"A única coisa boa em ter dinheiro é que você não precisa se preocupar com ele. Se eu gastar tudo hoje amanhã ganho mais. Isso não importa. O que importa são as pessoas que temos a nossa volta." Elvis Presley.
PARTE 2 (para ler a parte 1, clique aqui)
5 de julho de 1954 é considerado um dia histórico, pois simbolicamente ele é o marco zero da história do Essa versão cantada por Elvis foi vista por Sam Phillips, que se empolgou com o potencial do jovem e resolveu ajudá-lo. Naquele mesmo dia foi gravado o primeiro single profissional do Rei do Rock.
Dois dias depois disso, as músicas de Elvis tocaram na rádio e o sucesso foi imediato. Em pouco tempo sua música chegou ao topo da Billboard (lista das mais tocadas) e já no dia 17 daquele mês de julho, ele fez sua primeira apresentação ao vivo. No dia 2 de outubro ele tocou em Nashville, cidade considerada a capital da música country. Seis dias mais tarde, Elvis estava fazendo sua primeira apresentação fora do estado do Tennessee.
No início do ano de 1955, Elvis chega ao ápice da música americana, tendo uma de suas canções no topo da Billboard nacional, a canção era a famosa "I Forgot To Remember To Forget".
No ano seguinte, Elvis Presley já havia se tornado uma estrela mundial da música, quebrando todas as barreiras do racismo e idéias conservadoras da época. Seu talento e sua beleza fizeram com que ele se tornasse o artista perfeito, criando um novo padrão para a música mundial.
"Quando não se está apaixonado, não se está vivo." Elvis.
Entre 1955 e 1958, além de alcançar um sucesso inimaginável, Elvis também gerava polêmica por todos os lugares que se apresentava, pois os mais conversadores da época lhe taxavam como um ser pornográfico, porque sua dança era algo totalmente inadmissível naqueles tempos. Mesmo assim o poder se sua música era maior do que qualquer crítica ou ataque da sociedade.
Em 1958, Elvis parou sua carreira musical, pois fora convocado para servir seu país no exército, convide que poderia ter sido recusado, mas não foi. Dessa forma sua carreia teve uma pausa dramática, porém seu retorno foi algo que o mundo jamais tinha visto.
Raul Seixas foi sem dúvida, um dos maiores ícones do Rock nacional.
Figura emblemática foi também responsável por dezenas de trabalhos,
entre os quais: “Gita e Metamorfose Ambulante”. Talentoso, ele é o nosso
homenageado da vez. Uma boa leitura!
Principais composições
1) Sociedade Alternativa: Mais do que uma canção, uma filosofia de vida. Nela, uma das mais conhecidas conotações: “Faz o que tu queres há de ser tudo da lei”.
2) Maluco Beleza: Nos anos 70, um dos trabalhos mais aceitos. Peça chave, por sinal, em um de seus álbuns mais vendidos: “O Dia em que a Terra Parou”.
3) Tente Outra Vez: Em “Novo Aeon”, uma das músicas mais famosas. Neste, os clássicos: “É fim de mês” e “Rock do Diabo”.
4) Ouro de Tolo: Contundente, ela possui uma série de referências: Da classe média brasileira aos alquimistas da antiguidade.
5) Metamorfose Ambulante: Sem dúvida alguma, um dos trabalhos mais emblemáticos. Disseminado, por sua vez, nas mais diferentes redes e emissoras de TV.
6) Aluga-se: Regravada pelos Titãs, ela alcançaria rápida projeção. Tanto no rádio, como em shows específicos.
7) O trem das sete: Como o sucesso obtido, a canção seria regravada em inglês. Neste idioma, a tradução feita para “Morning Train”.
8) Eu Nasci Há Dez Mil anos Atrás: Bem humorada, ela citaria diversos personagens históricos. De Cristo a Maomé.
9) O Dia em que a Terra Parou: Inteligente, ela faz todos nós viajar. Seja com o seu ritmo, ou ainda, com a sua letra inebriante.
10) Gita: Em alta, diversas versões seriam feitas. De Maria Betânia e Milionário e José Rico.
PS: Toca Raulllllllllllllllllllllllllllllllllll! Até a próxima!

"tudo começou quando, em 1933, Wilson Batista lançou lenço no pescoço, em que proclamava seu orgulho em ser vadio e associava a imagem do sambista à malandragem. (verso de lenço no pescoço: Eu passo gingando/Provoco e desafio/Eu tenho orgulho/Em ser tão vadio)
Principais composições
1) Sociedade Alternativa: Mais do que uma canção, uma filosofia de vida. Nela, uma das mais conhecidas conotações: “Faz o que tu queres há de ser tudo da lei”.
2) Maluco Beleza: Nos anos 70, um dos trabalhos mais aceitos. Peça chave, por sinal, em um de seus álbuns mais vendidos: “O Dia em que a Terra Parou”.
3) Tente Outra Vez: Em “Novo Aeon”, uma das músicas mais famosas. Neste, os clássicos: “É fim de mês” e “Rock do Diabo”.
4) Ouro de Tolo: Contundente, ela possui uma série de referências: Da classe média brasileira aos alquimistas da antiguidade.
