Blog

Blog

9 de jan. de 2011

Hoje lembro, saudosista!...

 

Eu sou de um tempo distante

o chamado tempo do onça

tempo em que qualquer máquina

era uma geringonça.

 

Sou do tempo em que

se amarrava cachorro com lingüiça

que aos domingos

a gente ia à missa.

 

Trago lembranças bacanas

das Casas Pernambucanas

das farras, no bar do Mendes

dos chapéus Thomaz que não mais vende.

 

Tempo em que adultério era crime

e o Flamengo tinha time.

Do busca-pé, do rojão,

Sou do tempo do xarope São João.

 

Venho do tempo em que

menino só gostava de menina

tempo do confete e serpentina

nas festas de Carnaval

do Ideal Clube, Clube Alto do Cruzeiro,

de baile fenomenal.

Sou do tempo do bicarbonato

Do lançamento do Sonrisal.

 

Sou do tempo em que futebol

era pra macho

em que ninguém sossegava o facho

nos bailes de formatura.

Dos play-boys botando banca

Tempo que o telefone era preto

e a geladeira era branca.

 

Sou do tempo em que se confiava

nas companhias aéreas

Em que a penicilina

curava as doenças venéreas.

 

Sou do tempo da Rádio Jornal

do lança perfume no Carnaval

do calouro na hora da peneira

Tempo em que pó era o mesmo que poeira.

 

Tempo do terno risca de giz

da calça de boca apertada

dos cortiços, da Estação,

de ir torcer pelo timão

e lembrar da mãe do juiz.

 

Sou do tempo do Dói-Codi

do comigo-ninguém-pode

da ditadura envergonhada

Sou do tempo em que ficar

era não ir...

 

Tempo de permitir

passeios à beira-mar

tempo de se curtir a vida

sem medo de bala perdida

tempo de respeito pelos pais

enfim, sou de um tempo que não

volta mais.

 

Sou do tempo da brilhantina

do laquê, da Glostora, do Gumex

o correio não tinha Sedex

o que vinha era telegrama

trazendo boa e má notícia

sou do tempo em que a polícia

perseguia todo sambista

que tivesse alguma fama.

 

Tempo em que mulher é que usava brinco

em que as portas não tinham trinco

e que se dizia demorou

só pra quem chegasse atrasado.

As calças não perdiam o vinco

picada era só na bunda

se aquela febre profunda

não tivesse melhorado.

 

No meu tempo que coca era refrigerante

e o cavalheiro, elegante,

abria a porta do carro.

Aceitava-se qualquer cigarro

sem medo de ser um novo fato

só preço podia ser barato.

Bicho era só o animal

cara, o rosto do pobre mortal.

 

Sou do tempo do tergal

do ban-lon, do terilene,

da Emilinha Borba e da Marlene

no sucesso musical.

 

Sou do tempo do mocinho

e o vilão com cara de mau

do reclame de fortificante

do óleo de fígado de bacalhau.

 

Sou do tempo do coreto e da retreta

da Banda do Céu a entoar como letra

músicas em toda e qualquer esquina.

Sou do tempo da estricnina

veneno tão poderoso

Sou do tempo do leite de magnésia

do sagu, do fubá Mimoso

do fosfato que curava a amnésia.

 

Sou do tempo da cocoroca

do tempo da Copa Roca

que muita gente não viu

Do progresso tão abrupto

que todo mundo assistiu

porém político corrupto

o rato que sai da toca

Ora! Esse sempre existiu!

 

Sou do tempo em que Benjor

se chamava Jorge Bem

A carne do bife era acém

ração de cachorro era bofe

No meu tempo não havia estrogonofe

Sou do tempo do tostão e do vintém

da zona com seus bordéis

programas de dez mil réis.

 

Sou do tempo da Cibalena e do Veramon

Só não vi a revista Fon-fon

Assisti filmes do Rin-tin-tin

Sou do tempo da confeitaria Manon

da magia, do pó de pirlimpimpim

Colecionei estampas Eucalol

Acompanhei o lançamento da Avon

tomei o fortificante Calcigenol.

 

Sou do tempo da PRK 30

do rádio tipo capelinha

dos contos da Carochinha

do remédio anunciado

"Veja ilustre passageiro

o belo tipo faceiro que o senhor tem a seu lado

Mas, no entanto, acredite, quase morreu de bronquite,

salvou-o o Rhum Creosotado".

 

Sou do tempo da Cafiaspirina

da compressa de antiflugestina

do bálsamo de benguê

Fui leitor do almanaque Tico-Tico

tempo em que trabalhador ficava rico

Sou do tempo da Casa Cave

do taco com cera Parquetina

dos discursos do Presidente Gegê.

 

Sou do tempo do óleo de linhaça

Andei na Maria Fumaça

Li muito a revista Cruzeiro

Escrevi com caneta- tinteiro

Separei o joio do trigo

Vi muito vigarista na cadeia

Só não fui garçom da Santa-Ceia

Também não sou assim tão antigo.