Deixarei que morra em mim esse desejo
de amar esses teus olhos enluarados
de noites que se perderam em mágoas
no oceano dos muitos amores...
Tua presença já não é a luz da minha
vida. Sinto que minha voz se perdeu
dentro da tua e de cada gesto que foi meu.
As nódoas do passado hão de se apaziguar
e tu despertarás para outra madrugada.
Não saberei se fui eu quem te acolheu
quando ouvi tua voz amorosa pensei sentir
tua face junto a minha, queimando...
Irei possuir teu silêncio e partirei sozinha
sorrindo da dor de te perder pra sempre..
Levarei comigo todos os lamentos do mar,
do vento, do céu e de todas as estrelas...
Tua voz ausente será eternizada no vôo da ave.
Na melancolia da tarde o pôr-do-sol abre suas
matizes num mágico delírio. Uma música
perfumada invade nossos cinco sentidos e se vai...
Bebo na fonte cristalina desse desejo que me
embriaga a alma desolada e sozinha...
Desço o rio e deslizo mansamente nas águas
paradas que prende o teu destino junto ao meu
nessa viagem quase sem fim... sem fim...
Fico respirando o cheiro bom da natureza
renascendo em tuas mãos sentidas...
Relembro-as ternas, macias e serenas,
esmaecidas névoas de desespero.
Deixo morrer em mim esse amor
para que outro amor aconteça.