5) Metamorfose Ambulante: Sem dúvida alguma, um dos trabalhos mais emblemáticos. Disseminado, por sua vez, nas mais diferentes redes e emissoras de TV.
6) Aluga-se: Regravada pelos Titãs, ela alcançaria rápida projeção. Tanto no rádio, como em shows específicos.
7) O trem das sete: Como o sucesso obtido, a canção seria regravada em inglês. Neste idioma, a tradução feita para “Morning Train”.
8) Eu Nasci Há Dez Mil anos Atrás: Bem humorada, ela citaria diversos personagens históricos. De Cristo a Maomé.
9) O Dia em que a Terra Parou: Inteligente, ela faz todos nós viajar. Seja com o seu ritmo, ou ainda, com a sua letra inebriante.
10) Gita: Em alta, diversas versões seriam feitas. De Maria Betânia e Milionário e José Rico.
PS: Toca Raulllllllllllllllllllllllllllllllllll! Até a próxima!
"Bandeira Branca", com Dalva de Oliveira. A última marchinha de carnaval
Num determinado momento da
história do carnaval do Rio de Janeiro, as marchinhas de carnaval
foram substituídas pelos sambas-enredo. Costuma-se dizer que a
história das marchinhas começa com "Abre-alas", de Chiquinha
Gonzaga, em 1899, e termina com a conhecida "Bandeira Branca",
de Max Nunes e Laércio Alves, que foi não só a última
marchinha de carnaval que fez grande sucesso, mas também o último
sucesso de uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos:
Dalva de Oliveira.
As marchinhas, diferente das
músicas carnavalescas que as substituíram (embora, nos carnavais,
elas continuem eternamente entre as mais executadas), ultrapassavam
os limites das meras canções de amor, pois tratavam de política,
costumes, e tinham, muitas vezes, uma dose de humor politicamente
incoirreto que não permitiria que tais músicas fossem aprovadas nos
enfadonhos tempos atuais.
Interessante que a primeira
grande marchinha fosse um "abre-alas" para um ritmo que dominaria o
carnaval durante 70 anos, e a última, "bandeira branca", uma música
triste, em tom menor, em que o eu-lírico se rende, pede paz, em
nome da saudade de um grande amor. É até um paradoxo que tenha se
tornado um grande sucesso de carnaval. Quem sabe um prenúncio, um
presságio...
Um epílogo para a carreira de
sucesso de Dalva de Oliveira, e o capítulo derradeiro do domínio
das marchinhas de carnaval...
Noel Rosa x Wilson Batista
A história das rivalidades musicais parece
alimentar a música popular brasileira. Algumas destas rivalidades
são absolutamente irreais, como a de Lúcio Alves e
Dick Farney; outras são alimentadas pelos fãs, mas
não existiram entre os artistas, como Chico
e Caetano, Gal e
Elis. Há ainda as que vêm da era do rádio, como
Emilinha e Marlene, e a célebre
briga entre Herivelto Martins e Dalva de
Oliveira.
Antes de todas essas, porém, surgiu um
duelo real, traduzido em canções e canções-resposta, que agitou o
Rio de Janeiro na década de 30: trata-se do duelo entre
Noel Rosa e Wilson Batista.
Trago, com algumas adaptações, o texto que foi publicado no
blog http://mercadodepulgas.blogspot.com.
"tudo começou quando, em 1933, Wilson Batista lançou lenço no pescoço, em que proclamava seu orgulho em ser vadio e associava a imagem do sambista à malandragem. (verso de lenço no pescoço: Eu passo gingando/Provoco e desafio/Eu tenho orgulho/Em ser tão vadio)
Noel se sentiu
incomodado com a associação e mandou logo uma resposta bem direta,
compondo rapaz
folgado, cuja letra
não deixa margem a dúvidas sobre suas intenções.(trecho: Malandro
é palavra derrotista/Que só serve pra tirar/Todo o valor do
sambista)
Batista sentiu-se
ofendido pelo golpe inesperado e reagiu com o
samba mocinho da
vila, em que dispara:
(se não quiser perder
o nome, cuide do seu microfone e deixe quem é malandro em
paz). A elegante resposta
veio com feitiço da
vila, parceria com o pianista Vadico:
(lá em vila isabel quem é bacharel não tem medo de bamba.
são paulo dá café, minas dá leite e a vila isabel dá
samba...).
Achando que o canto de amor à Vila Isabel era uma fuga da briga e gostando da notoriedade alcançada pela mesma, Wilson Batista voltou ao ataque com Conversa Fiada: (é conversa fiada dizerem que o samba lá na vila tem feitiço... )
Achando que o canto de amor à Vila Isabel era uma fuga da briga e gostando da notoriedade alcançada pela mesma, Wilson Batista voltou ao ataque com Conversa Fiada: (é conversa fiada dizerem que o samba lá na vila tem feitiço... )
Mas mexer com a
querida Vila de Noel foi o erro fatal, que acabou sendo responsável
pela composição de uma das maiores obras-primas do nosso
samba, palpite
infeliz, em que o adversário é claramente
desacreditado pela
pergunta: quem é você, que não sabe o que
diz?
