Esta série
foi extraída do Livro de Urântia. Os 77 capítulos, mais de 700 páginas, que
ocupam um terço do livro, dão dia a dia, toda a vida de Jesus Cristo desde sua
infância. Dão 16 vezes mais informações sobre a vida e os ensinamentos de Jesus
do que a Bíblia. É o relato mais espiritual sobre Jesus até hoje escrito.
O INTERLÚDIO DA
VISITA A JERUSALÉ
Jesus e os apóstolos chegaram a Cafarnaum na quarta-feira, 17 de
março, e passaram duas semanas na sua sede-alojamento, em Betsaida, antes de
partir para Jerusalém. Nessas duas semanas, os apóstolos ensinaram ao povo,
perto do mar, enquanto Jesus passou muito tempo a sós, nas colinas, cuidando
dos assuntos do seu Pai. Durante esse período, Jesus, acompanhado por Tiago e
João Zebedeu, fez duas viagens secretas a Tiberíades, onde se encontraram com
os crentes e instruíram-nos sobre o evangelho do Reino.
Muitos daqueles empregados que cuidavam da casa de Herodes acreditavam em Jesus e compareciam a esses encontros. Foi a influência desses crentes, sobre a família oficial de Herodes, que ajudou a diminuir a inimizade do governante para com Jesus. Esses crentes de Tiberíades haviam explicado muito bem a Herodes que o “Reino”, proclamado por Jesus, tinha natureza espiritual não tendo nenhum fundo político. Herodes preferiu acreditar nesses membros da sua própria casa, não se permitindo ficar indevidamente alarmado com a ampla divulgação a respeito das curas e dos ensinamentos de Jesus. Ele não fazia objeções nem ao trabalho de cura de Jesus, nem à sua obra como Mestre religioso. Não obstante a atitude favorável de muitos dos conselheiros de Herodes, e até mesmo a do próprio Herodes, existia um grupo de subordinados seus que era bastante influenciado pelos líderes religiosos de Jerusalém, a ponto de permanecerem inimigos amargos e ameaçadores de Jesus e dos apóstolos; e estes, mais tarde, muito fizeram para obstruir as atividades públicas deles. O maior perigo para Jesus estava nos líderes religiosos de Jerusalém, e não em Herodes. E foi por essa mesma razão que Jesus e os apóstolos passaram tanto tempo na Galiléia e fizeram a maioria das pregações públicas na Galiléia, mais do que em Jerusalém e na Judéia.
1. O cervo do centurião
No dia anterior aos preparativos da festa de Páscoa em Jerusalém, para onde Jesus iria, Mangus, um centurião, ou capitão da guarda romana aquartelada em Cafarnaum, foi até os dirigentes da sinagoga e disse: “O meu fiel ordenança está doente a ponto de morrer. Poderíeis vós, portanto, ir até Jesus, da minha parte, e implorar a ele que cure o meu servo?” O capitão romano fez isso pensando que os líderes judeus pudessem ter influência junto a Jesus. E então os anciães foram ver Jesus, e o porta-voz deles disse: “Instrutor, nós te pedimos sinceramente que vá até Cafarnaum e salve o servo favorito do centurião romano, que se faz digno da tua atenção, porque ele ama a nossa nação e até nos construiu aquela mesma sinagoga onde tantas vezes tu falaste”.
Muitos daqueles empregados que cuidavam da casa de Herodes acreditavam em Jesus e compareciam a esses encontros. Foi a influência desses crentes, sobre a família oficial de Herodes, que ajudou a diminuir a inimizade do governante para com Jesus. Esses crentes de Tiberíades haviam explicado muito bem a Herodes que o “Reino”, proclamado por Jesus, tinha natureza espiritual não tendo nenhum fundo político. Herodes preferiu acreditar nesses membros da sua própria casa, não se permitindo ficar indevidamente alarmado com a ampla divulgação a respeito das curas e dos ensinamentos de Jesus. Ele não fazia objeções nem ao trabalho de cura de Jesus, nem à sua obra como Mestre religioso. Não obstante a atitude favorável de muitos dos conselheiros de Herodes, e até mesmo a do próprio Herodes, existia um grupo de subordinados seus que era bastante influenciado pelos líderes religiosos de Jerusalém, a ponto de permanecerem inimigos amargos e ameaçadores de Jesus e dos apóstolos; e estes, mais tarde, muito fizeram para obstruir as atividades públicas deles. O maior perigo para Jesus estava nos líderes religiosos de Jerusalém, e não em Herodes. E foi por essa mesma razão que Jesus e os apóstolos passaram tanto tempo na Galiléia e fizeram a maioria das pregações públicas na Galiléia, mais do que em Jerusalém e na Judéia.
1. O cervo do centurião
No dia anterior aos preparativos da festa de Páscoa em Jerusalém, para onde Jesus iria, Mangus, um centurião, ou capitão da guarda romana aquartelada em Cafarnaum, foi até os dirigentes da sinagoga e disse: “O meu fiel ordenança está doente a ponto de morrer. Poderíeis vós, portanto, ir até Jesus, da minha parte, e implorar a ele que cure o meu servo?” O capitão romano fez isso pensando que os líderes judeus pudessem ter influência junto a Jesus. E então os anciães foram ver Jesus, e o porta-voz deles disse: “Instrutor, nós te pedimos sinceramente que vá até Cafarnaum e salve o servo favorito do centurião romano, que se faz digno da tua atenção, porque ele ama a nossa nação e até nos construiu aquela mesma sinagoga onde tantas vezes tu falaste”.
