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9 de jun. de 2012

Celebridades de nossa história e seus últimos discursos



Tem fatos que marcam nossas vidas! O mais importante, na minha concepção, são as últimas palavras, os últimos momentos vividos, os discursos, onde ali, naquele momento, entra para a história! 
Vejamos alguns poucos exemplos, mas que certamente entraram para a história!
Discurso do Presidente eleito faria no dia da posse... Ouça o áudio e por escrito!
Discurso do Presidente eleito do Brasil Tancredo Neves
(O discurso de posse, seria este)

  PRESIDENTE DA REPÚBLICA

BRASÍLIA – MARÇO DE 1985


“Brasileiros, começamos hoje a viver a Nova República. Deixemos para trás tudo o que nos separa e trabalhemos sem descanso para recuperar os anos perdidos na ilusão e no confronto estéril. Estou certo de que não nos faltará a benevolência de Deus."


Milton Nascimento lê passagens do discurso do presidente Tancredo Neves preparado para o dia de sua posse na Presidência da República, em Brasília – Março de 1985. Foram extraídos dois trechos do LP “A Palavra de Tancredo”, produzido em 1987 pela Quilombo Criação & Produção: um primeiro, mais longo, e outro que começa exatamente na leitura feita pelo artista.


A discurso na íntegra:


Clique no Áudio 1


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Srs. membros do Congresso Nacional:


Recebo da soberania do povo, de que sois portadores, a chefia do Estado e o governo do País. Esta solenidade encerra singular mistério de liturgia cívica. A Nação inteira se reúne, pelo instituto da representação, em sua vontade e em sua esperança, para investir um homem da responsabilidade de a conduzir, na lei e na dignidade.

De cada um dos homens que constituem a comunidade nacional transfere-se, ao coração e ao espírito do escolhido, um homem como os outros, parcela essencial de ser, na devoção aos valores comuns e na inquebrantável decisão de os preservar para sempre.

Ao assumir esta enorme responsabilidade, o homem público se entrega a destino maior do que todas as suas aspirações, e que ele não poderá cumprir senão como permanente submissão ao povo.

Quando falamos em povo não pensamos em uma entidade abstrata, que possa ser eventualmente conduzida em trilhas de equívoco, pelo fanatismo ou pela demagogia. Pensamos no povo como soma de razões e virtudes, que sempre prevalecem, para impor lucidez à história, restaurando o que se deve restaurar, abandonando o que se deve abandonar e construindo o que se deve construir.

A grandeza de um povo pode ser medida pela fraternidade. A coesão nacional, que não deve ser confundida com as manifestações patológicas do nacionalismo extremista, resulta do sentimento de solidariedade da cidadania. Essa solidariedade se expressa na consciência política. Não basta, porém, a consciência da responsabilidade coletiva, se não houver a oportunidade de participação de todos na vida do Estado, que é o instrumento comum da ação social.

Não celebramos, hoje, uma vitória política. Esta solenidade não é a do júbilo de uma facção que tenha submetido a outra, mas festa da conciliação nacional, em torno de um programa político amplo, destinado a abrir novo e fecundo tempo ao nosso país. A adesão aos princípios que defendemos não significa, necessariamente, a adesão ao governo que vamos chefiar. Ela se manifestará também no exercício da Oposição. Não chegamos ao poder com o propósito de submeter a Nação a um projeto, mas com o de lutar para que ela reassuma, pela soberania do povo, o pleno controle sobre o Estado. A isso chamamos democracia.

Temos construído esta Nação com êxitos e dificuldades, mas não há dúvida, para quem saiba examinar a História com isenção, de que o nosso progresso político deveu-se mais à força reivindicadora dos homens do povo do que à consciência das elites. Elas, quase sempre, foram empurradas à ação pelos que, vindos das lutas e dificuldades cotidianas, alçavam-se ao jornalismo e ao Parlamento e obtinham, assim, os instrumentos políticos para o exercício de sua influência.

Há razões singelas para que haja maior amor à Pátria no povo do que entre algumas de suas elites. O homem que trabalha e sofre sabe que a sua realização depende do progresso de todo o País, e que o desenvolvimento não se faz sem o trabalho e o sacrifício de todos. Desprovido de fortuna, o trabalhador só pode sentir como seu o patrimônio comum da Nação, que as cores da bandeira simbolizam e protegem. Nada tendo de seu, ou tendo muito pouco, está poupado do egoísmo dos que possuem e disposto a defender a esperança, que para ele está no crescimento do Brasil. Sua história pessoal é quase sempre singela, mas ele assume, com amor e orgulho, a rica história da Nação. A pátria dos pobres está sempre no futuro e, por isso, em seu instinto, eles se colocam à frente da História.


Enganam-se os que imaginam possível levantar uma Nação rica e poderosa sobre os ombros de um povo explorado, doente, marginalizado e triste. Uma Nação só crescerá quando crescer, em cada um de seus cidadãos, o conhecimento, a saúde, a alegria e a liberdade. Não há povos que tenham surgido poderosos e ricos sobre a face da terra. Só a consciência da defesa coletiva é que levantou, no exercício da política, as sociedades primitivas, permitindo-lhes a prosperidade, a segurança e a cultura.