Apesar da violência da resposta (o próprio Wilson Batista se confessou arrependido, anos mais tarde, por ter se aproveitado do complexo de feiúra de Noel), a canção Frankenstein da Vila não chegou nem perto de desbancar o poeta da vila (trecho: "Boa impressão nunca se tem, quando se encontra um certo alguém, que até parece o Frankstein...) A disputa ainda rendeu algumas réplicas, como João Ninguém, de Noel (João Ninguém, que não é velho nem moço, come bastante no almoço pra se esquecer do jantar) e Terra de Cego, de Batista (És o abafa da Vila, bem sei, mas na terra de cego quem tem um olho é rei), por exemplo, mas a contenda já dava mostras de não possuir mais a mesma intensidade de antes, e os dois compositores já estavam mesmo virando amigos.
Apesar da violência da resposta (o próprio Wilson Batista se confessou arrependido, anos mais tarde, por ter se aproveitado do complexo de feiúra de Noel), a canção Frankenstein da Vila não chegou nem perto de desbancar o poeta da vila (trecho: "Boa impressão nunca se tem, quando se encontra um certo alguém, que até parece o Frankstein...) A disputa ainda rendeu algumas réplicas, como João Ninguém, de Noel (João Ninguém, que não é velho nem moço, come bastante no almoço pra se esquecer do jantar) e Terra de Cego, de Batista (És o abafa da Vila, bem sei, mas na terra de cego quem tem um olho é rei), por exemplo, mas a contenda já dava mostras de não possuir mais a mesma intensidade de antes, e os dois compositores já estavam mesmo virando amigos.
De fato, Noel gostou da melodia de Terra de
Cego, mas pediu para trocar a letra. Como Wilson também havia
andado de namoro com Ceci - uma antiga paixão de Noel Rosa - a nova
letra foi dedicada a ela. A música é "DEIXA DE SER
CONVENCIDA(Noel Rosa - Wilson Batista)
Essa música selava o fim de uma briga musical. Noel faleceu em maio de 1937. Wilson Batista compôs sambas com menções a Noel Rosa, como "Quero um Samba" e "Terra Boa".
Essa música selava o fim de uma briga musical. Noel faleceu em maio de 1937. Wilson Batista compôs sambas com menções a Noel Rosa, como "Quero um Samba" e "Terra Boa".
Com certeza, quem mais saiu ganhando nesse duelo foi a
música popular brasileira.
Depois. A mais melancólica canção do novo disco de Marisa Monte...
Criou-se muita expectativa sobre o novo disco
de Marisa Monte, o oitavo de sua carreira, e no qual o tema do amor
continua tendo destaque. Ela já disse, numa espécie de entrevista
coletiva virtual, no seu sítio digital:
"Sempre gostei de música antiga brasileira. Eu era uma adolescente diferente porque gostava de fuçar disco da avó e do pai. Essa música eu conheço desde essa época, de 15 ou 16 anos, quando eu ouvia Dalva, Lupicínio [Rodrigues], Francisco Alves, repertório com o qual entrei em contato muito jovem."
Por essa razão, venho dar destaque à música
mais melancólica de um disco que não tem esse tom. A canção
Depois, parceria dela com os inseparáveis Carlinhos Brown
e Arnaldo Antunes.
Depois é a história do fim de um relacionamento, é o day after de um amor que fez história para o casal, e que no momento só resta tristeza. É uma música com alta carga emotiva, que remonta aos clássicos românticos da década de 70....
A canção começa com a constatação de que
sonhou, se viveu, se planejou a vida junto com outro alguém, e um
abandono recíproco fez com que esses sonhos e planos descessem
ladeira abaixo, restando o sincero, mas protocolar desejo de
felicidade para o ser amado.
Em, seguida, a canção reflete o sofrimento do fim, o arrastar-se no chão, da sensação da traição, de alguém que te ama virar-lhe as costas, e pelas respostas que não foram obtidas... (E me pergunto quantos casais terminam pelas respostas que não podem ser dadas? Quantas pessoas precisam de respostas do outro, mas não estão dispostos a respondê-las?). Além do desejo protocolar de felicidade, há um desejo de melhora... que se melhore como pessoa, e de que dias melhores venham...
A terceira estrofe é de nostalgia... daqueles
momentos mágicos e únicos, do amor que fez história para a vida
inteira, mas que melancolicamente reconhece ter passado o tempo do
"nós dois". O amor é presente, e vive também em tantas coisas boas
vividas, mas que há o desejo de que um consiga viver sem o outro, o
que parece impossível nos momentos de separação recente.
Por fim, a múisca reflete, ainda de maneira sorumbática, a abertura para novas relações, afinal, há algo mais melancólico do que a troca de fotografias da pessoa amada pela de outro alguém? Embora haja um prenúncio de liberdade e de amor futuro "sem trair mais ninguém", a música termina com a confissão de que há o desejo de que a outra seja feliz... mas que o eu-lírico será feliz... depois...
Uma bela canção, brega, romântica, retrô... não
são poucos os jornalistas que fazem associação dessa canção com a
fase mais intensa das canções românticas de Roberto Carlos... vale
a pena escutar...
