I. Entre o Exotérico e o Esotérico
É importante perceber a coexistência entre aquilo que é exotérico (com "X", i.e., profano, exterior e aparente) e aquilo que é esotérico (com "S", i.e., iniciático, interior e oculto). A Maçonaria possui muitos tentáculos sociais visíveis, mas o seu núcleo é ocultista, além de servir como um manancial para outras organizações com rituais e atrativos adequados aos mais diferentes perfis.
Tenho
visto argumentações muito presas ao que é aparente ou apenas
denominativo e estou escrevendo este artigo motivado pela leitura de um
comentário afirmando que a pirâmide e o triângulo com o "Olho que Tudo
Vê" exibidos nas notas de 1 dólar são símbolos pertencentes a sociedades
distintas. Trata-se de um equívoco, pois desmembrar uma composição
simbólica em facções ou interpretar separadamente cada elemento do seu
conjunto é como isolar as palavras na leitura de um texto. Isso apenas
faz com que o encadeamento lógico da mensagem se perca. Não existe um
símbolo maçônico e um símbolo illuminati desconexos entre si na nota de 1
dólar.
Convém
considerar que a ideia simbólica de iluminação constitui uma busca
fundamental dentro das escolas de mistérios. Por exemplo, os que
alcançam o 10º grau na AMORC ingressam na "Seção Illuminati" e recebem o tratamento latino de "illuminatus"
(iluminado). Illuminati (o plural do termo illuminatus) é uma palavra
utilizada por diferentes grupos ou aplicada como distinção evolutiva,
indicando que tais pessoas teriam alcançado um estado de consciência ou
conhecimento superior que as destaca da massa de gente comum (e
ignorante). Portanto, necessariamente, a expressão não identifica alguma
sociedade específica, mas é uma alusão (ou ilusão) relativa a um
estágio adiantado de desenvolvimento místico, dentro das sendas
iniciáticas.
Por
sua vez, a pirâmide é um dos símbolos frequentemente adotados para
ilustrar o sentido de hierarquia e estratificação, representando
diferentes classes sociais e níveis de influência. Algo que também se
aplica ao aspecto espiritual. Como referência, o portal de entrada da
cidade de Peruíbe (litoral sul de São Paulo) é uma obra maçônica
bastante interessante, pois consiste numa pirâmide suspensa de tronco
opaco (tijolos), encimada por um topo translúcido (provavelmente,
policarbonato).
Silenciosamente,
o portal dá forma à mensagem de que o topo pertence aos iluminados e os
que estão abaixo dele não dispõem de luz, estando imersos nas trevas da
ignorância. Mais que isso, ele indica que a luz que chega até a base (a
grande massa) é filtrada pela cimeira (os iluminados).
Foto do portal de Peruíbe:
De
igual modo, o que vemos pairar sobre a pirâmide trapezoide da nota de 1
dólar possui uma natureza etérea e luminosa, totalmente distinta do
monumento em si. A frase latina "Annuit Coeptis" proclama a realização de um
empreendimento que recebeu a aprovação dessa potência transcendental
representada pelo triângulo fulgurante. Tal pirâmide costuma ser vista
como "inacabada", na perspectiva de que a consumação da "Grande Obra"
seria o estabelecimento de um Governo Mundial Unificado. Assim sendo,
faltaria materializar no plano físico uma hegemonia já consagrada em
planos sutis. Ainda que esse objetivo seja evidente, entendo que o
símbolo queira antes representar uma submissão espiritual da qual
descende todo esse empenho de realização terrestre. O que vemos no topo
está além da dimensão humana e quem quer que tenha tomado contato com as
obras de alguns dos maiores expoentes da Maçonaria (como Albert Pike e
Manly P. Hall), saberá que, ao invés da Divina Providência, o olho
contido no triangulo exalta a ideia da onisciência radiante de Lúcifer
(Satã como "o portador da luz") e também a suposta consciência expandida
daqueles que (postos a seu serviço e permeados dessa mesma "luz") se
autointitulam iluminados (ou mesmo se creem deuses e super-homens).
