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30 de mai. de 2011

31 de maio - Dia internacional contra o tabagismo - Primeira parte

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Num questionário que fizemos, com alunos do primeiro grau de duas escolas da cidade do Rio de Janeiro, em 1994, o qual acabou dando origem ao nosso livro eletrônico, a maior parte das respostas a essa pergunta foi : "nicotina e alcatrão". De tal forma essa idéia foi difundida, que acabamos por diminuir o problema.
É, galera, eu confesso que custo a entender mas, na verdade existem entre quatro a cinco mil (!!!) substâncias presentes em todo este processo. Por mais que já tenha estudado este assunto, sempre me assusto quando vejo estes números. Parece mesmo impossível !
Adaptando uma das frases do radialista Washington Rodrigues, o maior frasista brasileiro, para o meu estudo sobre cigarros, eu diria: "O Cigarro é o bicho da coleira preta, sem coleira!!".

A propaganda, dizendo que uma determinada marca de cigarros tem um zilhão por cento menos Nicotina e um ziriguidum por cento menos alcatrão, dá a impressão de que o lance está sendo resolvido desta maneira. Fica a idéia de que as indústrias, muito preocupadas com a saúde dos fumantes, encontraram uma fórmula de diminuir a quantidade destas "duas(?!?)" substâncias. Não caiam nesta não, cuidado com essa turma!


"Eu estou de férias,
porque os cigarros estão fazendo o meu trabalho..."


Este gráfico revela que dos 123 alunos do Colégio Andrews, entre 12 e 17 anos de idade, que responderam ao nosso questionário (em 1994), 50% deles acreditavam que as substâncias tóxicas existentes na fumaça do cigarros são nicotina e alcatrão. Em contra-partida, apenas 12 % optaram pela resposta correta (mais de 4 mil substâncias). Portanto, 88% dos garotos e garotas não tinham a menor idéia do grau de poluentes existentes. Até porque, o alcatrão não é uma substância.
É importante assinalar ser esta a faixa de idade em que se concentra a maioria dos que começam a fumar.
Os resultados desta pesquisa que realizamos, no Colégio Andrews, pelo Centro de Apoio ao Tabagista (CAT) em 1994, batem de forma muito semelhante com a pesquisa americana da ONG Tobacco Free Kids, feita em março de 2007, portanto, 13 anos depois da nossa. Lá, 79% dos 510 meninos e meninas entre 12 e 17anos entrevistados não souberam citar o nome de nenhuma outra substância tóxica da fumaça do cigarro além de nicotina e alcatrão. Entre os adultos, o resultado não foi muito diferente.
Entretanto, uma outra coisa também chamou a minha atenção: quando instigados a lembrarem-se de campanhas publicitárias de cigarros, a garotada lembrava-se o dobro de vezes mais em comparação com os adultos. Isto mostra que, do ponto de vista do esforço para banir o cigarro entre os jovens, o banimento da propaganda de fumo deve realmente ser fundamental. A publicidade de cigarros atinge principalmente os jovens. Para verem a pesquisa americana na íntegra, acessem o link do "What are you smoking?" (em inglês).

Assim como os estudantes parecem desconhecer os perigos do fumo, muitos governos, principalmente do terceiro-mundo, também parecem desconhecê-los. Os três maços de cigarros na parte superior da imagem acima são canadenses, aonde uma lei obriga os fabricantes a colocarem, com um imenso destaque, advertências sobre o fumo ( "o cigarro causa doenças respiratórias mortais", "o fumo pode te matar", "cigarros causam derrames cerebrais e doença de coração"). O maço de cigarro de baixo, é do Free, brasileiro, promovendo um festival de música. Que gracinha não é?

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Em 2002, nosso país assume uma atitude de vanguarda, criando uma lei federal que obriga os fabricantes a estamparem fotos mostrando um pouco da realidade do fumo, numa tentativa de acordar as pessoas.


Em 2003, o Ministro da Saúde Humberto Costa renova o seu comprometimento com o movimento antitabagismo brasileiro, a exemplo do seu antecessor, José Serra, apontando com uma nova série de fotos a serem colocados nos maços de cigarro fabricados no país. O objetivo, ao chocar, é o despertar da consciência que, associado às outras ações que têm sido implantadas, pode contribuir para o fumante perceber o tamanho da roubada que é fumar. A decisão de abandonar o fumo tem motivações as mais diversas e tomar contato com a realidade objetiva pode ser uma delas para milhões de pessoas escravas da ' tia nicota'.
Em geral, um bom número de pessoas que adquirem doenças relacionadas com o fumo, por diversas razões, desaparecem de nossas vistas. Se os adolescentes pudessem ver, com mais frequência, o que o cigarro pode fazer com um ser humano, certamente pensariam 489 vezes no assunto antes de tomarem a decisão de que vão começar a fumar. É uma das razões que fazem com que os profissionais de saúde fumem menos do que a população em geral.

