"Bandeira Branca", com Dalva de Oliveira. A última marchinha de carnaval
Num determinado momento da
história do carnaval do Rio de Janeiro, as marchinhas de carnaval
foram substituídas pelos sambas-enredo. Costuma-se dizer que a
história das marchinhas começa com "Abre-alas", de Chiquinha
Gonzaga, em 1899, e termina com a conhecida "Bandeira Branca",
de Max Nunes e Laércio Alves, que foi não só a última
marchinha de carnaval que fez grande sucesso, mas também o último
sucesso de uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos:
Dalva de Oliveira.
As marchinhas, diferente das
músicas carnavalescas que as substituíram (embora, nos carnavais,
elas continuem eternamente entre as mais executadas), ultrapassavam
os limites das meras canções de amor, pois tratavam de política,
costumes, e tinham, muitas vezes, uma dose de humor politicamente
incoirreto que não permitiria que tais músicas fossem aprovadas nos
enfadonhos tempos atuais.
Interessante que a primeira
grande marchinha fosse um "abre-alas" para um ritmo que dominaria o
carnaval durante 70 anos, e a última, "bandeira branca", uma música
triste, em tom menor, em que o eu-lírico se rende, pede paz, em
nome da saudade de um grande amor. É até um paradoxo que tenha se
tornado um grande sucesso de carnaval. Quem sabe um prenúncio, um
presságio...
Um epílogo para a carreira de
sucesso de Dalva de Oliveira, e o capítulo derradeiro do domínio
das marchinhas de carnaval...
Noel Rosa x Wilson Batista
A história das rivalidades musicais parece
alimentar a música popular brasileira. Algumas destas rivalidades
são absolutamente irreais, como a de Lúcio Alves e
Dick Farney; outras são alimentadas pelos fãs, mas
não existiram entre os artistas, como Chico
e Caetano, Gal e
Elis. Há ainda as que vêm da era do rádio, como
Emilinha e Marlene, e a célebre
briga entre Herivelto Martins e Dalva de
Oliveira.
Antes de todas essas, porém, surgiu um
duelo real, traduzido em canções e canções-resposta, que agitou o
Rio de Janeiro na década de 30: trata-se do duelo entre
Noel Rosa e Wilson Batista.
Trago, com algumas adaptações, o texto que foi publicado no
blog http://mercadodepulgas.blogspot.com.
"tudo começou quando, em 1933, Wilson Batista lançou lenço no pescoço, em que proclamava seu orgulho em ser vadio e associava a imagem do sambista à malandragem. (verso de lenço no pescoço: Eu passo gingando/Provoco e desafio/Eu tenho orgulho/Em ser tão vadio)
Noel se sentiu
incomodado com a associação e mandou logo uma resposta bem direta,
compondo rapaz
folgado, cuja letra
não deixa margem a dúvidas sobre suas intenções.(trecho: Malandro
é palavra derrotista/Que só serve pra tirar/Todo o valor do
sambista)
Batista sentiu-se
ofendido pelo golpe inesperado e reagiu com o
samba mocinho da
vila, em que dispara:
(se não quiser perder
o nome, cuide do seu microfone e deixe quem é malandro em
paz). A elegante resposta
veio com feitiço da
vila, parceria com o pianista Vadico:
(lá em vila isabel quem é bacharel não tem medo de bamba.
são paulo dá café, minas dá leite e a vila isabel dá
samba...).
Achando que o canto de amor à Vila Isabel era uma fuga da briga e gostando da notoriedade alcançada pela mesma, Wilson Batista voltou ao ataque com Conversa Fiada: (é conversa fiada dizerem que o samba lá na vila tem feitiço... )
Achando que o canto de amor à Vila Isabel era uma fuga da briga e gostando da notoriedade alcançada pela mesma, Wilson Batista voltou ao ataque com Conversa Fiada: (é conversa fiada dizerem que o samba lá na vila tem feitiço... )
Mas mexer com a
querida Vila de Noel foi o erro fatal, que acabou sendo responsável
pela composição de uma das maiores obras-primas do nosso
samba, palpite
infeliz, em que o adversário é claramente
desacreditado pela
pergunta: quem é você, que não sabe o que
diz?