Temos um povo com a consciência de sua força e de seu destino. Os duros sacrifícios transformaram-se, pelo milagre da fé, na impetuosidade cívica dos últimos meses. Não há quem o possa fazer recuar. Ai dos que pretendem violar esta unidade, manchar esta bandeira de esperança.

É tempo, portanto, de edificar um Estado que sirva à plenitude de nosso povo. Não deve ser um Estado que as elites outorguem à Nação, em orgulhoso ato de poder, mas que se erga, da consciência coletiva, como resposta a anseios e necessidades. Ele deve ser construído para promover a ordem e a justiça. Ordem e justiça se fazem com a lei. E a lei deve ser a organização social da liberdade.

Brasileiros:

Em agosto do ano passado, ao falar diante dos convencionais do PMDB que me escolheram seu candidato à Presidência da República, eu lhes disse que a primeira de nossas preocupações era a de reordenar institucionalmente a Nação. Ao receber, no Colégio Eleitoral, os votos que me elegeram presidente da República, voltei a expor a minha preocupação em promover, logo, a discussão constitucional. Se não podemos, e não devemos, votar às pressas uma nova Carta Política, temos de discuti-la a partir de amanhã. A fim de contribuir, com seus recursos, para o debate, o Executivo constituirá, como um dos primeiros atos de governo, comissão de alto nível, integrada não só de juristas conhecidos, mas, igualmente, de representantes autênticos dos diversos setores sociais, com o objetivo de elaborar um esboço de anteprojeto constitucional.

Este documento não nascerá apenas do saber jurídico de seus membros e das reivindicações, justas, dos grupos sociais que ali se representem. Meu propósito é o de que a comissão possa ouvir o povo, recolhendo suas ideias criadoras. Redigido, o esboço voltará ao debate público, enquanto se processa a campanha eleitoral para a escolha do Congresso Constituinte.

E caberá aos delegados da Nação, eleitos com o mandato expresso de constituinte, o ato soberano de aceitar, emendar ou rejeitar a proposta de lei fundamental que lhe encaminharemos.

Se assim se fizer, e assim se fará, teremos a primeira grande oportunidade histórica de redigir uma Constituição ajustada às aspirações nacionais. Em nenhum outro tempo, no passado, pudemos realizar uma consulta popular sobre o destino do Estado, como faremos agora.

Brasileiros:

Não me cansarei, enquanto houver injustiça, de clamar em nome dos perseguidos, dos humilhados, dos que têm mãos ociosas e vazias. Nada é mais doloroso para um pai de família do que oferecer suas mãos para o trabalho e recolhê-las, envergonhado, com o óbolo da ajuda. Para quem o recebe, o pão da caridade é sempre amargo.

Chega de proclamarmos, para aplacar a consciência, o direito de todos ao trabalho. É hora de transformar tais intenções em fatos concretos. E é também hora de pagar salários justos aos que produzem.

Recorro à advertência do profeta Isaías, nesta hora grave, talvez a mais grave de toda a minha vida:

“Ai dos que decretam leis injustas e dos que escrevem perversidades, para prejudicarem os pobres em juízo e para arrebatarem o direito dos aflitos de meu povo; para despojarem as viúvas e para roubarem os órfãos.”

Durante os últimos decênios acentuou-se em nosso país a injustiça contra os trabalhadores. Essa situação tornou-se ainda mais iníqua diante das seduções do consumo e da ostentação de alguns setores de nossas elites econômicas.

Se aos insensatos não comove a exigência de justiça, é possível que os atinjam as razões do temor.

Já vivemos, nas grandes cidades brasileiras, permanente guerra civil, com níveis de violência que nos colocam nos primeiros lugares entre as regiões mais perigosas do mundo. É natural que todos reclamem mais segurança nas ruas, e é dever do Estado garantir a vida e os bens dos cidadãos. Essa garantia, sabemos todos, não será oferecida com o aumento do número de policiais, ou com a multiplicação dos presídios. É muito mais fácil entregar ferramentas aos homens do que armá-los, e muito mais proveitoso para a sociedade dar pão e escola às crianças abandonadas, do que, mais tarde, segregar adultos criminosos. A história nos tem mostrado que, invariavelmente, o exacerbado egoísmo das classes dirigentes as tem conduzido ao suicídio social.

Brasileiros:

Não se resolvem os problemas sociais de um país sem que haja drásticas mudanças em sua economia.

Até hoje o Estado tem servido para garantir e estimular os poderosos, e é tempo de que a sua força se coloque realmente a serviço dos despossuídos. Isso não significa empobrecer a Nação, mas enriquecê-la. Temos de ampliar o mercado interno, o único com que podem contar permanentemente os empresários brasileiros. Não se amplia o mercado interno sem que haja mais empregos e mais justa distribuição de renda nacional.

Os recursos públicos, destinados ao fomento das atividades produtivas, devem ser aplicados no maior número possível de empreendimentos. Não repetiremos os terríveis erros do recente passado, quando o Tesouro, por intermédio das autoridades financeiras, pagava pela incompetência e, em muitos casos, pelos crimes contra a economia popular cometidos por aventureiros.

