Na
década de 1960, durante o auge da Guerra Fria, os EUA e a extinta União
Soviética estavam numa disputa ideológica de egos e de nervos que, mais
de uma vez, quase levaria o mundo à destruição pelas armas nucleares,
principalmente durante a Crise dos Mísseis Cubanos. Ambos os países
fabricaram dezenas de milhares de bombas atômicas, cada qual querendo
produzir armas em maior quantidade e
com maior poder de destruição, gerando uma enorme tensão em todo o
mundo, que temia uma aniquilação total, o holocausto que seria causado
pelo uso de apenas uma pequena parte daquele arsenal, que por sinal já
estava apontado para o inimigo; os EUA apontaram seus mísseis
intercontinentais para a URSS, e a URSS apontou os seus para o EUA e os
aliados deste. O menor pretexto iniciaria uma guerra nuclear total. Foi
nesse contexto que surgiu a "infame" Tsar-Bomba.
A
antiga Rússia sempre teve a tradição ao longo dos séculos de construir
máquinas e objetos gigantescos para demonstrar poder, como símbolos
políticos, como o Tsar Tank,
um grande e incomum tanque usado na 1ª Guerra Mundial em forma de
quadriciclo, que pesava 40 toneladas e tinha um imenso canhão de 150 mm.
Como todo
bom país comunista, o governo russo, e mais tarde, o soviético, nunca
se importou em deixar seu povo morrer de fome, frio e viver na extrema
miséria,
enquanto os fazia trabalhar a duras penas nas fábricas e plantações
estatais para bancar suas ambições, guerras caras e idiotas (perdendo
feio a grande maioria delas) e extravagâncias dignas duma criança
mimada. Mesmo assim o povo russo teve uma história gloriosa,
produzindo algumas das mais brilhantes mentes científicas e visionárias
de nossa era, entre elas, os homens que construíram as primeiras naves e
foguetes capazes de levar o homem ao espaço e dominar o poder de
"quebrar" e fundir o átomo. Estes foram os maiores responsáveis por
criar a superpotência militar soviética que faria frente aos EUA durante
muitas décadas.
Apesar
disso tudo, a URSS não abandonaria a sua tradição de constuir coisas
grandes para demonstrar poder e fazer sua propaganda ideológica, arma
importante durante a Guerra Fria. Foi então que uma equipe de físicos
soviéticos, sob ordens do premiê Nikita Krushchov, criou a Tsar-Bomba,
de codinome "Ivan". A Tsar-Bomba (em russo, Царь-бомба) era uma bomba termonuclear de hidrogênio de três estágios, com uma potência entre 50 e 57 megatons (equivalente a 57 milhões de toneladas de dinamite),
muito mais poderosa que qualquer outra já construída na História até
hoje, quase 4 vezes mais poderosa que a maior testada pelos EUA (Castle
Bravo) e equivalente a todos os explosivos utilizados na 2ª Guerra
Mundial multiplicados por dez. Inicialmente foi projetada para ter 100 megatons,
mas, como a radiação liberada pela explosão atingiria a própria URSS,
sua potência teve de ser reduzida em quase metade com alterações no seu
último estágio. A bomba pesava 27 toneladas e tinha 8 metros de
comprimento por 2 de diâmetro, tornando-se assim não muito prática para a
guerra devido ao enorme tamanho e peso. Bem diferentes das bombas
nucleares atuais, de pequeno tamanho e menor potência, para ataques de
maior precisão.
Na
manhã de 30 de outubro de 1961, dia do teste da Tsar-Bomba, um
bombardeiro modificado - para conseguir transportá-la -, seguido de um
outro avião que filmaria o teste e coletaria amostras de ar, atirou-a
sobre a ilha de Nova Zembla, no Oceano Ártico, de uma altura de mais de
10 km. Sua queda foi retardada por um grande para-quedas de 800 kg, para
dar tempo dos aviões escaparem ilesos.
Quando
a Tsar-Bomba caiu para 4 km de altura, sensores de pressão atmosférica
acionaram o detonador, explodindo-a. A imensa bola de fogo rapidamente
tocou o chão e se expandiu à quase a mesma altura do bombardeiro,
liberando calor suficiente para causar queimaduras de 3º grau em pessoas
que estivessem a 100 km de distância e podendo ser vista a mais de 1000
km. Em seguida levantou-se uma grande nuvem em fórma de cogumelo, que
atingiu 60 km de altura e 35 km de largura. Conta-se, embora não seja
confirmado, que a onda de choque e o tremor causado pela explosão
chegaram a ser sentidos em outros países como a Finlândia, onde quebrou
algumas janelas. Estima-se que a temperatura da explosão chegou a vários
bilhões de graus, a mesma temperatura do Big Bang, evento que
deu início ao Universo atual (não, não foi "a explosão que criou o
Universo"). Se a bomba tivesse sido realmente construída com a potência
de 100 megatons como inicialmente planejado, a escala de destruição
seria praticamente dobrada.
Construção e teste da Tsar-Bomba, em 1961
Existem
sempre, é claro, aqueles tolos que acreditam que tais bombas nunca
foram construídas e testadas com sucesso, assim como acreditam que o
Homem nunca pisou na Lua, que os vídeos e fotos são forjados e que tudo
isso foi uma farsa, entre outras bobagens. É claro que eles se esquecem
que muitas outras coisas também foram inventadas naquela época para
propósitos militares, como a INTERNET (que serviria justamente para
proteger as comunicações e dados dos EUA no caso de um ataque nuclear
soviético). Curioso como não duvidam da existência da internet, não é
mesmo?