EM QUE ANO NASCEU JESUS CRISTO?
Este artigo  foi publicado em 1993 na Revista Tierra Santa. Esta revista, de  publicação bimestral, é publicada em Jerusalém e traz sempre artigos  referentes à situação atual da Igreja Católica em Israel, bem como  artigos focalizando assuntos bíblicos. O texto, "Em que ano nasceu  Jesus?" foi escrito pelo Pe. Ariel Alvares Valdés. A tradução é de Mons.  Nelson Rafael Fleury, da Arquidiocese de Goiânia.

Em que ano nasceu Jesus?
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1-  Quando Jesus veio ao mundo, ninguém o estava esperando. Embora o seu  nascimento tenha sido anunciado durante séculos pelos Profetas e tenha  sido esperado anciosamente pelo povo e pelos dirigentes de Israel,  passou completamente desapercebido que nem lhe registraram a data.
2-  Depois da morte de Jesus os primeiros cristãos não se deram ao trabalho  de saber a data do seu aniversário, já que estavam preocupados somente  em sair a pregar o Reino que ele acaba de fundar. E, nesta missão, se  empenhou a Igreja durante séculos, sem se interessar pelos detalhes  históricos da vida de Jesus.
3-  Que calendários seguiam os cristãos daquela época? Estavam vivendo no  Império Romano e, por isso, seguiam as determinações de Roma. O  calendário romano contava o tempo a partir da fundação da cidade de  Roma. Marcavam o ano com as iniciais U.C. (Urbis Conditae), isto é, ano  tal, a contar da Fundação da Cidade (Cidade com C grande: Roma).
4-  Com o advento da "Cristandade", muitos começaram a pensar que a  fundação de Roma, que fora pagã durante os primeiros 1000 anos de sua  existência, não poderia ser o marco mais adequado para começo da  computação dos novos tempos. O nascimento de Jesus, sim, deveria ser  tido como o acontecimento central da história da humanidade. A idéia se  fortaleceu quando, 450 anos depois de Cristo, o Império Romano  desmoronou diante da invasão dos Bárbaros. Não havia nenhuma relação  entre o cristianismo e o Império Romano. Tornava-se necessário um novo  calendário que tivesse como eixo central a pessoa de Jesus Cristo.
5-  Foi quando se deram conta de que ninguém sabia o dia, o mês, nem sequer  o ano do nascimento de Jesus. Os autores do Evangelho haviam omitido  este detalhe. Os Evangelhistas contam episódios da vida de Jesus que  foram compilados em cima de uma catequese oral anterior e estes escritos  nunca tiveram a pretenção de dar uma cronologia exata da vida de  Cristo.
6-  Então surgiu um monge chamado Dionísio. Era natural da cidade de  Escita, região da atual Rússia, mas viveu quase toda sua vida em Roma.  Tinha o apelido de "Exíguo", isto é: pequeno. Talvez por ser de baixa  estatura ou, o mais provável, ele se tenha dado este nome por humildade,  considerando-se o menor de todos. Era um dos homens mais eruditos de  sua época. Brilhante teólogo, foi grande conhecedor da história da  Igreja e especialista em cronologias. Foi autor de uma célebre coleção  de decretos dos papas e decisões dos Concílios, com valiosos comentários  próprios. Este monge decidiu enfrentar essa colossal empresa de  calcular o nascimento de Jesus Cristo. Contava com algumas informações  úteis extraídas dos Evangelhos. Assim, do Evangelho de Lucas, tomou o  dado de que ao começar sua vida pública "Jesus tinha uns 30 anos" (Lc  3,23). Era um bom começo. Em que ano, porém, Jesus começou sua vida  pública? Alguns versículos antes, estava a resposta: "No ano 15 de  governo de Tibério César" (Lc 3,1). Confrontando imensas tabelas de  datas e cronologias, Dionísio deduziu que o ano 15 de Tibério, quando  Jesus iniciou a sua pregação, correspondia ao ano 783 U.C. (783-30 =  753). Deste modo, o ano 754 u.C. seria o ano 1 depois de Cristo; o ano  755 U.C., ano 2 d.C., e assim por diante. Neste novo calendário, a  fundação de Roma (que era o ano 1 u.C) passa a ser o ano 753 a.C. E o  próprio Dionísio que estava vivendo no ano 1279 u.C., passou a viver no  ano 526 da era cristã (1279-753=526). O novo calendário teve um êxito  extraordinário: imediatamente foi aplicado em Roma; depois, na  Inglaterra, França. Mas tarde pela Espanha e, em 1422, chegou a  Portugal. No final da Idade Média já estava generalizado para todas as  partes. Dionísio morreu no ano 540 d.C.