Apesar da violência da resposta (o próprio Wilson Batista se confessou arrependido, anos mais tarde, por ter se aproveitado do complexo de feiúra de Noel), a canção Frankenstein da Vila não chegou nem perto de desbancar o poeta da vila (trecho: "Boa impressão nunca se tem, quando se encontra um certo alguém, que até parece o Frankstein...) A disputa ainda rendeu algumas réplicas, como João Ninguém, de Noel (João Ninguém, que não é velho nem moço, come bastante no almoço pra se esquecer do jantar) e Terra de Cego, de Batista (És o abafa da Vila, bem sei, mas na terra de cego quem tem um olho é rei), por exemplo, mas a contenda já dava mostras de não possuir mais a mesma intensidade de antes, e os dois compositores já estavam mesmo virando amigos.
Apesar da violência da resposta (o próprio Wilson Batista se confessou arrependido, anos mais tarde, por ter se aproveitado do complexo de feiúra de Noel), a canção Frankenstein da Vila não chegou nem perto de desbancar o poeta da vila (trecho: "Boa impressão nunca se tem, quando se encontra um certo alguém, que até parece o Frankstein...) A disputa ainda rendeu algumas réplicas, como João Ninguém, de Noel (João Ninguém, que não é velho nem moço, come bastante no almoço pra se esquecer do jantar) e Terra de Cego, de Batista (És o abafa da Vila, bem sei, mas na terra de cego quem tem um olho é rei), por exemplo, mas a contenda já dava mostras de não possuir mais a mesma intensidade de antes, e os dois compositores já estavam mesmo virando amigos.
De fato, Noel gostou da melodia de Terra de
Cego, mas pediu para trocar a letra. Como Wilson também havia
andado de namoro com Ceci - uma antiga paixão de Noel Rosa - a nova
letra foi dedicada a ela. A música é "DEIXA DE SER
CONVENCIDA(Noel Rosa - Wilson Batista)
Essa música selava o fim de uma briga musical. Noel faleceu em maio de 1937. Wilson Batista compôs sambas com menções a Noel Rosa, como "Quero um Samba" e "Terra Boa".
Essa música selava o fim de uma briga musical. Noel faleceu em maio de 1937. Wilson Batista compôs sambas com menções a Noel Rosa, como "Quero um Samba" e "Terra Boa".
Com certeza, quem mais saiu ganhando nesse duelo foi a
música popular brasileira.
http://mercadodepulgas.blogspot.com/2006/06/noel-rosa-x-wilson-batista-por-roberto.htmlDepois. A mais melancólica canção do novo disco de Marisa Monte...
Criou-se muita expectativa sobre o novo disco
de Marisa Monte, o oitavo de sua carreira, e no qual o tema do amor
continua tendo destaque. Ela já disse, numa espécie de entrevista
coletiva virtual, no seu sítio digital:
"Sempre
gostei de música antiga brasileira. Eu era uma adolescente
diferente porque gostava de fuçar disco da avó e do pai. Essa
música eu conheço desde essa época, de 15 ou 16 anos, quando eu
ouvia Dalva, Lupicínio [Rodrigues], Francisco Alves, repertório com
o qual entrei em contato muito jovem."
Por essa razão, venho dar destaque à música
mais melancólica de um disco que não tem esse tom. A canção
Depois, parceria dela com os inseparáveis Carlinhos Brown
e Arnaldo Antunes.
Depois é a história do fim de um
relacionamento, é o day after de um amor que fez
história para o casal, e que no momento só resta tristeza. É uma
música com alta carga emotiva, que remonta aos clássicos românticos
da década de 70....
A canção começa com a constatação de que
sonhou, se viveu, se planejou a vida junto com outro alguém, e um
abandono recíproco fez com que esses sonhos e planos descessem
ladeira abaixo, restando o sincero, mas protocolar desejo de
felicidade para o ser amado.
