Blog

Blog

23 de dez. de 2011

Fotógrafo Antônio Guerreiro – O Trabalho


Fotógrafo Antônio Guerreiro – O Trabalho

.
.
As imagens capturadas pelo fotógrafo Antônio Guerreiro ao longo de sua carreira e em momentos em que se construía parte da nossa história, na imprensa, na música, no teatro e na televisão, o coloca como um nome que deve ser respeitado e lembrado por pesquisadores e estudantes. Seu arquivo fotográfico é de fundamental importância para a compreensão da construção cultural do Brasil.
Guerreiro conseguiu, durante muitos anos, registrar aspectos interessantes da história do país em plena época da ditadura. Ele registrou, por exemplo, todo o glamour da fama nas décadas de setenta e oitenta, em especial o universo feminino, onde também viveu seus amores; foi casado com Sônia Braga e com a inesquecível Sandra Bréa, além de ter namorado uma lista invejável de mulheres.
Nasceu na Espanha, em Madrid e veio para o Brasil ainda criança. De Juiz de Fora, Minas Gerais, mudou-se para o Rio de Janeiro, ainda adolescente e lá desenvolveu sua carreira.
Em 1968 trabalhou no Correio da Manhã e posteriormente no Jornal do Brasil. De 1970 a 1972 esteve na França como fotojornalista da revista Manchete. Ao voltar tornou-se o mais requisitado fotógrafo do país.
Trabalhou para várias revistas, entre elas as masculinas Status e Homem, depois Playboy. Foram dezenas de capas de revistas e de discos de cantores brasileiros, Maysa, Gal Costa, Jorge Benjor, Nelson Gonçalves, Gonzaguinha entre tantos. Também foi fotógrafo de presidentes, fotografou, por exemplo, o General João Figueiredo na intimidade e Lula em campanha.
Conheci Guerreiro a partir também de uma capa, só que ela esta estava no centro de certa questão. Publiquei uma matéria anteriormente chamada “Grávidas e Lindas”, onde falava das capas que mostravam ensaios de famosas grávidas. O artigo nasceu a partir do ponto de vista da Vanity Fair, que publicara em agosto de 1991 uma capa com a atriz Demi Moore nua ostentando sua bela gravidez. Pois bem, neste mesmo mês e ano saia, também grávida e nua, na capa da Revista Manchete, a atriz Luma de Oliveira fotografada por Antônio Guerreiro. Uma coincidência que merece nota, até por que a revista da luma não foi mencionada no artigo. Tive a honra de conversar com Guerreiro sobre esse e outros assuntos.
A exposição das fotografias foi dividida em duas, a primeira com a história fotográfica do próprio Guerreiro e a segunda com seu trabalho.


OLAVO SALDANHAComo foi a criação do ensaio da capa da revista manchete em 1991 com a luma grávida e nua. A pose gerou alguma questão de preconceito ou o país aceitou bem?

ANTÔNIO GUERREIROEssa questão da pose não acho que seja o ponto central, porque é simplesmente uma questão de estética e bom gosto. A grávida fica mais bonita de lado e tampar os seios é para deixar uma aura de inocência na foto. Acho que em 91 já existia uma certa liberdade de preconceito, então foi muito bem aceita. Logo depois, fiz a foto dela já com o filho do Eike Batista no colo, também foi capa de Manchete.

OLAVO SALDANHA A capa me fez lembrar a Leila Diniz. Você conheceu bem a Leila? Ela era realmente este furacão de liberdade que a história conta?

ANTÔNIO GUERREIROSem dúvida, ela foi responsável por muitas das liberdades que temos hoje em dia, fiz vários trabalhos com ela, em estúdio, externas e em teatro. As fotos da célebre entrevista dela no Pasquim também são minhas, fizemos um show dela com a Beth Faria onde a parte visual era minha, enfim, ela era muito querida, alegre e avançada para essa época.

OLAVO SALDANHA – Você já teve trabalhos censurados? Até que ponto a censura limitava seu trabalho?

ANTÔNIO GUERREIRO – O primeiro foi a capa de Gal Costa, Gal India, que foi proibido, depois autorizado mediante uma cobertura de plástico preto, tipo um saco, e o disco dentro, aí bateu recordes de vendagem. Depois, durante os muitos anos em que trabalhei na Playboy. Aí eram coisas do tipo, só pode um peito, genitália não e outras coisas. A mim não limitava porque buscávamos outras formas de fazer as coisas de uma forma mais plástica, envolvente, sonhadora.

OLAVO SALDANHAQual a diferença na produção de um ensaio daquela época para hoje, está mais fácil, as produções são melhores?

ANTÔNIO GUERREIRO: As produções eram mais envolventes, até mega produções, como as que fiz com Betty Faria em Paraty, Sandra Bréa, Maria Zilda em Arraial d’Ajuda, Sonia Braga diversas vezes, o fotógrafo tinha total liberdade e por isso, era muito mais criativo.

OLAVO SALDANHABasta folhear uma revista da década de 1970 ou 1980 para perceber que, até para a nudez, o padrão de qualidade e beleza exigidos pelo fotógrafo era alto. Hoje nem tanto. Você percebeu este fenômeno?

ANTÔNIO GUERREIROPois é, o fotógrafo era tão estrela quanto a fotografada, as chamadas de capa diziam : veja as maravilhosas fotos que o fotógrafo tal fez de fulana, as mulheres tinham um corpo mais bonito sem o exagero de hoje, a gente trabalhava com luz, ângulos, produção, maquiagem e não com o Photoshop que iguala todo mundo.

OLAVO SALDANHA – Houve perda no romantismo da era analógica ou a tecnologia não banalizou a fotografia?

ANTÔNIO GUERREIRONão acho que o romantismo da era analógica seja diferente da era digital, só mudaram os meios, mas a técnica, o olhar, o bom gosto, serão sempre os mesmos, independendo da mídia utilizada.

OLAVO SALDANHAVocê tem uma boa parte da história do Brasil nas suas mãos. Para que o Brasileiro tenha noção do potencial histórico, qual o volume desse material e o que pretende fazer com tudo?

ANTÔNIO GUERREIROO material é imenso, pois fotografei todo o mundo desde 1970 até os dias de hoje, já fiz uma grande retrospectiva com 150 painéis de personalidades no Museu Nacional de Belas Artes, aqui no Rio, e estou em busca do famoso patrocínio para editar o meu livro, que já tem um projeto pronto, agora é ir atrás.

ANTÔNIO GUERREIROFoi um grande prazer poder participar desse teu blog que é, do meu ponto de vista, o que melhor achei sobre cultura brasileira, parabéns e continue sempre assim !
.
IMAGENS DE ANTÔNIO GUERREIRO - O SEU TRABALHO
.