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12 de dez. de 2011

Recordar é viver


Ronda

Quando se pensa no samba de São Paulo, não se deve esquecer de três nomes: Adoniran Barbosa, Germano Mathias e Paulo Vanzolini. Este último, que, além de sambista, é biólogo (ou herptólogo, especializado em cobras e lagartos), compôs um dos maiores clássicos da música brasileira: o samba-canção "Ronda", cujos versos, mais de 50 anos depois, quase todo mundo conhece... "De noite, eu rondo a cidade, a te procurar..." 
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Ronda
Numa entrevista ao Jornal Folha de São Paulo, Vanzolini disse que muitas vezes, na boemia de São Paulo, via mulheres chegando  na porta de um bar, olharem para dentro, certamente à procura de alguém, e ir embora em seguida. Noutra entrevista, ele contou a inspiração: 
“A coisa mais engraçada é que o povo acha que Ronda é um hino a São Paulo, mas na verdade ela é sobre uma mulher da vida (risos). Naquela época, servindo o Exército, eu patrulhava o baixo meretrício. Uma noite, na saída, eu estava tomando um chopeali pela avenida São João, quando vi uma mulher abrindo a porta do bar e olhando para dentro. Imaginei que ela estava procurando o namorado. Ele pensava que era para fazer as pazes, mas o que ela queria era passar fogo nele (risos).”
O mais interessante é que a música foi escrita em 1945, mas gravada, quase por acaso, em 1953, por Inezita Barroso, quando Vanzolini contou a história numa entrevista no programa Roda Viva:
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Ronda
"Minha mulher é amiga da Inezita, e nós fomos para o Rio Fazer companhia para ela. Chegou no estúdio da gravação, o cara perguntou: 'E o lado B?' Nonguém tinha pensado em lado B. Aí Inezita diz: 'Eu sei muito da música, posso gravar o que vocês quiserem. Não, mas o autor tem que dar autorização'. O único autor que estava presente era eu; foi por isso que foi gravado Ronda" 
A história da mulher que sai numa busca incansável pelo ser amado, num misto de amor e sede de vingança, pela frustração de não encontrar o homem (que só é encontrado no sonho...), e a esperança de vê-lo... de encontrá-lo feliz, jogando, bebendo, na companhia de outras mulheres, apenas para dar vazão ao sentimento de sangue e de vingança, numa espécie de expiação do amor...
Duas curiosidades adicionais...
Vanzolini diz que muitos japoneses pedem a música nos Karaokês, como... cante a música da "Honda"....
Caetano Veloso, quando compôs Sampa, faz uma homenagem a Ronda, que, para muitos, é um hino extraoficial de São Paulo. A análise está no blog do Bollog: 
Enquanto Vinicius de Morais provocava os amigos, ao dizer que São Paulo era o túmulo do samba, Caetano iniciou sua linda homenagem à cidade de maior força econômica brasileira, enaltecendo seus mitos e seus símbolos. Ele começou SAMPA fazendo uma paráfrase musical de RONDA, do poeta e compositor Paulo Vanzolini (Ronda, que foi lindamente interpretada por Maria Betânia, irmã do poeta e cantor baiano).
Prova disso é que quando João Gilberto toca Sampa, ele sempre inicia com o último verso da criação inesquecível de Vanzolini: “Cenas de sangue num bar na avenida São João”, que musicalmente casa com perfeição com “Alguma coisa acontece no meu coração”. Durante  a música, Caetano retomou esse artifício melódico para deixar claro que não foi uma construção feita por mero acaso
A letra...
RONDA 
De noite eu rondo a cidade
A lhe procurar, sem encontrar
No meio de olhares espio
Em todos os bares
Você não está...

Volto prá casa abatida
Desencantada da vida
O sonho, alegria me dá
Nele você está...

Ah! Se eu tivesse
Quem bem me quisesse
Esse alguém me diria
Desiste, essa busca é inútil
Eu não desistia ...

Porém com perfeita paciência
Volto a te buscar
Hei de encontrar
Bebendo com outras mulheres
Rolando dadinhos
Jogando bilhar...