Foto gentilmente cedida pelo Dr. Jacob Kligerman, Ex-diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer
..

Quando pergunto 'Fumar pra quê, meninas e meninos?', estou realmente falando sério... Usar tabaco não é uma brincadeira. Não é como sair na chuva sem guarda-chuva, como vocês fazem questão. Fumar é como um grave atentado terrorista contra si próprio. Nada do que o fumo possa fazer de bom (acalma, ajuda na concentração, etc.) pode compensar a destruição que causa. Por mais que seres involutivos queiram empurrar o tabaco pela goela de vocês, RESISTAM!!!! Não dêem mole pros caras!
E sugiro aos que entraram nesta roubada: busquem ajuda para 'sartar' fora!?! Valorizar a vida é um caminho simples que pode afastá-los do serial killer. Busquem evoluir, serem melhores pessoas, adquiram mais conhecimento, tentem ajudar mais aos outros, pois, tais atitudes podem tirar vocês da gira desta turma malvada.
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Amônia - uma das maldades do processo...

Cordel do Santini - Capítulo 7

Nicotina e alcatrão / aparências que enganam / enquanto os pulmões se danam / sem falar no coração / que deve ter palpitação / até do bolso que dá / chilique quando está / sentindo que se esvazia / e seu dono se vicia / em fumaça sem parar
Se tantas mil substâncias / aos jovens não assustam / culpa das ignorâncias / que tantas vidas nos custam




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Enquanto muitos estão pouco se lixando para o que estas milhares de substâncias ruins produzem nos seres humanos, também tem muita gente solidária que já discerniu o há para ser feito, como o nosso 'Embaixador brasileiro do surf', o maior ícone deste esporte no país, Rico de Souza, que generosamente cedeu para o nosso livro eletrônico estas imagens e um pequeno texto que traduz o que ele pensa sobre o fumo:

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Eu aconselho todos os jovens a não fumarem. Além de ser uma pratica nociva, que provoca doença em todos os órgãos vitais de nosso corpo, incomoda os outros.
Pelo que eu já vi, quando um adolescente começa a fumar, ele não tem idéia do que isto pode fazer com ele e de como vai ser difícil parar depois.
Para o surf, a capacidade aeróbica é extremamente importante. Quando se tem um melhor preparo físico, o atleta sente-se mais seguro, o que será fundamental quando precisar dominar um mar com condições adversas e com ondas maiores".

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"Fumar não tem nada a ver com o espírito do esporte”.

"Boas Ondas, Rico".


E não é que o nosso brother Rico, já com as estantes cheias de medalhas, não aprontou mais uma: está voltando ao livro dos recordes, o Guinness, ao ter ficado, em 16/nov/06, mais de 10 segundos sobre uma prancha de 8,05m.
AFP
Rico, após bater mais este recorde: "Mesmo com condições bastante adversas, estou muito feliz por conseguir quebrar mais um recorde e novamente entrar para o Guinness. O momento é de alegria. Enquanto esperamos pela homologação, vamos continuar a praticar o esporte e disseminar a paz"
Ave, Rico!

Estrutura da nicotina

A nicotina é um é um líquido amarelado e oleoso, responsável basicamente por duas coisas: dependência e vasoconstrição. Duzentos e vinte toneladas desta substância são consumidas por ano no mundo, fumadas, aspiradas ou mascadas.

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A fórmula molecular da nicotina data de 1843 - C10 H14 N2, sendo que a primeira síntese em laboratório ocorreu em 1904. No entanto, desde 1690, na França, a nicotina já era conhecida e era usada como inseticida na agricultura (inseticida de contato, de ingestão e fumigante). 
Portanto, saibam, logo de cara, que um fumante é alguém que está ligado a uma substância tão ruim que serve até para matar insetos.
Primeiro vamos tentar entender o que é essa dependência, de que falamos acima:
Existem substâncias que, após a pessoa entrar em contato com elas, às vezes por pouco tempo, criam laços, como se fossem companheiros muito antigos, dos quais se torna muito difícil (para muitos praticamente impossível) se livrar. Esta ligação pode ser extremamente forte e durar a vida toda da pessoa, que perde toda a capacidade de ser verdadeiramente livre.
Tem-se preferido, atualmente, usar o termo drogadicto, ao invés de viciado ou dependente químico, seja de qual droga estivermos falando. O termo adicção vem da época da escravatura, quando um escravo ficava devendo algo ao feitor. Dizia-se que ele estava "adicto ao seu senhor".

