“Por detrás do governo visível encontra-se um governo invisível que não deve fidelidade ao povo e não reconhece nenhuma responsabilidade. Aniquilar esse governo invisível, destruir a ligação ímpia que liga os negócios corrompidos com a política, ela mesma corrompida, tal é o dever do homem de Estado"
QUEM SÃO ELES?
Comando Delta é o nome que se deu (batizado por eles mesmos) às pessoas que verdadeiramente governam este país desde 1500. São grandes e megaempresários nacionais e internacionais de todas as áreas, são funcionários do Executivo, Judiciário e Legislativo, além de organismos internacionais de investigações governamentais, que se unem para ditar as regras de tudo e para todos, principalmente na escolha do presidente da República. Foram eles que decidiram que Sarney tinha de tomar posse, e não Ulysses Guimarães, como mandava a Constituição Federal. Foram eles que decretaram que Collor tinha de sair pela porta dos fundos, investigando e achando a corrupção praticada por eles mesmos, que deram dinheiro para a campanha de Collor e depois denunciaram. Foram eles que decretaram que FHC seria o candidato e não o deixaram apoiar Collor como queria. Agora eles se unem desesperados para fazer o sucessor de FHC. Queriam Aécio como candidato, mas o teimoso Serra atrapalhou e deixou muita gente nervosa. A imprensa noticiou reuniões “secretas” de banqueiros, empresários e empreiteiros com Aécio, Serra e FHC, bem antes do início das disputas. Agora contam também com especuladores internacionais que ditam normas para nossa economia, com aumentos injustificáveis do dólar e de pressões de acordos antecipados. Se não bastasse, o Comando Delta recebeu como membros os mais novos interessados, que são os empresários internacionais que ganharam as teles de presente de FHC. Esse pessoal do Comando fatura 90 por cento do que se lucra no país e não irá abrir mão de continuar a faturar como querem e bem entendem, em detrimento da sofrida população brasileira. Irão tentar fazer o Presidente da República a qualquer custo. Qualquer! (Francisco Carlos Garisto, presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais) Na defesa dos interesses dos oprimidos, o Ministério Público entra em choque necessariamente com os interesses dos parasitas sociais, dos que controlam o Estado, dos que obtêm rendimentos de estruturas de dominação, de exclusão e de opressão social. Os interesses opressores, não contentes com a exploração dos trabalhadores e dos consumidores, via cartéis etc, locupletam-se com mais de 200 bilhões de reais por ano, no mínimo, em atividades como corrupção, sonegação e a rolagem imoral da dívida pública. Através da sonegação, da corrupção e do mecanismo da rolagem da dívida pública, aqueles que exploram e parasitam o povo controlam o Estado e mantêm a situação de iniqüidade atual. Por isso, o Brasil é o campeão em má distribuição das rendas, tal como é um dos campeões em juros altos, em latifúndios, em grilagem, em corrupção, e mais recentemente em desnacionalização de sua economia, neocolonialismo econômico e cultural explícito etc. (Procurador da República Luiz Francisco Fernandes de Souza)
A ASCENSÃO DE DANTAS
Uma breve cronologia das relações do banqueiro com o poder. MEADOS DOS ANOS 80. Por intermédio de Antonio Carlos Magalhães, o então empresário e ex-aluno de Mário Henrique Simonsen participa de reuniões com economistas do governo José Sarney. É sua porta de entrada no mundo da política. Os contatos se estendem ao mandato de Fernando Collor de Mello. 1994. Funda o Banco Opportunity e aproxima-se de luminares da equipe econômica de Fernando Henrique Cardoso. Pérsio Arida, ex-presidente do Banco Central, iria se tornar sócio do Opportunity. Elena Landau, uma das mentoras do programa de privatização tucana, seria depois sua funcionária. 1998. O Sistema Telebrás é privatizado. Os grampos do BNDES, feitos por ex-agentes do extinto SNI, revelam a atuação de altos funcionários do governo FHC para favorecer o banqueiro. Em uma das conversas, o então presidente do BNDES, Luiz Carlos Mendonça de Barros, afirma ser preciso “fazer os italianos na marra”. Ou seja, forçá-los a uma associação com Dantas, o que de fato aconteceu. 2002. Após um jantar com Dantas no Palácio do Planalto, Fernando Henrique Cardoso ordena a intervenção nos fundos de pensão, que estavam em disputa judicial com o Opportunity por conta dos prejuízos provocados por sua gestão à frente das empresas de telefonia privatizadas. Funcionários da Kroll são flagrados pela PF no Rio após confundirem o então presidente do BC, Armínio Fraga, com o ex-presidente do BNDES (e do Banco do Brasil) Andrea Calabi, que prestava consultoria à Telecom Italia. Inicia-se a investigação do chamado caso Kroll. 2004. A PF realiza a Operação Chacal, que apreende documentos e os discos rígidos do computador central do Opportunity. Mais tarde, Dantas viraria réu por espionagem ilegal e formação de quadrilha, entre outros crimes. 2005. O banqueiro é preso na Operação Satiagraha. Entre outros crimes, é acusado de tentar subornar um delegado federal com 1 milhão de dólares. Em duas ocasiões, o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, concede habeas corpus a DD. Mendes, em parceria com a Veja, esmera-se em denunciar a existência de um “Estado policial” no Brasil. A República mergulha em nova “crise”.
Trecho da entrevista do presidente da Federação Nacional dos Policiais
Federais Francisco Carlos Garisto concedida para a revista Caros Amigos
Sérgio de Souza - O que é o Comando Delta?
