Maria Bethania homenageia Dalva de Oliveira
No último dia 30 de agosto
foram-se 40 anos que morreu uma das maiores cantoras brasileira de
todos os tempos: Dalva de Oliveira. Num país de pouca memória,
Dalva representa uma das mais belas vozes já ouvidas na música
brasileira, que inspirou muitas das grandes cantoras do Brasil,
entre elas, Maria Bethânia.
Essa homenagem revela o
quanto Dalva era capaz de inspirar, e inspirou Bethania,
indiscutivelmente uma das maiores damas da MPB. Noutra entrevista,
Bethania revela sua paixão por Dalva:
" De
onde vem minha paixão por dalva é de santo Amaro eu menina ouvindo
na rádio e depois em vitrola, radiola, aqueles discos enorme, eu
ficava horas ouvindo dalva cantando. Eu tenho essa memória muito
forte"
Para se ter idéia, em 1977,
Bethânia, no seu disco pássaro da manhã, gravou a canção "Há um
Deus", de Lupicínio Rodrigues e gravada por Dalva. E bem ao estilo
de Bethania, de entremear música e poesia, música e prosa, antes de
cantar a música, ela faz a homenagem à "estrela Dalva"
um show de teatro,
eu tenho um repertório que obedeço desde a estreia
até o último dia da temporada.
E, normalmente quando volto para minha casa, nos meus dias de folga,
eu sempre me pego no violão tocando músicas
não incluídas no repertório de cena.
Normalmente são músicas muito românticas, muito apaixonadas,apenas ligadas ao coração.
E essas músicas sempre me são lembradas através de gravações
da extraordinária Dalva de Oliveira.
A Dalva tinha a coragem e o jeito
de cantar no palco,
o que até então eu só tinha coragem e jeito
de cantar dentro da minha casa.
E começa a canção. Uma bela homenagem...
Tarde. Milton e Marcio Borges. Em 50 minutos
"Tarde" é uma das muitas parcerias
de Márcio Borges com Milton Nascimento, comnhecido como "Bituca".
Poucos sabem que essa música foi composta num programa de
televisão, em menos de uma hora, e com uma frase de
encomenda.
Quem conta a hiostória é Márcio
Borges, no seu conhecido livro "Os sonhos não envelhecem: Histórias
do Clube da Esquina (Geração Editorial)"
"Era o programa de Randal Juliano, que trinha
um quadro destinado a promover novos compositores. No início do
programa o convidade (ou convidados, se fossem parceiros) sorteava
uma frase, a qual deveria aparecer necessariamente numa música a
ser criada em cionquenta minutos, nos bastidores. Ao final do
programa, o convidado voltaria e apresentaria a composição ao
vivo.
Lá estávamos eu e Bituca diante das câmeras e
de um pequeno auditório superlotado. O apresentador oficial estava
adoentado e seu substituto era o cantor Wilson Simonal. Este nos
apresentou ao público e nos apresentou uma porção de envelopes
lacrados, para que escolhêssemos um. Simonbal abriu o envelope
indicado por nós:
-
O tema é... "NÃO PEÇO MAIS PERDÃO"
Eu e Bituca nos retiramos para uma sala de
produlção. Recorremos a velhos temas e fragmnentos arquivados na
memória. Já tínhamos algumas estruturas básicas de sequencias
harmônicas e versos delineados. Costuramos tudo, juntamos pedaços,
enfiamos a frase obrigatória. Nasceu "Tarde".
Quem
escuta a música dificilmente imagina que ela foi feita às pressas,
com uma frase de encomenda, nos bastidores de um estúdio.
"Tarde"
Valente Nordeste - Olodum
Em 1994, o Olodum lançou um
disco denominado "Filhos do Sol", sendo que a música que mais me
chama atenção no disco é "Valente Nordeste". Eu gosto dessa música
porque representa a assunção de uma Bahia que é nordestina, de uma
parte da Bahia que é nordeste e se sente
nordestina.
A música é cheia de referências
ao sertão, à seca, ao agreste, aos estados do Nordeste (Além da
Bahia, Paraíba, Maranhão, Ceará, Sergipe, Alagoas, Pernambuco
- não houve menção ao Piauí e ao Rio Grande do
Norte).
A
letra ressalta, de um lado, as condições adversas do clima, a seca,
o sol, a morte de gado e de gente, a discriminação do governo, a a
resistência dos "beduínos", que vivem não no deserto, mas no
agreste, e que são valentes e que resistem...
Outro dado interessante é que a
Bahia somente passou a fazer oficialmente parte da Região nordeste
a partir do final da década de 60, pois antes tanto Bahia quanto
Sergipe faziam parte de uma região chamada Leste, dividida em
setentrional e meridional. Sergipe e Bahia estavam na parte
setentrional. Na meridional, ficavam Minas Gerais, Espírito Santo e
Rio de Janeiro (na época, sede do Distrito Federal).
E como se trata de um estado com
dimensões enormes, existem muitas Bahias, que se identificam com
várias culturas. Mas é certo que existe com muita força uma Bahia
nordestina, que tem o sertão, a seca, e a identificação com a força
tão belamente narrada por Euclides da Cunha em sua grande obra "Os
Sertões". E não por acaso, o episódio narrado no livro se passa em
Canudos, no sertão da Bahia, nordeste do Brasil.
Por isso gosto da mistura de
tambores com sanfona que ocorre na música Valente Nordeste. O
Olodum se apropriando de modo tropicalista dos elementos
nordestinos, assumindo-se como tal, e fazendo uma bela homenagem
por pertencer a um povo só. O do Nordeste do
Brasil.
A
letra:
Chega seu menino
Faz assim comigo não
Do deserto do Saara
Vem pra minha Paraíba
Ceará ou Maranhão (hum!)