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Antigamente, brincava-se que um cigarro aceso era algo que tinha uma brasa numa ponta e um burro na outra.
Hoje, reconhece-se, claramente, que um cigarro aceso tem "uma brasa numa ponta e um escravo na outra!!".
As substâncias que geram adicção mais conhecidas são: nicotina, cocaína , heroína e álcool. Dos quatro, até por ser socialmente mais permitida, mas não só por isto, a nicotina pode ser considerada a mais forte neste sentido, aquela que é a mais difícil de abandonar. Não quero dizer com isto que aqueles, que infelizmente ficam dependentes da "coca", ou da heroína, tenham uma facilidade muito maior, e o que dizer do álcool ? Vocês já devem ter ouvido falar no AA (alcoólicos anônimos), uma idéia iluminada para ajudar pessoas dependentes de álcool. Esta instituição foi criada, justamente, para prestar maior auxílio aos que tentavam abandonar o alcoolismo sem sucesso.

Iraquianos de 9 ( com cigarro) e 12 anos (cheirando cola).
Esta imagem terrível também pode ser vista aqui, no Rio de Janeiro, com alguma frequência.
É bom não esquecermos dos "calmantes". Vou, inclusive, rechear este relato com um fato ocorrido comigo. Por acaso, durante um papo com um micreiro (adepto da informática), vizinhos de meus pais, na bucólica Miguel Pereira, cidadezinha do interior do estado do Rio de Janeiro, aonde nem sinal de trânsito existe, nem assaltos há, descobri que o segundo remédio mais vendido numa das grandes farmácias do lugarejo era um determinado calmante. Aliás, o quinto e o oitavo também (para matar a curiosidade de vocês, o primeiro era um remedinho em gotas para dor e febre de criança). Este informata prestava serviço para as farmácias da região, por isso dispunha das informações. Nossa civilização de final de século também está dependente de calmantes de toda a sorte, remédios para diminuir o nervoso, para dormir, para tirar a depressão, etc. Há muitos pais, mães, tios e avós de vocês que, há muito tempo, não sabem o que é encarar a vida sem comprimidos de Bromazepan, Lorazepan ou Diazepan.
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O perrengue todo está em nosso cérebro, principalmente num local chamado Núcleo Accumbens, que faz parte do sistema mesolímbico - dopaminérgico. O Locus Ceruleus, depois do contato com a tia Nicota, fica querendo sempre um cadinho mais, um cadinho mais, ficando doido de pedra quando não lhe dão e fissurado por uma nova tragada...
Um fumante dá 10 tragadas por cigarro. Portanto, por cada maço, o seu cérebro recebe 200 impactos de nicotina por dia, 73.000 impactos por ano. Nenhuma outra droga (cocaína, heroína, maconha) e nenhuma outra prática compulsiva (bingo, jogo do bicho, corridas de cavalos) tem tamanha frequência de ação sobre os neurônios.
Nosso cérebro é ainda um grande mistério, apesar de todos os avanços que julguemos ter alcançado. Estamos longe de compreender coisas como telepatia, sonhos premonitórios, sensações de dejá vú", meditação, possessão, etc. Algumas descobertas significativas são a existência de substâncias chamadas neurotransmissores, liberadas pelos receptores de nicotina. Existem diversos neurotransmissores conhecidos, fora uma infinidade de outros a serem identificados:
  • Dopamina _ dá uma gostosa sensação de alegria, felicidade, bem-estar e prazer. Além disto ajuda a reduzir o apetite.
