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27 de abr. de 2011

Desfile

Desfile de carros de boi de Ipuiuna pode se tornar o maior do Brasil



Desfile de carros de boi de Ipuiuna pode se tornar o maior do Brasil





Nas mãos dos antepassados de seo José Olimpio dos Reis (foto), carreiro de longa estrada, o carro de boi se manteve ofuscado pelo trabalho na roça. Em compensação, quando o homem de bigode bem aparado tomou a profissão de lidar com os bois para si, o ofício ganhou status na passarela. Não que os bois de seo José, de 63 anos, se tornaram modelos esnobes (ou esguios). Alto lá! Contudo, passaram a atrair os olhos (e comentários) de quem atribuia ao carro de boi sinônimo de atraso.

Pela 21ª edição, o carreiro está à frente do Desfile de Carros de Boi de Ipuiuna, no Sul de Minas Gerais. O cortejo acontece no próximo domingo (17), a partir do meio-dia. Em 2011, o evento almeja um feito: tornar-se o maior desfile do gênero no Brasil. A meta não é tão difícil, garante seo José. Até porque, o recorde atual é ocupado desde 2005 por Trindade (GO), que reuniu 212 carros (total de 1.799 bois). Detalhe: em 2010, o desfile mineiro superou 280 carros de boi, mas o número não foi registrado pelo RankBrasil (Livros dos Recordes Brasileiros). Neste ano, auditores estarão a postos para contagem.

Não é bom colocar os bois na frente do carro, como diz um antigo ditado. Sendo assim, faz-se necessário conhecer o nascimento do desfile, em Ipuiuna. Coube a José Olimpio dos Reis organizar, inspirado na tradição da cidade natal: Santa Rita de Caldas. “Já participava dos de lá. Isso vinha já de 40 anos. Quando me mudei para Ipuiuna, quis trazer o desfile pra cá. No primeiro, conseguimos reunir 42 carros”, lembra. Não parou mais. Quando a data se aproxima, envereda-se pelas fazendas da região para oficializar o convite. Algo do tipo: "Cumpadre, o senhor vai, né?".

Mineiro bom de papo, desconfiado e engraçado; José Olímpio não liga muito a títulos. Sobre a possível conquista do título de maior do Brasil, o carreiro lida pelo campo da humildade. “Estou desconfiando que teremos este ano mais de 300 carros. Se não for o maior, tudo bem. O que importa é o desfile”. Aliás, após o falecimento há 4 anos de dona Carmem, sua mulher, seo José Olimpio elegeu o carro de boi como sua maior paixão. “Vou em mais de 15 desfiles por ano”.

Tal como o organizador, o evento de Ipuiuna não tem cerimônias. Basta estacionar o carro de boi atrás do outro e pronto. Já está inscrito para o festejo. Há, como conta o carreiro, os “adiantadinhos”. “Tem gente que chega logo no sábado...”. Nesse caso, há sempre pasto disponível para boiada (“arrumei dez pastos este ano. Se precisar mais, consigo”) e um cantinho para o sono. No entanto, o carreiro precisa trazer o “Galinho de Briga”. Na tradução do carreiro mineiro: “um cobertorzinho e um travesseiro”.

Os carros, conta seo José, chegam de todos os lados. Alguns vêm de longe, pela estrada de terra; outros viajam em cima do caminhão. Quanto aos primeiros, o carreiro resume a aventura em poucas palavras: “Alguns levam três dias para chegar e três para voltar. No meio do caminho, dormem na casa dos cumpadres”. Aos que recepcionam sereno e poeira no chapéu por dias, o carreiro se solidariza. “É cansativo, mas gostoso!”.

Engana-se quem deduz que, neste desfile, só desfilam carreiros. Há, claro, espaço para as carreiras. Poucas, por sinal. Em 2010, menos de 5 apareceram no local. “Geralemnte, são mulheres que ajudavam o pai na roça e passaram ajudar o marido”, explica seo José, que busca resposta para tudo. Aspirantes a carreiros, conta, também são bem-vindos. “As crianças que não carreiam os bois sozinhos vêm no colo do pai ou do avô”.

Desfile


O uso do clichê é necessário: o desfile é de parar o trânsito. Compreensível: após o almoço, oferecido aos carreiros e familiares, a boiada cai na estrada. Por bons momentos, a BR 459, que corta a cidade, se divide entre ontem e hoje. “Os automóveis vão por um lado da pista e os carreiros pela outra”, completa. À frente, imponente numa caminhonete, a imagem de São Benedito, padroeiro da cidade, anuncia a chegada da boiada.

O cortejo segue pela rua principal de Ipuiuna. Nas proximidades de um palanque, montado especialmente para a data, os carreiros são aguardados em euforia pelos apreciadores da festa tradicional. Parênteses: no começo do ano, o desfile foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artítico do Estado de Minas Gerais. “O pessoal bate palmas...”, destaca Seo José. Após um pausa, paira uma interrogação: “Não sei se as palmas são para os carreiros ou para os bois?”, brinca.