E, depois de ouvi-los, Jesus disse: “Eu irei convosco”. E foi com eles até a casa do centurião; e este soldado romano havia enviado os amigos para receberem Jesus, antes de entrar na casa, instruindo-os para que lhe dissessem: “Senhor, não te incomodes de entrar na minha casa, pois não sou digno de que estejas sob o meu teto. Nem me julguei digno de ir até a ti; motivo pelo qual eu enviei os anciães do teu próprio povo até a ti. Mas sei que podes dizer uma palavra, de onde estás, e o meu servo será curado. Pois estou eu próprio sob as ordens de outros e, tendo soldados sob as minhas ordens, quando eu digo a este que vá, ele vai, e se a outro digo que venha, ele vem, e aos meus servos digo que façam isso ou aquilo, e eles fazem”.
E quando Jesus ouviu essas palavras, voltou-se e disse aos seus apóstolos e àqueles que estavam com eles: “Estou admirado com a crença do gentio. Em verdade, em verdade, eu vos digo que não encontrei uma fé tão grande assim, não nos de Israel”. E, afastando-se da casa, Jesus disse: “Vamos embora, então”. E os amigos do centurião foram até a casa e contaram a Mangus o que Jesus havia dito. E, a partir daquela hora, o servo começou a melhorar, até voltar à saúde e capacidade normais.
Mas nós nunca soubemos o que aconteceu nessa ocasião. Isso é simplesmente o que está registrado; se os seres invisíveis ministraram a cura ao servo do centurião ou não, isso não foi revelado àqueles que acompanhavam Jesus. Sabemos apenas do fato da recuperação completa do servo.
2. A VIAGEM A JERUSALÉM
Cedo, na manhã de terça-feira, 30 de março, Jesus e o grupo dos apóstolos iniciaram a sua viagem a Jerusalém, para a Páscoa, indo pela estrada do vale do Jordão. Chegaram na tarde de sexta-feira, 2 de abril, e estabeleceram o seu centro de operações na Betânia, como de costume. Passando por Jericó, eles pararam para descansar, enquanto Judas fez um depósito de algumas das economias comuns, no banco de um amigo da sua família. Essa foi a primeira vez que Judas havia levado uma quantidade excedente de dinheiro; e esse depósito foi deixado intacto, até que eles passassem por Jericó novamente, quando daquela última viagem, cheia de acontecimentos, até Jerusalém, pouco antes do julgamento e da morte de Jesus.
O grupo fez uma viagem sem incidentes a Jerusalém, mas, mal se haviam instalado na Betânia, quando, vindos de perto e de longe, começaram a reunir-se todos aqueles que procuravam curas para os seus corpos, conforto para as mentes angustiadas e a salvação para as suas almas. E o número destes cresceu tanto que pouco tempo teve Jesus para descansar. E então o grupo armou as barracas no Getsêmane; e o Mestre ia da Betânia ao Getsêmane e voltava, para evitar as multidões, que tão constantemente assediavam-no. O grupo dos apóstolos passou quase três semanas em Jerusalém, mas Jesus conclamou-os a não fazer pregações públicas, que ensinassem apenas em particular e por meio do trabalho pessoal.
Na Betânia, eles celebraram a Páscoa sem estardalhaço. E essa foi a primeira vez em que Jesus e todos os doze partilharam de uma festa de Páscoa, sem derramamento de sangue. Os apóstolos de João não cearam com Jesus e os apóstolos, na Páscoa; eles celebraram a festa com Abner e muitos dos antigos crentes das pregações de João. Essa era a segunda Páscoa que Jesus observava, junto com os seus apóstolos, em Jerusalém.
Quando Jesus e os doze partiram para Cafarnaum, os apóstolos de João não foram com eles. Sob a direção de Abner, permaneceram em Jerusalém e nas vizinhanças, trabalhando silenciosamente para a expansão do Reino; enquanto Jesus e os doze retornaram para trabalhar na Galiléia. Nunca mais, os vinte e quatro estiveram todos juntos, até um pouco antes da escolha e do envio dos setenta evangelistas. Todavia, os dois grupos cooperaram entre si e, não obstante as diferenças de opinião entre eles, prevaleceu o melhor dos sentimentos.
3. NA PISCINA DE BETESDA
Na tarde do segundo sábado em Jerusalém, pouco antes de os apóstolos e o Mestre iniciarem a sua participação nos serviços do templo, João disse a Jesus: “Vem comigo, quero mostrar-te uma coisa”. João levou Jesus até um dos portões de Jerusalém, onde havia uma piscina de água chamada Betesda. Em volta dessa piscina havia uma estrutura de cinco arcadas, sob as quais um grande grupo de doentes aguardava a cura. Tratava-se de uma fonte cuja água quente avermelhada borbulhava em intervalos irregulares, por causa do acúmulo de gás nas cavernas de rocha, por baixo da piscina. Tal alteração periódica, nas águas quentes, era considerada por muitos como sendo devida a influências sobrenaturais. E era uma crença popular que a primeira pessoa a entrar na água, depois daquele borbulhamento, seria curada de qualquer enfermidade.
