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21 de jul. de 2012

Trailers de bons filmes!... Veja!


O Horror Metafísico na Série "Além da Imaginação"


Um contraponto ao atual filme “Agentes do Destino” (Adjustment Bureau, 2011) pode ser encontrado no episódio “A Matter of Minutes” da cultuada série “O Novo Além da Imaginação” (1985-89) onde o horror metafísico do conto original é mantido e desenvolvido. Ao contrário, em "Agentes do Destino" os elementos metafísicos e esotéricos do conto original de Philip K. Dick são apenas cenários para uma surrada estória de amor impossível.

Leitor desse humilde blog, Fábio Holfnik nos alertou sobre a existência de um conto da série “O Novo Além da Imaginação”  (“The New  Twilight  Zone, 1985-89, continuação da série original que foi de 1959 a 1964 apresentada por Rod Sterling na TV CBS nos EUA) chamado “A Matter of Minutes” que seria baseado no mesmo conto de Philip K. Dick (“Adjustment Team” de 1954) no qual se baseou também o atual filme “Agentes do Destino” (Adjustment Bureau, 2011) analisado em postagem anterior.

Na verdade esse conto da série televisiva baseou-se em conto de outro escritor de ficção científica norte-americano, Theodore Sturgeon, no conto “Yesterday Was Monday” de 1941. De qualquer forma há uma incrível similaridade temática com o conto de K. Dick e o filme “Agentes do Destino”. Essa adaptação televisiva de 1985 do conto de Sturgeon apresenta um interessante contraponto com a conservadora abordagem do filme “Agentes do Destino”.

Ao contrário do filme atual em cartaz em relação ao conto de K. Dick, o conto televisivo da série “Além da Imaginação” mantém o horror metafísico original do conto de Sturgeon.

Como vimos na postagem anterior (veja links abaixo), embora o filme “Agentes do Destino” mantenha a atmosfera paranoica e o misterioso trabalho dos agentes/arcontes, elimina o horror metafísico, isto é, o misto de horror e fascínio, repulsa e atração por uma situação (a abertura do tecido da realidade e do tempo) que desafia a toda racionalidade e religiosidade. Na narrativa parece que esse fato potencialmente arrasador se transforma em mero cenário para a estória da luta dos protagonistas pelo amor impossível.

Ao contrário, na adaptação televisiva do conto de Sturgeon para a série “Além da Imaginação” esse horror dos protagonistas é brilhantemente mantido.

Na estória um jovem casal é acordado em uma manhã pelo barulho de marteladas, serrotes e batidas vindas do lado de fora e do interior da casa como se tudo ao redor estivesse em construção. Descem as escadas e encontram a casa tomada por estranhos operários azuis e sem rosto removendo ou trocando móveis e objetos. Saem de casa assustados e encontram tudo ao redor como se estivesse em construção em meio a operários e caminhões azuis. Ouvem uma voz berrando comandos aos operários e vão em direção dela, até que entram em um beco onde penetram em uma espécie de vazio, como um fundo infinito branco. Um estranho homem todo em amarelo os resgata e explica que eles foram tragados pelo tempo e que eles estavam em um intervalo entre um minuto e outro.

Ele é um supervisor de manutenção do tempo e mostra a eles exatamente como o tempo é mantido, revelando-lhes uma nova compreensão de como o universo funciona: a cada minuto na história é essencialmente um mundo separado,  que deve ser construído, mantido e derrubado uma vez que o mundo termina com  ele. Mas o supervisor avisa que eles jamais poderão sair dali para não revelarem a ninguém a verdadeira natureza do tempo.  Começa antão a luta do casal para escapar daquele lugar nenhum.

Vertigem, paranoia, confusão originadas pela verdadeira quebra de paradigmas vivida pelos protagonistas em “A Matter of Minutes” se contrastam com as reações do protagonista David Norris em “Os Agentes do Destino”: mesmo após viver sucessivas experiências  ontológicas, místicas ou metafísicas de quebra radical do princípio da realidade, mantém-se assertivo, seguro, tocando a sua rotina como político e empresário. Tudo o que interessa a ele é a luta pelo amor impossível por Elise travada com os agentes do destino.

