ANTROPÔNIMOS SERVINDO A NOMES DE PLANTAS
Aleixo: é certa lucuma da família das sapotáceas.
Amaro-leite: é a impomoea operculata da família das concolculáceas. Produz resina drástica. É também conhecida pelos outros nomes vulgares seguintes: batata-de-purga, jalapa-de-lisboa, jalapa-de-são-paulo e purga-de-amaro-leite.
Ana-pinta: é a cayaponia globosa da família das cucurbitáceas, ainda vulgarmente conhecida por purga-de-caiapó-de-são-paulo.
Chico-pires: é uma corruptela popular do nome típico sucupira, bela árvore conhecida cientificamente por bowdichia virlioides e pertencente à família das leguminosas.
Cipó-manuel-alves: nome usado em Alagoas para designar a axantis fasciculata da família das rubiáceas.
Dom-bernardo: é a psychotria tetraphylla, da família das rubiáceas, empregada na cura de defluxos, e cujo nome certamente provém de certo frade que lhe haja descoberto a virtude terapêutica.
Gonçalo-alves: também conhecido pela denominação de guarabu-rajado, é uma árvore alta e copada, cuja madeira se emprega em obras de luxo, cientificamente chamada astronium fraxinifolium da família das anacardiáceas.
Joaninha: assim é chamada em São Paulo , certa forragem campestre, boa e aromática.
João-correia: é uma árvore parecida com o jequitibá e ainda conhecida pelas expressões vulgares de perobinha-do-campo ou piuvinha-do-campo.
João-da-costa: é a cissampelos ovalifolia da família das menispermáceas, também conhecida popularmente por orelha-de-onça, e que é tida na conta de anti-ofídica afora outras virtudes medicinais.
João-do-puçá: Almeida Pinto, em seu Dicionário de botânica brasileira (Rio de Janeiro, 1873), atribui essa expressão popular ao Maranhão, onde é aplicada ao frutinho agreste de certo arbusto. Puçá é vocábulo típico, significando uma pequena rede ou peneira de malhas para a pesca de moluscos e crustáceos, e que passou depois a designar a borla de algodão com que no Ceará se enfeitam as redes de dormir e até, em São Paulo , certa espécie de renda, para adorno de vestidos. Note-se que existe uma planta indígena, a rawlfia bahiensis, da família das apocnáceas, vulgarmente conhecida por puçazeiro ou casca-d’anta-brava.
João-gomes: apelativou-se essa expressão para indigitar certa planta comestível, cuja denominação popular andou hesitante entre bredo (que é uma amarantácea) e caruru (que é uma portulacácea). Fixou-se numa destas últimas, o talinus patens. O citado Almeida Pinto registrou-lhe os seguintes novos nomes: bredo-majorgomes, que é a mesma planta chamada maria-gomes no Maranhão; caruru, no Pará; língua-de-vaca, em Sergipe, Bahia e Espírito Santo; benção-de-deus, em São Paulo e Minas Gerais. Para o Rio de Janeiro, o visconde de Beaurepaire Rohan deu assento, em seu Dicionário de vocábulos brasileiros (Rio de Janeiro, 1889), à expressão aglutinada mariangombe.
João-mole: é a pisonia tomentosa, da família das nyctagináceas. Distingüe-se por conter-lhe a madeira um pó irritante da pele humana.
João-pais: foi, provavelmente, algum bandeirante que descobriu o predicado terapêutico da cucurbitácea cientificamente conhecida por luffa purgans, a qual, por isso, se tornou vulgar com os nomes de purga-de-joão-pais ou bucha-de-paulista. Cumpre não confundir esse drástico com a chamada purga-dos-paulistas, extraída co andá-açu (joannesia princeps, da família das eurobiáceas).
Manuel-gonçalves: "árvore de boa madeira para marcenaria e construção" (Vocab. Pern. de Pereira da Costa).
Maria-da-costa: também vulgarmente conhecida por erva-da-costa, é a planta, simultaneamente ornamental e tóxica, cientificamente chamada araujia multiflora, da família das asclepiadáceas.