Em, seguida, a canção reflete o sofrimento do
fim, o arrastar-se no chão, da sensação da traição, de alguém que
te ama virar-lhe as costas, e pelas respostas que não foram
obtidas... (E me pergunto quantos casais terminam pelas respostas
que não podem ser dadas? Quantas pessoas precisam de respostas do
outro, mas não estão dispostos a respondê-las?). Além do desejo
protocolar de felicidade, há um desejo de melhora... que se melhore
como pessoa, e de que dias melhores venham...
A terceira estrofe é de nostalgia... daqueles
momentos mágicos e únicos, do amor que fez história para a vida
inteira, mas que melancolicamente reconhece ter passado o tempo do
"nós dois". O amor é presente, e vive também em tantas coisas boas
vividas, mas que há o desejo de que um consiga viver sem o outro, o
que parece impossível nos momentos de separação recente.
Por fim, a múisca reflete, ainda de maneira
sorumbática, a abertura para novas relações, afinal, há algo mais
melancólico do que a troca de fotografias da pessoa amada pela de
outro alguém? Embora haja um prenúncio de liberdade e de amor
futuro "sem trair mais ninguém", a música termina com a confissão
de que há o desejo de que a outra seja feliz... mas que o eu-lírico
será feliz... depois...
Uma bela canção, brega, romântica, retrô... não
são poucos os jornalistas que fazem associação dessa canção com a
fase mais intensa das canções românticas de Roberto Carlos... vale
a pena escutar...
DepoisDe sonhar tantos anos
De fazer tantos planos
De um futuro pra nós
Depois
De tantos desenganos
Nós nos abandonamos
Como tantos casais
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois
De varar madrugada
Esperando por nada
De arrastar-me no chão
Em vão
Tu viraste-me as costas
Não me deu as respostas
Que eu preciso escutar
Quero que você seja melhor
Hei ser melhor também
Nós dois
Já tivemos momentos
Mas passou nosso tempo
Não podemos negar
Foi bom
Nós fizemos história
Pra ficar na memória
E nos acompanhar
Quero que você viva sem mim
Eu vou conseguir também
Depois
De aceitarmos os fatos
Vou trocar seus retratos
Pelos de outro alguém
Meu bem
Vamos ter liberdade
Para amar à vontade
Sem trair a ninguém
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois
Canção da despedida. A única parceria de dois Geraldos (Vandré e Azevedo)
Poucos
sentiram tão fortemente o peso da ditadura militar como Geraldo
Vandré. E a maior responsável por isso foi sua canção "Pra não
dizer que não falei de flores", ou "Caminhando", apresentada no III
Festival Internacional da Canção, no dia 29 de setembro de 1968. A
canção ficou em segundo lugar (perdeu para Sabiá, de Chico e Tom
Jobim, que receberam a maior vaia de suas vidas), mas foi cantada e
recantada pelo público e chamada como a "Marselhesa
Brasileira".
Vandré em 1968
O
certo é que, após o sucesso estrondoso de "Caminhando", um
verdadeiro hino contra a ditadura, a vida de Vandré tornou-se um
martírio. Para se ter uma ideia, Zuenir Ventura faz uma referência
a um artigo revoltado de um General, publicado no Jornal do Brasil
em 06 de outubro de 1968, com o militar dizendo que a final do
Festival da canção contemplara 3 injustiças:
1.
Do Júri, ao colocar a música em segundo lugar, desconsiderando a
"pobreza" da letra com seus gerúndios e rimas terminadas em "ão",
sem falar da canção em dois acordes.
2.
Do público, que vaiou "Sabiá"
3.
De Geraldo Vandré, que se insurgira contra "soldados armados". Mas
neste caso o general dizia que apenas essa terceira injustiça
poderia ser reparada.