Uma ficção científica distópica

O conto original “Yesterday Was Monday” de Sturgeon foi escrito durante a Segunda Guerra Mundial. É o início do período que será denominado como pós-moderno (pós-guerra) onde as transformações históricas (guerra fria), tecnológicas (informatização) e sócio-culturais (sociedade de consumo) vão produzir no campo da literatura sci-fi uma série de obras distópicas: ao contrário do utópico futurismo do período moderno,  temos a partir desse momento futuros pós-apocalípticos, tecnologias escravizadoras, o esgarçamento da noção de tempo e a denúncia do artificialismo do que entendemos por realidade.

Thedore Sturgeon, Philip K. Dick ou Aldous Huxley (do livro “Admirável Mundo Novo”) são os representantes dessa verdadeira desconstrução do futuro.

Nesse conto de Sturgeon, por exemplo, encontramos em germe a concepção pós-moderna de tempo: fragmentada, pontual e não mais concebida como uma flecha que aponta para o futuro, mas como sucessivos “agoras”.  Essa representação quântica do tempo de Sturgeon, ao apresentar os protagonistas lutando para mudar os seus destinos no interior de uma brecha entre os minutos do continuum temporal, abre a possibilidade (que será explorada na literatura e cinematografias futuras) do tempo como um hipertexto, isto é, cada “agora” como um potencial hiperlink de onde saltamos para realidades e futuros alternativos.

Ficha Técnica

  • Título: "A Matter of Minutes" - Série Além da Imaginação (Twilight Zone)
  • Episódio: #1.15
  • Diretor: Sheldon Larry
  • Roteiro: Rockne S. O'Bannon (baseado no conto "Yesterday Was Monday" de Theodore Sturgeon
  • Elenco: Adam Arkin, Karen Austin, Adolph Caesar
  • Produção/Distribuição: CBS Network
  • Ano 1985-1989
  • País: EUA




Se em K. Dick os ajustadores são Arcontes (personagens míticos gnósticos cuja função é a de regentes do Demiurgo que o auxiliam a manter a humanidade prisioneira), aqui são anjos secularizados (em elegantes ternos sob medida) que tentam nos ajudar, enquanto a humanidade é decadente e imperfeita (impulsiva e pecadora). O filme “Agentes do Destino” esvazia a crítica gnóstica e regride a narrativa de K. Dick ao simplismo do conservadorismo religioso.

A discussão sobre predestinação versus livre arbítrio na luta de David em manter o seu amor por Elise é mera cortina de fumaça dessa regressão religiosa sobre uma obra gnóstica de K. Dick.

As linhas de diálogo finais do agente dissidente Harry Mitchell (Anthony Mackie) que tenta ajudar David a reencontrar Elise é de uma platitude típica do discurso da literatura de autoajuda mesclado com o conservadorismo religioso. A moral é esta: “enquanto não souberem superar os obstáculos e usar o livre-arbítrio como um dom, talvez, um dia, não escreveremos o Plano, vocês o farão.  Acho que esse é o verdadeiro Plano do Presidente”, exorta Mitchell.

Em síntese, toda intervenção dos agentes é uma espécie de jogo cósmico criado pelo “Presidente” (Deus?) jogando com nossas vidas arbitrariamente para que aprendamos, na marra, o que nossas imperfeições não nos deixam ver. O melhor antídoto contra esse conservadorismo religioso hollywoodiano é lembrar do monólogo gnóstico final do personagem Milton (Al Pacino) no filme “O Advogado do Diabo” (Devil’s Advocate, 1997) :
“Deixem-me dar uma pequena informação pessoal sobre Deus. Deus gosta de observar . É um brincalhão. Ele dá ao homem os instintos mais incontroláveis e depois o que faz? Para o seu prazer pessoal, numa cósmica e particular sessão de risadas, ele estabelece as regras... vejam mas não toquem... toquem mas não provem... provem mas não engulam... e enquanto isso o que faz ele? Se rola de tanto rir!”
Ficha Técnica

  • Título: Os Agentes do Destino (The Adjustment Bureau)
  • Diretor: George Nolfi
  • Roteiro: George Nolfi baseado no conto "Team Adjustment" de Philip K. Dick
  • Elenco: Matt Damon, Emily Blunt, Michael Kelly, Anthony Mackie 
  • Produção: Universal Pictures e Media Rights Capital
  • Distribuição: United International Pictures (UIP)
  • Duração: 106 min
  • Ano: 2011
  • País: EUA

A Hora Vagabunda - The vagabond hour - Rafael Conde - 1997


Curta-metragem nacional muito interessante