Maria-gomes: é o mesmo que talinum patens da família das portulacáceas, que já deixamos mencionado sob o nome de joão-gomes. Em seu excelente Dicionário de vocábulos brasileiros, registrou-lhe Beaurepaire Rohan as variantes manjangome e mariangombe. Além dessas, acham-se duas outras, ambas oxítonas, na Pequena contribuição para um dicionário das plantas úteis do estado de São Paulo de Huáscar Pereira: mariangombé e mariangombi, esta aplicada a uma variedade do referido subarbusto hortense, a chamada maria-gomes-de-flor-amarela.
Maria-leite: é também vulgarmente conhecida por erva-de-cobra e herva-de-santa-luzia, cujo nome científico é euphorbia brasiliensis, pois que não passa de um subarbusto da família das euforbiáceas. A segunda denominação popular provém da crença de curar mordedura de cobra, ao passo que a terceira procede de causar cegueira o suco de suas folhas, quando aplicado em doses altas.
Maria-mole: é a pisonia inermis da família das nyctagináceas. Fornece cinzas aos fabricantes de sabão e a sua denominação vulgar justifica-se pelo próprio qualificativo da científica.
Maria-pereira: é a posoqueria macropus da família das rubiáceas. Arbusto rijo, fornece madeira para bengalas e pequena marcenaria. Beaurepaire Rohan, entretanto, assegura que é o nome dado no Paraná ao umbuzeiro.
Maria-pires: acha-se no Dicionário de botânica brasileira de Almeida Pinto, que manda ver rabo-de-timbu, sem, todavia, inserir esta última expressão.
Maria-preta: com esta denominação vulgar, existem duas plantas de família diversas: uma é a cordia curassavica, da família das borragináceas, também conhecida por balieira-preta, camará-japó e pau-preto; a outra é o eupatorium ballootaefolium, da família das compostas. A primeira tem aroma, em toda a planta, ao passo que na segunda só é aromática a entrecasca. Há ainda quatro novas expressões: maria-preta-da-campina (vitex nigrum, verbenácea), assim batizada em Alagoas, mas conhecida por pau-cavalo em Sergipe e Pernambuco, onde às vezes a tratam por salgueiro; a maria-preta da capoeira, também chamada rompe-gibão, na terra alagoana, e que é a mesma língua-de-sapo de Sergipe; a maria-preta-da-mata, denominação dada em Alagoas à mesma planta indígena conhecida por baraúna ou braúna, graúna ou guaraúna, e que é a leguminosa cientificamente crismada por melaonilon braúna; e, finalmente, a maria-preta-de-pernambuco, subarbusto da família das cordiáceas.
Maria-rosa: é a palmeira classificada por Glaziou como cocos procopiana, em memória de Mariano Procópio Ferreira Lage, em cujas terras a encontrou o ilustre fitologista francês, tão amigo da nossa pátria.
Mariana: Almeida Pinto não tem certeza de ser essa planta o ancotinus cauliflorus da família das solanáceas, limitando-se, do mesmo jeito que Huáscar Pereira, a assegurar que ela é, no uso medicinal como no industrial, sucedânea da saponária (também vulgarmente conhecida por pau-de-sabão, sabão-de-soldado e saboeira).
Marianica: é o nome vulgar da nossa planta indígena e anti-helmíntica, chamada pelos tupis caperiçoba, e cuja etiqueta científica é choenopodium hircinum, pois pertence à família das quenopodiáceas.
Marianinha: no Pará, Maranhão e Bahia, assim é vulgarmente conhecida a trapoeraba, isto é, a tradescantia diuretica, da família das comelináceas. Há ainda uma certa marianinha-de-folha-larga, que parece ser a mesma planta também vulgarmente chamada marinheiro-de-folha-larga.
Pai-caetano: a erva-do-pai-caetano, também chamada chá-do-brasil e aplicada a inúmeras moléstias, é a verbena litoralis da família das verbenáceas.
Sebastião-de-arruda: também conhecido pelas denominações vulgares de pau-cravo e pau-rosa, é cientificamente conhecido por physocalyma scaberrimum e pertence à família das litráceas.