E nesse dia então
Vai dar na primeira edição
Cena de sangue num bar

O vídeo na voz de João Gilberto...
Fontes: 
" O melhor do Roda Viva -Cultura, organizado por Paulo Markun

Acalanto - De pai para filha. De Dorival para Nana Caymmi

Todos os filhos de Caymmi têm nomes que começam com a letra "D". Danilo, Dori e Dinahir. Mas, por causa de uma música composta por seu pai, até hoje ela é conhecida como "Nana". Nana Caymmi... e para ela foi feita uma linda canção de ninar... chamada Acalanto...
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Os fatos que vou narrar aqui foram contados por Stella Caymmi, neta de Dorival, Filha de Nana, em dois livros: “Dorival Caymmi: o mar e o tempo (editora 34)”, e “O melhor de Nana Caymmi" (Ed. Irmãos Vitale).
Quando Nana Caymmi nasceu, em 29 de abril de 1941, Dorival vivia uma vida intensa de compromissos como cantor. Sua mãe, Stella Maris, cuidava mais de Nana, e, como boa cantora que era, ninava sua filha com músicas do cancioneiro nacional....
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A letra é absolutamente confessional... Nana, de temperamento forte (que veio a se confirmar ao longo da vida) se recusava a dormir, pois já era tarde, e o pai Dorival, impressionado com o desgaste que Stella sofria para colocar Nana para dormir, compôs uma cantiga para fazer a mãe descansar.Dorival, com sua voz inconfundível, cantava baixinho junto ao berço para que a criança conciliasse o sono. Parte de uma antiga canção de ninar ( “Boi da cara preta”, cuja letra parece de assustar, mas sempre funciona com crianças....)...
Reza a lenda que, em 1952, Nana já com 11 anos, Caymmi, dando uma “canja” num aniversário de casamento, cantou “Acalanto”, e a filha do casal bocejou, ao que Caymmi respondera: “Essa é a intenção da música: causar sono”...
Em 1960, Dorivcal Caymmi iria gravar “Acalanto”, com participação de sua mulher Stella, que, não se sabe por qual razão, desistiu de cantar... coube a Aloysio de Oliveira, diretor artístico da Odeon, sugerir, então, que o dueto fosse feito com sua filha Nana, então com 18 anos...
Uma música de pai para filha, feita num momento de sono, mas com muito, muito amor.
Dedico a você, Bruninha....

É tão tarde
A manhã já vem
Todos dormem
A noite também
Só eu velo por você, meu bem
Dorme, anjo
O boi pega neném


Lá no céu deixam de cantar
Os anjinhos foram se deitar
Mamãezinha precisa descansar
Dorme, anjo
Papai vai te ninar


Boi, boi, boi
Boi da cara preta
Pega esta menina
Que tem medo de careta

Solidão que nada (feita depois de um beijo no aeroporto....)

Eu me divirto com a história de canções que surgem a partir de pequenos acontecimentos dos dia; músicas que viram verdadeiras limonadas a partir de um limão, isto é, um fragmento da criatividade que faz o caminho surgir a partir de pequenas coisas. Neste caso, me refiro à música "Solidão, que nada", uma música de George Israel que recebeu letra de Cazuza e Nilo Roméro, o "inspirador" da canção. o baixista Nilo Roméro contou a história da música, no livro Cazuza - Preciso dizer que te amo: todas as letras do poeta (Globo, 2001), que surgiu depois de um beijo de despedida num aeroporto...

"O meu nome no alto-falante do aeroporto interrompeu o beijo. Senhor Nilo Roméro, voo 427 para o Rio de janeiro, embarque imediato! Tchau, a gente se vê. Ah! E o telefone? Tem um papel? tenho. Cadê a caneta? Então tá. Saio correndo, subo as escadas e, finalmente, entro no avião. Me deparo então com todos os passageiros olhando para mim com aquela cara de reprovação. Caí na real. Procuro então com meu olhar os companheiros de banda, em busca de alguma cumplicidade. Estava atrasado, mas, afinal era por uma boa causa! Nào adiantou. Estava todo mundo puto., a fim de ir logo embora pra casa. Tudo bem, então vamos sentar. Mas cadê o meu lugar? Só tinha um lugarzinho no meio, e quem me conhece sabe que odeio viajar no meio. Sou meio claustrofóbico e gosto mesmo é de corredor. Sentado num das poltronas de corredor, observando tudo, estava Cazuza, uma das únicas pessoas de bom humor naquele avião. Ele sabia que eu detestava a poltrona do meio. 'Nilo Roméro' (ele tinha a mania de chamar as pessoas pelo nome e sobrenome). Trocamos. Na passagem, eu deixo cair um papel do bolso. cazuza pega, olha, me sacaneia e pronto. Ele iria chegar em casa e fazer uma de suas maravilhosas letras. Desta vez seria uma road song. Uma homenagem à vida na estrada, com todo seu glamour e vazio.

Cada aeroporto
É um nome num papel
Um novo rosto
Atrás do mesmo véu


Alguém me espera
E adivinha no céu
Que meu novo nome é
Um estranho que me quer

E eu quero tudo
No próximo hotel
Por mar, por terra
Ou via Embratel

Ela é um satélite
E só quer me amar
Mas não há promessas, não
É só um novo lugar

Viver é bom
Nas curvas da estrada
Solidão, que nada
Viver é bom
Partida e chegada
Solidão, que nada 

A música faz referência ao nome no papel, de um encontro em desencontro que se tem em cada aeroporto, em cada hotel, em cada viagem... esses amores que são deliciosos porque são fugidios, mas que também se tornam enfadonhos quando são repetitivos...
Estes são os amores fugazes da vida da estrada... o novo nome no aeroporto, o rosto novo, o véu antigo... uma pessoa estranha, um amor de retas perpendiculares, que se encontram num ponto da viagem, e depois se afastam para não mais se encontrar... e o refrão final é meio irônico... "Solidão, que nada... " ou, quem sabe, solidão... 



