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22 de mai. de 2011

Apelidos

Por ser muito branca, a Sofia recebeu a alcunha de "Barata descascada". O Mário — que tem lábios para dentro — é mais conhecido como "Chupa ovo". O João, que cultiva uma barbicha rala e besuntada a óleo é chamado "João melado". Rita — muito chorona — foi apelidada de "Manteiga derretida".
Isso mostra que a maioria das alcunhas paulistas tem sua razão de ser, um significado que diz respeito a alguma mania ou característica física da pessoa apelidada. Prova do fato é o resultado da pesquisa realizada pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e da qual participaram nada menos de 80 alunas.

Os informantes foram localizados com relativa facilidade. Colecionado na ordem alfabética, o trabalho do paciente grupo trouxe parcela de contribuição aos estudos da literatura oral da classe média paulistana.

Selecionamos alguns dos apelidos usados na cidade de São Paulo e sua explicação, segundo a pesquisa do Conservatório dramático e musical, levada a efeito através da cadeira de folclore.


Açucareiro: Por estar sempre com as mão na cintura.
Alfinete sonoro: Locutor muito magro.
Ali-Babá: Porque é feliz nos negócios.
Avenca: Por gostar de sombra e água fresca.
Bigodinho de prata: Por ser muito convencido de seus bigodes.
Boca mole: Por falar devagar.
Boca rica: Por ter dentes de ouro.
Bola seis: Por ter careca rosada como a sexta bola da sinuca.
Boticão: Por ter dentes muito grandes.
Carijó: Por ser sardento.
Caxinguelê: Por estar sempre bêbado.
Chaminé: Por estar sempre fumando.
Chapadão: Por ter os pés esparramados.
Cheira céu: Por ser muito alto e ter o nariz arrebitado.
Chico lingüiça: Por ser muito alto e vermelho.
Coca-cola: Por ter cara enjoada.
Cochicho: Por falar muito alto.
Coringa: Por estar em toda parte.
Doce de leite: Por ser muito perfumado e cheio de não me toques.
Dragão dengosa: Por ser muito feia e enfeitada.
Esfinge: Por falar pouco.
Esponja: Por beber demais.
Gafanhoto: Por comer tudo que encontra.
Gazetinha: Por espalhar tudo que sabe.
Jóquei de elefante: Por ser muito grande e gordo.
Leão da metro: Por ter uma enorme cabeleira.
Maria mole: Por ser muito preguiçoso.
Meia-Noite: Por ser o último a deixar os bares.
Moringa: Por ter o pescoço comprido.
Nanquim: Por ser muito preto.
Novelo de lã: Por ser gorda e não ter cintura.
Pé gelado: Por não ter sorte.
Pudim: Por ser muito delicado e meloso.
Pula muro: Por andar a passos largos.
Semana santa: Por ser excessivamente religioso.
Serpentina: Por se requebrar ao andar.
Sim-sim: Por concordar com tudo.
Vassoura de piaçava: Por ter o cabelo duro.
Vinte e cinco de março: Por ser filhos de Sírios.
Vó de sarampo: Por ser muito amolante.
Zero um: Por ter um olho fechado.


Deise Sabbag
"Apelidos têm razão de ser" - Diário popular - São Paulo - 10 de janeiro de 1970.