Garisto - O Comando Delta é a fábrica de presidentes, é o que comanda o sistema brasileiro, que fez a reunião para escolher o Fernando Henrique, que já deve estar fazendo reunião para convidar outro.
João de Barros - Quem faz parte desse Comando?
Garisto - Ah, esse comando é florido! Não vou entrar nessa, que essa eu não posso.
Sérgio de Souza - Não precisa dizer os nomes, só os cargos, ou de que áreas.
Garisto - De todas. De médico a político, a tudo. Eles se reúnem e não existe uma coisa planejada. O camarada, por exemplo, é dono de uma escola e está faturando milhões, se entrar o Lula: "Aí ele vai me ferrar, estou ganhando 100 milhões por ano...".
Quase todos - Di Genio?
Garisto - Vocês que estão falando. Aí tem, por exemplo, um banqueiro ? quero ver vocês falarem agora.
Wagner Nabuco - Tem muitos.
Garisto - Aí você tem o sistema bancário, por exemplo, e os caras faturando um bi por ano, você pega o último balanço do banco e ele passa a ser o primeiro ? estou dando dica pra caramba ?, aí você vê um cara desses correr risco de entrar um maluco qualquer na presidência da República; não é aquele conluio de conspiração para matar o Kennedy, mas é aquela coisa que você se organiza para manter o status quo: "Vem cá, meu irmão, o que vamos fazer?" E eles chamam de Comando Delta: "Não está na hora de reunir o Comando, não?" Então, eles chamam um, chamam o outro, se reúnem.
Wagner Nabuco - Tem um secretário?
Garisto - Não tem secretário, nem presidente, não é conspiração, é informal, cuidam dos interesses deles com as armas que têm: grana!
João de Barros - Mas é palaciano?
Garisto - É pré-palaciano. E depois levam o resultado. Então, você reúne a empreiteira que faturou não sei quantos milhões, o banqueiro que ganha não sei quantos milhões, e aí você tem que eleger uma pessoa para comandar os trabalhos, como na maçonaria tem o grão-mestre, aquelas coisas.
Verena Glass - Tem consultor externo?
Garisto - Tem de tudo. Hoje, você está conversando, amanhã os caras estão entregando. Uma vez dei uma entrevista na televisão e falei: "O Comando Delta acaba escolhendo um presidente aí". Só falei isso, e a entrevistadora, na hora: "Quem é o Comando Delta?" Eu: "As pessoas ?de bem? do país, pessoas que comandam a economia, o mercado". Rapaz, deu um bode desgraçado! Ela me ligou depois de dois dias e disse: "Garisto, o que tem de gente ligando querendo saber do Comando Delta". Falei: "Isso é coisa do Chuck Norris, Comando Delta 2, 3, pára com isso! Tô fora, porque eles são muito fortes". São unidos, ricos e inteligentes. Aquela operação toda feita no seqüestro do Diniz, organizado, bonitinho, vocês da mídia são os donos dela através do representante maior de vocês ? daqui a pouco estou falando o nome, que já ganhou a segunda tartaruga agora. Ele ganhou a segunda tartaruga porque a outra morreu. (risos)
Sérgio de Souza - Ficou para trás aquela história do golpe de Estado.
Garisto - O golpe que não houve. Estávamos fazendo uma greve e eu estava comandando, era presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais...
Sérgio de Souza - Que ano era isso?
Garisto - 1994. Aí tem nome, e eu dou porque falei pra eles que ia escrever um livro e eles falaram que podia botar, então está liberado: é o Moroni Torgan e o deputado federal Luciano Pizzatto, que estão na ativa ainda. O Luciano Pizzatto, na época, era presidente da Comissão de Segurança Nacional da Câmara, muito ligado aos militares. E o Moroni era líder do governo do Itamar. É meu amigo particular, já o conhecia desde aquela época. Aí estávamos comandando aquela greve e dez dias, quinze dias, a Veja deu capa, a IstoÉ deu capa. A Veja deu: "Baderneiros ameaçam autoridade do governo". E o distintivo da Polícia Federal. A IstoÉ deu: "Rebelião dos tiras".. E o distintivo da Polícia Federal. E aí fui no Jô, fui em tudo quanto é canto por conta da greve. O que queríamos? Queríamos o mesmo salário que a Polícia Civil do Distrito Federal recebia. Porque tinha a lei 7.702 que dizia: "Policial federal tem que ganhar igual a policial civil". E não estavam cumprindo. Você é um policial, obriga todo mundo a cumprir a lei e não cumprem pro policial, então fomos pra greve. E aí todos os Estados entraram em greve, dez dias, vinte, trinta, quarenta, cinqüenta dias. "Como é que vamos acabar essa greve?" Aí eles queriam assumir — eles, vou dar nomes —, queriam assumir o controle da Polícia Federal. Os militares, as viúvas do SNI querem o controle da Polícia Federal porque é o instituto legal que detém hoje as coisas que têm que ser feitas no país: Collor, PC, agora esses deputados todos aí, você vê que rola tudo na Federal. E os militares tiveram o comando da Polícia Federal desde a sua criação. Ela foi criada pra ser um braço civil deles. E botaram lá o general Bandeira, o coronel Moacir Coelho, depois o coronel Araripe. O primeiro civil foi o Romeu Tuma, que era superintendente da Polícia Federal em São Paulo, colocado pelo senhor Georges Gazale, que era amigo pessoal do Figueiredo. "Ah! O primeiro civil." Civil com aspas, né? Porque o Tuma não é propriamente um civil: era chefe do DOPS. Comandou aquilo tudo, mas passou como bonzinho, os amigos que trabalharam com ele foram quase todos execrados na mídia pelas merdas que fizeram e depois foram abandonados pelo chefe.