  • Serotonina _ estimulante que dá coragem, bom humor e controla o apetite. Pesquisas recentes apontam que durante a adolescência cai a produção desse transmissor. Isso poderia ser mais um fator para que adolescentes buscassem no fumo, um repositor de Serotonina, para vencer a timidez, enfrentar as provas para ingresso na faculddade, descobrir a sua sexualidade, etc.
  • Noradrenalina _ ajuda no foco das coisas, incrementando a memória, a capacidade de concentrar-se e de pensar de forma elaborada.
  • Acetilcolina _ semelhante à Noradrenalina.
  • Vasopressina e Glutamato _ também melhoram a memória.
Se uma pesssoa resolvesse secar uma folha de alface e dela fazer um cigarro, poderia fumar por um longo tempo e, quando decidisse, não teria qualquer dificuldade para mudar de maluquice. Com o cigarro de tabaco a coisa é bem diferente. Uma vez que um(a) fumante tenha descoberto a fábrica de prazer, bem-estar, coragem, bom humor e raciocínio, não aceitará com facilidade buscar esse manacial de sensações boas de outra forma. Até porque, desconhece que outras formas existiriam para produzir dopamina, serotonina e que tais.
A nicotina engana muito. Ao primeiro contato (seja para aquele que nunca fumou ou, para quem está há algum tempo sem fumar), as reações são ruins : tonteiras, tosse, enjôos, vômitos e batimento lento do coração. São reações típicas de uma intoxicação.
O(a) bacana que insiste em fumar, passa então para uma outra fase,chamada de tolerância. É quando o organismo começa a se adaptar àquele tóxico e começa a não mais sentir os tais "efeitos ruins".
É a partir desta fase, que instala-se a dependência física e psíquica. Acreditem, isto ocorre muito mais rapidamente do que vocês podem imaginar. Para muitas pessoas, poucos dias ou semanas podem ser suficientes para torná-las dependentes "ad eternum", da presença de nicotina em seu sangue. Todo, mas todo mesmo, cuidado é pouco. A grande maioria dos adolescentes adictos à nicotina que entrevistamos, nos afirmaram que jamais acreditaram que ficariam presos à droga, como ficaram. E, menos ainda, que isto aconteceria com tamanha rapidez.
A dependência a qualquer das drogas que mencionamos lá em cima, tem como característica comum, o fato de que sem aquela substância correndo em suas veias, artérias, tecidos, glândulas e neurônios, a vida não tem a mesma graça e, durante atividades comuns, os sintomas vão desde uma irritação insuportável à apatia ou desinteresse completo.
Um relatório americano de 1988, pelo U.S. Surgeon General (o Ministério da Saúde americano), baseado em uma série de pesquisas estabeleceu as seguintes premissas:
  • cigarros e outras formas de tabaco são viciantes (adictivas)
  • a nicotina é a droga no tabaco que causa o vício
  • processos farmacológicos que provocam o vício ao tabaco, são similares à drogas, tais como, heroína e cocaína.
No entanto, queridos adolescentes, vocês sabem o que disseram os presidentes das sete principais indústrias de cigarros (os Big Tobacco) aos juízes americanos em 1994, quando foram chamados a depor em juízo? Declararam que nunca souberam que os produtos feitos com tabaco pudessem viciar e, muito menos, que seria a nicotina a responsável por esta adicção !?! Ao final do processo, lá nos Estados Unidos, ficou provado que eles sabiam dessa verdade há quase 50 anos e que omitiram isso do público consumidor e da sociedade em geral.