Os apóstolos ficaram um tanto desassossegados sob as restrições impostas por Jesus, e, João, o mais jovem dos doze, estava especialmente irrequieto em vista dessa restrição. Ele havia levado Jesus até a piscina, pensando que a visão dos doentes reunidos fizesse um tal apelo à compaixão que ele fosse induzido a realizar um milagre de cura e, pois, assim, toda Jerusalém ficaria maravilhada e em breve seria levada a crer no evangelho do Reino. Disse João a Jesus: “Mestre, vê todos esses sofredores; não há nada que possamos fazer por eles?” E Jesus respondeu: “João, por que tu me trazes essa tentação para que eu me desvie do caminho que escolhi? Por que continuar desejando substituir a proclamação do evangelho da verdade eterna, pela realização de prodígios e cura de doentes? Meu filho, posso não chegar a fazer o que desejas, mas reúna esses doentes e afligidos para que eu possa dizer umas palavras de novo ânimo e conforto eterno a eles”.
Diante dos que lá estavam, Jesus disse: “Muitos de vós, doentes e afligidos, estais aqui por causa dos vossos longos anos de vida errônea. Alguns sofrem em vista de acidentes do tempo, outros em conseqüência de erros dos seus ancestrais, enquanto alguns de vós lutais contra as limitações das condições imperfeitas da vossa existência temporal. Mas o meu Pai tudo faz e também eu gostaria de trabalhar para melhorar o vosso estado terreno, mas, mais especialmente para assegurar-vos o vosso estado como seres eternos. Nenhum de nós nada mais pode fazer, para mudar as dificuldades da vida, a menos que descubramos que o Pai no céu quer assim. Afinal, estamos destinados a fazer todos a vontade do Eterno. Se pudésseis, todos, ser curados das vossas aflições físicas, vós todos, de fato, ficaríeis maravilhados, porém, mais importante ainda é que sejais todos purificados de quaisquer doenças espirituais e que vos vejais curados de quaisquer enfermidades morais. Sois todos filhos de Deus; sois os filhos do Pai celeste. Os elos do tempo podem parecer afligir-vos, mas o Deus da eternidade vos ama. E, quando a hora do julgamento tiver chegado, não temais, vós todos encontrareis, não apenas a justiça, mas uma abundância em misericórdia. Em verdade, em verdade, eu vos digo: Aquele que ouve o evangelho do Reino; e crê nesse ensinamento de filiação a Deus, tem a vida eterna; e os crentes, assim, já estão passando do julgamento e da morte para a luz e a vida. E a hora está chegando em que mesmo aqueles que estão nas sepulturas escutarão a voz da ressurreição”.
E, muitos dos que ouviram, acreditaram na boa-nova do Reino. Alguns dos aflitos sentiram-se tão inspirados tão revivificados espiritualmente, que saíram proclamando também haver sido curados das suas indisposições físicas.
Um homem que tinha estado deprimido e gravemente afligido, por muitos anos, com as enfermidades da sua mente perturbada, rejubilou-se com as palavras de Jesus e, recolhendo o seu leito, foi para a sua casa, mesmo sendo dia de sábado. Esse homem aflito havia esperado, durante muitos anos, por alguém que o ajudasse; era uma vítima do sentimento de seu próprio desamparo, que nunca sequer havia concebido a idéia de ajudar a si próprio; e ficou demonstrado que a única coisa que tinha a fazer para recuperar-se de fato era pegar o seu leito e andar.
Então disse Jesus a João: “Partamos, antes que o dirigente dos sacerdotes e escribas venham a nós e se ofendam, porque eu disse palavras de vida a esses aflitos”. E voltaram ao templo para unir-se aos seus companheiros; e logo todos partiram com o objetivo de passar a noite na Betânia. Mas João nunca disse aos outros apóstolos sobre essa visita, dele e de Jesus, à piscina de Betesda naquele sábado à tarde.
4. A REGRA DE VIVER
Na noite desse mesmo sábado, na Betânia, enquanto Jesus, os doze, e um grupo de crentes estavam reunidos em volta do fogo, no jardim de Lázaro, Natanael fez esta pergunta a Jesus: “Mestre, embora tenhas ensinado a nós a versão positiva da velha regra de viver, instruindo-nos para que façamos aos outros do modo como gostaríamos que fizessem a nós, eu não sei exatamente como podemos estar sempre obedecendo a essa injunção. Deixe-me ilustrar a minha pergunta, citando o exemplo de um homem cheio de desejo sensual, que vê, assim, em pecado, a sua futura consorte. Como podemos ensinar a esse homem, de más intenções, que ele deveria fazer aos outros o que gostaria que fizessem a si?”