Depois
De sonhar tantos anos
De fazer tantos planos
De um futuro pra nós
Depois
De tantos desenganos
Nós nos abandonamos
Como tantos casais
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois
De varar madrugada
Esperando por nada
De arrastar-me no chão
Em vão
Tu viraste-me as costas
Não me deu as respostas
Que eu preciso escutar
Quero que você seja melhor
Hei ser melhor também
Nós dois
Já tivemos momentos
Mas passou nosso tempo
Não podemos negar
Foi bom
Nós fizemos história
Pra ficar na memória
E nos acompanhar
Quero que você viva sem mim
Eu vou conseguir também
Depois
De aceitarmos os fatos
Vou trocar seus retratos
Pelos de outro alguém
Meu bem
Vamos ter liberdade
Para amar à vontade
Sem trair a ninguém
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois
O
certo é que, após o sucesso estrondoso de "Caminhando", um
verdadeiro hino contra a ditadura, a vida de Vandré tornou-se um
martírio. Para se ter uma ideia, Zuenir Ventura faz uma referência
a um artigo revoltado de um General, publicado no Jornal do Brasil
em 06 de outubro de 1968, com o militar dizendo que a final do
Festival da canção contemplara 3 injustiças:
1. Do Júri, ao colocar a música em segundo lugar, desconsiderando a "pobreza" da letra com seus gerúndios e rimas terminadas em "ão", sem falar da canção em dois acordes.
2. Do público, que vaiou "Sabiá"
3. De Geraldo Vandré, que se insurgira contra "soldados armados". Mas neste caso o general dizia que apenas essa terceira injustiça poderia ser reparada.
Antes mesmo de ser proibida oficialmente no dia 23 de outubro de 68, os discos já eram apreendidos, e Vandré vivia na paranoia de ser preso. Medo que se intensificou na sexta feira 13 de dezembro de 1968, quando veio o AI-5, uma das passagens mais vergonhosas da nossa história, que fechava o congresso, suprimia garantias individuais (como o habeas corpus) e fazia com que a ditadura mostrasse sua faze mais horrenda.
Vandré era advogado, e sabia dos riscos que corria, passou a esconder-se, viver na clandestinidade, mesmo sem saber se ele seria preso ou não, e, como relata Dalva Silveira, no seu livro "Geraldo Vandré: A vida não se resume em festivais (FT Editora), ele passou a planejar a fuga para um autoexílio.
Mas, antes de fugir do Brasil, Vandré passou um tempo escondido com ajuda da viúva de Guimarães Rosa.
No período em que estava foragido, uma das pessoas que tinha acesso a Geraldo Vandré era Geraldo Azevedo, que compunha o "Quarteto livre", banda que o acompanhara na turnê do Show "pra não dizer que não falei de flores", cujo título, censurado, passou a ser "Socorro - a poesia está matando o povo".
Geraldo
Azevedo disse que, para ver Vandré, tinha que se comportar
"como
um militante de organização clandestina; entrava num carro, mudava
para outro, fazia tudo para despistar pessoas da repressão que
pudessem estar me seguindo para, por meu intermédio, chegar a
Vandré"
Nesse clima compuseram em parceria, Vandré e Azevedo, a "Canção da Despedida", cuja letra é absolutamente clara e explícita.
O eu-lírico anuncia sua despedida do seu amor, anunciando, todavia, seu futuro retorno. Afirma não poder ficar tendo em vista que um Rei mal coroado (que vem a ser, obviamente o governo militar) não deseja o amor em seu reinado.
No entanto, ao mesmo tempo em que se despede, anuncia a morte do "rei" velho e cansado, ao mesmo tempo em que anuncia a permanência do amor de hoje.
Obviamente, a música foi censurada. Numa entrevista para o site (www.abarriguda.org.br), Geraldo Azevedo conta:
"Eu fui censurado várias vezes, teve uma canção minha que foi censurada até a ditadura acabar, que foi uma musica que eu fiz com Geraldo Vandré, a Canção da Despedida, foi muito censurada, insistimos, cheguei a colocá-la muitas vezes com nomes diferentes, mas não passava não!"
Geraldo Vandré, todavia, numa entrevista a Ricardo Anísio em 2004, afirmou:
"RA - Mas o Geraldo Azevedo também tem uma estória. Você disse que ele nunca foi seu parceiro em "Canção da Despedida". Confirma isso?
O
fato é que o artista Geraldo Vandré "morreu" ao voltar do exílio,
restando apenas o advogado Geraldo Pedrosa de Araújo Dias. A ponto
de que, quando Elba Ramalho foi gravar a "Canção da Despedida",
após sua liberação pela censura no fim da década de 70, Vandré não
quis autorizar a sua execução, só o fazendo quando seu nome foi
retirado dos créditos.
Mas parece que era realmente uma despedida. Geraldo vandré nunca mais retornou... Ele jamais gravara esta canção.
"Sempre gostei de música antiga brasileira. Eu era uma adolescente diferente porque gostava de fuçar disco da avó e do pai. Essa música eu conheço desde essa época, de 15 ou 16 anos, quando eu ouvia Dalva, Lupicínio [Rodrigues], Francisco Alves, repertório com o qual entrei em contato muito jovem."
Depois é a história do fim de um relacionamento, é o day after de um amor que fez história para o casal, e que no momento só resta tristeza. É uma música com alta carga emotiva, que remonta aos clássicos românticos da década de 70....