Apesar de afirmarem desconhecer que a nicotina criava dependência, plantaram, no Sul do Brasil, sementes americanas ilegais de um fumo com uma concentração ainda maior de nicotina, o TABACO Y 1. O que deveria ter sido um escândalo, foi prontamente abafado. Sementes banidas nos Estados Unidos foram semeadas entre nós...
O Ministro da Saúde à época, 1995, Prof. Adib Jatene, e o Dr. Marcos Moraes, então, diretor do Instituto Nacional do Câncer (INCa), tentaram ajudar, denunciando as indústrias de tabaco, afirmando que estaria sendo adicionada amônia ao fumo, para que houvesse mais liberação de nicotina.
Uma das coisas que mais contribui para a adesão à nicotina, é o acesso fácil à droga. Nenhuma outra droga existente pode ser encontrada tão facilmente no Brasil e em diversos países quanto a nicotina, apesar dos produtos de tabaco serem hoje considerados os mais danosos à saúde humana fabricados pelo próprio homem.
Máquina de vender cigarros numa rua japonesa

Querendo avaliar esta oferta de produtos de tabaco entre nós, resolvi que, num sábado, em Junho de 1998, iria fazer o trajeto de retorno do consultório para casa, caminhando ao longo de duas grandes vias, desde o início de Ipanema, até ao final do Leblon, aonde moro. Primeiro, na véspera, medi a distância, pelo odômetro do carro: 3.400 metros. No dia da pesquisa fui trabalhar de ônibus, contando voltar a pé, após o último cliente, o que foi feito. Bom, vou passar pra vocês os dados que levantei, OK? Ao todo, descobri 76 (setenta e seis !!) pontos de venda de nicotina (quer dizer, de cigarros, charutos, etc.). No comércio liberado de tabaco, me surpreendi com os maiores vendedores de nicotina: as bancas de jornais. Trinta e dois dos 76 pontos de venda são os populares "jornaleiros" ( 42% ). Confesso que não tinha esta idéia, sempre achei que eles vendessem apenas jornais, revistas e figurinhas do Pokemon. Bares / botequins / restaurantes / lanchonetes / lojas de sucos e (pasmei) até padarias, incrementam o negócio. Ainda pude encontrar nicotina à venda em 1 posto de gasolina, 2 supermercados, 1 camelô e numa boite.
Creio que é importante que vocês percebam que a oferta disseminada de nicotina (que prejudica qualquer tentativa de fiscalização) é totalmente prejudicial à vocês, por mais que a esta liberdade possa parecer legal. Em 3.400 mts., existem em apenas duas ruas (Visconde de Pirajá e Ataulfo de Paiva), SETENTA E SEIS PONTOS DE VENDA DE NICOTINA. Era preciso, portanto, andar menos de 45 metros para se abastecer da droga. Acreditem, nenhuma outra substância que cause dependência física e psíquica tem um acesso tão facilitado. Nem a danada da cachaça !! (aliás, por falar na cachaça, outro dia caminhava perto de casa pela manhã, acho que ia comprar pão, quando de um grupo de mendigos, emergiu um que, se dirigindo a mim aos gritos de "não pisa!!", "não pisa!!", me fez recuar assustado, temendo haver invadido alguma reserva, até entender que, o que ele singelamente desejava era que eu não destruísse uma guimba de cigarro que alguém havia acabado de jogar no chão).
Em diversas cidades européias a venda de cigarros só é permitida em TABACARIAS e garanto-lhes não haver uma tabacaria em cada esquina.
Em Janeiro de 1999, resolvi conferir qual o movimento que ocorrera, seis meses após a nossa primeira pesquisa nas duas principais ruas do Leblon e Ipanema. Desejávamos saber como havia evoluído o comércio de nicotina, já que haviam sido seis meses de informações alertando sobre os males do fumo, em praticamente toda a imprensa brasileira. Confesso a vocês, que não fora eu um sujeito entusiasmado (palavra grega que define aquele que é possuído por um Deus), a vontade que teria dado era a de sentar-me junto ao meio-fio de uma daquelas vias e decidir parar de tentar enxugar gelo, após haver enxugado as lágrimas. O número de pontos de venda de nicotina, ao invés de uma sensata diminuição, apresentava-se aumentado. Não eram mais 76, os pontos de venda, mas 81. Houve um crescimento de 6,5 % na oferta indiscriminada e criminosa de cigarros !!! Enquanto discute-se o tema tabagismo em todo o planeta, por aqui, bem nas nossas barbas, há um aumento na oferta da droga. As bancas de jornais estão ainda mais presentes, agora com 44 % do total de pontos de venda. Agora, precisa-se caminhar apenas 42 metros para adquirir os produtos de tabaco, produtos esses que matam, no mínimo, um drogadicto em cada dois.
Confesso à vocês, que em alguns destes momentos bate uma sensação de que não estamos mais ali, como profissionais de saúde, à beira dos leitos dos pacientes, para salvar vidas. Estamos ali para servirmos de testemunhas do descalabro e da imbecilidade reinantes...
BANCA DE JORNAL EM IPANEMA, RIO

Além do absurdo de venderem a droga nicotina, ainda são painéis para anunciar marcas de cigarro.
Em agosto de 2001, insistimos nessa coisa masoquista de ver como a destruição anda rápido. Refizemos a pesquisa nas mesmas duas vias avaliadas anteriormente e, como imaginávamos, houve novo aumento nos pontos de venda de nicotina. Em 2004, comprovando a tese de que tem gente que gosta de apanhar, lá fomos nós de novo, para constatarmos que os pontos de venda haviam passado para 95...

Quanto, em média, é preciso caminhar para comprar tabaco nas ruas Ataulfo de Paiva e Visconde de Pirajá, situadas na zona sul da cidade do Rio de Janeiro?
1998 76 pontos de venda apenas 44.7 metros
1999 81 pontos de venda apenas 41,9 metros
2001 89 pontos de venda apenas 38,2 metros
2004 95 pontos de venda
apenas 35,7 metros
O absurdo dos absurdos: 95 pontos de venda de droga, em 3.400 metros! É dose para javali enfurecido!