Ao ouvir a pergunta de Natanael, imediatamente Jesus colocou-se de pé e, com o dedo apontado para o apóstolo, disse: “Natanael, Natanael! Que modo de pensar este que acontece no teu coração? Tu recebes os meus ensinamentos como alguém que nasceu do espírito? Tu não ouves a verdade como faz um homem de sabedoria e de compreensão espiritual? Quando te aconselhei a fazer aos outros do mesmo modo como gostarias que fizessem a ti, referia-me a homens de ideais elevados, não àqueles que seriam tentados a distorcer os meus ensinamentos a ponto de transformá-los em uma licença para encorajar más ações”.
Depois que o Mestre falou, Natanael levantou-se e disse: “Mestre, mas tu não devias pensar que eu aprovo uma tal interpretação para o teu ensinamento. Eu fiz a pergunta porque conjecturei que muitos homens poderiam julgar assim erradamente o teu conselho, e esperava que tu fosses gostar de dar-nos mais instruções a respeito dessas questões”. E, então, quando Natanael de novo sentou-se, Jesus continuou falando: “Eu bem sei, Natanael, que essa idéia do mal não encontra aprovação na tua mente, mas estou desapontado pelo fato de que todos vós, tão freqüentemente, deixais de dar uma interpretação genuinamente espiritual aos meus ensinamentos mais comuns, a umas instruções que vos devo dar em linguagem humana e do modo como falam os homens. Deixe-me agora ensinar a respeito dos níveis diferentes de significados ligados à interpretação dessa regra de viver, sobre esse conselho de ‘fazer aos outros o que desejais que seja feito a vós’:
“1. No nível da carne. Essa interpretação puramente egoísta e cheia de desejo sensual seria bem exemplificada pela suposição da tua pergunta.
“2. No nível dos sentimentos. Esse plano é um nível mais elevado do que o da carne e implica que a compaixão e a piedade elevem a nossa interpretação dessa regra de viver.
“3. No nível da mente. Agora, vêm à ação a razão da mente e a inteligência da experiência. O bom julgamento dita que essa regra para viver deveria ser interpretada em consonância com o idealismo mais elevado, incorporado na nobreza do auto-respeito profundo.
“4. No nível do amor fraterno. Ainda mais elevado descobrimos ser o nível da devoção não-egoísta ao bem-estar do nosso semelhante. Nesse plano mais elevado, do serviço social sincero, que nasce da consciência da paternidade de Deus e do reconhecimento conseqüente da irmandade entre os homens, é descoberta uma interpretação nova e muito mais bela dessa regra básica para viver.
“5. No nível moral. E então, quando alcançardes os níveis filosóficos verdadeiros de interpretação, quando tiverdes o verdadeiro discernimento do certo e do errado, quando perceberdes a eterna adequação das relações humanas, começareis a ver tal problema de interpretação como se vos imaginásseis como uma terceira pessoa, de mente elevada, idealista, sábia e imparcial, a ver e interpretar essa injunção, enquanto aplicada aos vossos problemas pessoais de ajustamentos às situações da vossa vida.
“6. No nível espiritual. E então alcançamos finalmente o mais elevado de todos, o nível do discernimento do espírito e das interpretações espirituais que nos impelem a reconhecer, nessa regra de viver, o comando divino para tratar a todos os homens como concebemos que Deus os trataria. Esse é o ideal universal nas relações humanas. E essa será a vossa atitude para com todos esses problemas, quando o vosso desejo supremo chegar a ser sempre o de fazer a vontade do Pai. Eu gostaria, pois, que fizésseis a todos os homens aquilo que vós sabeis que eu faria a eles, nas mesmas circunstâncias”.
Nada que Jesus disse aos apóstolos, até este momento, os havia espantado mais. Eles continuaram a discutir as palavras do Mestre, até muito depois de Jesus haver saído. Embora Natanael tenha sido lento para recuperar-se da sua suposição de que Jesus não havia compreendido bem o espírito da sua pergunta, os outros estavam mais do que agradecidos pelo fato de que o filosófico apóstolo, companheiro deles, tinha tido a coragem de fazer uma pergunta tão estimulante ao pensamento.
5. A VISITA A SIMÃO, O FARISEU
Embora Simão não fosse um membro do sinédrio judeu, ele era um fariseu influente em Jerusalém. Era um crente pouco fervoroso e, ainda que pudesse ser criticado severamente por isso, ele ousou convidar Jesus e os seus colaboradores pessoais, Pedro, Tiago e João, para um banquete social na sua casa. Simão vinha já observando o Mestre, há longo tempo, e estava bastante bem impressionado com os seus ensinamentos e mais ainda com a sua personalidade.
Os fariseus ricos eram dados a prestar assistência aos mendigos, e não evitavam a publicidade dada à sua filantropia. Algumas vezes faziam até soar as trombetas, quando estavam para conceder alguma caridade a algum mendigo. Era costume desses fariseus, ao oferecerem banquetes para convidados distintos, deixarem abertas as portas da casa, para que até mesmo os mendigos das ruas pudessem entrar e, permanecendo perto das paredes da sala, atrás dos sofás dos que se banqueteavam, ficavam em posição de receber as porções de comida que lhes eram lançadas pelos convivas.