Em, seguida, a canção reflete o sofrimento do fim, o arrastar-se no chão, da sensação da traição, de alguém que te ama virar-lhe as costas, e pelas respostas que não foram obtidas... (E me pergunto quantos casais terminam pelas respostas que não podem ser dadas? Quantas pessoas precisam de respostas do outro, mas não estão dispostos a respondê-las?). Além do desejo protocolar de felicidade, há um desejo de melhora... que se melhore como pessoa, e de que dias melhores venham...
Por fim, a múisca reflete, ainda de maneira sorumbática, a abertura para novas relações, afinal, há algo mais melancólico do que a troca de fotografias da pessoa amada pela de outro alguém? Embora haja um prenúncio de liberdade e de amor futuro "sem trair mais ninguém", a música termina com a confissão de que há o desejo de que a outra seja feliz... mas que o eu-lírico será feliz... depois...
Depois
De sonhar tantos anos
De fazer tantos planos
De um futuro pra nós
Depois
De tantos desenganos
Nós nos abandonamos
Como tantos casais
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois
De varar madrugada
Esperando por nada
De arrastar-me no chão
Em vão
Tu viraste-me as costas
Não me deu as respostas
Que eu preciso escutar
Quero que você seja melhor
Hei ser melhor também
Nós dois
Já tivemos momentos
Mas passou nosso tempo
Não podemos negar
Foi bom
Nós fizemos história
Pra ficar na memória
E nos acompanhar
Quero que você viva sem mim
Eu vou conseguir também
Depois
De aceitarmos os fatos
Vou trocar seus retratos
Pelos de outro alguém
Meu bem
Vamos ter liberdade
Para amar à vontade
Sem trair a ninguém
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois
Canção da despedida. A única parceria de dois Geraldos (Vandré e Azevedo)
Vandré em 1968
Poucos
sentiram tão fortemente o peso da ditadura militar como Geraldo
Vandré. E a maior responsável por isso foi sua canção "Pra não
dizer que não falei de flores", ou "Caminhando", apresentada no III
Festival Internacional da Canção, no dia 29 de setembro de 1968. A
canção ficou em segundo lugar (perdeu para Sabiá, de Chico e Tom
Jobim, que receberam a maior vaia de suas vidas), mas foi cantada e
recantada pelo público e chamada como a "Marselhesa
Brasileira". 1. Do Júri, ao colocar a música em segundo lugar, desconsiderando a "pobreza" da letra com seus gerúndios e rimas terminadas em "ão", sem falar da canção em dois acordes.
2. Do público, que vaiou "Sabiá"
3. De Geraldo Vandré, que se insurgira contra "soldados armados". Mas neste caso o general dizia que apenas essa terceira injustiça poderia ser reparada.
Antes mesmo de ser proibida oficialmente no dia 23 de outubro de 68, os discos já eram apreendidos, e Vandré vivia na paranoia de ser preso. Medo que se intensificou na sexta feira 13 de dezembro de 1968, quando veio o AI-5, uma das passagens mais vergonhosas da nossa história, que fechava o congresso, suprimia garantias individuais (como o habeas corpus) e fazia com que a ditadura mostrasse sua faze mais horrenda.
Vandré era advogado, e sabia dos riscos que corria, passou a esconder-se, viver na clandestinidade, mesmo sem saber se ele seria preso ou não, e, como relata Dalva Silveira, no seu livro "Geraldo Vandré: A vida não se resume em festivais (FT Editora), ele passou a planejar a fuga para um autoexílio.
Mas, antes de fugir do Brasil, Vandré passou um tempo escondido com ajuda da viúva de Guimarães Rosa.
No período em que estava foragido, uma das pessoas que tinha acesso a Geraldo Vandré era Geraldo Azevedo, que compunha o "Quarteto livre", banda que o acompanhara na turnê do Show "pra não dizer que não falei de flores", cujo título, censurado, passou a ser "Socorro - a poesia está matando o povo".
Nesse clima compuseram em parceria, Vandré e Azevedo, a "Canção da Despedida", cuja letra é absolutamente clara e explícita.
O eu-lírico anuncia sua despedida do seu amor, anunciando, todavia, seu futuro retorno. Afirma não poder ficar tendo em vista que um Rei mal coroado (que vem a ser, obviamente o governo militar) não deseja o amor em seu reinado.
No entanto, ao mesmo tempo em que se despede, anuncia a morte do "rei" velho e cansado, ao mesmo tempo em que anuncia a permanência do amor de hoje.
Obviamente, a música foi censurada. Numa entrevista para o site (www.abarriguda.org.br), Geraldo Azevedo conta:
"Eu fui censurado várias vezes, teve uma canção minha que foi censurada até a ditadura acabar, que foi uma musica que eu fiz com Geraldo Vandré, a Canção da Despedida, foi muito censurada, insistimos, cheguei a colocá-la muitas vezes com nomes diferentes, mas não passava não!"
Geraldo Vandré, todavia, numa entrevista a Ricardo Anísio em 2004, afirmou:
"RA - Mas o Geraldo Azevedo também tem uma estória. Você disse que ele nunca foi seu parceiro em "Canção da Despedida". Confirma isso?