Enquanto isso, homens sérios mantêm, com angustiosos esforços, suas empresas industriais, preferindo reduzir os lucros a reduzir as folhas de pagamento.

O desenvolvimento industrial de um país não se faz em poucos anos. Enquanto não houver condições de trabalho e salários dignos para todos os brasileiros, devemos adotar medidas urgentes contra a fome e a doença. As estatísticas nos revelam verdades dolorosas: milhões de brasileiros se encontram à margem da inanição, e as imagens de crianças desnutridas, que nos chegam das regiões mais castigadas, em nada diferem das que nos transmitem dos campos de refugiados da Etiópia. Não podemos, sob o argumento de que só o desenvolvimento econômico resolverá o problema, deixar que tantos brasileiros morram desnutridos.

Brasileiros:

A prazo maior, teremos de adotar medidas para a retomada do crescimento econômico sem ferir os postulados da boa justiça social. Uma dessas medidas é a reforma agrária. Em país como o nosso, a reforma agrária deverá realizar-se de muitas formas. Não será necessário dividir terras em algumas regiões pouco povoadas, nem é conveniente parcelar glebas, mesmo extensas, se se encontram aproveitadas. Na verdade, o problema da propriedade – salvo os conflitos nas áreas de colonização recente – só se coloca, de forma dramática, no Nordeste. Ali, só são aproveitáveis as terras molhadas e férteis das margens dos açudes e rios, e elas se encontram, invariavelmente, nas mãos de poucos.

Nós, brasileiros, temos uma dívida enorme com o Nordeste. Mas, se é verdade que devemos muito a milhões de brasileiros que ali vivem, maior é a dívida de suas próprias classes dirigentes, que, salvo exceções conhecidas, não tiveram para com seu povo a solidariedade que, em seu nome, reclamam do resto do País. Temos de adotar, no Nordeste, medidas corajosas. É necessário que os recursos públicos destinados à região sirvam efetivamente a todos e não sejam interceptados pelos privilegiados.

Ao lado do reordenamento institucional, o problema do Nordeste se coloca como prioritário em minhas preocupações. Não podemos continuar crescendo no Sul e regredindo naquela região sacrificada. É preciso encontrar meios técnicos e políticos para resgatar sua população e integrá-la plenamente na vida nacional.

O acesso à terra e à água é direito de todos e, onde as terras produtivas e a água são escassas, cabe ao poder público, através da lei, ordenar o seu aproveitamento.

No encontro que mantive com agricultores do Rio Grande do Sul, coloquei como meta do governo dobrar a produção brasileira de grãos nos próximos anos. Tenho ouvido, de técnicos e empreendedores rurais, que nada nos impede de cumprir essa tarefa. Para isso, temos de adotar medidas que se integram em uma ampla reforma agrária nacional. Não nos inibiremos diante dos que nos querem impor medidas recessivas e subsidiaremos, de forma justa, a nossa agricultura. Não deixaremos de fazer o que outros fazem apenas porque a eles interessa manter-nos em atraso.

Brasileiros:

Quando, nos países mais adiantados do mundo, as crianças começam a aprender diante de uma tela de computador, ainda exibimos uma vergonhosa taxa de analfabetismo. Estamos levantando usinas nucleares que custam bilhões de dólares, mas não fomos capazes de construir modestas salas escolares e colocar professoras em cada uma delas, de forma a acolher toda a população em idade escolar no País.

Sem descuidar das universidades, iremos, cada vez mais, investir na educação básica. Não iremos, no entanto, cuidar apenas do aspecto material. É necessário ajustar programas escolares que, sem perder de vista a realidade universal, sejam coerentes com a identidade cultural de nosso povo.

A força e a independência dos sindicatos são indispensáveis ao desenvolvimento econômico e social de qualquer país. É do consenso nacional que a legislação sindical brasileira se encontra envelhecida. Além do mais, ela não se inspirou nos melhores exemplos do tempo em que foi promulgada.

Os sindicatos devem ser livres. A unidade sindical não pode ser estabelecida por lei, mas surgir naturalmente da vontade dos filiados. Sendo assim, tudo farei para que o Brasil adote a Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho.

Os sindicatos não podem submeter-se à tutela do governo nem subordinar-se aos interesses dos partidos políticos. Se devemos ter uma política sindical, temos de evitar qualquer sindicalismo político.

A administração econômica do País reclama coragem e determinação. Vamos ter de combinar várias medidas para sanear as finanças públicas, retomar o desenvolvimento econômico e atender às urgentes demandas sociais.