Assim
como o portal de Peruíbe pode ser visto por qualquer pessoa que entre
na cidade, as notas de 1 dólar circulam por todo o mundo, sendo bastante
comuns. Quantos, porém, se dão ao trabalho de observar a intrincada
simbologia contida em sua estampa? A grande maioria das pessoas está
preocupada com o significado aquisitivo do dinheiro, assim como a
maioria dos que passam pelo portal está buscando lazer numa cidade
praiana, de modo que esse simbolismo faz parte do cotidiano de muitos,
sem nem mesmo ser notado. Isso deveria levar à reflexão de que o oculto
nem sempre corresponde àquilo que está literalmente escondido, mas
àquilo que poucos distinguem, mesmo estando diante dos olhos. Dizer que a
Maçonaria era secreta e agora se tornou apenas discreta não passa de
dissimulação, mas também ilustra a realidade de que as pessoas andam
ocupadas (ou acostumadas) demais para enxergar o óbvio.
Os
"iluminados" defendem a tese de que todas as religiões possuem uma
origem em comum e se empenham para integrá-las numa única religião
universal. Bem fariam os cristãos se compreendessem que por trás de tal
proposição está o fato de que são essas grandes organizações esotéricas,
sim, que possuem uma mesma origem e partilham de muitas semelhanças não
casuais em termos de nomenclaturas, símbolos, princípios filosóficos e
objetivos velados que disseminam em diferentes graus doutrinários.
Os símbolos compõem uma linguagem bastante flexível.
No decorrer do tempo e com a exposição a diferentes culturas, eles podem apresentar variações em suas formas e elementos, agregando novos significados. Convém ter em mente que os atributos representados por uma mesma figura podem mudar exotericamente de acordo com as associações, local, época, intenções e interpretações de quem a utilize. Esotericamente, entretanto, isso não implica na perda de seu sentido original, mas em sincretismos que podem mascarar o seu autêntico significado.
É bastante enganoso pensar que o triângulo envolvendo o olho represente uma única organização, como se fosse uma logomarca registrada de uso privativo. Removê-lo do contexto que compõe a nota de 1 dólar, como se estivesse restrito a uma única confraria denominada "Illuminati" e isolar o termo "illuminati" como identificador exclusivo de uma sociedade esotérica específica é ignorar a terminologia própria do jargão ocultista.
Não é difícil notar que entre as figuras geométricas, o triângulo é a que mais naturalmente evoca a concepção da Trindade Cristã: Pai, Filho e Espírito Santo. Em adição, o olho é o órgão mais adequado para representar o sentido de onisciência divina. Estabelecer quando e como essa composição passou a fazer parte da iconografia católica por influência maçônica na Igreja, é irrelevante. O fato é que pode ser vista adornando inúmeros templos, como no caso da Catedral de Aachen (clique para ampliar):
Assim como também se pode notar o seu uso ostensivo dentro no simbolismo maçônico.
1.1 Templo Maçônico, St.John's, Newfoundland, Canadá, construído em 1894
Obs.: Nas Lojas/Templos do Brasil, o triângulo fulgurante com "O Olho que Tudo Vê", geralmente, ocupa posição central entre os símbolos do Sol e da Lua. Qualquer pesquisa utilizando a sigla GOB ou Grande Oriente do Brasil, associada à palavra templo ou loja, resultará em muitos outros exemplos nacionais.
4. Medalha Comemorativa da Instalação do Grande Oriente do Brasil no Rio de Janeiro (clique para ampliar):
Não obstante, ainda que esse mesmo símbolo possa ser encontrado tanto em Igrejas quanto em Lojas/Templos Maçônicos, é ingênuo acreditar que eles referenciem o mesmo Deus dos Evangelhos.
De certo ponto de vista, pode-se dizer que não é inteiramente falso negar que a Maçonaria seja UMA religião, pois ela (assim como a Teosofia e outras sociedades) se considera fiel depositária dos princípios originais de TODAS as religiões, dentro de um projeto de unificação das diversas crenças existentes. Tanto é assim que uma das exigências para ser admitido na Maçonaria é a convicção na existência em um Ser Supremo (não importa qual seja) que é genericamente cognominado de GADU (Grande Arquiteto do Universo).
