carros. Do jeito como somos dependentes de
equipamentos e processos eletrônicos, na prática uma arma capaz de
controlar as emissões de ondas de rádio teria mesmo um amplo potencial
destruidor. Para dizer o mínimo.