Em primeiro lugar, vamos aceitar o pleno jogo do capitalismo, tal como ele deve ser praticado. Se o Estado deve, em alguns casos, proteger e incentivar empreendimentos produtivos, é de todo inconcebível que garanta os riscos de especulação financeira. De agora em diante, e da forma que a lei estabelecerá, os investidores deverão saber dos riscos que assumem, quando aplicarem o seu dinheiro no mercado de capitais. Não poderá o governo continuar socorrendo com os escassos recursos de caixa as instituições financeiras mal administradas. E não temo usar, aqui, a expressão forte. Os que burlarem a confiança popular em meu governo podem estar certos de que tudo faremos para que restituam, centavo a centavo, o que tenham desviado, como atuará o Ministério Público no sentido de que paguem o seu crime em cadeia. Não podemos continuar vivendo em um país em que qualquer trabalhador pode ter sua geladeira arrestada por faltar a um compromisso de pequena monta, enquanto milhões de dólares, frutos da poupança do povo, são criminosamente depositados em bancos estrangeiros.

Uma das questões econômicas que o meu governo deverá enfrentar e resolver, é a da participação do Estado nas atividades empresariais.

Em muitos setores, entre eles o da energia, a presença do poder público é absolutamente necessária. Caberá ao governo administrar as empresas indispensáveis com rigorosos critérios de austeridade e eficiência e submetê-las a um controle partilhado com o Congresso Nacional.

Não sou dos que acusam as empresas estatais indiscriminadamente. Elas têm prestado inestimáveis serviços ao País, e muitas de suas dificuldades procedem de abusos conhecidos, entre eles o de crescimento de seus débitos no estrangeiro, a fim de captar divisas necessárias à rolagem da dívida externa.

Devemos privatizar aquelas empresas que puderem ser privatizadas. Mas jamais poderemos desnacionalizá-las. O controle acionário das privatizáveis ou a participação do Estado em joint ventures deverão, isso sim, transferir-se a investidores brasileiros.

Temos sempre repetido que não há República sem Federação. Um dos principais compromissos que assumimos com a Nação foi o de restaurar a autonomia dos Estados. O poder é tanto mais eficiente quanto mais distribuído. A médio prazo – e isso vai depender da nova Constituição –, deveremos ter um sistema de administração piramidal, de maneira que o Estado não assuma qualquer prerrogativa ou responsabilidade que possa ser assumida pelo município, e que a União não intervenha no que puder ser da competência dos Estados. A hipertrofia centralizadora da União, fruto do sonho ditatorial e totalitário do passado recente, não é apenas abuso contra a liberdade e o direito. É, sobretudo, uma tolice, do ponto de vista prático.

A restituição dos direitos federativos não significa que a União venha a eximir-se de sua responsabilidade pelo equilíbrio entre os Estados. Através de mecanismos especiais, caberá ao Poder Central promover a solidariedade, permanente ou eventual dos Estados mais ricos para com as unidades menos desenvolvidas e de tudo fazer para que se nivelem, no progresso comum, todas as regiões do País.

Sempre que me perguntam sobre a dívida externa, repito que honraremos os compromissos que, em nome do País, foram assumidos pelos nossos antecessores. Mas, da mesma maneira que ninguém retirará da boca do filho o pão para entregá-lo ao credor, não iremos resgatar os nossos títulos no exterior com a fome dos brasileiros. Haveremos de encontrar, com os nossos credores, a forma justa de liquidar os débitos. Eles também sabem que só produziremos se dispusermos de recursos para investir no interior do País. Nisso não me preocupo. Conto com a lucidez dos credores, que compreenderão o nosso direito de exigir prazos compatíveis e de recusar taxas escorchantes de juros.

Quando falamos em liberdade, entendemos o vocábulo em seu amplo significado. O homem deve ter a liberdade de viver onde quiser, de trabalhar como quiser e de exercer plenamente a sua identidade. Identidade é, mais do que os documentos de registro civil, a expressão da cultura de cada um. Sempre que não houver prejuízo para a comunidade, o homem tem direito à fé, ao culto, aos costumes que escolher. O Estado não pode intervir, por meio da censura ou da coerção policial, contra a expressão individual ou coletiva de uma identidade cultural particular, sempre que ela, repetimos, não signifique censura ou coerção contra o direito dos outros.

É assim que vemos o direito das minorias étnicas e religiosas e tudo faremos para que elas possam expressar-se sem qualquer constrangimento. Da mesma maneira, tudo faremos para que, sem coerção contra os que quiserem integrar-se na sociedade moderna, sejam protegidos os costumes, a cultura e a sobrevivência dos povos indígenas.

O Brasil tem a consciência de suas responsabilidades internacionais e busca cumpri-las, sem inibições e sem arrogância. As circunstâncias de sua formação histórica e de sua situação geográfica colocam-no como interlocutor privilegiado entre o hemisfério norte e o hemisfério sul.

Deus nos tem preservado de conflitos com outras nações. Integramos, no entanto, continente conturbado em áreas assoladas pela luta fratricida. Tais conflitos revelam, quaisquer sejam as bandeiras ideológicas que se alcem, o drama da pobreza, da espoliação e do medo.

Manteremos a posição da política externa brasileira: defesa intransigente da independência e autodeterminação dos povos, oposição ao uso da força nos conflitos internacionais e não intervenção. Da mesma maneira, seguiremos apoiando as Nações Unidas em seus esforços para eliminar os resíduos do colonialismo e as práticas infames do racismo em todo o mundo.

Dentro desse espírito tradicional do Itamaraty, apoiamos resolutamente o Grupo de Contadora, em seus esforços para a solução pacífica do problema da América Central.