Antes
mesmo de ser proibida oficialmente no dia 23 de outubro de 68, os
discos já eram apreendidos, e Vandré vivia na paranoia de ser
preso. Medo que se intensificou na sexta feira 13 de dezembro de
1968, quando veio o AI-5, uma das passagens mais vergonhosas da
nossa história, que fechava o congresso, suprimia garantias
individuais (como o habeas corpus) e fazia com que a
ditadura mostrasse sua faze mais horrenda.
Vandré
era advogado, e sabia dos riscos que corria, passou a esconder-se,
viver na clandestinidade, mesmo sem saber se ele seria preso ou
não, e, como relata Dalva Silveira, no seu livro "Geraldo Vandré: A
vida não se resume em festivais (FT Editora), ele passou a planejar
a fuga para um autoexílio.
Mas,
antes de fugir do Brasil, Vandré passou um tempo escondido com
ajuda da viúva de Guimarães Rosa.
No
período em que estava foragido, uma das pessoas que tinha acesso a
Geraldo Vandré era Geraldo Azevedo, que compunha o "Quarteto
livre", banda que o acompanhara na turnê do Show "pra não dizer que
não falei de flores", cujo título, censurado, passou a ser "Socorro
- a poesia está matando o povo".
Geraldo
Azevedo disse que, para ver Vandré, tinha que se comportar
"como
um militante de organização clandestina; entrava num carro, mudava
para outro, fazia tudo para despistar pessoas da repressão que
pudessem estar me seguindo para, por meu intermédio, chegar a
Vandré"
Nesse
clima compuseram em parceria, Vandré e Azevedo, a "Canção da
Despedida", cuja letra é absolutamente clara e
explícita.
O
eu-lírico anuncia sua despedida do seu amor, anunciando, todavia,
seu futuro retorno. Afirma não poder ficar tendo em vista que um
Rei mal coroado (que vem a ser, obviamente o governo militar) não
deseja o amor em seu reinado.
No
entanto, ao mesmo tempo em que se despede, anuncia a morte do "rei"
velho e cansado, ao mesmo tempo em que anuncia a permanência do
amor de hoje.
Obviamente,
a música foi censurada. Numa entrevista para o site
(www.abarriguda.org.br), Geraldo Azevedo conta:
"Eu fui censurado várias vezes, teve uma canção minha que foi
censurada até a ditadura acabar, que foi uma musica que eu fiz com
Geraldo Vandré, a Canção da Despedida, foi muito censurada,
insistimos, cheguei a colocá-la muitas vezes com nomes diferentes,
mas não passava não!"
Geraldo
Vandré, todavia, numa entrevista a Ricardo Anísio em 2004,
afirmou:
"RA
- Mas o Geraldo Azevedo também tem uma estória. Você disse que ele
nunca foi seu parceiro em "Canção da Despedida". Confirma
isso?
GV - Claro que confirmo. Eu
nunca tive parceiro nessa canção, a escrevi sozinho e ela está
gravada no disco que fiz na França ("Das Terras de Bemvirá) mas
quando foi lançado no Brasil veio sem essa faixa, não sei porquê,
se foi por censura ou algo que o valha. A verdade é que depois que
a marca Vandré virou um mito monstruoso apareceram parcerias que eu
nunca fiz".
O
fato é que em 16 de julho de 1973 Vandré retornara ao Brasil.
Ficara incomunicável nos quartéis do exército. Ao sair, disse que
sua canção teria sido injustamente apropriada por grupos políticos
e que dali para a frente só faria canções de 'amor e
paz'.
Vandré, em 1999
O
fato é que o artista Geraldo Vandré "morreu" ao voltar do exílio,
restando apenas o advogado Geraldo Pedrosa de Araújo Dias. A ponto
de que, quando Elba Ramalho foi gravar a "Canção da Despedida",
após sua liberação pela censura no fim da década de 70, Vandré não
quis autorizar a sua execução, só o fazendo quando seu nome foi
retirado dos créditos.
Mas
parece que era realmente uma despedida. Geraldo vandré nunca mais
retornou... Ele jamais gravara esta canção.