Nessa ocasião, em particular, na casa de Simão, entre aqueles que vieram das ruas, estava uma mulher de reputação duvidosa, que recentemente havia tornado-se uma crente das boas-novas do evangelho do Reino. Essa mulher era bem conhecida em toda Jerusalém como sendo a antiga dona de um dos chamados bordéis de alta classe, localizado bem perto da praça dos gentios no templo. Tinha ela, ao aceitar os ensinamentos de Jesus, fechado o seu depravado local de negócios e havia induzido a maioria das mulheres ligadas a ela a aceitarem o evangelho e a mudarem os seus meios de vida; não obstante isso, os fariseus ainda mantinham por ela um grande desdém, e ela era obrigada a usar os seus cabelos soltos para baixo – o que era um estigma da prostituição. Essa mulher, de nome não revelado, havia trazido consigo um grande frasco de ungüento perfumado e, permanecendo por trás de Jesus, enquanto assentado ele tomava a refeição, começou a ungir os seus pés, ao mesmo tempo em que também umedecia os pés dele com as suas lágrimas de gratidão, enxugando-os com o próprio cabelo. E quando acabou essa unção, ela continuou chorando e beijando os seus pés.
Quando Simão viu tudo isso, disse para si próprio: “Se esse homem fosse um profeta, teria percebido que espécie de mulher é essa, que toca nele desse modo, pois é uma pecadora notória”. E Jesus, sabendo o que se passava na mente de Simão, manifestou-se, dizendo: “Simão, tenho algo que gostaria de dizer a ti”. Simão respondeu: “Mestre, diga, pois, o que é”. Jesus então disse: “Um certo homem rico, que emprestava dinheiro, possuía dois devedores. Um devia-lhe quinhentos denários e o outro cinqüenta. Ora, nenhum dos dois possuía com que pagar; e ele perdoou-os a ambos. Qual dos dois supões, Simão, que o amará mais?” Simão respondeu: “Suponho que seja aquele a quem ele perdoou a maior quantia”. E Jesus disse: “Tu julgaste certo” e, apontando para a mulher, ele continuou: “Simão, dá uma boa olhada nesta mulher. Eu entrei na tua casa como um convidado, mas tu não me deste nenhuma água para os meus pés. Essa mulher agradecida lavou os meus pés com lágrimas e enxugou-os com os próprios cabelos. Tu não me deste nenhum beijo de acolhimento amistoso, mas essa mulher, desde que veio até aqui, não cessou de beijar os meus pés. Tu não ungiste a minha cabeça, mas ela ungiu os meus pés com loções preciosas. E qual o significado de tudo isso? Simplesmente que os seus muitos pecados lhe foram perdoados, e isso levou-a a um grande amor. Mas aqueles que não receberam senão um pouco de perdão, algumas vezes não amam senão muito pouco”. E voltando-se para a mulher, tomou-a pela mão e, levantando-a, disse: “Tu de fato te arrependeste dos teus pecados, e eles te foram perdoados. Não fiques desencorajada com a atitude impensada e pouco gentil dos teus semelhantes, vai, no júbilo e na liberdade do Reino do céu”.
Quando ouviram essas palavras, Simão e os seus amigos, assentados à mesa para banquetear-se, ficaram ainda mais atônitos e começaram a sussurrar entre si: “Quem é esse homem, que chega mesmo a ousar perdoar pecados?” Quando os ouviu murmurando assim, Jesus voltou-se para despedir-se da mulher, dizendo: “Mulher, vai em paz; a tua fé te salvou”.
Ao levantar-se, com os seus amigos, a fim de imediatamente saírem, Jesus voltou-se para Simão e disse: “Conheço o teu coração, Simão, sei o quanto estás dilacerado entre a fé e as dúvidas, o quanto estás tomado pelo medo e perturbado pelo orgulho; mas eu oro para que possas alcançar a luz e para que experimentes apenas transformações de mente e de espírito, durante o teu período de vida, tão grandiosas que possam ser comparáveis às tremendas mudanças que o evangelho do Reino já fez no coração dos teus convidados intrusos e que não foram bem-vindos. E eu declaro a todos vós que o Pai abriu as portas do Reino celeste para que entrem todos os que têm fé, e nenhum homem, ou grupo de homens, pode fechar essas portas, nem mesmo para a alma mais humilde, nem para aquele que for supostamente o mais flagrante pecador na Terra, se tal pecador buscar entrar com sinceridade”. E Jesus, levando Pedro, Tiago e João consigo, deixaram aquele anfitrião e foram juntar-se ao restante dos apóstolos, no acampamento, no jardim do Getsêmane.
Naquela mesma noite Jesus fez, aos apóstolos, o discurso, que ficaria por tanto tempo na memória de todos, a respeito do valor relativo do estado do homem perante Deus e do progresso na sua ascensão eterna ao Paraíso. Jesus disse: “Meus filhos, se existe uma conexão viva e verdadeira entre o filho e o Pai, o filho pode ficar seguro de progredir continuamente na direção dos ideais do Pai. Bem verdade é que o filho pode ser inicialmente lento no seu progresso, mas, nem por isso o progresso deixa de ser seguro. A coisa importante não é a rapidez do vosso progresso, mas, antes, a sua segurança. A vossa realização factual não é tão importante quanto o fato de que a direção do vosso progresso é no sentido de Deus. Aquilo em que vos estais transformando, dia após dia, é de uma importância infinitamente maior do que o que sois hoje.