Alagoas coisa boa
Pernambuco não caçoa
A Bahia da canção
Porque não pro meu Sergipe
Vou de jegue
Vou de jipe
Chego lá
Volto mais não
Amor amor
Amor amor
eh a eh, nordeste
nordeste, nordeste
eh a eh, cabra da peste
nordeste, nordeste
O sol que nos castiga
prumou que nao sacia
A sede desse rico chão
Pra ficar mais fertilizante
Pra ficar mais elegante
Pra minha vegetação
Lá do alto da colina
Meu casebre pequenino
Com a luz de lampião
Olodum que e nordestino
Canta, canta seu menino
E voa alto pro sertao
amor amor amor
eh a eh, nordeste
nordeste, nordeste
eh a eh cabra da peste
nordeste , nordeste
A história não lhe mente
morre gado
morre gente
Na seca judiação
Não tem água cristalina
E o governo discrimina
Pobre povo, pobre chão
amor amor amor
eh a eh, nordeste
nordeste, nordeste
eh a eh cabra da peste
nordeste , nordeste
Coração de Papel
Atualmente, quem vê ou escuta
Sérgio Reis identifica e pensa imediatamente em música
sertaneja. Mas não foi sempre assim. Se estivéssemos, digamos em
1967, Sérgio seria identificado com uma musicalidade urbana e com a
Jovem Guarda. Inclusive, poucos sabem que ele começou cantando Rock
com o nome artístico "Johnny Johnson".
O seu primeiro sucesso foi
"Coração de papel", e deve-se a uma briga com sua então namorada,
Ruth. Narram então a história da canção Jairo Severiano e
Zuza Homem de Mello, na sua conhecida obra "A canção no Tempo. Vol.
2 (Ed.34)"
Magoado por haver brigado com a
namorada Ruth, Sérgio Reis dedilhava o violão, enquanto aguardava o
almoço, preparado por dona Clara, sua mãe. Como estava demorando,
resolveu escrever uma letra, mas logo desistiu da tarefa e, ao
jogar fora o papel, comentou para dona Clara: “meu coração
está amassado como aquela bola de
papel.”
De repente, percebendo que a
imagem poderia funcionar como motivo para uma canção, retomou o
violão e compôs em poucos minutos “Coração de Papel”,
terminando-a antes mesmo do almoço ficar
pronto.
Dias depois, vindo à sua casa o
produtor Tony Campello, em busca de repertório para a dupla Deny e
Dino, gostou tanto da composição que acabou sugerindo uma fita demo
com o próprio Sérgio, o mais indicado para cantar sua pungente
melodia.
Aprovada por Milton Miranda,
diretor da Odeon, “Coração de Papel” foi gravada por
Sérgio num compacto duplo, acompanhado pela orquestra de Peruzzi,
com o reforço vocal dos Fevers, Golden Boys e Trio Esperança.
Apesar de bem executada nas rádios, a composição recebeu um impulso
definitivo do Chacrinha, que durante oito semanas ofereceu um
prêmio de mil cruzeiros novos ao calouro que melhor a
interpretasse.
Pelo jeito a música comoveu a
namorada, pois, em 1970, Sérgio casou-se com a musa
inspiradora da composição “Coração de Papel”, Ruth. E
mesmo ele passando a se dedicar á música sertaneja na década de 70,
esse sucesso o acompanhou... mas escutem a canção, para ver como é
bem Jovem Guarda...
Perdão, emília
Uma das mais antigas modinhas de
que se tem notícia é a triste e melodramátrica "Perdão, Emília",
cuja primeira gravação de que se tem notícia remonta ao ano de
1902. Em 1900 Melo Morais Filho, citado por Tinhorão, já se referia
à música "Perdão, Emília", como uma canção popular e
anônima.
O cenário em que a canção se
desenvolve é um cemitério. No meio da noite, entra um vulto,
vestido de preto, que se curva diante do sepulcro e pede perdão a
Emília, por ter manchado-lhe os lábios e a honra.
Eis que então a voz de Emília
passa a responder do sepulcro, lamentando ter se deixado
apaixonar pelo “monstro tirano”, afirmando que o pecado
da sedução e do subsequente abandono não terá perdão.
E o vulto, ditado, aos pés do
sepulcro, insiste no pedido de perdão.
A modinha, cheia dos moralismos
e dos melodramas, cuida de uma realidade típica que durantes
séculos permaneceu na cultura popular eropeia e brasileira: a da
virgem pura que cede aos encantos daquele que jura eterno amor. a
pós consumado o ato e cedida a tentação, o varão despreza a quem
tanto desejara, como se a cessão "desvalorizasse" a mulher, que,
desgostosa, vem a morrer.
São as inevitáveis conexões
entre sexo e culpa, presentes de maneira absolutamente dramática na
cultura popular. E mostra um fato: a música é o reflexo da cultura
de um país e de uma geração. E não foi á toa que a mesma modinha
foi fravada e regravada (e até mesmo parodiada) diversas
vezes ao longo do Século XX.
Há referências de que seus
autores verdadeiros sejam o português José Henrique da Silva e
Juca Pedaço, no ano de 1889. Eis a letra:
Já
tudo dorme, vem a noite em meio, a turva lua se surgindo além: /
Tudo é silêncio; só se vê nas campas, piar o mocho no cruel desdém.
/ Depois, um vulto de roupagem preta, no cemitério com vagar
entrou. / Junto ao sepulcro, se curvando a medo, com triste frase
nesta voz falou:
"Perdão, Emília, se roubei-te a vida, se fui impuro, fui cruel, ousado... / Perdão, Emília, se manchei teus lábios. / Perdão, Emília, para um desgraçado."
"Monstro tirano, por que
vens agora, lembrar-me as mágoas que por ti passei? / Lá nesse
mundo em que vivi chorando, desde o instante em que te vi e
amei.Chegou a hora de tomar vingança, mas tu, ingrato, não terás
perdão...
Deus não perdoa as tuas
culpas todas, / Castigo justo tu terás, então. / Perdi as flores da
capela virgem, / Cedi ao crime, que perdão não tinha, mas, tu,
manchaste a minha vida honesta, / Depois, zombaste da fraqueza
minha...
Ai, quantas vezes, aos meus pés, curvado, davas-me prova de teu puro amor. / Quando eu julgava que fosses um anjo, não via fundo nesse olhar traidor. / Mas vês agora, que o corpo em terra tombou, de chofre, sobre a lousa fria."
E quando a hora despontou, na lousa um corpo inerte a dormitar se via: / "Perdão, Emília, se manchei-te a vida, se fui impuro, fui cruel, ousado... / Perdão, Emília, se manchei teus lábios. / Perdão, Emília, para um desgraçado."....