Dentro de quinze anos estaremos ingressando no terceiro milênio. Estas passagens marcantes do tempo exercem poderoso fascínio sobre os homens, trazendo-lhes inquietações transcendentais. Temos hoje, como conquista da inteligência e do trabalho dos homens, fantástico futuro pela frente. A ciência, que nem sempre trilha o reto caminho, oferece ilimitadas possibilidades ao homem. A conquista do espaço, com as excursões às vastidões cósmicas, e a incursão do átomo, com a doma dos elétrons e o seu emprego na inteligência artificial dos computadores, reservam-nos poder de deuses.

Ao mesmo tempo, o mergulho no mistério biológico permite-nos controle genético cada vez maior, na seleção e aprimoramento de plantas e animais. Com todo o cuidado que devemos tomar, a fim de não violar a alma dos homens, nem ferir os núcleos mais profundos na natureza, tais técnicas servirão para multiplicar a produção de alimentos, necessários ao mundo que cresce.

Ao criar um ministério para cuidar dos assuntos da ciência e da tecnologia, tive a preocupação de assegurar e disciplinar os recursos destinados à pesquisa científica, de maneira a que o Brasil possa vencer a distância que o separa das nações mais adiantadas. Temos de dispor de tecnologia própria, se queremos assegurar a soberania nacional no futuro.

Brasileiros:

Esta é a hora mais importante de todas as que eu tenho vivido, e devo ocupá-la com humilde súplica a Deus. Queira Ele consagrar, com sua bênção, a imperecível aliança entre o governo que se inicia e a Nação que espera. Juntos, Nação e governo, haveremos de honrar o passado com a dignidade do futuro.

Chegamos a esta hora cavalgando todas as dificuldades. Há duas décadas interrompemos o paciente caminho que percorríamos, dentro da razão democrática, para sofrer tempos tormentosos. Mas as mãos anônimas do povo indicaram-nos, com o protesto e a esperança, a trilha democrática. Podíamos tomar de Malraux a imagem genial que serve a esta luta admirável: morriam as liberdades e de suas cinzas nasciam as forças que iam lutar por elas; prevalecia a prepotência e, sob suas sombras, iluminava-se nova resistência; organizava-se, sobre a aparente passividade do povo, o sistema fechado e cruel – e, no silêncio imposto, como no fundo da terra, plantavam-se as sementes da vontade popular.

Na luta contra as forças da sombra houve os que tombaram, os que conheceram o degredo e os que não aceitaram a humilhação dos poderosos, vencendo, com dignidade, a perseguição e a calúnia.
Os melhores filhos da Nação souberam resistir, na peleja de todos os dias, ocupando os reduzidos espaços da ação política, até que o povo inteiro, afastando o medo e recuperando o ânimo, irrompeu na força avassaladora das ruas.

Brasileiros:

O ministério que escolhi, dentro das forças políticas que me apoiavam, e tendo em vista o critério de representação regional do governo, é constituído de homens comuns. Busquei-os no Congresso, nas organizações partidárias e nas atividades profissionais. Sou responsável pelo seu desempenho diante do Congresso, e deles exigirei, como é de meu dever, pleno devotamento à causa do povo. A austeridade não deve apenas ser um vocábulo de efeito político, mas rigoroso compromisso do poder. O meu governo não oferecerá a nenhum de seus altos funcionários outra dignidade que não seja a honrada oportunidade de servir à Nação.

Teremos de colocar ordem imediata na administração econômica, combatendo, com denodo, a inflação. Há medidas, a médio e a longo prazo, indispensáveis ao saneamento financeiro e à boa ordem econômica, e que serão tomadas. Elas se relacionam com as opções internas de desenvolvimento e com rigorosa disciplina no comércio externo.

Brasileiros:

O Brasil que o povo hoje recebe e me confia é um país sitiado de todas as dificuldades. Não podemos ocultá-las. Meu governo não se exercerá nas sombras do medo, mas sob o sol meridiano da verdade.

A hora pede de todos patriotismo e coragem. Assumo, como é de meu dever constitucional, e da vontade do povo, o comando supremo das Forças Armadas. Elas são indispensáveis à defesa da Pátria. Nessa grave e honorável missão fizeram-se grandiosas, ao vencer os confrontos armados a que fomos impelidos pela agressão estrangeira. O seu heroísmo na manutenção das fronteiras históricas repetiu-se, além do continente, quando a humanidade nos convocou à cruzada contra o nazifascismo. Sua responsabilidade será cada vez maior, com o esperado crescimento da cobiça internacional sobre os nossos recursos naturais, e considerando-se a extensão de nossas lindes.

Ao heroísmo e à abnegação de nossos soldados, devemos acrescentar os indispensáveis meios de combate. O adestramento militar possibilita a eficiência da bravura, e os equipamentos modernos de luta são indispensáveis ao bom desempenho dos exércitos. Temos de preparar as nossas Forças Armadas para qualquer possibilidade de agressão externa.

Brasileiros:

Nada poderei fazer, senão aquilo que pudermos fazer juntos.

