A psilocibina foi descoberta pela ciência nos anos 1950, banida nos anos 1960, em meio à febre das drogas psicodélicas. Agora redescoberta, legalmente, nos laboratórios.
A ciência acaba de fazer as pazes com drogas proibidas há muitas
décadas. Pesquisadores voltam a apostar nas substâncias alucinógenas, que
alteram a consciência e provocam visões, para tratar de distúrbios como
depressão, ansiedade e transtornos de compulsão.
A substância proibida que fez uma revolução na
vida do aposentado Clark Martin é um alucinógeno encontrado em mais de cem
espécies do chamados cogumelos mágicos.
A psilocibina foi descoberta pela ciência nos
anos 1950, banida nos anos 1960, em meio à febre das drogas psicodélicas. Agora redescoberta,
legalmente, nos laboratórios.
Nem a psicanálise nem todos os remédios da
medicina moderna. Como nada curava a depressão, depois de anos com um câncer no
rim, o aposentado se ofereceu como voluntário em uma pesquisa da Universidade
John Hopkins, uma das mais respeitadas dos Estados Unidos. E teve, pela
primeira vez na vida, uma experiência alucinante.
No laboratório, recebeu uma cápsula com
psilocibina – a mesma substância dos cogumelos, só que na forma sintética.
Deitado, com uma venda nos olhos, passou seis horas ouvindo música clássica.
Foi uma viagem completamente segura.
“No começo é muito assustador, porque todas as
imagens e representações da realidade são de certa forma desligadas, elas começam a se dissolver”,
diz o psicólogo aposentado.
Cenas multicoloridas e formas completamente
estranhas. Os relatos de usuários de alucinógenos, a doideira da música dos
Beatles, não foi exatamente assim na experiência científica.
“Não vi cores, não tinha nenhuma sensação ou
pensamento na minha cabeça, era um vazio, e eu não me sentia drogado. Lembrei
agora do sentimento que tive enquanto estava sob efeito da substância: minha
filha e todos os meus velho amigos”, descreve.
Depois disso, o aposentado parou de ter medo da
morte e resolveu um enorme problema: “Eu era muito inacessível para a minha
filha, e quando eu estava sob os efeitos da psilocibina, me dei conta de que o
que ela precisava de mim não era orientação, era meu amor e minha compreensão”,
lembra. “Minha vida começou a mudar naquele momento, mas continua, porque o
efeito continua sendo reforçado. A maneira como o cérebro processa as coisas
fica diferente”, diz.
A experiência que mudou radicalmente, e para
melhor, a vida do psicólogo aposentado Clark Martin fez parte de um dos maiores
estudos com alucinógenos já realizados nos Estados Unidos.
Depois de mais de 40
anos de proibição, um pequeno grupo de cientistas recebeu autorização para
lidar com substâncias que sempre foram vistas com desconfiança.
O doutor Charles
Grob é responsável pela
pesquisa com psilocibina na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
“Não temos uma droga milagrosa. Temos um modelo
de tratamento que pode ser muito efetivo, até mesmo em pacientes que não têm
bons resultados com os medicamentos convencionais”, explica Charles Grob.
Foi ainda no século passado que a ciência
descobriu a força dos alucinógenos. Mas os exageros transformaram as
substâncias psicodélicas em drogas malditas. Agora, só vencendo muito
preconceito para transformar a pesquisa em tratamento.
“Da maneira que imagino – e estamos décadas
distantes disso – haverá centros de tratamento onde as pessoas poderão ser
auxiliadas em uma experiência com substâncias como psilocibina”, comenta
Charles Grob.
A estátua de louvação ao cogumelo teria mais de
dois mil anos. Foi encontrada no México, de onde chegaram também as primeiras
notícias sobre as propriedades medicinais da psilocibina. Paul Stamets já descobriu cinco novas espécies do
tal cogumelo mágico.
Paul é um dos maiores especialistas em cogumelo
do mundo e comemora as novas pesquisas científicas: “Acredito muito na evolução
da consciência e vejo isso como um passo importante em nosso avanço no uso de
substâncias naturais para ajudar na saúde mental das pessoas.”
O ilustre morador da floresta concorda com
outros pesquisadores: acha que a ciência já perdeu tempo demais ignorando uma
substância tão misteriosa quanto promissora.