Numa hora calma, sentar-se a sós, tomar um livro de
[ páginas fechadas
cujo conteúdo pressentimos, pelo autor, nosso velho
[ conhecido,
e abrirmos página por página, levantando aqui e ali
sem nos contermos, curiosos, uma palavra, como um
[ véu sobre a beleza ignorada,
a beleza que desponta, como o sol que irradia.
Oh! não será isto a alegria?
Receber uma carta, uma carta simples, de uma
[ desconhecida
num, domingo de manhã, e antes do jornal, abri-la
[ conjecturando,
e encontrar uma alma irmã, ardente e solitária
que nos faz confidências e amplia nossos limites
numa imprevista harmonia.
Oh! não será isto a alegria?
Esperar alguma noite, um amigo que não perturbará a
[ nossa intimidade
que beberá conosco o mesmo ouvirá a mesma música
cuja cadeira o destino colocou ao nosso lado na mesma
[ mesa do passado
com quem partilharemos nossos planos e nossas
[ esperanças
e a quem gostaríamos de chamar de irmão
numa hora de Paz ou de agonia...
Oh! não será isto a alegria?
Despertar sobressaltado, voltar o rosto e encontrar
ao seu lado, sereno e confiante, o rosto da companheira
[que dorme,
pousar nossa mão sobre a sua, e adormecer sem
[ remorsos
numa profunda poesia..
Oh! não será isto a alegria?
Trazer o corpo vencido, os nervos doídos, exaustos,
e aberta a porta, encontrar as coisas nos mesmos lugares:
nossa cama, a nossa mesa, os nossos livros, a nossa
[ companheira,
do no mesmo lugar, em paz, fielmente à nossa espera
todo dia...
Oh! não será isto a alegria?
Manhã clara de primavera, calção de banho, o sol no
[ peito,
sem dívidas e pecados, invejas ou remorsos,
encher de ar os pulmões diante da praia iluminada,
e atirarmo-nos de encontro às ondas e nadar contra o
[ horizonte
de um novo dia. . .
Oh! não será isto a alegria?