Maria Bethania homenageia Dalva de Oliveira
No último dia 30 de agosto
foram-se 40 anos que morreu uma das maiores cantoras brasileira de
todos os tempos: Dalva de Oliveira. Num país de pouca memória,
Dalva representa uma das mais belas vozes já ouvidas na música
brasileira, que inspirou muitas das grandes cantoras do Brasil,
entre elas, Maria Bethânia.
Essa homenagem revela o
quanto Dalva era capaz de inspirar, e inspirou Bethania,
indiscutivelmente uma das maiores damas da MPB. Noutra entrevista,
Bethania revela sua paixão por Dalva:
" De
onde vem minha paixão por dalva é de santo Amaro eu menina ouvindo
na rádio e depois em vitrola, radiola, aqueles discos enorme, eu
ficava horas ouvindo dalva cantando. Eu tenho essa memória muito
forte"
Para se ter ideia, em 1977,
Bethânia, no seu disco pássaro da manhã, gravou a canção "Há um
Deus", de Lupicínio Rodrigues e gravada por Dalva. E bem ao estilo
de Bethania, de entremear música e poesia, música e prosa, antes de
cantar a música, ela faz a homenagem à "estrela Dalva"
“Toda vez que eu faço um espetáculo de
teatro,um show de teatro,
eu tenho um repertório que obedeço desde a estreia
até o último dia da temporada.
E, normalmente quando volto para minha casa, nos meus dias de folga,
eu sempre me pego no violão tocando músicas
não incluídas no repertório de cena.
Normalmente são músicas muito românticas, muito apaixonadas,apenas ligadas ao coração.
E essas músicas sempre me são lembradas através de gravações
da extraordinária Dalva de Oliveira.
A Dalva tinha a coragem e o jeito
de cantar no palco,
o que até então eu só tinha coragem e jeito
de cantar dentro da minha casa.
Partido Alto - Chico Buarque
Partido alto
(Chico Buarque)
Diz que deu, diz que dá, diz que Deus dará
Não vou duvidar, ô nega
E se Deus não dá como é que vai ficar, ô nega
Diz que Deus diz que dá
E se Deus negar, ô nega
Eu vou me indignar e chega
Deus dará, Deus dará
Deus é um cara gozador, adora brincadeira
Pois pra me jogar no mundo, tinha o mundo inteiro
Mas achou muito engraçado me botar cabreiro
Na barriga da miséria, eu nasci batuqueiro (brasileiro)
Eu sou do Rio de Janeiro
Jesus Cristo inda me paga, um dia inda me explica
Como é que pôs no mundo esta pobre coisica (pouca titica)
Vou correr o mundo afora, dar uma canjica
Que é pra ver se alguém se embala ao ronco da cuíca
E aquele abraço pra quem fica
Deus me fez um cara fraco, desdentado e feio
Pele e osso simplesmente, quase sem recheio
Mas se alguém me desafia e bota a mão no meio
Dou pernada a três por quatro e nem me despenteio
Que eu já tô de saco cheio
Deus me deu mão de veludo pra fazer carícia
Deus me deu muitas saudades e muita preguiça
Deus me deu pernas compridas e muita malícia
Pra correr atrás de bola e fugir da polícia
Um dia ainda sou notícia
Essa música de Chico Buarque, gravada em 1972,
e imortalizada no show/disco que “Caetano & Chico -
juntos e ao vivo”, gravado no Teatro Castro Alves, em 10
e 11 de novembro de 1972, revela como a censura da época atuava.
Mais recentemente, foi regravada no cd Acústico de Cássia
Eller.
No livro da coleção “História de
canções”, sobre as histórias das músicas compostas por Chico
Buarque (Ed. Leya, 2009), Wagner Homem relata o despacho da
censura:
“Se é
engraçado ou uma infelicidade para o autor ter nascido no Brasil,
país onde vive e encontra esse povo generoso que lhe dá sustento
comprando seus discos, e pagando-o regiamente nos seus shows,
afirmo que ele está nos gozando. Opino pelo
veto.