Lágrimas e Chuva - Leoni (um bilhete suicida?)

Leoni é um dos principais compositores que surgiu no Brasil na onda pop/rock que tomou conta do país na década de 80. Ele, inicialmente, era o baixista e principal compositor do Kid Abelha até 1986, quando saiu da banda e fundou  Heróis da Resistência, na qual era vocalista, lançando 3 discos, quando, em 1993, partiu para a carreira solo, como seu maior sucesso individual (Garotos II)... 
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Em 2003, ou seja, com 10 anos de carreira solo, ele gravou, no estilo voz e violão, muitas de suas composições, que boa parte do grande público não sabia ser de sua autoria. Uma dessas canções é Lágrimas e Chuva.
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Pouca gente sabe, mas Lágrimas e Chuva, primeira faixa do Lado A (eu sempre me divirto com a época em que os LP`s, hoje chamados de vinil, tinham lado A e lado B) do disco Educação Sentimental, gravado pelo Kid Abelha em 1985, era gravada com um arranjo pop, leve, que virou hit obrigatório do Kid Abelha, presente em qualquer coletânea da banda, e regravada no cd/dvd acústico, em 2002. 
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O que pouca gente percebeu, sobretudo pela levada pop do primeiro arranjo, é que Lágrimas e Chuva é uma música sobre suicídio, melhor dizendo, é uma carta suicida. Alguém que está em desespero insone no quarto, e a noite, o tempo faz a ideia suicida parecer mais forte... obviamente, a canção fala da solidão, da chuve que bate no vidro na janela, do "eu-lírico" que não é visto e que vê recorrentemente na noite insone os problemas que quer esquecer (uma nota interessante é que a letra da música fala "dou plantão dos meus problemas que eu quero esquecer", mas tem gente que canta "tou plantando os meus problemas...")  
A grande evidência de que se trata de uma carta suicida é o trecho "Será que existe alguém/Ou algum motivo importante/Que justifique a vida/Ou pelo menos esse instante", isto é, é uma busca de um motivo para viver, pois senão é melhor acabar com as 1001 noites de suspense no quarto... e aí o sujeito vai contando as horas...
Por essa razão, Leoni regravou a música, de maneira triste como a música de fato é, conforme disse numa entrevista ao site universo musical: 
"a letra é muito densa mas os arranjos são muito pop, muito leves. Ou seja, não se percebia que a letra estava tratando do que tratava. Lágrimas E Chuva é um bilhete suicida, mas naquele ritmo o pessoal vai dançar e esquece o que está rolando na letra. E foi o Léo Jaime que disse: "Essa música é tão triste, porque vocês a tocam tão alegres?" E aí quando nós fizemos o show em 98 fizemos um outro arranjo, e é o que eu gravei no disco. E ele cantava comigo no show".
Segue a letra da canção de Leoni...

Eu perco o sono e choro
Sei que quase desespero
Mas não sei por que
A noite é muito longa
Eu sou capaz de certas coisas
Que eu não quis fazer


Será que alguma coisa
Nisso tudo faz sentido
A vida é sempre um risco
Eu tenho medo do perigo


Lágrimas e chuva
Molham o vidro da janela
Mas ninguém me vê
O mundo é muito injusto
Eu dou plantão dos meus problemas
Que eu quero esquecer
Será que existe alguém
Ou algum motivo importante
Que justifique a vida
Ou pelo menos esse instante
Eu vou contando as horas
E fico ouvindo passos
Quem sabe o fim da história
De mil e uma noites
De suspense no meu quarto

Fonte: http://www.universomusical.com.br/materia.asp?matcomp2=sim&cod=pr&id=186

"E agora, José". Drummond musicado por Paulo Diniz

Já escrevi aqui sobre a música "Bandeira", composta por Zeca baleiro em homenagem ao pema "Belo Belo", de Manuel Bandeira. Os Secos & Molhados também se tornaram famosos por muiscar poemas, como "Rosa de Hiroshima" e "Rondo do capitão". Quero aqui, no entanto, fazer uma referência a um poema musicado que se tornou histórico: "E agora, José", de Drummond, que foi musicado por Paulo Diniz.

