Por  mais que as mudanças em nossas vidas sejam incrivelmente rápidas hoje  em dia, é comum que não percebamos quando elas acontecem. Pouca gente  sabe a data exata em que usou um disquete pela última vez, e duvido que  uma fração significativa dos leitores lembre quando abriu uma  enciclopédia sem ser por saudosismo.
Observar  essas mudanças é complicado, pois sem um distanciamento histórico, a  maioria dos eventos perde o seu significado. Nem Heródoto no meio da  praça no Egito conseguiria entender tudo que estava acontecendo, na  Revolução de 2011. Mesmo assim pensando um pouco dá para identificar 3  coisas que ninguém mais faz, ao menos ninguém moderninho descolado, geek  e que vive em países com luz elétrica e água encanada. Vejamos eles:
1 – Se perder
Isso.  Simples assim. Eu tenho um problema sério de me localizar. Meu senso de  direção é nulo. Levo de 15 a 20 vezes até aprender um caminho, e de vez  em quando erro. Até hoje preciso parar para pensar antes de nomear uma  rua no Centro do Rio. Qualquer viagem –e por viagem entenda sair do  bairro- significava horas consultando Guia Rex, um negócio antigo com  usa usabilidade tão boa quanto aquele livro que grita em Harry Potter.
Cidades  estrangeiras –e por cidade estrangeira entenda tudo que não seja Rio de  Janeiro- eram um terror. Eu era forçado a me voltar contra todos os  instintos básicos cimentados por milhões de anos de evolução masculina, e  perguntar o caminho, repetidas vezes.
Hoje  isso acabou. Primeiro foram os mapas escaneados e jogados no Palm,  depois as aplicações que se posicionavam via triangulação de torres de  telefonia, e ao final, o GPS. Ferramentas como o Google Maps e o Bing  conseguem dizer exatamente onde estou, para onde quero ir, traçam o  caminho, indicam os vários meios de transporte e mostram até a portaria  do prédio.
Para  quem conseguiu se perder na garagem de um hotel, não ter medo de se  localizar em qualquer lugar do mundo civilizado, achar qualquer bar,  teatro ou cinema é maravilhoso, é ficção científica!
2 – Descobrir filme no cinema
Até  o final dos anos 80 existiam duas formas de saber que um filme estava  em cartaz: Ver a chamada no Fantástico ou ler os anúncios no segundo  caderno dos jornais. No máximo um comercial de 15 segundos, onde  tínhamos uma idéia bem vaga do enredo. O gráfico de bilheteria dos  filmes era completamente diferente do atual, ao menos no Brasil, onde  não havia grande campanha de lançamento. O boba-a-boca era essencial, as  pessoas iam ver filmes recomendados por amigos.
Hoje  há filmes que postam os 20 primeiros minutos na Internet. Outros enchem  a web de trailers, entrevistas, posts de blog detalhando a história,  vlogs do diretor, imagens, joguinhos de iPhone, etc, etc e etc. Poucos  diretores conseguem manter seu trabalho oculto sem que o público perca o  interesse. J.J. Abrams é um desses. Com Cloverfield a Internet foi  pisoteada por uma campanha que durou meses, onde basicamente NADA do  filme foi mostrado. Em Star Trek, a mesma coisa.  Nada de 15 trailers,  exbição para críticos antes do filme estar finalizado, nada.
Isso  tem o bom efeito colateral de não saturar o espectador de informação, e  não tirar o impacto das grandes cenas, que sequer deveriam ir pro  trailer.
Antigamente  era comum chegar no cinema, olhar os cartazes e decidir qual filme  assistir. Hoje é impensável, ninguém fala “vamos ao cinema?”  sem ter  perfeita idéia do que vai assistir. Já saímos com ingresso comprado,  resenhas lidas no Rotten Tomatoes, pesquisa no IMDB sobre o elenco e  equipe, trailers, featurettes, entrevistas assistidos.
Por  mais que o lado saudosista e romântico grite, hoje em dia é muito  melhor. Se você não quiser ser atolado de informações sobre um filme,  não seja. A cena pós-créditos de Capitão América está na Internet faz  tempo, pergunte se cliquei pra ver.
Poder  chegar no cinema com tranquilidade, comprar a pipoca, o refrigerante, o  frango assado e o purê de batatas, ir pro assento com calma sem correr  desesperado para evitar que um bando de adolescentes hiperativos roube  os melhores lugares, isso não tem preço.
Não tem preço mas se for em 3D custa o dobro.
3 – Ligações Telefônicas Casuais
Antigamente  dava na elha e ligava-se pra um amigo perguntando das novidades. Como o  telefone era o único meio de contato, notícias triviais não se  propagavam bem, Douglas Adams já deixou claro que as más-notícias é que  são a coisa mais rápida do Universo. Assim se seu amigo foi devorado por  um Leão-Marinho, você fica sabendo. Se ele comprou o álbum importado do  Dire Straits que você era doido pra copiar (em K7, estamos falando do  passado) só saberá meses depois.
Por isso ligávamos casualmente,  pra jogar conversa fora.
Hoje  o “e aí, quais as novidades?” se tornou algo desagradável. Temos  Twitter, Tumblr, Facebook, Google+, Email, ICQ (ok, ICQ ninguém mais  tem), MSN, Gtalk, Orkut e mais umas 200 redes sociais. Publicamos tudo  de nossas vidas, mas mesmo assim há chatos que aparecem num MSN da vida e  perguntam “que manda de novo?” Eu até responderia o que mando, mas este  é um portal de tecnologia de família.
O  telefone é uma ferramenta cada vez menos e melhor usada. Toda a  conversa casual migrou pra Internet, onde podemos (em teoria) fazer duas  coisas ao mesmo tempo, mantendo janelas com Twitter e Instant  Messengers, enquanto (é preciso reforçar o “em teoria”) trabalhamos na  janela principal.
O  pessoal mais velho tem dificuldade com esse conceito. Conheço gente  cuja mãe liga a cada dez minutos, para falar… nada. Questões simples que  seriam resolvidas via Twitter ou IM, mas que interrompem a cadeia de  pensamento, e no final, irritam.
Já  o pessoal mais novo considera o Smartphone tudo menos um… telefone.  Fazer chamadas é apenas a 4ª atividade mais popular para os donos desses  aparelhos, segundo uma pesquisa que revelou que apenas 43% dos donos os usam para… telefonar.
Vivemos  um tempo em que nossos hábitos são alterados pela tecnologia  disponível, mas como essa tecnologia não é absorvida de forma uniforme  por todo mundo, temos que conviver com todo tipo de comportamento, do  sujeito que se recusa a usar telefone, pois tem Gtalk ao cidadão que  envia um SMS dizendo “liga pra mim” pra em seguida perguntar um número  de telefone ou algo que poderia ser resolvido no primeiro SMS.
E nem cheguei  no clássico telefonema “recebeu meu email?”.
O  mundo muda, e hoje em dia muito mais rápido do que em qualquer era. A  lição que precisamos tirar disso é que se recusar a mudar com o mundo é  ruim, mas achar que ele não muda também não é nada bom
Fonte: TechTudo
 
 


 