Podemos desvendar a identidade do GADU num breve vislumbre de citações colhidas entre alguns dos maiores expoentes da filosofia esotérica, em franca apologia a Lúcifer/Satã:
Complementarmente, no vídeo abaixo, um maçom Shriner, membro da fraternidade paramaçônica internacional AAONMS - Ancient Arabic Order of the Nobles of the Mystic Shrine, da qual só podem participar aqueles que atingem o status de mestre maçom, fala do seu entendimento sobre Lúcifer:
A grande maioria dos que ingressam na Maçonaria relativiza ou não tem conhecimento dos assuntos aqui abordados. Sem dúvida, existe muita gente digna que vivencia o aspecto fraternal e se empenha em louváveis causas sociais promovidas pela Ordem. Entretanto, isso não muda a realidade de que, sob uma fachada de falsas aparências e engenhosas dissimulações, os valores maçônicos e cristãos são diametralmente opostos e inconciliáveis.
II. Evidências
Módulo acrescentado em 06/05/2011 com informações complementares
Os símbolos compõem uma linguagem bastante flexível.
No decorrer do tempo e com a exposição a diferentes culturas, eles podem apresentar variações em suas formas e elementos, agregando novos significados. Convém ter em mente que os atributos representados por uma mesma figura podem mudar exotericamente de acordo com as associações, local, época, intenções e interpretações de quem a utilize. Esotericamente, entretanto, isso não implica na perda de seu sentido original, mas em sincretismos que podem mascarar o seu autêntico significado.
É bastante enganoso pensar que o triângulo envolvendo o olho represente uma única organização, como se fosse uma logomarca registrada de uso privativo. Removê-lo do contexto que compõe a nota de 1 dólar, como se estivesse restrito a uma única confraria denominada "Illuminati" e isolar o termo "illuminati" como identificador exclusivo de uma sociedade esotérica específica é ignorar a terminologia própria do jargão ocultista.
Não é difícil notar que entre as figuras geométricas, o triângulo é a que mais naturalmente evoca a concepção da Trindade Cristã: Pai, Filho e Espírito Santo. Em adição, o olho é o órgão mais adequado para representar o sentido de onisciência divina. Estabelecer quando e como essa composição passou a fazer parte da iconografia católica por influência maçônica na Igreja, é irrelevante. O fato é que pode ser vista adornando inúmeros templos, como no caso da Catedral de Aachen (clique para ampliar):
Assim como também se pode notar o seu uso ostensivo dentro no simbolismo maçônico.
1. Exterior de Lojas/Templos Maçônicos (clique para ampliar)
1.1 Templo Maçônico, St.John's, Newfoundland, Canadá, construído em 1894
Detalhe Superior
1.2 Templo Maçônico de Petaluma, Califórnia
2. Interior de Lojas/Templos Maçônicos (clique para ampliar):
2.1 Loja Tolerancia - México
Detalhe da imagem ao fundo
2.2 Banes, Cuba
2.3 Goiânia, Goiás
2.4 Santos, SP
Obs.: Nas Lojas/Templos do Brasil, o triângulo fulgurante com "O Olho que Tudo Vê", geralmente, ocupa posição central entre os símbolos do Sol e da Lua. Qualquer pesquisa utilizando a sigla GOB ou Grande Oriente do Brasil, associada à palavra templo ou loja, resultará em muitos outros exemplos nacionais.
3. Aventais (clique para ampliar)
4. Medalha Comemorativa da Instalação do Grande Oriente do Brasil no Rio de Janeiro (clique para ampliar):
Não obstante, ainda que esse mesmo símbolo possa ser encontrado tanto em Igrejas quanto em Lojas/Templos Maçônicos, é ingênuo acreditar que eles referenciem o mesmo Deus dos Evangelhos.