“Essa mulher transformada, a quem alguns de vós hoje vistes na casa de Simão, encontra-se neste momento, vivendo em um nível muito abaixo daquele de Simão e dos seus companheiros bem-intencionados; mas, enquanto esses fariseus ocupam-se com um progresso falso, na ilusão de atravessar ciclos enganosos de serviços cerimoniais sem significado, essa mulher começou, infalivelmente, na busca longa e cheia de acontecimentos por Deus, e o seu caminho na direção do céu não está bloqueado pelo orgulho espiritual e pela auto-satisfação moral. Humanamente falando, essa mulher está muito mais distante de Deus do que Simão, mas, a sua alma encontra-se em um movimento progressivo; ela está no caminho da meta eterna. Nessa mulher imensas possibilidades espirituais para o futuro, estão presentes. Alguns de vós podeis não estar em níveis factuais elevados de alma e de espírito, mas estais fazendo progressos diários, no caminho vivo, aberto para cima, por intermédio da fé, até Deus. Há possibilidades imensas em cada um de vós, para o futuro. De longe, é melhor ter uma fé pequena, mas viva, e em crescimento, do que estar possuído por um grande intelecto, com os seus estoques mortos de sabedoria temporal e de incredulidade espiritual.”
Jesus, contudo, advertiu sinceramente os seus apóstolos contra a tolice do filho de Deus que passa a vangloriar-se do amor do Pai. Ele declarou que o Pai celeste não é um Pai lasso, frouxo ou tolo, na indulgência; que está sempre pronto a perdoar os pecados e relevar as negligências. Ele preveniu aos seus ouvintes para não aplicarem de modo errado os seus exemplos sobre o pai e o filho, a ponto de fazer parecer que Deus é como alguns pais ultra-indulgentes e pouco sábios, que conspiram, com os tolos da Terra, para aceitar a ruína moral dos seus filhos imprudentes e que, com isso, contribuem, com certeza e diretamente, para a delinqüência e a desmoralização prematura da sua própria progênie. Jesus disse: “O meu Pai não fecha os seus olhos, com indulgência, para os atos dos seus filhos e para as suas práticas autodestrutivas ou suicidas contra o crescimento moral e o progresso espiritual. Essas práticas pecaminosas são uma abominação aos olhos de Deus”.
Jesus compareceu a muitos outros encontros semiprivados, com os poderosos e os humildes, os ricos e os pobres de Jerusalém, antes que ele e os seus apóstolos finalmente partissem para Cafarnaum. E muitos, de fato, tornaram-se crentes no evangelho do Reino e foram posteriormente batizados por Abner e pelos seus condiscípulos, que permaneceram em Jerusalém e nas suas vizinhanças, com o intuito de despertar o interesse para o Reino.
6. RETORNANDO A CAFARNAUM
Na última semana de abril, Jesus e os doze partiram do seu centro na Betânia, perto de Jerusalém, e começaram a sua viagem de volta para Cafarnaum, pelo caminho de Jericó e do Jordão.
Os sacerdotes principais e os líderes religiosos dos judeus tiveram muitos encontros secretos com o propósito de decidir o que fazer com Jesus. Eles concordavam que alguma coisa deveria ser feita, para colocar um ponto final nos ensinamentos de Jesus, mas não conseguiam chegar ao consenso quanto ao método. Eles haviam esperado que as autoridades civis dessem a ele um destino, da mesma forma que Herodes havia posto um fim em João, mas descobriram que Jesus estava conduzindo a sua obra de um modo que os oficiais romanos não ficassem muito alarmados com as suas pregações. Dessa maneira, em um encontro que aconteceu no dia antes da partida de Jesus para Cafarnaum, ficou decidido que ele teria de ser apreendido sob uma acusação religiosa e ser julgado pelo sinédrio. Por essa razão, uma comissão de seis espiões secretos ficou encarregada de seguir Jesus e observar as suas palavras e os seus atos; e, quando houvesse reunido evidências suficientes de atos contra a lei e blasfêmias, devia retornar a Jerusalém com um relatório. Esses seis judeus alcançaram o grupo apostólico, em número aproximado de trinta pessoas, em Jericó; e, com o pretexto de desejarem tornar-se discípulos, vincularam-se à família de seguidores de Jesus, permanecendo com o grupo até a época do início da segunda viagem de pregação na Galiléia; depois do que, três deles retornaram a Jerusalém para submeterem o seu relatório ao dirigente dos sacerdotes e ao sinédrio.
