Sérgio de Souza - O que é o Comando Delta?

Garisto - O Comando Delta é a fábrica de presidentes, é o que comanda o sistema brasileiro, que fez a reunião para escolher o Fernando Henrique, que já deve estar fazendo reunião para convidar outro.

João de Barros - Quem faz parte desse Comando?

Garisto - Ah, esse comando é florido! Não vou entrar nessa, que essa eu não posso.

Sérgio de Souza - Não precisa dizer os nomes, só os cargos, ou de que áreas.

Garisto - De todas. De médico a político, a tudo. Eles se reúnem e não existe uma coisa planejada. O camarada, por exemplo, é dono de uma escola e está faturando milhões, se entrar o Lula: "Aí ele vai me ferrar, estou ganhando 100 milhões por ano...".

Quase todos - Di Genio?

Garisto - Vocês que estão falando. Aí tem, por exemplo, um banqueiro ? quero ver vocês falarem agora.

Wagner Nabuco - Tem muitos.

Garisto - Aí você tem o sistema bancário, por exemplo, e os caras faturando um bi por ano, você pega o último balanço do banco e ele passa a ser o primeiro ? estou dando dica pra caramba ?, aí você vê um cara desses correr risco de entrar um maluco qualquer na presidência da República; não é aquele conluio de conspiração para matar o Kennedy, mas é aquela coisa que você se organiza para manter o status quo: "Vem cá, meu irmão, o que vamos fazer?" E eles chamam de Comando Delta: "Não está na hora de reunir o Comando, não?" Então, eles chamam um, chamam o outro, se reúnem.

Wagner Nabuco - Tem um secretário?

Garisto - Não tem secretário, nem presidente, não é conspiração, é informal, cuidam dos interesses deles com as armas que têm: grana!

João de Barros - Mas é palaciano?

Garisto - É pré-palaciano. E depois levam o resultado. Então, você reúne a empreiteira que faturou não sei quantos milhões, o banqueiro que ganha não sei quantos milhões, e aí você tem que eleger uma pessoa para comandar os trabalhos, como na maçonaria tem o grão-mestre, aquelas coisas.

Verena Glass - Tem consultor externo?

Garisto - Tem de tudo. Hoje, você está conversando, amanhã os caras estão entregando. Uma vez dei uma entrevista na televisão e falei: "O Comando Delta acaba escolhendo um presidente aí". Só falei isso, e a entrevistadora, na hora: "Quem é o Comando Delta?" Eu: "As pessoas ?de bem? do país, pessoas que comandam a economia, o mercado". Rapaz, deu um bode desgraçado! Ela me ligou depois de dois dias e disse: "Garisto, o que tem de gente ligando querendo saber do Comando Delta". Falei: "Isso é coisa do Chuck Norris, Comando Delta 2, 3, pára com isso! Tô fora, porque eles são muito fortes". São unidos, ricos e inteligentes. Aquela operação toda feita no seqüestro do Diniz, organizado, bonitinho, vocês da mídia são os donos dela através do representante maior de vocês ? daqui a pouco estou falando o nome, que já ganhou a segunda tartaruga agora. Ele ganhou a segunda tartaruga porque a outra morreu. (risos)


Sérgio de Souza - Ficou para trás aquela história do golpe de Estado.

Garisto - O golpe que não houve. Estávamos fazendo uma greve e eu estava comandando, era presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais...

Sérgio de Souza - Que ano era isso?

Garisto - 1994. Aí tem nome, e eu dou porque falei pra eles que ia escrever um livro e eles falaram que podia botar, então está liberado: é o Moroni Torgan e o deputado federal Luciano Pizzatto, que estão na ativa ainda. O Luciano Pizzatto, na época, era presidente da Comissão de Segurança Nacional da Câmara, muito ligado aos militares. E o Moroni era líder do governo do Itamar. É meu amigo particular, já o conhecia desde aquela época. Aí estávamos comandando aquela greve e dez dias, quinze dias, a Veja deu capa, a IstoÉ deu capa. A Veja deu: "Baderneiros ameaçam autoridade do governo". E o distintivo da Polícia Federal. A IstoÉ deu: "Rebelião dos tiras".. E o distintivo da Polícia Federal. E aí fui no Jô, fui em tudo quanto é canto por conta da greve. O que queríamos? Queríamos o mesmo salário que a Polícia Civil do Distrito Federal recebia. Porque tinha a lei 7.702 que dizia: "Policial federal tem que ganhar igual a policial civil". E não estavam cumprindo. Você é um policial, obriga todo mundo a cumprir a lei e não cumprem pro policial, então fomos pra greve. E aí todos os Estados entraram em greve, dez dias, vinte, trinta, quarenta, cinqüenta dias. "Como é que vamos acabar essa greve?" Aí eles queriam assumir — eles, vou dar nomes —, queriam assumir o controle da Polícia Federal. Os militares, as viúvas do SNI querem o controle da Polícia Federal porque é o instituto legal que detém hoje as coisas que têm que ser feitas no país: Collor, PC, agora esses deputados todos aí, você vê que rola tudo na Federal. E os militares tiveram o comando da Polícia Federal desde a sua criação. Ela foi criada pra ser um braço civil deles. E botaram lá o general Bandeira, o coronel Moacir Coelho, depois o coronel Araripe. O primeiro civil foi o Romeu Tuma, que era superintendente da Polícia Federal em São Paulo, colocado pelo senhor Georges Gazale, que era amigo pessoal do Figueiredo. "Ah! O primeiro civil." Civil com aspas, né? Porque o Tuma não é propriamente um civil: era chefe do DOPS. Comandou aquilo tudo, mas passou como bonzinho, os amigos que trabalharam com ele foram quase todos execrados na mídia pelas merdas que fizeram e depois foram abandonados pelo chefe.