Ai, quantas vezes, aos meus pés, curvado, davas-me prova de teu puro amor. / Quando eu julgava que fosses um anjo, não via fundo nesse olhar traidor. / Mas vês agora, que o corpo em terra tombou, de chofre, sobre a lousa fria."
E quando a hora despontou, na lousa um corpo inerte a dormitar se via: / "Perdão, Emília, se manchei-te a vida, se fui impuro, fui cruel, ousado... / Perdão, Emília, se manchei teus lábios. / Perdão, Emília, para um desgraçado."....
Fontes: http://cifrantiga3.blogspot.com.br/2006/03/perdo-emlia.html
Ins't she lovely - de Stevie Wonder para sua filha Aisha
Já escrevi aqui em algumas ocasiões o
quanto são alegres as músicas que tratam do amor de pais para
filhos. É um tipo de amor único, diferente de todos. Ser pai é
diferente de ser mãe, já que ao nascer do filho a mãe já é,
enquanto o pai torna-se pai a partir da gravidez, mas é com o
nascimento que ele começa a tornar-se
pai.
E as canções dos pais para filhos ou
filhas, sobretudo quando eles são pequeninos, refletem uma alegria,
uma esperança, para que não dizer, um orgulho de saber que o mundo
fica melhor apenas pela existência destes seres
pequeninos...
E vaqui vou trazer, nesse dia, mais
uma canção de amor de um pai para sua filha. Trata-se da música
"Isn´t She lovely", composição de Stevie Woder para celebrar o
nascimento de sua fila Aisha. toda a música é uma celebração, à
beleza, à vida, ao fruto de uma relação de
amor.
Stevie Wonder e sua filha
Aisha
Nada mais precisa ser dito nessas horas,
é uma forma de abençoar à filha e agradecer pela sua chegada ao
mundo, ao tempo que significa também um agradecimento à mãe. E o
fato de Stevie Wonder não poder enxergar é irrelevante para que ele
perceba, na suavidade da pele, no cheiro inconfundível de bebê, no
choro, o quanto ela é linda e adorável.
Mais uma homenagem de pai para
filha
Isn't she lovely?
Isn't she wonderfull?
Isn't she precious?
Less than one minute old
I never thought through love we'd be
Making one as lovely as she
But isn't she lovely made from love
Isn't she wonderfull?
Isn't she precious?
Less than one minute old
I never thought through love we'd be
Making one as lovely as she
But isn't she lovely made from love
Isn't she pretty?
Truly the angel's best
Boy, I'm so happy
We have been heaven blessed
I can't believe what God has done
through us he's given life to one
But isn't she lovely made from love
Truly the angel's best
Boy, I'm so happy
We have been heaven blessed
I can't believe what God has done
through us he's given life to one
But isn't she lovely made from love
Isn't she lovely?
Life and love are the same
Life is Aisha
The meaning of her name
Londie, it could have not been done
Without you who conceived the one
That's so very lovely made from love.
Life and love are the same
Life is Aisha
The meaning of her name
Londie, it could have not been done
Without you who conceived the one
That's so very lovely made from love.
Os Doces Bárbaros - O filme
O ano: 1976. Para comemorar os dez
anos comuns de carreira, Bethania chama Caetano, Gil e Gal para
formarem um conjunto para se apresentar pelo Brasil. Fazem um
repertório especial, com músicas como O seu amor,
Esotérico, Pé quente cabeça fria, Um índio, além
de Fé cega, faca amolada, de Milton, e Atiraste uma
Pedra, de Herivelto Martins.
Tudo isso foi documentado por Tom
Job Azulay. E com algumas situações divertidas, e outras nem
tanto.
Há muito destaque para a prisão de
Gil por porte de drogas, ocorrida em Florianópolis, com filmagem da
própria audiência em que ele foi condenado, mostrando o quão,
amiúde, a justiça criminal pode ser ridícula. Não dá para deixar de
notar o sorriso de Gil enquanto o juiz profere a sentença. No que
ele estava pensando?
Entremeada com as canções, é
divertido ver como Caetano e Bethania ridicularizam elegantemente
os repórteres que os entrevistam.
Num determinado momento, um
repórter pergunta porque a Banda é "tão doce". Segue o
diálogo:
Por que um grupo tão doce, tão açucarado, no
atual momento da conjuntura nacional?
(Repórter 1).
Não entendi a sua pergunta (Caetano).
Por que o tão doces? (Repórter 1).
Não é tão doces. É doces bárbaros. O tão é seu, você é que está falando em nome da
conjuntura, então você ponha o tão... (Caetano).
Vai dar um LP dos quatro? (Repórter 2).
Vai, a gente já fez um compacto duplo (Caetano).
Eles já vêm com um esquema comercial montado, não se preocupe (Repórter 1).
Claro! (Caetano).
Não seria mais um produto para consumo imediato? (Diversos repórteres).
Mas é claro que é mais um produto (Caetano).
E vocês estão bem convictos disso. O Gil, agora há pouco, disse que era prá tocar no
rádio, prá vender mesmo (Repórter 1).
Não, claro, como todo mundo. Não conheço ninguém que faça o oposto (Caetano).
Não, porque você me perguntou, disse assim: tem umas músicas que você faz de vez em quando pra tocar no rádio, e eu disse: não, eu faço todas prá tocar no rádio. Eu não sou louco. E disse mais: aquela que se chamava "Essa é prá tocar no rádio" nunca tocou no rádio (Gil).
(Repórter 1).
Não entendi a sua pergunta (Caetano).
Por que o tão doces? (Repórter 1).
Não é tão doces. É doces bárbaros. O tão é seu, você é que está falando em nome da
conjuntura, então você ponha o tão... (Caetano).
Vai dar um LP dos quatro? (Repórter 2).
Vai, a gente já fez um compacto duplo (Caetano).
Eles já vêm com um esquema comercial montado, não se preocupe (Repórter 1).
Claro! (Caetano).
Não seria mais um produto para consumo imediato? (Diversos repórteres).
Mas é claro que é mais um produto (Caetano).
E vocês estão bem convictos disso. O Gil, agora há pouco, disse que era prá tocar no
rádio, prá vender mesmo (Repórter 1).
Não, claro, como todo mundo. Não conheço ninguém que faça o oposto (Caetano).