Pedro pregou à multidão reunida na travessia do Jordão e, na manhã seguinte, eles seguiram rio acima, até Amatos. Eles queriam prosseguir direto até Cafarnaum, mas, ajuntou-se ali uma tal multidão, que permaneceram lá por três dias, pregando, ensinando e batizando. Eles só se deslocaram na direção de casa no sábado, cedo, o primeiro dia de maio. Os espiões de Jerusalém estavam certos de assegurarem, então, a sua primeira acusação contra Jesus – a de não guardar o sábado –, pois eles presumiram ter ele começado a sua viagem no dia de sábado. Mas estavam fadados ao desapontamento porque, pouco antes da sua partida, Jesus chamou André à sua presença e, diante deles todos, instruiu André a continuar até uma distância de apenas mil metros, a caminhada máxima permitida, segundo a lei judaica, a uma viagem feita no sábado.
Mas os espiões não tiveram que esperar muito por uma oportunidade para acusar Jesus e os seus seguidores de não guardarem o sábado. Quando o grupo passava por uma estrada estreita, na qual o trigo tremulava maduro, em ambos os lados e ao alcance das mãos, alguns dos apóstolos estando famintos, arrancaram o grão maduro e comeram. Era costumeiro entre os viajantes servir-se do grão ao passarem pela estrada; e, portanto, nenhum pensamento de estar fazendo algo errado ligava-se a tal conduta. Contudo, os espiões apegaram-se a isso como um pretexto para injuriar Jesus. Quando viram André esfregando nas mãos os grãos, foram até ele e disseram: “Não sabes que é ilegal colher e triturar o grão no dia de sábado?” Ao que André respondeu: “Mas estamos famintos e trituramos apenas o suficiente para as nossas necessidades. E desde quando se tornou pecado comer grão no sábado?” E os fariseus responderam: “Nada de mal, em comer, mas tu estás contra a lei quando arrancas e trituras o grão entre as mãos; o teu Mestre certamente não aprovaria tais atos”. E então André disse: “Mas se não é errado comer o grão, certo é que o esfregar, entre as nossas mãos, dificilmente é mais trabalho do que mastigar o grão; e isso é permitido. Qual motivo que vos leva a preocupar com tais minúcias de pouca importância?” Quando André sugeriu que estavam apegando-se a picuinhas, eles ficaram indignados e, correndo até onde Jesus caminhava, falando com Mateus, eles protestaram: “Olhai, Instrutor, os teus apóstolos fazem o que está fora da lei, no sábado; eles arrancam, amassam e comem o grão. Estamos seguros de que tu irás mandar que eles parem”. E então Jesus disse aos acusadores: “Vós sois de fato zelosos com a lei, e fazeis bem em lembrar que deveis manter santificado o dia de sábado. Todavia, nunca lestes nas escrituras que, num dia em que Davi estava faminto, ele e aqueles que o acompanhavam entraram na casa de Deus e comeram o pão das oferendas, das quais não seria legal que ninguém comesse, a não ser os sacerdotes? E Davi também deu desse pão àqueles que estavam com ele. E não lestes na vossa lei, que temos o direito de fazer muitas coisas que são imprescindíveis, no sábado? E não vos verei, antes do dia terminar, comendo aquilo que trouxestes para as necessidades desse dia? Meus bons homens, fazeis bem em serdes zelosos com o dia de sábado, mas faríeis melhor se guardásseis a saúde e o bem-estar dos vossos semelhantes. Eu declaro que o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. E, se estais presentes aqui conosco, para guardar as minhas palavras, então eu proclamarei abertamente que o Filho do Homem é senhor até mesmo do sábado”.
Os fariseus ficaram atônitos e confundidos com aquelas palavras de discernimento e de sabedoria. Pelo restante do dia, mantiveram-se sós e não ousaram fazer mais perguntas.
O antagonismo que Jesus tinha para com as tradições e os cerimoniais judaicos escravizadores era sempre positivo. Consistia no que ele fazia e no que ele afirmava. O Mestre pouco gastou do seu tempo em denúncias negativas. Ele ensinou que aqueles que conhecem a Deus podem gozar da liberdade de viver sem enganarem-se a si próprios sobre as licenças do pecado. Disse Jesus aos seus apóstolos: “Homens, se fordes esclarecidos pela verdade e se realmente souberdes o que estais fazendo, sereis abençoados; mas se não conheceis o caminho divino, vós sereis infelizes e violadores da lei”.
7. EM CAFARNAUM
Quando Jesus e os doze chegaram em Betsaida, de barco, passando por Tariquéia, já era o meio-dia da segunda-feira, 3 de maio. Atravessaram de barco para desviar daqueles que iam atrás deles. No dia seguinte, todavia, os outros, incluindo os espiões oficiais de Jerusalém, haviam alcançado Jesus de novo.
