Hoje é que percebi: - sigo esquecido e alheio
e há muito tempo já que não falo de nós.. .
Não precisas no entanto ter nenhum receio,
se versos não te dou, é que hoje, em meu enleio,
tudo esqueço por ti ... quando estamos a sós ...
Ontem, - era o começo, era o sonho, a ansiedade!
A vida - - uma esperança a repartir por dois...
Hoje... hoje é tão boa a nossa intimidade
que é bastante viver, - e a própria realidade
não nos deixa pensar no que virá depois...
Ontem, - fiz do meu verso uma arma de conquista,
e teci confidências preludiando o amor...
Hoje, (perdoa se o homem sobrepuja o artista!)
- quando em tua nudez, surge bela e imprevista,
minha alma em minhas mãos tem ânsias de escultor,
Vivamos! ... E prometo então para mais tarde
mil versos, (sabes bem que um dia hei de faze-los...)
- agora, basta o amor que nos empolga e que arde,
basta que te deseje e te ame sem alarde
a mergulhar na sombra o rosto em teus cabelos!
Mais tarde, sim, mais tarde, - hás de tê-los, querida,
ressonâncias de amor, versos puros e francos,
- cantos de ave ao sol-poente, - última ária da vida,
quando a noite cerrar meus olhos, comovida
e o luar tingir de prata os teus cabelos brancos!...
- Agora, não... Agora a vida é bela, é louca,
nos sentidos em festa e em sons primaveris:
- é o beijo que procuro e mordo em tua boca!
- é a sombra que se vai... é a noite curta e pouca...
(são tão curtas as noites quando se é feliz! ...)
Sou assim, - quando vivo não escrevo, - vivo!
E não brotam meus versos de desejos vãos...
Se tenho em minhas mãos teu corpo cativo,
É inútil insistir meu pensamento é esquivo
Só tu existes, tu! e a ânsia das minhas mãos...
Ontem, dava-te versos, versos que relias
com um estranho langor nos olhos extasiados...
Hoje, - encho de beijos tuas mãos vazias,
- e esquecidos do tempo, vão rolando os dias...
e as noites vão rolando em teus olhos cerrados!
Hoje é que percebi num segundo de sonho:
- já não faço mais versos sobre o nosso amor...
Mas, que importa? - se vejo o teu olhar risonho...
- Os versos que em silencio em teu corpo componho
São os mais belos talvez que faço em teu louvor! ...