Prever o fim do mundo é um passo clássico de seitas e igrejas. Mas, Diferentemente dos milenaristas, os preppers não esperam um desastre específico em determinada data. Tudo pode acontecer, a qualquer hora: meteorito gigante se chocando com a Terra, erupção vulcânica, combinação de desastres ecológicos, pandemia...
2012 trailer Oficial - Destruição do Cristo redentor
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Tudo isso pode parecer inocente ou mesmo divertido. Para os preppers – ou seguidores do prepping, “preparação” , no entanto, isso não se trata de um simples hobby, mas de um treinamento para um futuro provável.
Essa “subcultura de norte-americanos que se preparam para o colapso da civilização”1 desenha uma vasta constelação de preocupações. Ela combina a ideia de “se preparar”, geralmente aplicada a emergências como furacões ou terremotos, com o conjunto das crises, locais ou sistêmicas.
Eles estão se tornando cada vez mais numerosos – pelo menos 3 milhões –, trabalhando em planos detalhados para sobreviver ao “fim do mundo como o conhecemos”.2 O famoso canal de televisão da National Geographic lhes dedica um reality show muito visto; a cada mês, 300 mil pessoas visitam o portal Survivalblog.com, e várias redes têm se desenvolvido nos Estados Unidos e no Canadá (Viking Preparedness, The Survival Mom, Ready Nutrition, Pioneer Living Survival Magazine, Prepper, The Suburban Prepper, The Prepper E-Book READY – Prepare / Plan / Stay Informed…), na América Latina e agora na Europa e na Ásia.
Cena do filme Redentor. |
Prever o fim do mundo é um passo clássico de seitas e igrejas. Mas, diferentemente dos milenaristas, os preppers não esperam um desastre específico em uma determinada data. Tudo pode acontecer, a qualquer hora: meteorito gigante ou planeta se chocando com a Terra, erupção vulcânica, combinação de desastres ecológicos, pandemia, guerra nuclear entre o Ocidente e a China, hiperinflação, colapso do sistema bancário mundial, distúrbios revolucionários, lei marcial.
2012 Rio de Janeiro a cidade destruida
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filmes e fotos do cristo redentor 055
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O medo do outro
“Como preparar seu recolhimento durante o colapso geral?”, pergunta-se Joel Skousen, ex-piloto de caça convertido em cientista político e especialista em “relocalização estratégica” (strategic relocation). E, quando for a hora de deixar as grandes cidades – especialmente as mais perigosas, infestadas de “zumbis desempregados” –, o que colocar em sua bug out bag(“bolsa para a grande pane”)? Como escolher um porto seguro no coração do reduto norte-americano, rico em vizinhos cristãos que se supõe serem moralmente seguros? Como se manter seis meses em uma “residência autônoma durável” ou mesmo em um tubo de concreto colocado no fundo do jardim? Um casal se orgulha de manter víveres para cinquenta anos e 25 mil munições. Outro interlocutor explica como alimenta mil tilápias em sua piscina.
Para a vida “pós-apocalipse”, dizem em tom sério, talvez precisemos nos tornar caçadores-coletores. De qualquer forma, deve-se manter o conhecimento necessário para “reconstruir a civilização” (tecer, curar, reciclar, ter água pura, soldar etc.), de acordo com o modelo dos futuros exploradores do espaço.
Mas o delírio de alguns não deve obscurecer o fato de que a maioria permanece como consumidora tão compulsiva quanto aqueles que esvaziam os supermercados na véspera das festas. Ao comprarem armas para se prevenir de invasões, produtos de “primeira necessidade” ou medicamentos (os três “Bs”: bullets, beans, band-aids – balas, feijão, band-aids), esses clientes desesperados substituem um produto por outro.
A espera do desastre e do socorro evita pensar no que nos acontece agora. Percebem-se nos preppers constatações sobre a ganância financeira, mas sua representação individualista da autonomia e seu reflexo de fuga oferecem poucas perspectivas de ação socializada e política fora dos quadros atuais do sistema.
Eliã Oliveira - Os Sete Selos do Apocalipse
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Denis
Duclos
Antropólogo, é diretor de pesquisa do Centre National de la Recherche Scientifique – CNRS, na França. Autor de Éloge de la pluralité - Conversion entre cultures et continuation de l'humanité, Bibliothéque de la Revue du Mass permanente, Paris, 2012
Ilustração: Alves
1 “Subculture of Americans prepares for civilization’s collapse” [Subcultura de norte-americanos que se preparam para o colapso da civilização], Reuters, 21 jan. 2012.
2 “The End Of The World As We Know It” [O fim do mundo como o conhecemos], ou, para os iniciados,“Teotwawki”.
3 Por exemplo: Survivors: a novel of the coming collapse [Sobreviventes: uma novela do colapso que está por vir], Simon & Schuster, Atria Books, Nova York, 2011; e How to survive the end of the world as we know it [Como sobreviver ao fim do mundo como o conhecemos], Plume, Nova York, 2009.
[Via BBA]