De certo ponto de vista, pode-se dizer que não é inteiramente falso negar que a Maçonaria seja UMA religião, pois ela (assim como a Teosofia e outras sociedades) se considera fiel depositária dos princípios originais de TODAS as religiões, dentro de um projeto de unificação das diversas crenças existentes. Tanto é assim que uma das exigências para ser admitido na Maçonaria é a convicção na existência em um Ser Supremo (não importa qual seja) que é genericamente cognominado de GADU (Grande Arquiteto do Universo).
Podemos desvendar a identidade do GADU num breve vislumbre de citações colhidas entre alguns dos maiores expoentes da filosofia esotérica, em franca apologia a Lúcifer/Satã:
"Neste caso, é de todo natural –
tendo em vista a letra morta - que se considere Satã, a Serpente do
Gênesis, como o verdadeiro criador e benfeitor, o Pai Espiritual da
Humanidade. Porque foi ele o 'Portador da Luz', o brilhante e radioso
Lúcifer que abriu os olhos do autômato que Jeová criara (como se
pretende)."
Blavatsky, Helena Petrovna
A Doutrina Secreta – Vol. III – Antropogênese
Pg.261 – Editora Pensamento
Blavatsky, Helena Petrovna
A Doutrina Secreta – Vol. III – Antropogênese
Pg.261 – Editora Pensamento
"Satanás é aquele anjo suficientemente orgulhoso para
acreditar que era Deus; corajoso o suficiente para comprar a sua
independência ao preço da eterna tortura e eterno sofrimento; belo o
suficiente para ter adorado a si próprio em divina luz; forte o
suficiente para ainda reinar na escuridão em meio à agonia, e para ter
feito um trono para si próprio desta pira inextinguível"
Eliphas Levi; 1860, Histoire de La Magie, páginas 16,17
Eliphas Levi; 1860, Histoire de La Magie, páginas 16,17
"Quando o maçom aprende que o segredo para o guerreiro
é a correta aplicação do dínamo do poder da vida, ele aprendeu o
mistério de sua Arte. As energias ardentes de Lúcifer estão em suas mãos
e antes que ele possa avançar para a frente e para cima, precisa provar
sua capacidade de aplicar corretamente a energia."
Manly P. Hall, The Lost Key to Freemasonry, publicado pela Macoy Publishing and Masonic Supply Company, Richmond, Virgínia, 1976
Manly P. Hall, The Lost Key to Freemasonry, publicado pela Macoy Publishing and Masonic Supply Company, Richmond, Virgínia, 1976
"Para vocês, Soberanos Grandes Inspetores Gerais, nós
dizemos isto, que vocês podem repetir para os irmãos dos graus 32, 31 e
30: A Religião Maçônica deve ser, por todos nós iniciados dos altos
níveis, mantida na pureza da Doutrina Luciferiana"; "Sim, Lúcifer é
Deus..."; "E a verdadeira e pura religião filosófica é a crença em
Lúcifer, o igual de Adonai; Mas Lúcifer, Deus da luz e Deus do bem, está
lutando pela humanidade contra Adonai, o Deus da escuridão e do mal."
Instructions to the 23 Supreme Councils of the World
Albert Pike, Grand Commander, Sovereign Pontiff of Universal Freemasonry, July 14, 1889
Instructions to the 23 Supreme Councils of the World
Albert Pike, Grand Commander, Sovereign Pontiff of Universal Freemasonry, July 14, 1889
Complementarmente, no vídeo abaixo, um maçom Shriner, membro da fraternidade paramaçônica internacional AAONMS - Ancient Arabic Order of the Nobles of the Mystic Shrine, da qual só podem participar aqueles que atingem o status de mestre maçom, fala do seu entendimento sobre Lúcifer:
A grande maioria dos que ingressam na Maçonaria relativiza ou não tem conhecimento dos assuntos aqui abordados. Sem dúvida, existe muita gente digna que vivencia o aspecto fraternal e se empenha em louváveis causas sociais promovidas pela Ordem. Entretanto, isso não muda a realidade de que, sob uma fachada de falsas aparências e engenhosas dissimulações, os valores maçônicos e cristãos são diametralmente opostos e inconciliáveis.