Como médico, pesquisador, cidadão e eleitor, sinto-me autorizado a solicitar:
SENHORES E SENHORAS LEGISLADORES e MEMBROS DO JUDICIÁRIO, POR FAVOR, MEXAM-SE !

Enquanto este capítulo foi lido, 5 brasileiros morreram por doença relacionada com o tabaco.

Se os Senhores e Senhoras Legisladores e Membros do Judiciário ainda não se sensibilizaram por este número estapafúrdio de mortes, vejam as recentes manchetes dos jornais do Rio de Janeiro:
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- Souza Aguiar corta 40% das cirurgias por falta de roupa, Jornal O dia, 17/jan/2005_ por falta de vestimentas esterilizadas no Centro Cirúrgico da maior emergência da América Latina, a do Hospital Municipal Souza Aguiar, 40% das operações são adiadas.
- Filho acusa hospital de negligência, Jornal O Dia, 17/jan/2005_ filho de paciente que faleceu na segunda maior emergência da cidade, a do Hospital Municipal Miguel Couto,  afirma que teve que comprar, para o atendimento do pai, de termômetros à fraldas descartáveis.
- Cardoso Fontes recusa pacientes, Jornal Extra, 21/jan/2005_ por falta de condições de atendimento, incluindo falta de macas e cadeiras, o setor de emergência do Hospital Municipal Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, encerrou os atendimentos para novos casos, exceto os de maior gravidade, referenciando a imensa maioria para a emergência do Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca.
- Funcionários e pacientes protestam com abraço no Hospital da Lagoa, Jornal O Globo, 20/jan/2005_ o abraço simbólico foi uma forma de protesto contra as más condições de trabalho a que estão submetidos os profissionais do Hospital Municipal da Lagoa, devido à falta de materiais como luvas e fios cirúrgicos, medicamentos, roupas de cama, kits de laboratórios para exames. O tomógrafo, o eletrocardiógrafo e a esteira ergométrica estão quebrados.
- Comida estragada no hospital, Jornal Extra, 16/dez/2004_ trinta e quatro pessoas, entre médicos, enfermeiros e acompanhantes de clientes do Hospital Municipal Cardoso Fontes foram intoxicadas por quentinhas servidas pela direção da Unidade, adquiridas para cobrir a inexistência de refeições feitas no prórpio hospital, devido à paralisação por  falta de pagamento à empresa uqe habitualmente é responsável por este abastecimento.
- Doentes sob ameaça de fome, Jornal Extra, 10/dez/2004_ sem receber, fornecedores diziam que iam suspender, no dia seguinte, as refeições de pacientes em hospitais da prefeitura...

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Sem cirurgias nem internações, Jornal Extra, 27/jan/2005_ Hospital da Lagoa manda pacientes para casa. Gerente médica alega falta de remédios e material.
- Sofrimento da espera se repete, Jornal Extra, 27/jan/2005_ Aposentado Porfírio Rodrigues ficou um ano na fila por cirurgia cardíaca e agora aguarda há dois meses por operação na carótida, no Hospital do Servidores do Estado: "Toda semana diziam que eu seria operado no dia seguinte e nada. Uma vez, cheguei a ser pré-anestesiado e cancelaram na última hora. A justificativa era sempre a falta de vaga na UTI. Entre abril de 2003 e maio de 2004, aguardou pela cirurgia de ponte de safena no Instituto Estadual Aloísio de Castro, até que desistiu e foi operado, em junho de 2004, no Hospital Geral de Bonsucesso.
- Hospital de Ipanema alega crise e decide suspender as internações, Jornal O Globo, 28/jan/2005_ O diretor-geral do Hospital Municipal de Ianema, Dr. Octávio Pires Vaz distribuiu um memorando determinando que novos pacientes não sejam admitidos na unidade até segunda ordem, citando "a grave situação em que o hospital se encontra" e suspendendo as cirurgias agendadas.
- Hospitais começam a parar, Jornal Extra, 28/jan/2005_ Unidades de Ipanema e Piedade cancelam cirurgias eletivas. Outros quatro reduzem atendimento. Segundo o presidente da Associação dos Médicos Residentes do Estado do rio de Janeiro (Amerej), "trabalhamos administrando o caos".
E para completar a trágica situação de nossa saúde pública, a manchete do Jornal O Globo não é tranquilizadora:
- Cesar lava as mãos, Jornal O Globo, 29/jan/2005_ O prefeito da cidade do Rio de Janeiro diz que nada pode fazer se União não aumentar verba para hospitais municipalizados. Em nota, o Ministério da Saúde teria afirmado que "a prefeitura não teria conseguido demonstrar técnicamente a necessidade de aporte de mais recursos para investimento nos hospitais municipalizados, que justifiquem o aumento do repasse".
Diante disto, não consegui parar de cantarolar um trecho do antigo sucesso da Blitz, entitulado "Você não soube me amar". Aliás, este título tem muito a ver com a forma com que muitas autoridades tupiniquins exercem a função para a qual nós os elegemos para exercer e ainda por cima pagamos para que este serviço seja (bem) prestado:

- Eu dizia que era ela e ela dizia que era eu!

Num cenário de tão devastadora realidade, como a estampada em nossos jornais diários, fonte de um nível de estresse inimaginável para os funcinários públicos  ligados à saúde da maioria da população, aquela que recorre às Unidades Públicas (certamente não aquelas às quais recorrem os Senhores e Senhoras legisladores quando adoecem), fumar, por ser a maior fonte de doenças existente, é totalmente desaconselhado...
Devemos, todos nós, reconhecer que um país com tantas dificuldades sanitárias, como as estampadas acima, precisa encarar a situação com mais preocupação e agilidade, assim como fazem países mais ricos, do porte dos Estados Unidos da América do Norte. Neste exato instante em que digito estas linhas, o Departamento de Justiça dos EUA, representando o povo americano, está num processo judicial em que cobra 280 bilhões de dólares à indústria do tabaco, acusando-a de haver cometido fraudes contra a população daquele país. E certamente por lá não falta lençol ou há comida estragada para ser servida aos funcionários e acompanhantes, nem as ambulâncias estão quebradas, ou o aparelho de Raios X parou, ou a pinça está 'quase consertada', ou "a sua cirurgia está adiada não sei para quando", etc...
Porquê, nos EUA, quem empurrou nicotina pela goela abaixo do povo americano está sendo devidamente processado e no Brasil, dos recursos escassos ou mal aplicados, o legislativo e o judiciário são tão tímidos? Será que os membros destes poderes não lêem os mesmos jornais que nós?

 
 
Os pontos de venda colocam, num mesmo visual, inocentes atrativos infantis (balas, biscoitos, chicletes, caramelos, etc.) e as diversas marcas do matador de gente
Eu não prego aqui uma cruzada contra estes comerciantes, pois, se eles assim agem, creio firmemente ser por dois motivos, até por acreditar piamente na bondade da alma humana: 
  1. A lei brasileira ainda permite este descalabro 
  2. Falta informação informação adequada, e em quantidade suficiente, sobre a gravidade do problema tabagismo.
Houve um grande erro de avaliação quando criou-se a lei federal proibindo a publicidade de tabaco em qualquer forma de mídia, exceto nos pontos de venda. A indústria é cheia de gente esperta, malandra pra dedéu, que saca longe o que tem que ser feito, mesmo que isto ajude as pessoas a irem para o céu. De repente, não mais que de repente, perceberam que já que não podem mais anunciar na mídia, apenas nos pontos de venda, tinham que criar milhares de pontos de venda novos e incrementar os que já existiam. Pois bem, meus amigos adolescentes, isto é o que está acontecendo. Este pessoal, é demais. Pena que estão ajudando a matar as pessoas, mas que eles são inteligentes, isto eles são. Nenhum deles deve conhecer a lei do Karma, mas eles são inteligentes. Agora, todo jornaleiro virou ponto de venda  e foi totalmente incrementado, tendo até a conta de luz de muitos deles sendo paga pela indústria e sob débito bancário automático. Reformas de padaria estão sendo feitas com ajuda da indústria do fumo, contanto que elas passem a vender cigarrinho além do pãozinho. Isto tudo seria muito engraçado, se o fumo não fosse a maior causa de morte evitável do mundo atual. O tabagismo foi um imenso erro da humanidade, um equívoco lamentável. Entretanto, nada justifica que continuemos a insistir nele, por mais atrasada que a nossa civilização pareça destinada a ser.
A impressão que tenho é que, após deliberarem sobre as novas estratégias de marketing, a turma da indústria deve ir para a happy hour rindo muito, tendo certeza de que idiotas não são seres raros na praça.

