Ali, em frente a grande praça,
nas grades daquele jardim
dependurados,
como pardais nos fios descansados,
- os molecotes da rua
de olhos vivos,
ficam fitando a festa dos brinquedos
como quem olha um mundo imaginário:
- tambores... bicicletas...aeroplanos
soldadinhos de chumbo e de madeira,
com que passam brincando a tarde inteira
os filhos de um senhor, milionário
Olhos vivos
gulosos e distraídos,
à alegria das crianças mais felizes
eles riem também, ingenuamente,
- da tosca bola de meia,
do papagaio de papel da venda,
completamente esquecidos,
- completamente...
Depois,
quando as amas carregam para dentro
os meninos ricos
que não apanham sereno,
eles seguem com os olhos os brinquedos:
- os soldadinhos que um vai carregando...
- a espada que aquele outro acena no ar...
- o tambor que um terceiro vai tocando...
E a meninada da rua fica olhando... fica olhando...
e vê tudo fugir ao seu olhar...
Hoje... depois que os anos vão rolando
sobre injustiças e desigualdades
sei que tudo na vida é mesmo assim:
- há os que vivem trepados pelas grades
e os que podem brincar pelo jardim! . . .