Não, porque você me perguntou, disse assim: tem umas músicas que você faz de vez em quando pra tocar no rádio, e eu disse: não, eu faço todas prá tocar no rádio. Eu não sou louco. E disse mais: aquela que se chamava "Essa é prá tocar no rádio" nunca tocou no rádio (Gil).
Bethania também tem a oportunidade
de desconstruir tudo o que o repórter pergunta, desde a suposta
influência de Caetano na sua carreira, passando pela religiosidade
e adesão a movimentos.
Divertida a visita de Baby Consuelo
e Paulinho Boca aos Doces Bárbaros.
Valem muitas sensações que o filme
passa. O visual do grupo, a voz, ou melhor, as vozes, a beleza de
Gal, o cenário que hoje parece tosco, o colorido, o universal e o
regional, um certo ar de prazer e de improviso, e, sobretudo, o
prazer daqueles quatro excepcionais artistas cantando juntos.
Era a invasão dos Doces Bárbaros,
que vieram da Bahia para, dez anos depois, consolidar o que tinha
trazido o Tropicalismo. Vale a pena.
Grease
"Summer Nights", também
conhecida como "Tell me more" é uma divertida canção do musical
Grease, originalmente criada por Jim Jacobs e Warren casey, como
uma peça teatral que narrava a história de adolescentes na década
de 50, e que ganhou uma versão açucarada para o cinema, em 1978,
estralada por John Travolta e Olivia Newton-John.
O tema da música se
origina deriva de um amor de verão vivido entre Danny (John
Travolta) e Sandy (Olivia Newton-John), que havia terminado
após a revelação de Sandy que ela estava voltando para a Austrália
com sua família.
No entanto, Sandy
logo descobre que sua família está morando nos Estados Unidos e,
posteriormente, se matricula na Rydell High School, onde Danny é
também um
estudante.
Separadamente e sem
que um saiba da presença do outro, tanto Danny e Sandy se reunem
com seu respectivo grupo de amigos e partilham, sob uma
perspecvtiva pessoal, o que aconteceu naqueles dias e noites de
verão.
Enquanto o personagem vivido por
Danny ressalta seu heroísmo e insinuações picantes, sobretudo o que
aconteceu fisicamente entre os dois, a personagem de Sandy ressalta
o certo romantismo da situação. As conversas intercaladas
transformam-se em canção.
Danny relata como eles se
conheceram, sugerindo que ela a salvou de um afogamento, para, em
seguida, dizer como se agarraram perto do cais, como se deitaram na
areia, enquanto os amigos, ansiosos, pedem "Tell me more, tell me
more" (conte mais, conte mais), querendo saber se ela foi fácil ou
difícil, ou até que nível de intimidades sexuais
tiveram.
Sandy, por sua vez, relata cenas
românticas. Danny estava nadando e molhou sua roupa, como ele
segurou a sua mão e foram juntos tomar limonada, enquanto suas
amigas perguntam (Tell me more, tell me more")se ele tinha carro,
gastou dinheiro com ela e se foi amor à primeira vista
As duas histórias são cantadas
de forma intercalada, e fazem um divertido estereótipo de homens e
mulheres da década de 50, ou melhor, de qualquer
década.
Tudo isso com um ritmo gostoso,
daquele estilo "du bi du bi du" dos anos 50, e com diversas
referências típicas das noites de verão, das nostalgias daquele
mágico amor de verão.
Vale ver e ouvir... Um filme que
virou cut
"Mesmo que seja eu", de Erasmo Carlos. Afinal, só ou mal acompanhada?
Erasmo Carlos tem algumas composições muito
interessantes no seu repertório musical, que vão muito além de sua
parceria com Roberto Carlos. Uma delas é a conhecida "Mesmo que
seja eu", gravada em 1982, no disco "Amar pra viver ou morrer de
amor" (também foi gravada por Marina, ou Marina lima, como
preferirem).
A
música faz uma certa ironia com o sonho do príncipe encantado que
povoa o consciente e o insconsciente das mulheres. Fala dos
castelos, do prííncipe encantado que verga uma espada para salvá-la
do dragão, mas que esses sonhos irreais conduzirão à
solidão.
E, nesse caso, Erasmo afirma que a solidão é um mal a ser evitado, e, para isso, o eu-lírico faz um convite a que ela olhe para o lado, sobretudo, para ele mesmo, que está ali para cantar, esquentar o quarto e dar a mão... quando, enfim, lança a máxima que inverte o ditado popular: "ANTES MAL ACOMPANHADA DO QUE SÓ"
E
nisso vem a ideia de que a mulher, e especial, esta mulher com quem
ele fala, precisa de um homem "pra chamar de seu", como se a
presença de um homem legitimasse a mulher como tal, e como a mulher
adquirisse algo a mais justamente com a presença desse homem que
ela necessita chamar de "seu".
Em outras palavras, trata-se de um recado destinado às mulheres, para que parem de procurar um príncipe encantado, e passe a olhar para os lados, pois ali estará um homem sobre o qual ela exercerá seu legítimo direito de "propriedade". Não deixa de ser uma visão em certa medida machista, já que a presença de um homem passa a ser vista como uma necessidade, mas que, em certa medida, combina com o estilo do "Tremendão"...
E, nesse caso, Erasmo afirma que a solidão é um mal a ser evitado, e, para isso, o eu-lírico faz um convite a que ela olhe para o lado, sobretudo, para ele mesmo, que está ali para cantar, esquentar o quarto e dar a mão... quando, enfim, lança a máxima que inverte o ditado popular: "ANTES MAL ACOMPANHADA DO QUE SÓ"
Em outras palavras, trata-se de um recado destinado às mulheres, para que parem de procurar um príncipe encantado, e passe a olhar para os lados, pois ali estará um homem sobre o qual ela exercerá seu legítimo direito de "propriedade". Não deixa de ser uma visão em certa medida machista, já que a presença de um homem passa a ser vista como uma necessidade, mas que, em certa medida, combina com o estilo do "Tremendão"...
Assum Preto. Lenine e Zeca Baleiro homenageiam Luiz Gonzaga
No
último dia 28 de julho, Zeca baleiro e Lenine estiveram em
Salvador, no Bahia Café Hall, para apresentar-se perante o público
soteropolitano no evento Conceito.com. Eles tem carreiras e estilos
diferentes, mas ambos são nordestinos (Zeca, do Maranhão, Lenine,
de Pernambuco), e têm um público fiel e que acompanha suas
carreiras.