Reclamo dos trabalhadores vigilantes participação na vida nacional e conto com seu patriotismo na renegociação de um amplo pacto social que nos permita reordenar a economia do País.

Reafirmo meu apreço pelos empresários brasileiros que, enfrentando a desigual competição de consórcios multinacionais, têm preservado seus empreendimentos e mantido, com pesados esforços, o nível de emprego em suas fábricas. Sei que poderemos confiar em seu bom senso nas amplas negociações que vamos promover.

Contamos com o inconformismo das mulheres no esforço nacional para construir uma sociedade justa. Ninguém melhor do que elas, em sua sensibilidade e disposição de servir, convoca a consciência social contra as desigualdades.

A imprensa sabe de sua importância e de suas responsabilidades na vida democrática. Concito os homens de jornal, rádio e televisão a que exerçam seu patriótico dever de informar e não renunciem ao direito de denunciar o que, no governo ou fora dele, for contrário ao interesse do País. O melhor apoio ao governo é o que presta a imprensa livre, mas rigorosa na fidelidade dos fatos.

Faz vinte e um anos que as organizações estudantis, ponto de partida das vocações políticas, foram estranguladas pela repressão policial. Expressar o amor à Pátria significa participar de sua vida política. A Pátria merece este amor que podem expressar agora, sob os tempos democráticos. Quero, em meu governo, assistir à renovação dos quadros partidários, com a presença da juventude.

A Nação renasce porque está renascendo nos olhos dos moços. Refletindo-se em suas pupilas, as cores nacionais recebem aquele calor sagrado que torna as pátrias imperecíveis.

Brasileiros:

Começamos hoje a viver a Nova República. Deixemos para trás tudo o que nos separa e trabalhemos sem descanso para recuperar os anos perdidos na ilusão e no confronto estéril. Estou certo de que não nos faltará a benevolência de Deus.

Entendamos a força sagrada deste momento, em que o povo retoma, solenemente, seu próprio destino.

Juntemos as nossas mãos e unamos as nossas vozes para elevá-las à Pátria, no juramento comum de servi-la com as honras do sacrifício. Peço-vos que canteis, junto conosco, estejais onde estiverdes, o nosso Hino Nacional.


Viva o Brasil.


Fonte: Tancredo Neves:Tancredo Neves. Câmara dos Deputados. Centro de Documentação e Informação. Coordenação de Publicações. Brasília, 2001. p. 693-692

Presidente John F. Kennedy

Kennedy denuncia as sociedades secretas



Este discurso, seria aquele, segundo investigações, o que levaria a montarem uma conspiração para o seu assassinato! Nada de provas concretas, que não sejam suspeitas! Este foi um dos últimos discurso antes do assassinato!


     O Último discurso de John F. Kennedy - No dia Assassinato


O carro de Kennedy no momento do 
assassinato
O corpo do Presidente Kennedy



O líder negro Martin Luther King candidato a presidente dos Estados Unidos
Martin Luther King, líder da causa dos direitos civis nos
Estados Unidos, é morto com um tiro de rifle num hotel de Memphis.
A polícia caça um suspeito. O país entra em ebulição
Na cena do crime: King (o terceiro da esq. para a dir.) na sacada do Lorraine; um dia depois, ele morreria naquele exato local