GV - Claro que confirmo. Eu
nunca tive parceiro nessa canção, a escrevi sozinho e ela está
gravada no disco que fiz na França ("Das Terras de Bemvirá) mas
quando foi lançado no Brasil veio sem essa faixa, não sei porquê,
se foi por censura ou algo que o valha. A verdade é que depois que
a marca Vandré virou um mito monstruoso apareceram parcerias que eu
nunca fiz".
Geraldo Vandré
O
fato é que em 16 de julho de 1973 Vandré retornara ao Brasil.
Ficara incomunicável nos quartéis do exército. Ao sair, disse que
sua canção teria sido injustamente apropriada por grupos políticos
e que dali para a frente só faria canções de 'amor e
paz'.Mas parece que era realmente uma despedida. Geraldo vandré nunca mais retornou... Ele jamais gravara esta canção.
Pra Ninguém - As homenagens de Caetano (parte 2) - Resposta a Chico/ Reverência a João
Caetano Veloso tem seus
paradoxos. Ele é assumidamente vaidoso, mas, ao mesmo tempo, é
capaz de manifestar sua admiração por tanta gente. Assim como Chico
em 1993, Caetano fez sua homenagem. Só que em vez de chamá-la
Paratodos, deu-lhe o nome de "pra
ninguém".
Assim, desde já, a música é uma
homenagem/resposta a Chico. E na canção, ele não apenas homenageia
os artistas, mas suas interpretações. Veja o que ele disse no blog
que manteve, o Obra em Progresso:
Às vezes penso que minha profissão tem sido perseguir Chico Buarque. Mas é uma perseguição amorosa. E tem dado tão bons resultados já faz tanto tempo, que desta vez, ao contrário do que aconteceu com "Você não entende nada" — música que nomeei "Sem açúcar" (parafraseando "Com açúcar, com afeto") porque à época julgavam haver entre nós uma rivalidade reles —, não temi pôr o nome "Pra ninguém" na canção que, como o "Paratodos" de Chico, lista virtudes de colegas. Chorei tanto quando Chico, em sua casa, me mostrou "Paratodos", que estava certo de nunca fazer nada para macular esse sentimento.
E aí vem a letra:
Nana (Caymmi) cantando "nesse mesmo lugar"
Tim Maia cantando "arrastão"
Bethânia cantando "a primeira manhã"
Djavan cantando "drão"
Chico (Buarque) cantando "exaltação à mangueira"
Paulinho (da Viola), "sonho de um carnaval"
Gal (Costa) cantando "candeias"
E Elis (Regina), "como nossos pais"
Elba (Ramalho) cantando "de volta pra o aconchego"
Sílvio (Caldas) cantando "mulher"
E Elisete (Cardoso) cantando "chega de mágoa"
Carmen (Miranda) cantando "adeus batucada"
Gilberto (Gil) cantando "sobre todas as coisas"
Cauby (Peixoto) cantando "camarim"
Orlando (Silva) cantando "faixa de cetim"
Milton (Nascimento), "o que será?"
Roberto (Carlos) , "a madrasta"
(João) Bosco, "Rio de Janeiro"
E Dalva (de Oliveira), "poeira do chão"
Nara (Leão) cantando "diz que fui por aí"
Marisa (Monte), "a menina dança"
Aracy (de Almeida) cantando "a camisa amarela"
Amélia (Rabello), "boêmio"
Max (dos Titãs), "polícia"
Nora (Ney) , "menino grande"
Dolores (Duran), "não se avexe não"
Caetano fala um pouco dessa canção:
"Pra ninguém" surgiu — sem título — a partir da vontade irresistível de mencionar a gravação de Nana de "Nesse mesmo lugar" e, quase ao mesmo tempo, a de "Arrastão" por Tim Maia. Começou-se a insinuar uma lista que eu julgava impossível de pôr em música à medida em que ia fazendo exatamente isso. O título se impôs, apesar dos resquícios de supercuidado, porque ele, além de ecoar "Alguém cantando" ( "como que pra ninguém..." ), evidenciava o critério de eleições intransferivelmente pessoais, o que fazia da canção uma espécie de "festa íntima da música".
Percebe-se que Caetano viaja numa lista maior, e
que dá mais espaço a quem surgiu na música brasileira depois dele,
ao contrário de Chico. E Chico homenageia de cara seu mestre Tom
Jobim, Caetano homenageia João no final, quando diz: "Melhor do que isso
só mesmo o silêncio/Melhor do que o silêncio só
João"
Vale reparar que nenhum dos cantores é compositor da música que canta, e então a música termina sendo uma homenagem à arte de cantar.
E novamente, na mesma passagem, a referência a João:
“Já ‘Pra ninguém’ é uma meditação sobre o mistério do cantar (não se cita ninguém cantando nada de sua própria autoria) e do ouvir cantar. E é uma avaliação extra-técnica e supra-crítica que, no entanto, conclui com a colocação crítica e tecnicamente correta de João Gilberto em seu posto. É o João Gilberto de quem sempre emanam idéias para repertório e para tratamento de material, das quais sempre se bebe sem sempre se dar o devido crédito”.
Eu aprendi a gostar de “Pra ninguém” aos pouquinhos... mais devagar do que “Paratodos”... mas são duas belas homenagens...