7-  Mas houve um equívoco na computação de Dionísio. O Evangelho de Mateus  traz o dado, não considerado por Dionísio, de que Jesus veio ao mundo  "no tempo do Rei Herodes" (2,1). E, pelo escritor e historiador romano  Flávio Josepho, contemporâneo de Cristo, sabemos que este rei morreu no  ano 4 a.C., poucos dias depois de um eclipse da lua ocorrido em 12 de  março daquele ano. Portanto Jesus deve ter nascido pelo menos 4 anos  antes do ano fixado por Dionísio.
Pergunta-se:  Jesus nasceu quanto tempo antes da morte de Herodes? Se o acontecimento  dos Reis Magos do Oriente, relatado em Mateus, 2, é substancialmente  histórico, podemos deduzir que, quando os Magos chegaram, eles  encontraram Herodes são e morando em Jerusalém. Ele os recebeu, fez suas  investigações e gozava boa saúde, tanto assim que prometeu que ele  mesmo iria visitar o Menino, depois das informações dos Magos. Em contra  partida, sabe-se pelos dados históricos que o velho monarca, quando  sentiu sua saúde piorar, foi para Jericó, para as Termas de Calíore  tomar os banhos curativos. Como não obtivesse melhora, voltou para  Jericó, onde morreu pouco depois. Esta viagem de Herodes se deu em  novembro do ano 5, no começo do inverno. Aí vamos ter que acrescentar  mais meio ano aos 4 anos já contados e chegaremos à metade do ano 5 a.C.  para o nascimento de Jesus. Quantos anos teria Jesus, quando ocorreu o  massacre dos inocentes ordenado por Herodes, diante do medo de que o  menino viesse tomar-lhe o trono, como Rei de Israel? Esta é a terceira  adição que devemos fazer. Depois de calcular a data do nascimento de  Jesus, Herodes mandou matar todos os meninos "de dois anos para baixo"  (Mt 2,16) ainda que o rei tenha alargado o espaço para não lhe escapar a  presa, pode-se razoavelmente pensar que Jesus já teria naquelas  circunstâncias de 1 ano a ano e meio. Muitos autores antigos dizem que  Jesus já tinha 2 anos. Também alguns evangelhos apócrifos dão esta idade  para o menino quando ocorreu a matança dos inocentes. E algumas  pinturas das catacumbas representam Jesus já bem crescidinho. O próprio  Evangelho de Mateus diz que os Magos encontraram a Sagrada Família  vivendo "na casa" (Mt 2,11) e não na Gruta do Nascimento, como  costumamos representar nos nossos presépios. Somando esta nova margem de  tempo a nossos cálculos anteriores, já estamos entre o final do ano 7 e  meados do ano 6 a.C. – Só nos falta um dado: o tempo que decorreu entre  a vinda dos Magos e a doença de Herodes. Porém este espaço parece que  não deve nos afastaríamos bastante da idade que Lucas dá a Jesus, no  começo de sua vida pública: Jesus "tinha uns 30 anos". E uma data  aproximativa: ao redor dos 30 anos. Se nós dilatarmos muito o espaço  entre a vinda dos Magos e a doença de Herodes, Lucas deveria ter dito  que Jesus "tinha uns 40 anos". Portanto, a data provável do nascimento  de Jesus é o ano 7 a.C. E, ao começar sua vida pública, Jesus teria uns  34 anos.
8-  Alguns estudiosos tentam chegar à data do nascimento de Cristo,  mediante o recensiamento por Lucas, o qual teria sido ordenado por  Quirino e que motivou a viagem de José e Maria, de Nazaré até Belém (Lc  2,1), mas este caminho não é aceito cientificamente por causa do caráter  fragmentário das informações históricas sobre Quirino e,  principalmente, pelo fato de que nenhuma fonte histórica mecionada  qualquer tipo de recenseamento nos tempos do rei Herodes.