Na terça-feira à noite, Jesus estava dando uma das suas palestras costumeiras, na forma de perguntas e respostas, quando o líder dos seis espiões disse a ele: “Hoje eu estava conversando com um dos discípulos de João, que se encontra aqui ouvindo ao teu ensinamento, e nós não conseguimos compreender por que tu nunca mandas aos teus discípulos que jejuem e orem como nós fariseus jejuamos e como João proclamava aos seus seguidores que fizessem”. E Jesus, referindo-se ao que tinha sido afirmado por João, respondeu ao seu interlocutor: “Acaso os acompanhantes nupciais do noivo jejuam, quando o noivo está com eles? Enquanto o noivo permanece com eles, mal eles podem jejuar. Mas é chegado o tempo em que o noivo deve afastar-se, e durante esses tempos os acompanhantes do noivo à câmara nupcial sem dúvida jejuarão e orarão. Orar é natural para os filhos da luz, mas jejuar não é uma parte do evangelho do Reino do céu. Lembrai-vos de que um alfaiate sábio não costura um pedaço de tecido novo e passado, em uma roupa velha, para que, quando for molhado, esse tecido não encolha nem cause um rasgo pior. E os homens também não colocam o vinho novo em odres velhos, para que o vinho novo não rompa a pele do odre, fazendo com que tanto o vinho quanto o odre se estraguem. O homem sábio põe o vinho novo em odres de peles novas. E, portanto, os meus discípulos demonstram a sabedoria de não trazerem muito da velha ordem para o ensinamento novo, do evangelho do Reino. Para vós, que perdestes o vosso instrutor, pode justificar-se que jejuem por um determinado tempo. O jejum pode ser uma parte apropriada da Lei de Moisés, mas no Reino vindouro os filhos de Deus terão a experiência de serem livres do medo e de rejubilarem-se no espírito divino”.
Ao ouvirem essas palavras os discípulos de João ficaram confortados, ao passo que os próprios fariseus tornaram-se ainda mais confusos.
Então o Mestre prosseguiu, advertindo os seus discípulos para que não nutrissem a noção de que todos os velhos ensinamentos devem ser inteiramente substituídos por novas doutrinas. Disse Jesus: “Aquilo que é velho, mas que é também verdade deve permanecer. Do mesmo modo, aquilo que é novo, mas que é falso, deve ser rejeitado. Contudo, deveis ter a fé e a coragem para aceitar aquilo que é novo e que também é verdadeiro. Lembrai-vos do que está escrito: ‘Não abandoneis um velho amigo, pois o novo não é comparável a ele. Um novo amigo é como um vinho novo; se envelhecer, vós bebereis dele com mais contentamento’”.
8. A FESTA DA BONDADE ESPIRITUAL
Naquela noite, até bem após os ouvintes habituais haverem-se retirado, Jesus continuou a ensinar aos seus apóstolos. E começou essa instrução especial citando do profeta Isaías:
“Por que jejuastes? Por que razão então afligis as vossas almas, se continuais a ter prazer na opressão e a deliciar-vos com a injustiça? Vede, jejuais para poderdes contestar e discutir e para vos inflamar com os punhos da maldade. Contudo, não deveis jejuar desse modo, se tendes o intuito de fazer as vossas vozes ouvidas no alto.
“‘Teria sido esse o jejum que eu escolhi – um dia para um homem afligir a sua alma? É necessário que ele abaixe a sua cabeça como um touro, que se rebaixe na aniagem e nas cinzas? Ousareis chamar a isso de jejum e de um dia aceitável, perante os olhos do Senhor? Esse, o jejum que eu deveria escolher; o de romper as correntes da maldade, desfazer os nós das cargas pesadas, deixar liberto o oprimido e arrebentar com todo o jugo? Não é para eu partilhar o meu pão com os famintos e levar à minha casa aqueles que são pobres, e que não têm teto? E, quando eu vir aqueles que estão despidos, eu colocarei roupa neles.
“‘Então a vossa luz irromperá, como a manhã, e a vossa saúde aflorará rapidamente. A vossa retidão chegará antes de vós, enquanto a glória do Senhor manterá a vossa retaguarda. Então apelareis ao Senhor e Ele responderá; gritareis, e Ele dirá: Aqui estou Eu. E tudo isso Ele fará se vos abstiverdes da opressão, da condenação e da vaidade. O Pai deseja, mais, que sejais pródigos de coração para com os famintos, e que ministreis às almas afligidas; então a vossa luz brilhará na escuridão, e as vossas trevas serão mesmo como a luz do meio-dia. Então o Senhor guiar-vos-á continuamente, satisfazendo a vossa alma e renovando a vossa força. Vos transformareis em um jardim bem irrigado, como uma fonte cujas águas não faltam. E, aqueles que fazem essas coisas, restaurarão as glórias enfraquecidas; eles erigirão as fundações para muitas gerações; serão chamados os reconstrutores das paredes derrubadas, os restauradores dos caminhos seguros nos quais residir’”.
E então, até tarde da noite, Jesus expôs aos seus apóstolos a verdade de que a própria fé, mantida por eles, era o que os deixava seguros quanto ao reino do presente e o Reino do futuro, e não a sua aflição de alma, nem o jejum para o corpo. Ele exortou os apóstolos a viver ao menos à altura das idéias do antigo profeta e expressou a esperança de que eles iriam progredir muito, à frente até mesmo dos ideais de Isaías e dos profetas mais antigos. As últimas palavras dele, naquela noite, foram: “Crescei em graça, por meio da fé viva que leva à compreensão do fato de que sois filhos de Deus e que, ao mesmo tempo, vos faz reconhecer em cada homem um irmão”.
Quando Jesus terminou de falar já eram mais de duas horas da manhã e todos se recolheram para dormir.