Zeca, mais irreverente e com suas letras inteligentes e mordazes; Lenine, com seu ritmo, bom humor e a sensação que nadora estar ali fazendo música.
Primeiro Zeca, depois, Lenine, cada um a seu estilo, fizeram o público cantar junto com eles muitas de suas canções. O público, a despeito do atraso no início da apresentação, estava visivelmente feliz com a experiência.
Mas se resolveram estar juntos no mesmo dia, no mesmo palco, resolveram eles fazer uma homenagem juntos para seu público, qual seria a homenagem mais significativa? Uma homenagem aos 100 anos de Gonzagão, nascido em 1912, quando ambos, de improviso, cantaram "Assum preto", uma das mais belas, líricas e tristes letras de Humberto Teixeira para a música de Gonzagão.
O
canto do assum preto é triste, doloroso, pois o assum preto ficou
"cego dos óio", não se sabe
por ignorância ou maldade, na
esperança de que assim ele venha a cantar melhor.
O assum preto, cego como ficou, não pode voar. Por isso vive solto... antes a sina da gaiola, que assim poderia ver o céu ... e por fim, a comparação da cegueira do assum preto com a cegueira do eu-lírico, que perdeu seu amor, a luz dos seus olhos.
Numa apresentação em que ambos os cantores estavam felizes de ali estar, uma homenagem numa música triste. Bom de se ver, de se ouvir.
Zeca, mais irreverente e com suas letras inteligentes e mordazes; Lenine, com seu ritmo, bom humor e a sensação que nadora estar ali fazendo música.
Primeiro Zeca, depois, Lenine, cada um a seu estilo, fizeram o público cantar junto com eles muitas de suas canções. O público, a despeito do atraso no início da apresentação, estava visivelmente feliz com a experiência.
Mas se resolveram estar juntos no mesmo dia, no mesmo palco, resolveram eles fazer uma homenagem juntos para seu público, qual seria a homenagem mais significativa? Uma homenagem aos 100 anos de Gonzagão, nascido em 1912, quando ambos, de improviso, cantaram "Assum preto", uma das mais belas, líricas e tristes letras de Humberto Teixeira para a música de Gonzagão.
O assum preto, cego como ficou, não pode voar. Por isso vive solto... antes a sina da gaiola, que assim poderia ver o céu ... e por fim, a comparação da cegueira do assum preto com a cegueira do eu-lírico, que perdeu seu amor, a luz dos seus olhos.
Numa apresentação em que ambos os cantores estavam felizes de ali estar, uma homenagem numa música triste. Bom de se ver, de se ouvir.
II Bailinho do carnaval das antigas - Buk Jones com participação de André Macedo
Na última quinta-feira, ouvi muitos
testemunhos, relatos e depoimentos da segunda edição do bailinho do
carnaval das antigas, comandando por Buk Jones e com participação
de André Macedo.
Interessante que Buk Jones acaba
sendo um símbolo de um carnaval que o baiano com mais de 30 anos vê
como seu, como autêntico, e acaba sendo um protesto legítimo contra
a pasteurização dos carnavais do século XXI.
Buk Jones, Janete e Jaciara, que comandaram a Banda Mel e depois a Gente Brasileira, fazem parte de um carnaval de mortalha, mamãe-sacode, sem transmissão ao vivo para todo Brasil, mas com uma produção musical autêntica e de pessoas que sabiam que estavam fazendo história.
E as pessoas que lá estavam
pareciam ter voltado no tempo, mesmo no presente, e feliz por ouvir
música, apenas a música que embalava o carnaval há 20 anos. E a voz
de Buk e o desfile de sucessos dos anos 80, também com a
participação de André Macedo, fez todos que estavam lá qualificarem
o evento como inesquecível.
E a alegria era recíproca, como a mensagem que o próprio Buk deixou na comunidade od carnaval das antigas:
Me senti honrado em participar dessa festa tão especial. Cada um dos integrantes dessa comunidade realmente merece cada acorde, cada verso, cada música que cantei nessa noite iluminada que dedico a todos vcs. Me senti gratificado pelo apoio que vcs me deram. Da minha parte tenho certeza que dei tudo de mim para garantir a boa realização dessa edição Do Bailinho do Carnaval das Antigas, se pequei em alguma coisa queiram me perdoar, acho que apenas pequei por excesso de tempo e zelo. Adorei cantar pra vcs e agradeço o convite de todo coração. Abraços para todas as meninas e para os meninos também.
Dá para pensar na quantidade de coisas que podem ser feitas até o carnaval... e no carnaval...
Buk Jones, Janete e Jaciara, que comandaram a Banda Mel e depois a Gente Brasileira, fazem parte de um carnaval de mortalha, mamãe-sacode, sem transmissão ao vivo para todo Brasil, mas com uma produção musical autêntica e de pessoas que sabiam que estavam fazendo história.
E a alegria era recíproca, como a mensagem que o próprio Buk deixou na comunidade od carnaval das antigas:
Me senti honrado em participar dessa festa tão especial. Cada um dos integrantes dessa comunidade realmente merece cada acorde, cada verso, cada música que cantei nessa noite iluminada que dedico a todos vcs. Me senti gratificado pelo apoio que vcs me deram. Da minha parte tenho certeza que dei tudo de mim para garantir a boa realização dessa edição Do Bailinho do Carnaval das Antigas, se pequei em alguma coisa queiram me perdoar, acho que apenas pequei por excesso de tempo e zelo. Adorei cantar pra vcs e agradeço o convite de todo coração. Abraços para todas as meninas e para os meninos também.
Dá para pensar na quantidade de coisas que podem ser feitas até o carnaval... e no carnaval...
"Não sei se o mundo é bão, mas ele está melhor desde que você chegou"
Nando Reis tem no seu repertório muitas canções autobiográficas.
Fez diversas homenagens a amigos, amores e filhos. Quero destacar,
aqui, uma delas, que está certamente entre as músicas mais bonitas
de Nando Reis: Espatódea, gravada em 2006 em homenagem à sua filha
Zoé.
Para quem não sabe, a espatódea (ou melhor, espatódia) é uma
planta que dá flores de cor laranja... e dessa cor surgiu a
canção-título em homenagem à sua filha.