Em  conclusão: pelos dados que temos, fundados nos Evangelhos e nas fontes  históricas, devemos afirmar que Cristo nasceu no ano 7 a.C.!…
9-  Esta frase, sem si paradoxal e contraditória: "Cristo nasceu no ano 7  a.C." despertou em muitos a idéia de reformar o nosso calendário atual e  ajustá-lo com maior precisão ao nascimento do Salvador. Para isto se  propõe ajustar os 7 anos omitidos nos caldulos de Dionísio. Assim, em  vez de estarmos no ano de 1995, já estaríamos no ano 2002 (atualmente –  1999 – estaríamos em 2006). Ainda que atraente em sua intenção, esta  proposta é impraticavel. Todos acontecimentos históricos estão datados  com esta defasagem de 7 anos. Se quiséssemos trocar das datas,  corrigindo esta defasagem, além de ser um trabalho colossal seria,  ainda, um verdadeiro quebra-cabeça. Como colocar aos estudiosos que  Júlio César não morreu no ano 44, mas em 37 a.C.? e que a Primeira  Guerra Mundial não foi em 1914, mas em 1921? E o que seria dos  estudantes que decoraram as grandes datas da humanidade: descobrimento  da América não mais em 1492 e sim, em 1499? O descobrimento do Brasil em  1507? Além do mais, esta iniciativa seria sem sentido, porque assim  como está, o atual calendário cumpre perfeitamente o objetivo do  Dionísio: recordar perpetuamente que, com a vinda de Cristo ao mundo, a  história ficou dividida em duas partes: antes de Cristo e depois de  Cristo. Que Jesus Cristo é o eixo do tempo em torno do qual gira todo  acontecimento humano. Como este projeto pedagógico, os anos discordantes  não afetam em absoluto o objetivo primeiro do Grande Monge Dionísio, o  pequeno…
10-  Podemos agora fazer a seguinte pergunta: Existe realmente o ano 2000?  Dentro de mais cinco anos o mundo inteiro estará celebrando a chegado do  ano 2000, a era do 3º milênio. E já começaram a aparecer os fatídicos  agoureiros com suas profecias do fim do mundo, vaticínios sobre  catástrofes que acontecem nos fins dos milênios e o ingresso de uma nova  era regida por certos signos zodiocais. Isto não é de se estranhar. Nos  manuais de história se conta que, quando o mundo ingressava no ano 1000  d.C., também se levantou por toda humanidade medieval um rumor de  catástrofes e de desordens cósmicas que se espalhou como fogo,  amedrontando as populações e transtornando a vida de milhares de  pessoas. Agora estamos pra igressar em novo milênio. É natural que  voltem a acontecer estas atitudes atávicas. Mas, pelo que expusemos até  agora, existe realmente o ano 2000? porque, se o Calendário de Dionísio é  seguido nas relações internacionais, muitos paises e grupos religiosos  não seguem este calendário.
Para  19 milhões de judeus estamos no ano 5755; para 900 milhões de  muçulmamos, acabamos de entrar no ano 1415. Para os Persas muçulmanos do  Irã, o ano é de 1374; Os japoneses de religião shintoista vivem o ano  2654; milhões de devotos de certos credos da Índia estão no ano 2052, e  os chineses confucionistas vivem o ano de 2545. Até mesmo entre os  cristãos não existe unanimidade na computação dos anos: os Coptas estão  no ano 1711; os Sírios, no ano 2306; os Armênios, no ano 1441. E se até  nos católicos, que somos 900 milhões estamos vivendo um calendário  defasado de 7 anos do verdadeiro início da era cristã, podemos  perguntar: quando realmente vamos entrar no ano 2000? Para qual grupo já  chegou ou ainda vai chegar a fatídica data?
O ano 2000 não existe!
É  simplesmente um acordo convencional para colocar Cristo no Centro da  história da humanidade. Por isso é absurdo pensar que possam acontecer  desgraças calendáricas com a aproximação da data. Graças ao humilde  monge Dionísio, Cristo está presente em nossos almanaques, em nossas  folhinhas e agendas. Embora quase sempre a gente não tenha consciência  do fato, todas as vezes que datamos a correspondência, assinamos um  recibo, firmamos uma ata ou um documento, preenchemos um cheque, estamos  recordando a vinda do Salvador Jesus a este mundo. Cristo é o centro de  nossa história. Conseqüentemente devemos viver de tal maneira que  também, no nosso dia-a-dia, Ele seja o centro de nossa existência.
Texto de Pe. Ariel Alvarez Valdés, extraído da Revista Tierra Santa.          
Adaptação: Mons. Nelson Rafael Fleury