Para resolver a quizila, Chico teve que
substituir a palavra “titica” por
“coisica”, e substituir
“brasileiro” por
“batuqueiro”. E ainda assim, mesmo com a
música liberada, teve que ouvir uma singular apreciação de sua
obra:
“Como é que você, que fez uma música tão bonita
como ‘Construção’, agora vem com esta, falando de
titica e saco cheio?
Parece pré-histórico, mas foi há menos de 40
anos. Parece impensável que questões tão pequenas, e que parecem
ridículas diante de determinadas letras da atualidade, chamavam a
atenção da censura. Tratava-se de um juízo moral, que não tinha
nada a ver com os pretensos objetivos do governo
militar.
P.S. O vídeo acima, obviamente, não é do show
de 1972. Pelo que sei, não há registros visuais daquele momento
histórico.
Tim Maia falta ao especial "Chico & Caetano" em 1986
Nelson Motta escreveu
um interessante livro sobre a vida de Tim Maia (“Vale
Tudo”, Objetiva, 2007), contando as histórias dos encontro e
desencontros do rei do soul, e acaba dizendo alguma coisa sobre as
históricas faltas de TIM mais aos shows.
“TIM geralmente faltava a shows porque estava derrubado
pelo que chamava de triátlon – uma maratona de uísque,
cocaína e maconha. Muitas vezes, mesmo em condição precária, ele
estava até com vontade de cantarele estava até com vontade de
cantar, mas não havia voz nem para dar boa noite. Outras vezes,
raras segundo ele, faltava simplesmente para sacanear o
contratante, com especial predileção por Chico Recarey, do Scala.
Temporada era um perigo: TIM ficava tão feliz com a estreia que
promovia um triátlon comemorativo com os amigos no camarim até
amanhecer. E no dia seguinte não tinha voz nem
show.”
Uma das faltas
memoráveis de Tim Maia aconteceu durante o Programa “Chico e
Caetano”, que a globo exibia uma vez por mês, de abril a
dezembro de 1986. Há alguns momentos memoráveis no programa, como
apresentações de Astor Piazzola com Tom Jobim, ou uma participação
da banda Legião Urbana, com Renato Russo visivelmente intimidado
com a presença de seus ídolos Chico e Caetano no palco. Além dos
artistas citados, passaram pelo programa Cazuza, Elizeth Cardoso,
Elza Soares, Evandro Mesquita, Gilberto Gil, João Bosco, Jorge Ben
Jor, Luiz Caldas, Maria Bethânia, Os Paralamas do Sucesso, Paulinho
da Viola, Rita Lee, Mercedes Sosa, Pablo Milanés e Silvio
Rodriguez.
Em 15 de agosto de
1986, Tim Maia chegou a ensaiar na véspera, não compareceu à
gravação, o que levou a equipe de produção a alterar a estrutura do
programa, exibindo trechos do ensaio. Caetano, ao comentar a
ausência, chegou a dizer que em Tim Maia, “o que seriam
falhas se tornam enfeites”.
Na gravação do
ensaio, dá para se ver Tim pedindo eco, graves e agudos, fazendo
exigências, tocando e se divertindo, mas até hoje ninguém sabe a
razão pela qual Tim não apareceu na gravação. Virou
história.
Fontes:
http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo;
Vale Tudo. Nelson Motta, Objetiva, 2007;
If I Fell - A singela canção dos Beatles sobre um amor "ilegal" (e com um leve toque de crueldade)
Segundo John Lennon, If I fell é uma
canção "semiautobiográfioca". Por trás da romântica balada de amor,
fala sobre uma relação, digamos assim, ilícita. Ele pede à mulher
em questão que, caso se apaixone por ela (na verdade, ele já está
apaixonado), ele também será amado como nunca fora antes, podendo
compreender que amar é muito mais do que somente dar as
mãos.