Para contar a história dessa canção, é preciso fazer uma prévia referência à música "O mundo é bão, Sebastião", gravado por Nando em 2005, no seu disco MTV ao vivo em homenagem a seu filho Sebastião.
A Zoé é muito esperta. Um dia ela chegou para mim e falou: “Quando é que você vai fazer a música ‘O mundo é bão, Zoézinha’?” (ele havia feito uma música para o irmão mais velho dela, ‘O mundo é bão, Sebastião!’). Eu dei uma enrolada mas ela não caiu. Daí fiz essa música (‘Espatódea’). Diferente dos outros filhos, há em nosso caso uma peculiaridade: ela é ruiva. E a música aborda esse nosso laço. ‘Espatódea’ é uma árvore que dá uma flor laranja. Zoé tem um laranja intenso porque é toda branquinha.
A música, sem qualquer elemento percussivo, é delicada e manda recados explícitos: tem a cor, a flor, e a cara... e o "minha cara" pode ter tanto a acepção de alguém que é semelhante a ele ( a única filha ruiva), mas ao mesmo tempo, de "minha querida".
"Quarta estrela" por ser sua quarta filha, e três letras pelo seu nome: Zoé. E logo em seguida, fazendo uma referência ao "mundo é bão, Sebastião", desta vez ele não afirma, mas duvida. Não sabe se o mundo é "bão", mas é certo que ficou melhor com a presença da filha, que chegou no mundo e buscou seu lugar....
Em seguida, após novas referências, à pele branca sem sardas, ao
gineceu (referência ao feminino na flor - pra quem não sabe,
gineceu é o conjunto de órgãos reprodutores femininos de uma flor),
ele conclui, na mesma toada, também não saber se o mundo está são,
mas também já nao o fosse quando ele, o eu-lírico veio ao
mundo.
Mas o fato é que esse novo ser veio dar nova razão à vida do eu-lírico, razão daquelas que somente um filho pode te dar.
A letra:
Minha cor
Minha flor
Minha cara
Quarta estrela
Letras, três
Uma estrada
Não sei se o mundo é bom
Mas ele está melhor
desde que você chegou
E perguntou:
Tem lugar pra mim?
Espatódea
Gineceu
Cor de pólen
Sol do dia
Nuvem branca
Sem sardas
Não sei se esse mundo é bom
Mas ele está melhor
Porque que você chegou
E explicou o mundo pra mim
Não sei se esse mundo está são
Mas pro mundo que eu vim já não era
Meu mundo não teria razão
Se não fosse a Zoé
Fonte: http://www.terra.com.br/istoegente/353/entrevista/index.htm
Para contar a história dessa canção, é preciso fazer uma prévia referência à música "O mundo é bão, Sebastião", gravado por Nando em 2005, no seu disco MTV ao vivo em homenagem a seu filho Sebastião.
Nando Reis, Sebastião e Zoé
Quando, em 2006, Nando iria gravar
seu próximo disco, foi cobrado por sua filha Zoé, então com cerca
de 5 anos, que questionou o pai: Quando é
que você vai fazer a música ‘O mundo é bão,
Zoézinha’? Nando contou essa história numa
entrevista à revista Istoé Gente, em 29/05/2006: A Zoé é muito esperta. Um dia ela chegou para mim e falou: “Quando é que você vai fazer a música ‘O mundo é bão, Zoézinha’?” (ele havia feito uma música para o irmão mais velho dela, ‘O mundo é bão, Sebastião!’). Eu dei uma enrolada mas ela não caiu. Daí fiz essa música (‘Espatódea’). Diferente dos outros filhos, há em nosso caso uma peculiaridade: ela é ruiva. E a música aborda esse nosso laço. ‘Espatódea’ é uma árvore que dá uma flor laranja. Zoé tem um laranja intenso porque é toda branquinha.
A música, sem qualquer elemento percussivo, é delicada e manda recados explícitos: tem a cor, a flor, e a cara... e o "minha cara" pode ter tanto a acepção de alguém que é semelhante a ele ( a única filha ruiva), mas ao mesmo tempo, de "minha querida".
"Quarta estrela" por ser sua quarta filha, e três letras pelo seu nome: Zoé. E logo em seguida, fazendo uma referência ao "mundo é bão, Sebastião", desta vez ele não afirma, mas duvida. Não sabe se o mundo é "bão", mas é certo que ficou melhor com a presença da filha, que chegou no mundo e buscou seu lugar....
Mas o fato é que esse novo ser veio dar nova razão à vida do eu-lírico, razão daquelas que somente um filho pode te dar.
A letra:
Minha cor
Minha flor
Minha cara
Quarta estrela
Letras, três
Uma estrada
Não sei se o mundo é bom
Mas ele está melhor
desde que você chegou
E perguntou:
Tem lugar pra mim?
Espatódea
Gineceu
Cor de pólen
Sol do dia
Nuvem branca
Sem sardas
Não sei se esse mundo é bom
Mas ele está melhor
Porque que você chegou
E explicou o mundo pra mim
Não sei se esse mundo está são
Mas pro mundo que eu vim já não era
Meu mundo não teria razão
Se não fosse a Zoé
Fonte: http://www.terra.com.br/istoegente/353/entrevista/index.htm
"Bandeira Branca", com Dalva de Oliveira. A última marchinha de carnaval
Num determinado momento da
história do carnaval do Rio de Janeiro, as marchinhas de carnaval
foram substituídas pelos sambas-enredo. Costuma-se dizer que a
história das marchinhas começa com "Abre-alas", de Chiquinha
Gonzaga, em 1899, e termina com a conhecida "Bandeira Branca",
de Max Nunes e Laércio Alves, que foi não só a última
marchinha de carnaval que fez grande sucesso, mas também o último
sucesso de uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos:
Dalva de Oliveira.
As marchinhas, diferente das
músicas carnavalescas que as substituíram (embora, nos carnavais,
elas continuem eternamente entre as mais executadas), ultrapassavam
os limites das meras canções de amor, pois tratavam de política,
costumes, e tinham, muitas vezes, uma dose de humor politicamente
incoirreto que não permitiria que tais músicas fossem aprovadas nos
enfadonhos tempos atuais.
