"Beyond Citizen Kane" (no Brasil,
"Muito Além do Cidadão Kane") é um documentário televisivo britânico de
Simon Hartog produzido em 1993 para o Canal 4 do Reino Unido. A obra
detalha a posição dominante da Rede Globo na sociedade brasileira,
debatendo a influência do grupo, poder e suas relações políticas. O
ex-presidente e fundador da Globo Roberto Marinho foi o principal alvo
das críticas do documentário, sendo comparado a Charles Foster Kane,
personagem criada em 1941 por Orson Welles para Cidadão Kane, um drama
de ficção baseado na trajetória de William Randolph Hearst, magnata da
comunicação nos Estados Unidos. Segundo o documentário, a Globo emprega a
mesma manipulação grosseira de notícias para influenciar a opinião
pública como o fez Kane.
O documentário acompanha o
envolvimento e o apoio da Globo à ditadura militar, sua parceria ilegal
com o grupo americano Time Warner (naquela época, Time-Life), a política
de manipulação de Marinho (que incluíam o auxílio dado à tentativa de
fraude nas eleições fluminenses de 1982 para impedir a vitória de Leonel
Brizola, a cobertura tendenciosa sobre o movimento das Diretas-Já, em
1984, quando a emissora noticiou um importante comício do movimento como
um evento do aniversário de São Paulo e a edição, para o Jornal
Nacional, do debate do segundo turno das eleições presidenciais
brasileiras de 1989, de modo a favorecer o candidato Fernando Collor de
Mello frente a Luis Inácio Lula da Silva), além de uma controvérsia
negociação envolvendo ações da NEC Corporation e contratos
governamentais.
O documentário apresenta
entrevistas com destacadas personalidades brasileiras, como o cantor e
compositor Chico Buarque de Hollanda, os políticos Leonel Brizola e
Antônio Carlos Magalhães, o publicitário Washington Olivetto, os
jornalistas Walter Clark, Armando Nogueira, Gabriel Priolli e o atual
presidente Luis Inácio Lula da Silva.
O filme seria exibido pela
primeira vez no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro do Rio de
Janeiro, em março de 1994. Um dia antes da estréia, a polícia militar
recebeu uma ordem judicial para apreender cartazes e a cópia do filme,
ameaçando em caso de desobediência multar a administração do MAM-RJ e
também intimidando o secretário de cultura, que acabou sendo despedido
três dias depois.
Durante os anos noventa, o filme
foi mostrado ilegalmente em universidades e eventos sem anúncio público
de partidos políticos. Em 1995, a Globo tentou caçar as cópias
disponíveis nos arquivos da Universidade de São Paulo através da Justiça
Brasileira, mas o pedido lhe foi negado. O filme teve acesso restrito a
essas pessoas e só se tornou amplamente vistos a partir da década de
2000, graças à popularização da internet.
A Rede Globo tentou comprar os
direitos para o programa no Brasil, provavelmente para impedir sua
exibição. No entanto, antes de morrer, Hartog tinha acordado com várias
organizações brasileiras que os direitos de televisão não deveriam ser
dados à Globo, a fim de que o programa pudesse ser amplamente conhecido
tanto por organizações políticas e quanto culturais. A Globo perdeu o
interesse em comprar o programa quando os advogados da emissora
descobriram isso, mas o filme permanece proibido de ser transmitido no
Brasil.
Entretanto, muitas cópias em VHS
e DVD vem circulando no país desde então. O documentário está
disponível na Internet, por meio de redes P2P e de sítios de partilha de
vídeos como o YouTube e o Google Video (onde se assistiu quase 600 mil
vezes). Contrariando a crença popular, o filme está disponível no
Brasil, embora em sua maioria em bibliotecas e coleções particulares.
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