Em todo momento há comparações. John sugere dar seu
coração, mas ele quer de volta que a pessoa amada o ame mais do que
seu amor anterior. Fala em estabelecer uma relação de confiança, e
pede que o ser amado não se esconda, e também, quase implora que
ela não o machuque, pois ele não conseguiria novamente suportar a
dor que já sentira.
Há uma leve dose de crueldade no verso em que ele
afirma que ela (o amor que estaria sendo substituído) venha a
chorar.No livro The Beatles - A história por trás das
canções, Steve Turner conta:
No
primeiro esboço ele escreveu: "I hope that she will cry/ when she
hears we are two" (Espero que ela chore quando descobrir que somos
um casal) em vez da versão mais suave "And that she will cry" (E
ela vai chorar) sugerindo uma forma cruel de prazer quando sua
parceira descobrisse sua infidelidade.Obviamente, a semiautobiografia não foi revelada em 1964, quando a música foi feita e John Lennon era casado com Cynthia.
A letra: If I Fell
If I fell in love with you,
Would you promise to be true
And help me understand?
'Cause I've been in love before
And I found that love was more
Than just holdin' hands.
If I give my heart
To you,
I must be sure
From the very start
That you
Would love me more than her.
If I trust in you
Oh, please,
Don't run and hide.
If I love you too
Oh, please,
Don't hurt my pride like her
'Cause I couldn't stand the pain
And I
Would be sad if our new love
Was in vain.
So I hope you see
That I
Would love to love you
And that she
Will cry
When she learns we are two
'Cause I couldn't stand the pain
And I
Would be sad if our new love
Was in vain.
So I hope you see
That I
Would love to love you
And that she
Will cry
When she learns we are two.
If I fell in love with you
Across The Universe
A música dos Beatles que mais
gosto, do álbum Let it Be, é Across The Universe. É uma
música com uma série de imagens, e com um refrão que parece um
mantra, "Nothing's gonna change my world", em que
palavras, imagens e sentimentos se misturam. No livro de Steve
Turner, "The Beatles - A história de todas as canções", há
um breve relato de como a música foi feita, incrivelmente após uma
discussão:
"É uma música sobre escrever músicas, ou pelo menos sobre
os mistérios do processo criativo. John muitas vezes se referia a
ela como uma de suas canções dos Beatles favoritas por causa da
pureza da letra. As palavras surgiram quando ele estava em Kenwood.
Ele estava discutindo com Cynthia e, quando deito e tentou dormir,
a expressão 'pools of sorrow, waves of joy' (piscinas de
mágoas,ondas de alegria) apareceu para ele e não foi embora até que
ele se levantou e começou a escrever. 'Estava levemente irritado e
não conseguia dormir'. Disse John.
A música foi gravada em 1968, mas
somente foi apresentada ao público em dezembro de 1969 e consta do
álbum Let it Be, lançado após a dissolução dos Beatles.
Bela canção.
Octopus's Garden - A segunda (e última) canção de Ringo para os Beatles
Quando se fala nas canções dos Beatles, a primeira
lembrança são das canções da parceria Lennon/McCartney. Há também
belíssimas canções de Harrison, mas poucos sabem que Ringo compôs
poucas músicas que foram gravadas pelos Beatles. Na verdade,
duas: Don't pass
by me, para
o Álbum
branco,
e Octopus's
Garden, para
Abbey
Road.
Steve
Turner, no livro que escreveu sobre a história por trás das canções
dos Beatles, conta a história da
música Octopus's Garden:
"... foi inspirada nas férias em família que ele tirou em
1968 na Sardenha a bordo do iate de Peter Sellers. Depois que Ringo
recusou uma oferta de polvo para o almoço, o capitão da embarcação
começou a contar a ele tudo o que sabia sobre a vida dos
polvos.
'Ele me contou que eles ficavam no fundo do mar
recolhendo pedras e objetos brilhantes para construir jardins',
conta Ringo,. 'Achei fabuloso porque, na época, tudo o que eu
queria era ficar embaixo d'água também. Eu queria sumir por um
tempo".