Interessante que a primeira
grande marchinha fosse um "abre-alas" para um ritmo que dominaria o
carnaval durante 70 anos, e a última, "bandeira branca", uma música
triste, em tom menor, em que o eu-lírico se rende, pede paz, em
nome da saudade de um grande amor. É até um paradoxo que tenha se
tornado um grande sucesso de carnaval. Quem sabe um prenúncio, um
presságio...
Um epílogo para a carreira de sucesso de Dalva de Oliveira, e o capítulo derradeiro do domínio das marchinhas de carnaval...
Um epílogo para a carreira de sucesso de Dalva de Oliveira, e o capítulo derradeiro do domínio das marchinhas de carnaval...
Bethania e sua única participação em Festivais (Beira-Mar, de Gil e Caetano)
Poucos sabem, mas antes do
célebre festival da Record em 1967 (que inspirou o belo
documentário Uma noite em
67), Caetano e Gil inscreveram uma música
para o I Festival Internacional da Canção (FIC), em 1966,
inscrevendo a música "Beira-Mar", uma parceria entre os
dois.
A música foi defendida por
Maria Bethania (sua única participação em festivais). É uma bela
música, bem regional, com tema Caymmiano e
influência da bossa-nova, com muitos acordes dissonantes e um jeito
de cantar que não é tido como "música de festival". A música não
foi classificada entre as melhores.
Bethania, numa entrevista para
o Pasquim em 1969 (que já referi em outra
postagem, http://musicaemprosa.musicblog.com.br/265526/O-Pasquim-e-Maria-Bethania-em-1969/)
falou de sua experiência no
festival:
O Pasquim – Porque você não
participa dos
festivais?
Bethânia
– Eu só
participei de um, que foi
o I Festival
Internacional da
Canção, e não
suportei. Me irritou porque cantei uma música linda,
chamada Beira-Mar,
do Caetano e do Gil, uma música muito bonita, não fui vaiada nem
nada, fui até aplaudida, naquele tempo não havia vaia, todo mundo
adorou, Eliana Pitman era
júri...
O Pasquim
– Essa é uma crítica construtiva ou
destrutiva?
Bethânia – Construtiva pro festival, pra ter mais cuidado. Quando terminou o show, minha música foi desclassificada, estava indo embora assim meio "relax", o Ronaldo Bôscoli, que comandava o festival e na época era meu inimigo...
Bethânia – Construtiva pro festival, pra ter mais cuidado. Quando terminou o show, minha música foi desclassificada, estava indo embora assim meio "relax", o Ronaldo Bôscoli, que comandava o festival e na época era meu inimigo...
O Pasquim
– E hoje o que ele é
seu?
Bethânia – Ah, é meu amigo íntimo, de cama e mesa. Mas o Ronaldo virou-se para o grupo que estava comigo e comentou: desta vez os baianos entraram bem. Disse aquilo com um certo ódio, aquilo me irritou. Sabe o que o júri falou com o Gil e o Caetano? Que a música realmente era linda, podia ganhar. Que eles todos votaram, deram dez de cara, foi muito defendida, o arranjo do Luizinho Eça era maravilhoso, mas tinha uma coisa que eles não gostaram: a letra dizia que não havia um mar mais bonito que o da Bahia, mais azul do que o da Bahia. Então, eles disseram pra mim, pro Caetano o seguinte: vocês conhecem Cabo Frio, como é que vocês falam isso? Então, eu fiquei naquela: como é?
Bethânia – Ah, é meu amigo íntimo, de cama e mesa. Mas o Ronaldo virou-se para o grupo que estava comigo e comentou: desta vez os baianos entraram bem. Disse aquilo com um certo ódio, aquilo me irritou. Sabe o que o júri falou com o Gil e o Caetano? Que a música realmente era linda, podia ganhar. Que eles todos votaram, deram dez de cara, foi muito defendida, o arranjo do Luizinho Eça era maravilhoso, mas tinha uma coisa que eles não gostaram: a letra dizia que não havia um mar mais bonito que o da Bahia, mais azul do que o da Bahia. Então, eles disseram pra mim, pro Caetano o seguinte: vocês conhecem Cabo Frio, como é que vocês falam isso? Então, eu fiquei naquela: como é?
O Pasquim
– Mas quem foi que disse
isto?
Bethânia – Foi o Menescal. Dando risada, assim muito charmoso, mas ele falou a verdade, não deu nota por causa disso.
Bethânia – Foi o Menescal. Dando risada, assim muito charmoso, mas ele falou a verdade, não deu nota por causa disso.
O Pasquim
– E você nunca mais quis participar de festival por causa
disso?
Bethânia – E depois foram acontecendo aquelas vaias, aquela falta de respeito, eu acho uma coisa terrível. Eu não posso entender um Roberto Carlos maravilhoso, um cantor excelente como ele é, um cara tão bacana, tão querido por todo o Brasil, de repente ser vaiado.
Bethânia – E depois foram acontecendo aquelas vaias, aquela falta de respeito, eu acho uma coisa terrível. Eu não posso entender um Roberto Carlos maravilhoso, um cantor excelente como ele é, um cara tão bacana, tão querido por todo o Brasil, de repente ser vaiado.
No disco
Unplugged, Gilberto Gil resgatou a bela gravação de
Beira-mar... Caetano fez a primeira parte da letra, e Gil a
completou... uma poesia...