O sonho radiante da conquista da liberdade, dos direitos civis reconhecidos e da harmonia racial nos Estados Unidos transformou-se num amargo pesadelo na tarde da última quinta-feira 4, em Memphis, no Tennessee. Martin Luther King Jr., de 39 anos, pastor batista e herói da luta dos negros americanos por igualdade, foi assassinado na varanda do segundo andar do Hotel Lorraine, onde estava hospedado. Laureado com o prêmio Nobel da Paz de 1964, o "doutor King", como era conhecido, conversava com integrantes de sua comitiva, pouco antes de sair para jantar, quando foi atingido no lado direito do pescoço por um único e fatal projétil de alto calibre, disparado de uma distância estimada entre 50 e 100 metros. A bala explodiu sua mandíbula e o arremessou contra a parede interna do edifício. King ainda foi levado para o hospital Saint Joseph, próximo dali. Menos de uma hora depois do brutal atentado, foi declarado morto. A polícia de Memphis, que ainda não identificou o atirador, está à procura de um homem de cerca de 30 anos, vestindo terno e gravata pretos, visto por testemunhas deixando as redondezas em um Mustang último modelo. O suspeito é branco.
Último discurso: 'Eu vi a Terra Prometida'
A chocante notícia do assassinato de Luther King causou tumulto em Memphis e levou o governador do Tennessee, Bufford Ellington, a convocar 4.000 homens da Guarda Nacional e impor um toque de recolher aos 550.000 habitantes da cidade - 40% dos quais são negros. Nas horas seguintes ao crime, 60 pessoas foram presas em Memphis. A agitação alastrou-se de imediato para outros 110 municípios americanos, nos quais foram registrados confrontos de civis com policiais, incêndios e saques a residências e comércios. O saldo de 39 mortos e mais de 2.500 feridos é o sombrio prenúncio de uma onda de violência racial que preocupa sobremaneira o governo de Lyndon Johnson. Num pronunciamento de televisão transmitido menos de uma hora depois do anúncio do assassinato, o presidente conclamou os americanos a rejeitar a "violência cega" que tirou a vida de King. "A divisão da população americana e o desrespeito à lei não nos levarão a lugar algum", observou Johnson, que no passado já havia recebido o líder negro no Salão Oval da Casa Branca.
Apelos semelhantes vieram de figuras eméritas e díspares da malha social americana. Roy Wilkins, diretor-executivo da National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), maior e mais influente organização de direitos civis dos Estados Unidos, afirmou que King estaria "ultrajado" com os tumultos. Robert F. Kennedy, ainda em campanha para a indicação do Partido Democrata à eleição presidencial, fez um discurso emocionado em Indianápolis, onde clamou pela união popular. "Neste momento tão difícil, devemos nos perguntar que tipo de nação somos e para que direção queremos seguir. Podemos optar pelo ódio, pela polarização entre brancos e negros; ou podemos fazer um esforço, como Martin Luther King o fez, para entender e compreender, e para trocar a violência, essa mancha de sangue que se espalhou por nossa terra, por um esforço de compaixão e amor." Até mesmo militantes mais radicais, como Charles "37X" Kenyatta, do Harlem, e Ron Karenga, de Los Angeles, subiram em carros de som a fim de dissipar a animosidade latente na comunidade negra. "Vamos nos manter calmos pelo doutor", diziam a seu público.
Fora do controle: policial ataca saqueador
Premonição - Por ironia, foi justamente a tentativa de manutenção da calma e da ordem que levou Martin Luther King de volta a Memphis na última quarta-feira, véspera do crime. Uma semana antes, o admirado ativista dos direitos civis, que presidia a Conferência Sulista de Liderança Cristã (SCLC, na sigla em inglês), estivera na cidade para liderar uma marcha em apoio à greve de 1.300 funcionários negros da limpeza pública por melhores condições de trabalho e salários decentes - paralisação que já durava dois meses, sem concessões do intransigente prefeito Henry Loeb. Trabalhadores de diversas áreas e estudantes aderiram ao movimento, que, no início do mês, já reunira mais de 25.000 pessoas para um sermão do próprio reverendo. Entretanto, no dia 28 de março, a selvageria tomou conta da mobilização, que saiu por completo do controle dos seus organizadores. Lojas do centro da cidade foram pilhadas e houve um violento confronto entre os manifestantes e a polícia. Duzentas pessoas acabaram presas, 62 ficaram feridas e um rapaz de 16 anos foi alvejado à morte.
De acordo com seus auxiliares, Martin Luther King, que planejava para o final de abril um ato em Washington em favor dos negros e brancos assacados pela pobreza no Sul do país - marco inicial de sua "Campanha das Pessoas Pobres", nova menina dos olhos do pastor de Atlanta -, chegou a pensar em não voltar mais a Memphis depois dos distúrbios. Entretanto, decidiu que era necessária uma nova aparição na cidade de modo a colocar em prática seu discurso, mostrando à população local que a não-violência era a melhor arma na luta pela justiça econômica e social. "Memphis será uma Washington em miniatura", declarou. Os dirigentes da SCLC dividiram-se, mas por fim aprovaram a viagem de seu presidente ao Tennessee, esperando apagar a imagem negativa deixada uma semana antes pelos grevistas.
Traslado do corpo: a caminho de Atlanta
O líder desembarcou em Memphis na manhã do último dia 3, num vôo da Eastern Airlines cuja decolagem do aeroporto de Hartsfield, em Atlanta, foi atrasada por conta de ameaças de uma bomba a bordo - um esquadrão canino vasculhou as bagagens, sem nada encontrar. O reverendo se hospedou no quarto 306 do modesto Lorraine, de um casal de proprietários negros, localizado próximo à famosa Rua Beale e ao Templo Mason, sede da Igreja de Deus em Cristo e ponto de partida e de chegada das marchas pelos grevistas. Ali, naquela noite, estava programado um sermão de Martin Luther King aos trabalhadores. Uma tempestade atingiu Memphis ao escurecer, e um público frustrantemente pequeno acompanhou o que seria o último discurso do ativista, em que parecia estar pressentindo a própria morte. King mencionou o episódio da bomba no aeroporto de Atlanta e assegurou manter a serenidade diante das ameaças constantemente dirigidas a ele.
"Cheguei a Memphis e alguns já começaram a lançar ameaças, ou comentar as ameaças que estão por aí, ou o que alguns irmãos brancos doentes iriam fazer comigo", começou ele. Em seguida, o premonitório anúncio. "Bem, eu não sei o que virá agora. Teremos dias difíceis pela frente. Mas isso não importa para mim agora porque eu subi ao topo da montanha. Não me importo mais. Como qualquer pessoa, eu gostaria de ter uma vida longa. A longevidade é boa. Mas não estou mais preocupado com isso agora. Quero apenas cumprir a vontade de Deus. E Ele permitiu que eu subisse a montanha. E lá de cima eu enxerguei. Eu enxerguei a Terra Prometida. É provável que eu não entre lá com vocês. Mas quero que vocês saibam esta noite que nós, como um povo, chegaremos à Terra Prometida. Por isso estou feliz esta noite. Nada me preocupa. Não temo nenhum homem! Meus olhos viram a glória da vinda do Senhor!"
A visão de um assassino: foi desta janela que partiu o tiro fatal contra o reverendo
Som de dinamite - No dia seguinte, Martin Luther King e outros membros da SCLC, incluindo seu amigo e confidente Ralph W. Abernathy, passaram o dia inteiro no quarto 306 do Lorraine, traçando estratégias para uma marcha prevista para a semana seguinte. Encerrada a reunião, já no final da tarde, o presidente tomou um banho e saiu do quarto por volta das 18 horas, vestindo terno preto e camisa branca. Seu motorista, Solomon Jones Jr., esperava a fim de levá-lo à casa do reverendo Samuel Kyles, onde o pastor seria recebido para jantar. Antes de chegar ao Cadillac, entretanto, King demorou-se cerca de três minutos na varanda do hotel, em frente ao quarto. Um de seus auxiliares, Jesse Jackson, estava no térreo, ao lado de um músico chamado Ben Branch, que se apresentaria à noite em um evento no Templo Mason. Jackson apresentou Branch ao "doutor", que fez um pedido ao intérprete: "Quero que você cante a música Precious Lord hoje. E cante bonito". Também do térreo, o motorista Jones aconselhou o chefe a colocar um sobretudo para proteger-se do frio.
Não haveria tempo, porém. Um estampido parecido com uma explosão de dinamite, segundo o relato de uma das testemunhas, fez todos os presentes se jogarem no chão - exceto Martin Luther King, arremessado contra a parede verde do hotel pelo impacto mortal do tiro de um rifle Remington calibre 30.06, aparentemente vindo da hospedaria do outro lado da rua. Com a parte inferior da face desfigurada, a vítima caiu à beira da porta, no centro de uma poça de sangue. Seus assistentes trouxeram toalhas para tentar estancar o ferimento. Foi tudo em vão. A ambulância do Corpo de Bombeiros demorou cerca de dez minutos e levou King ao Saint Joseph. Nada pôde ser feito. Os médicos declararam sua morte às 19h05, segundo reportou o porta-voz do hospital, Paul Hess.
Em Atlanta, Coretta King, mulher do líder negro, foi avisada do atentado pelo prefeito de Atlanta, Ivan Allen Jr., que providenciou um avião para levá-la a Memphis. Os dois já estavam no terminal de embarque quando chegou a confirmação do óbito. Sem forças, Coretta preferiu então retornar à modesta residência do casal, no bairro negro de Vine City, em Atlanta - para onde Abigail McCarthy, esposa do senador Eugene McCarthy e amiga de longa data de Coretta, também se dirigiu assim que soube da infausta notícia. Telefonemas de condolências não demoraram a aparecer. O senador Robert Kennedy foi um dos primeiros a ligar, e prontificou-se a mandar um avião para transportar o corpo de volta a Atlanta.
Jesse Jackson e King: uma conspiração?


