O curta em questão conta um pouco da história (real) do hondurenho Agustin,
um senhor que passou os últimos 50 anos tentando realizar um sonho:
construir um helicóptero que possa voar. O vídeo original eu vi aqui (em inglês), e foi publicado por Tyler Bastian (um dos diretores do curta).
Não quero falar muito sobre o conteúdo
do vídeo, pois penso que isto não apenas não é necessário, mas limitaria
as possibilidades de reflexão que ele levanta. Mas não posso deixar de
frisar o quanto é importante não apenas insistir no “sonhar” (ter metas,
objetivos que lhe motivam), mesmo que a meta possa nunca ser
“atingida”, mas confiar no trabalho que se investe no sonho: vivê-lo
como se já fosse realidade, desde o início. Afinal, o que vale, de fato, é a jornada, não o fim.
E são os sonhos que deixam a vida mais bonita, mais agradável de ser
vivida. Por isso, esse vídeo é tão tocante. A questão não é se a meta
será atingida, se o sonho será realizado, isso é o de menos, é detalhe.
Se acontecer, ótimo. Se não acontecer, valeu o significado, a alegria
que o sonho conferiu à sua vida. Soa clichê, eu sei, mas as pessoas
tendem a abandonar o ato de sonhar ou de correr atrás de suas metas por
causa de qualquer dificuldade. Qualquer. Acabam se limitando a viver
vidas monótonas, fazendo só que é “seguro” e “garantido”, e, como
sabiamente disse Oliver Wendell Holmes, “morrem com suas músicas ainda
nelas”. Talvez o helicóptero nunca voe. Mas nada impede que ele se torne
uma obra-de arte…
O exemplo de Agustin, assim como de
tantos outros, nos inspira a perceber que na verdade, tudo é incrível. O
problema é que com o tempo, conforme “crescemos”, ficamos
mal-acostumados e passamos a achar que tudo, se já não é “conhecido”,
logo perderá a “graça”… Eu gostei de uma fala de um comediante
norte-americano em um talk show, falando sobre isso, sobre a
maravilha das coisas, da tecnologia, do mundo, que nós tendemos a
subestimar ou esquecer. Ele falava de como vivemos numa era incrível, e
mesmo assim continuamos infelizes. Particularmente, no que diz respeito
ao avanço tecnológico. Alguém com um celular de última geração, sente-se
profundamente irritado porque o aparelho levou alguns segundos a mais
do que o normal para enviar uma mensagem. “Meu deus, o sinal vai até o
espaço e volta, você não pode esperar uns segundos? Olha o milagre que é
isso!!! Até o espaço!” Assim como os aviões, que para muitos é um
transporte tão comum quanto andar de carro. As pessoas reclamam dos
atrasos, de terem que esperar no aeroporto, das cadeiras que compraram,
da comida, do sinal de internet etc. No que o comediante lembra: “Você
está sentado em uma CADEIRA, no CÉU!!!” Você está voando como um
pássaro, participando de um milagre da engenhosidade humana (de alguns
“Agustin” da vida), pelo qual você não contribuiu, e ainda reclama da
espera num aeroporto ou que teve que remarcar o vôo…” Há muitos anos
atrás, se levaria dias, se não semanas ou meses para viajar de um lugar
ao outro, e esperar vinte minutos a mais para embarcar, estraga o seu
dia? É, ou não é algo que deveríamos no mínimo nos admirar?
Então. A história de Agustin é
admirável. Espero que ela lembre a todos que a venham conhecer que a
verdadeira ilusão é não prestar atenção: achar que tudo é ou está igual
ou que nada “de novo” está acontecendo nesse instante, ou que o próximo
momento pode ser garantidamente previsto e calculado. E principalmente,
que sonhos não existem para ser necessariamente “realizados”, mas para serem vividos. O grande momento, em que tudo pode mudar, está acontecendo o tempo todo. Inclusive agora.
“O problema é que tudo é incrível, e as pessoas não aceitam isso.”