Diz que deu, diz que dá, diz que Deus dará
Não vou duvidar, ô nega
E se Deus não dá como é que vai ficar, ô nega
Diz que Deus diz que dá
E se Deus negar, ô nega
Eu vou me indignar e chega
Deus dará, Deus dará
Deus é um cara gozador, adora brincadeira
Pois pra me jogar no mundo, tinha o mundo inteiro
Mas achou muito engraçado me botar cabreiro
Na barriga da miséria, eu nasci batuqueiro (brasileiro)
Eu sou do Rio de Janeiro
Jesus Cristo inda me paga, um dia inda me explica
Como é que pôs no mundo esta pobre coisica (pouca titica)
Vou correr o mundo afora, dar uma canjica
Que é pra ver se alguém se embala ao ronco da cuíca
E aquele abraço pra quem fica
Deus me fez um cara fraco, desdentado e feio
Pele e osso simplesmente, quase sem recheio
Mas se alguém me desafia e bota a mão no meio
Dou pernada a três por quatro e nem me despenteio
Que eu já tô de saco cheio
Deus me deu mão de veludo pra fazer carícia
Deus me deu muitas saudades e muita preguiça
Deus me deu pernas compridas e muita malícia
Pra correr atrás de bola e fugir da polícia
Um dia ainda sou notícia
Essa música de Chico Buarque, gravada em 1972, e imortalizada no show/disco que “Caetano & Chico - juntos e ao vivo”, gravado no Teatro Castro Alves, em 10 e 11 de novembro de 1972, revela como a censura da época atuava. Mais recentemente, foi regravada no cd Acústico de Cássia Eller.
No livro da coleção “História de canções”, sobre as histórias das músicas compostas por Chico Buarque (Ed. Leya, 2009), Wagner Homem relata o despacho da censura:
P.S. O vídeo acima, obviamente, não é do show de 1972. Pelo que sei, não há registros visuais daquele momento histórico.

Às vezes penso que minha profissão tem sido perseguir Chico Buarque. Mas é uma perseguição amorosa. E tem dado tão bons resultados já faz tanto tempo, que desta vez, ao contrário do que aconteceu com "Você não entende nada" — música que nomeei "Sem açúcar" (parafraseando "Com açúcar, com afeto") porque à época julgavam haver entre nós uma rivalidade reles —, não temi pôr o nome "Pra ninguém" na canção que, como o "Paratodos" de Chico, lista virtudes de colegas. Chorei tanto quando Chico, em sua casa, me mostrou "Paratodos", que estava certo de nunca fazer nada para macular esse sentimento.
E aí vem a letra:
Nana (Caymmi) cantando "nesse mesmo lugar"
Tim Maia cantando "arrastão"
Bethânia cantando "a primeira manhã"
Djavan cantando "drão"
Chico (Buarque) cantando "exaltação à mangueira"
Paulinho (da Viola), "sonho de um carnaval"
Gal (Costa) cantando "candeias"
E Elis (Regina), "como nossos pais"
Elba (Ramalho) cantando "de volta pra o aconchego"
Sílvio (Caldas) cantando "mulher"
E Elisete (Cardoso) cantando "chega de mágoa"
Carmen (Miranda) cantando "adeus batucada"
Gilberto (Gil) cantando "sobre todas as coisas"
Cauby (Peixoto) cantando "camarim"
Orlando (Silva) cantando "faixa de cetim"
Milton (Nascimento), "o que será?"
Roberto (Carlos) , "a madrasta"
(João) Bosco, "Rio de Janeiro"
E Dalva (de Oliveira), "poeira do chão"
Nara (Leão) cantando "diz que fui por aí"
Marisa (Monte), "a menina dança"
Aracy (de Almeida) cantando "a camisa amarela"
Amélia (Rabello), "boêmio"
Max (dos Titãs), "polícia"
Nora (Ney) , "menino grande"
Dolores (Duran), "não se avexe não"
Caetano fala um pouco dessa canção:
"Pra ninguém" surgiu — sem título — a partir da vontade irresistível de mencionar a gravação de Nana de "Nesse mesmo lugar" e, quase ao mesmo tempo, a de "Arrastão" por Tim Maia. Começou-se a insinuar uma lista que eu julgava impossível de pôr em música à medida em que ia fazendo exatamente isso. O título se impôs, apesar dos resquícios de supercuidado, porque ele, além de ecoar "Alguém cantando" ( "como que pra ninguém..." ), evidenciava o critério de eleições intransferivelmente pessoais, o que fazia da canção uma espécie de "festa íntima da música".
Vale reparar que nenhum dos cantores é compositor da música que canta, e então a música termina sendo uma homenagem à arte de cantar.
E novamente, na mesma passagem, a referência a João:
“Já ‘Pra ninguém’ é uma meditação sobre o mistério do cantar (não se cita ninguém cantando nada de sua própria autoria) e do ouvir cantar. E é uma avaliação extra-técnica e supra-crítica que, no entanto, conclui com a colocação crítica e tecnicamente correta de João Gilberto em seu posto. É o João Gilberto de quem sempre emanam idéias para repertório e para tratamento de material, das quais sempre se bebe sem sempre se dar o devido crédito”.
Eu aprendi a gostar de “Pra ninguém” aos pouquinhos... mais devagar do que “Paratodos”... mas são duas belas homenagens...