E agora, josé?
A festa acabou,
A luz apagou,
O povo sumiu,
A noite esfriou,
E agora, josé?
E agora, você?
Você que é sem nome,
Que zomba dos outros,
Você que faz versos,
Que ama, protesta?
E agora, josé?
Está sem mulher,
Está sem carinho,
Está sem discurso,
Já não pode beber,
Já não pode fumar,
Cuspir já não pode,
A noite esfriou,
O dia não veio,
O bonde não veio,
O riso não veio
Não veio a utopia
E tudo acabou
E tudo fugiu
E tudo mofou,
E agora, josé?
Sua doce palavra,
Seu instante de febre,
Sua gula e jejum,
Sua biblioteca,
Sua lavra de ouro,
Seu terno de vidro,
Sua incoerência,
Seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
Quer abrir a porta,
Não existe porta;
Quer morrer no mar,
Mas o mar secou;
Quer ir para minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
Se você gemesse,
Se você tocasse
A valsa vienense,
Se você dormisse,
Se você cansasse,
Se você morresse...
Mas você não morre,
Você é duro, josé!
Sozinho no escuro
Qual bicho-do-mato,
Sem teogonia,
Sem parede nua
Para se encostar,
Sem cavalo preto
Que fuja a galope,
Você marcha, josé!
José, para onde?
Você marcha José, José para onde?
Marcha José, José para onde?
José para onde?
Para onde?
E agora José?
José para onde?
E agora José?
Para onde?   
Ela foi gravada em 1974, num momento em que o Brasil vivia anos tristes de ditadura. O poema musicado por Paulo Diniz bateu duro e forte... um poema próprio de um fim de esperança, e que a crítica musical torcia o nariz porque se dizia que Paulo Diniz não seria competente para musicar tão belo poema. A melhor resposta veio pelo próprio Drummond, que disse não conseguir mai pensar em seu poema, desvinculado da melodia de Paulo Diniz.
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, "E agora, José". Drummond musicado por Paulo Diniz
Segue aqui um trecho de entrevista com paulo Diniz, comentando a música: 
JC - Você musicou poemas de vários poetas famosos, mas o que ficou mais conhecido foi José, de Carlos Drummond, você chegou a falar com ele para colocar a melodia? Ela depois foi censurada também?
PD - Houve uma censura velada, mas nunca foi oficialmente proibida. Nunca conversei com Drummond sobre ela, falei apenas com a filha dele, que era sua secretária, quando enviei o disco. O que me envaideceu muito foi um comentário que ele fez no jornal. Drummond escreveu que depois que ouviu José com a melodia não conseguia mais ler o poema sem cantar a música.
Paulo Diniz merece ser olhado com mais atenção...
http://celitocatito.blogspot.com/2008_10_01_archive.html


I Just called to say I Love You - Stevie Wonder

A canção I just called to say I love you, gravada por Setevie Wonder em 1984, poderia ser descrita como o seu maior sucesso na década de 80. Pode ser descrita também como a música que inspirou a trilha sonora do filme "Woman in Red" (Dama de Vermelho), e que ganhou o Oscar de melhor canção original em 1985.
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, I Just called to say I Love You - Stevie Wonder
Gosto da simplicidade da letra, que simplesmente anuncia que nada de especial ou excepcional está acontecendo no mundo. Não é um feriado, nem uma data comemorativa, ou seja, seria apenas mais um dia ordinário, no qual alguém apenas liga para dizer à outra pessoa que a ama, que se preocupa, de maneira intensa, pungente...
São interessantes as declarações de amor... o telefone (em 1984 não se pensava em celulares) torna-se, através da música, uma forma de se aproximar, dizendo-se apenas "eu te amo". É uma canção simples, sentimental, e com apelo universal... A crítica internacional torceu o nariz, mas talvez seja a obra mais conhecida de Stevie Wonder...
 No New Year's Day to celebrate
No chocolate covered candy hearts to give away
No first of spring
No song to sing
In fact here's just another ordinary day
No April rain
No flowers bloom
No wedding Saturday within the month of June
But what it is, is something true
Made up of these three words that I must say to you
I just called to say I love you
I just called to say how much I care
I just called to say I love you
And I mean it from the bottom of my heart
No summer's high
No warm July
No harvest moon to light one tender August night
No autumn breeze
No falling leaves
Not even time for birds to fly to southern skies
No Libra sun
No Halloween
No giving thanks to all the Christmas joy you bring
But what it is, though old so new
To fill your heart like no three words could ever do
I just called to say I love you
I just called to say how much I care, I do
I just called to say I love you
And I mean it from the bottom of my heart
I just called to say I love you
I just called to say how much I care, I do
I just called to say I love you
And I mean it from the bottom of my heart, of my heart,
Of my heart
I just called to say I love you
I just called to say how much I care, I do
I just called to say I love you
And I mean it from the bottom of my heart, of my heart, of my heart