Isso diante de silêncio quase absoluto da chamada
Grande Mídia. (Eliane Brum trata do assunto no site da revista Época).
Há duas semanas, numa dramática carta-testamento, os Kaiowá-Guarani
informaram:
-Não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui,
na margem do rio, quanto longe daqui. Concluímos que vamos morrer todos.
Estamos sem assistência, isolados, cercados de pistoleiros, e
resistimos até hoje...
Em
sua carta-testamento os Kaiowá/Guarani rogam:
- Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de
despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos
aqui.
Pedimos para decretar nossa extinção/dizimação total, além de
enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar
nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais.
Diante dessa história dantesca, a vice-procuradora Geral da República,
Déborah Duprat, disse: "A reserva de Dourados é talvez a maior tragédia
conhecida da questão indígena em todo o mundo".
Em setembro de 1999 estive por uma semana na reserva Kaiowá/Guarani, em
Dourados. Estive porque ali já acontecia a tragédia. Tragédia diante do
silêncio quase absoluto. Tragédia que se ampliou, assim como o silêncio.
Entre 1986 e setembro de 1999, 308 índios haviam se suicidado. Índios
com idade variando dos 12 aos 24 anos.
Suicídios quase sempre por enforcamento, ou veneno. Suicídios por
viverem confinados em reservas cada vez menores, cercados por
pistoleiros ou fazendeiros que agiam, e agem, como se pistoleiros
fossem. Suicídio porque viver como mendigo ou prostituta é quase o
caminho único para quem deixa as reservas.
Italianos e um brasileiro fizeram um filme-denúncia sobre a tragédia. No
Brasil, silêncio quase absoluto: Porque Dourados, Mato Grosso,
índios... isso está muito longe. Isso não dá Ibope, não dá manchete.
Segundo o Conselho Indigenista Missionário, o índice de assassinatos na
Reserva de Dourados é de 145 habitantes para cada 100 mil. No Iraque,
esse índice é de 93 pessoas em cada 100 mil.
Desde 1999, quando estive em Dourados com o fotógrafo Luciano Andrade,
outros 555 jovens Kaiowá/Guarani se suicidaram no Mato Grosso do Sul.
Sob aterrador e quase absoluto silêncio. Silêncio dos governos e da
Mídia. Um silêncio cúmplice dessa tragédia.
Via: http://www.youtube.com/user/jornaldagazeta
FONTE libertar.in