Partido Alto - Chico Buarque
Partido alto
(Chico Buarque)Diz que deu, diz que dá, diz que Deus dará
Não vou duvidar, ô nega
E se Deus não dá como é que vai ficar, ô nega
Diz que Deus diz que dá
E se Deus negar, ô nega
Eu vou me indignar e chega
Deus dará, Deus dará
Deus é um cara gozador, adora brincadeira
Pois pra me jogar no mundo, tinha o mundo inteiro
Mas achou muito engraçado me botar cabreiro
Na barriga da miséria, eu nasci batuqueiro (brasileiro)
Eu sou do Rio de Janeiro
Jesus Cristo inda me paga, um dia inda me explica
Como é que pôs no mundo esta pobre coisica (pouca titica)
Vou correr o mundo afora, dar uma canjica
Que é pra ver se alguém se embala ao ronco da cuíca
E aquele abraço pra quem fica
Deus me fez um cara fraco, desdentado e feio
Pele e osso simplesmente, quase sem recheio
Mas se alguém me desafia e bota a mão no meio
Dou pernada a três por quatro e nem me despenteio
Que eu já tô de saco cheio
Deus me deu mão de veludo pra fazer carícia
Deus me deu muitas saudades e muita preguiça
Deus me deu pernas compridas e muita malícia
Pra correr atrás de bola e fugir da polícia
Um dia ainda sou notícia
Essa música de Chico Buarque, gravada em 1972, e imortalizada no show/disco que “Caetano & Chico - juntos e ao vivo”, gravado no Teatro Castro Alves, em 10 e 11 de novembro de 1972, revela como a censura da época atuava. Mais recentemente, foi regravada no cd Acústico de Cássia Eller.
No livro da coleção “História de canções”, sobre as histórias das músicas compostas por Chico Buarque (Ed. Leya, 2009), Wagner Homem relata o despacho da censura:
“Se é
engraçado ou uma infelicidade para o autor ter nascido no Brasil,
país onde vive e encontra esse povo generoso que lhe dá sustento
comprando seus discos, e pagando-o regiamente nos seus shows,
afirmo que ele está nos gozando. Opino pelo
veto.
Para resolver a quizila, Chico teve que
substituir a palavra “titica” por
“coisica”, e substituir
“brasileiro” por
“batuqueiro”. E ainda assim, mesmo com a
música liberada, teve que ouvir uma singular apreciação de sua
obra:
“Como é que você, que fez uma música tão bonita
como ‘Construção’, agora vem com esta, falando de
titica e saco cheio?
Parece pré-histórico, mas foi há menos de 40
anos. Parece impensável que questões tão pequenas, e que parecem
ridículas diante de determinadas letras da atualidade, chamavam a
atenção da censura. Tratava-se de um juízo moral, que não tinha
nada a ver com os pretensos objetivos do governo
militar.P.S. O vídeo acima, obviamente, não é do show de 1972. Pelo que sei, não há registros visuais daquele momento histórico.
Tim Maia falta ao especial "Chico & Caetano" em 1986
Nelson Motta escreveu
um interessante livro sobre a vida de Tim Maia (“Vale
Tudo”, Objetiva, 2007), contando as histórias dos encontro e
desencontros do rei do soul, e acaba dizendo alguma coisa sobre as
históricas faltas de TIM mais aos shows.
“TIM geralmente faltava a shows porque estava derrubado
pelo que chamava de triátlon – uma maratona de uísque,
cocaína e maconha. Muitas vezes, mesmo em condição precária, ele
estava até com vontade de cantarele estava até com vontade de
cantar, mas não havia voz nem para dar boa noite. Outras vezes,
raras segundo ele, faltava simplesmente para sacanear o
contratante, com especial predileção por Chico Recarey, do Scala.
Temporada era um perigo: TIM ficava tão feliz com a estreia que
promovia um triátlon comemorativo com os amigos no camarim até
amanhecer. E no dia seguinte não tinha voz nem
show.”
Uma das faltas
memoráveis de Tim Maia aconteceu durante o Programa “Chico e
Caetano”, que a globo exibia uma vez por mês, de abril a
dezembro de 1986. Há alguns momentos memoráveis no programa, como
apresentações de Astor Piazzola com Tom Jobim, ou uma participação
da banda Legião Urbana, com Renato Russo visivelmente intimidado
com a presença de seus ídolos Chico e Caetano no palco. Além dos
artistas citados, passaram pelo programa Cazuza, Elizeth Cardoso,
Elza Soares, Evandro Mesquita, Gilberto Gil, João Bosco, Jorge Ben
Jor, Luiz Caldas, Maria Bethânia, Os Paralamas do Sucesso, Paulinho
da Viola, Rita Lee, Mercedes Sosa, Pablo Milanés e Silvio
Rodriguez.
Em 15 de agosto de
1986, Tim Maia chegou a ensaiar na véspera, não compareceu à
gravação, o que levou a equipe de produção a alterar a estrutura do
programa, exibindo trechos do ensaio. Caetano, ao comentar a
ausência, chegou a dizer que em Tim Maia, “o que seriam
falhas se tornam enfeites”.
Na gravação do
ensaio, dá para se ver Tim pedindo eco, graves e agudos, fazendo
exigências, tocando e se divertindo, mas até hoje ninguém sabe a
razão pela qual Tim não apareceu na gravação. Virou
história.