Na terra em que o mar não
bate
Não bate o meu coração
O mar onde o céu flutua
Onde morre o sol e a lua
E acaba o caminho do chão
Nasci numa onda verde
Na espuma me batizei
Vim trazido numa rede
Na areia me enterrarei
Na areia me enterrarei
Ou então nasci na palma
Palha da palma no chão
Tenho a alma de água clara
Meu braço espalhado em praia
Meu braço espalhado em praia
E o mar na palma da mão
No cais, na beira do cais
Senti meu primeiro amor
E num cais que era só cais
Somente mar ao redor
Somente mar ao redor
Mas o mar não é todo mar
Mar que em todo o mundo exista
Ou melhor, é o mar do mundo
De um certo ponto de vista
De onde só se avista o mar
E a Ilha de Itaparica
A Bahia é que é o cais
A praia, a beira, a espuma
E a Bahia só tem uma
Costa clara, litoral
Costa clara, litoral
É por isso que é o azul
Cor de minha devoção
Não qualquer azul, azul
De qualquer céu, qualquer dia
O azul de qualquer poesia
De samba tirado em vão
É o azul que a gente fita
No azul do mar da Bahia
É a cor que lá principia
E que habita em meu coração
E que habita em meu coração
E que habita em meu coração
Não bate o meu coração
O mar onde o céu flutua
Onde morre o sol e a lua
E acaba o caminho do chão
Nasci numa onda verde
Na espuma me batizei
Vim trazido numa rede
Na areia me enterrarei
Na areia me enterrarei
Ou então nasci na palma
Palha da palma no chão
Tenho a alma de água clara
Meu braço espalhado em praia
Meu braço espalhado em praia
E o mar na palma da mão
No cais, na beira do cais
Senti meu primeiro amor
E num cais que era só cais
Somente mar ao redor
Somente mar ao redor
Mas o mar não é todo mar
Mar que em todo o mundo exista
Ou melhor, é o mar do mundo
De um certo ponto de vista
De onde só se avista o mar
E a Ilha de Itaparica
A Bahia é que é o cais
A praia, a beira, a espuma
E a Bahia só tem uma
Costa clara, litoral
Costa clara, litoral
É por isso que é o azul
Cor de minha devoção
Não qualquer azul, azul
De qualquer céu, qualquer dia
O azul de qualquer poesia
De samba tirado em vão
É o azul que a gente fita
No azul do mar da Bahia
É a cor que lá principia
E que habita em meu coração
E que habita em meu coração
E que habita em meu coração
Tá?
Você
faria uma música com as palavras cortadas, suprimindo delas a
sílaba final? Foi assim que nasceu a bela e criativa música "Ta?",
uma letra de Carlos Rennó para músicas de Pedro Luís e Roberta Sá,
e gravada originalmente por Mariana Aydar.
A letra, na sua primeira estrofe, já diz ao que vem. "Pra bom entendedor meia palavra bas-", omitindo o "ta" da última palavra, regra que se repete nas outras estrofes e versos, sempre com a omissão da última sílaba, que não por coincidência, é o "ta".
Mariana Aydar, numa entrevista, contou um pouco
como surgiu a canção:
Na verdade, foi no meu segundo CD, ”Peixes Pássaros Pessoas”. Eu tinha encomendado uma letra para o Rennó, queria que falasse da nossa condição humana, de quanto o homem é um bicho difícil! E o Rennó acertou em cheio e deu a letra para Pedro e Roberta musicarem. Foi uma grata surpresa na hora em que ouvi! Achei incrível como a melodia e a letra se fundiram. É uma música que tenho muito carinho e sempre canto nos shows. Acho o Pedro um compositor raro, sempre quis gravar algo dele, todos os discos eu pedia uma música".
E o "Tá?" do título, que pode ser uma contração do verbo estar, brinca com as palavras, fala do homem sem dizer seu nome, afinal, pra bom entendedor meia palavra basta. E a letra ganha sua criatividade justamente pelas sílabas que omite, pelo "ta" implícito em cada verso...
E o
ritmo, meio regional, meio experimental, com um toque de baião, dá
a personalidade definitiva a essa música criativa com mensagem
ecológica...
A letra:
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Eu vou denunciar a sua ação nefas-
Você amarga o mar, desflora a flores-
Por onde você passa, o ar você empes-
Não tem medida a sua ação imediatis-
Não tem limite o seu sonho consumis-
Você deixou na mata uma ferida expos-
Você descora as cores dos corais na cos-
Você aquece a Terra e enriquece à cus-
Do roubo, do futuro e da beleza augus-
Mas do que vale tal riqueza? Grande bos-
Parece que de neto seu você não gos-
Você decreta a morte, a vida ainda em vis-
Você declara guerra à paz por mais bem quis-
Não há em toda fauna um animal tão bes-
Mas já tem gente vendo que você não pres-
Não vou dizer seu nome porque me desgas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Não vou dizer seu nome porque me desgas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Bom entendedor, meia palavra bas-
Bom entendedor, meia palavra bas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Fonte: http://garotafm.com.br/2012/03/15/mariana-aydar-divide-noite-de-lancamento-com-pedro-luis-acho-o-pedro-um-compositor-raro/
A letra, na sua primeira estrofe, já diz ao que vem. "Pra bom entendedor meia palavra bas-", omitindo o "ta" da última palavra, regra que se repete nas outras estrofes e versos, sempre com a omissão da última sílaba, que não por coincidência, é o "ta".
Na verdade, foi no meu segundo CD, ”Peixes Pássaros Pessoas”. Eu tinha encomendado uma letra para o Rennó, queria que falasse da nossa condição humana, de quanto o homem é um bicho difícil! E o Rennó acertou em cheio e deu a letra para Pedro e Roberta musicarem. Foi uma grata surpresa na hora em que ouvi! Achei incrível como a melodia e a letra se fundiram. É uma música que tenho muito carinho e sempre canto nos shows. Acho o Pedro um compositor raro, sempre quis gravar algo dele, todos os discos eu pedia uma música".
E o "Tá?" do título, que pode ser uma contração do verbo estar, brinca com as palavras, fala do homem sem dizer seu nome, afinal, pra bom entendedor meia palavra basta. E a letra ganha sua criatividade justamente pelas sílabas que omite, pelo "ta" implícito em cada verso...
A letra:
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Eu vou denunciar a sua ação nefas-
Você amarga o mar, desflora a flores-
Por onde você passa, o ar você empes-
Não tem medida a sua ação imediatis-
Não tem limite o seu sonho consumis-
Você deixou na mata uma ferida expos-
Você descora as cores dos corais na cos-
Você aquece a Terra e enriquece à cus-
Do roubo, do futuro e da beleza augus-
Mas do que vale tal riqueza? Grande bos-
Parece que de neto seu você não gos-
Você decreta a morte, a vida ainda em vis-
Você declara guerra à paz por mais bem quis-
Não há em toda fauna um animal tão bes-
Mas já tem gente vendo que você não pres-
Não vou dizer seu nome porque me desgas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Não vou dizer seu nome porque me desgas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Bom entendedor, meia palavra bas-
Bom entendedor, meia palavra bas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Fonte: http://garotafm.com.br/2012/03/15/mariana-aydar-divide-noite-de-lancamento-com-pedro-luis-acho-o-pedro-um-compositor-raro/