O quarto 5 - Enquanto isso, na cena do crime, investigadores esquadrinhavam as redondezas, especialmente a hospedaria do outro lado da rua Mulberry. Junto à janela do banheiro coletivo, a polícia encontrou uma cápsula vazia. O que os investigadores acreditam ser a arma do crime, além de uma maleta e binóculos, foram recuperadas não muito longe dali. A gerente do estabelecimento, Bessie Brewer, apontou o hóspede que se registrou como John Willard como um provável suspeito. Além de ter aparência física muito semelhante à de um homem visto por testemunhas deixando o local rapidamente após os disparos, Willard pediu especificamente na recepção para ficar no quarto 5 - o que tem a melhor vista para o hotel Lorraine. Dois homens chegaram a ser detidos pouco depois do crime, mas acabaram sendo liberados em seguida. O escritório local do FBI, por meio do agente Robert Jensen, entrou nas investigações do assassinato, a pedido do procurador-geral Ramsey Clark.
Na opinião de um dos auxiliares do líder ativista, os investigadores não precisariam ir muito longe para encontrar o criminoso. Jesse Jackson, um jovem de 27 anos da Carolina do Sul que integra a diretoria da SCLC, não se cansou de insinuar aos repórteres uma possível conspiração oficial, com participação da polícia no atentado. Integrantes da comitiva de King garantem que, segundos depois do tiro, policiais armados com rifles, metralhadoras e capacetes começaram a chegar à área do hotel - oficiais bem diferentes daqueles que já estavam dando plantão no local, fazendo a segurança de King na cidade. "Não precisamos chamar a polícia. Ela estava aqui em segundos. Eles me perguntaram: 'De onde veio o tiro?' Eu disse, 'Atrás de vocês'. A polícia estava vindo de onde veio o tiro." Jackson e o resto do mundo anseiam pelo resultado das investigações, que apontarão o responsável por assassinar não apenas Martin Luther King Jr., mas também um pouco da esperança dos americanos.
Assassinato no Hotel Lorraine, Memphis