Não sei se vocês já utilizaram, alguma vez na vida, a palavra abstinência. Vou resumir aqui alguns sinônimos encontrados em dicionário de língua portuguesa: abstenção, castidade, continência, dieta, jejum, privação voluntária, moderação, renúncia, resguardo, sobriedade e suspensão.


Doutores em Saúde

A diferença entre parar com um vício e mudar um hábito, é como uma noite escura e um dia de sol. Por exemplo, se um de vocês vai para escola sempre pelo mesmo caminho, ao final de dias ou semanas estará criado um hábito. O hábito de pegar aquelas mesmas ruas para chegar àquele destino. Essa escolha se dá por por razões diversas, tais como, a menor possibilidade de ser assaltado, ter mais árvores, etc. No entanto, se você se interessar por aquela menina muito gata ou, aquele gato muito gato e, ela(e) morar numa outra rua e você quiser distraidamente passar, por acaso, na porta da casa dela(e), bem justo na hora em que ela(e) sai para escola, você vai ver como é fácil mudar aquele hábito. Não houve nenhum sofrimento, bastou dizer para si mesmo(a): "vou passar, sem querer, pela rua tal hoje". Não foi necessário colocar agulhas de acupuntura ou aplicar raios laser na ponta da orelha, entrar para um grupo de apoio, usar adesivos colados na bunda, tomar antidepressivos ou coisas que tais. Você simplesmente escolheu, livremente, o que queria fazer e mudou o hábito de pegar aquelas mesmas ruas.
Once upon a time, durante algumas semanas, fiquei totalmente habituado a só ouvir o CD Bicho Solto, do Djavan. Absolutamente, não conseguia ouvir outra coisa, estava até achando que havia ficado adicto ao Bicho, quando fui salvo por um som maravilhoso, emanado pela alma da Adriana Calcanhotto. Quando a canhotta estava começando a me escravizar, de forma preocupante, eis que me apresentam Mu Chebabi. Foi a minha libertação. Pelo menos temporariamente. Fiquei, irresponsavelmente, dançando com meu cachorro, ao som de sua 'Cleópatra': "que dia é hoje, que dia é hoje, já estamos muito perto do ano 2000...". Até que Matilda Kovak me ligue e desperte, fico com Chebabi.
O ser humano tem uma capacidade incrível de, em repetindo uma determinada ação, ficar muito ligado àquele hábito. Quando não existem substâncias químicas diretamente envolvidas, o próprio cérebro as produz.

 
Diversas escravidões estão sendo criadas dia após dia. Uma das mais recentes formas de adicção é a de assistir futebol ao vivo. Muitas pessoas, mas muitas mesmo, perderam a liberdade depois de ficarem adictas às transmissões de partidas de futebol ao vivo. Na Espanha, mulheres criaram a associação das esposas de expectadores de futebol ao vivo, para discutirem os seus problemas conjugais após seus maridos terem tornado-se totalmente dependentes da emoção dos jogos de futebol ao vivo. Deve ser realmente complicado, para um torcedor do Real Madri, deixar de ver o jogo do time de Kaká & Cia passando direto na TV, ou os do Barcelona trocarem o Messi por um almoço em família.
Para ficar dependente é relativamente fácil, porém, para largar um vício, o buraco é bem mais em baixo, como dizem os antigos. Uma vez que você se torne dependente de nicotina, por exemplo, dizer para si mesmo : "a partir de hoje, não fumo mais", não é tão simples quanto mudar de caminho ou trocar de CD.
Entre as primeiras tragadas, aquelas das tonteiras e tosses, e a instalação da dependência, várias coisas se passaram, em vários sentidos. Física e psicologicamente.
Leda Bouzas - Professora de natação da Equipe 8, da AABB-Rio.

A natação é um dos esportes aeróbicos mais completos. Ela faz você ter amigos, prolonga e dá qualidade à vida. A prática da natação traz benefícios incalculáveis para a saúde, inclusive, liberando as tensões, quando se está muito nervoso. Com isso, reduz-se o stress, temos menos doenças e até um sono mais tranquilo. Nadar, como vimos, é bem mais indicado para aliviar tensão do que o matador...
O QUÊ QUE EU POSSO SENTIR,
SÓ POR FALTAR UMA NICOTINAZINHA?
O homem sempre procura a felicidade tentando satisfazer seus desejos. Se um desejo é satisfeito, ele se sente feliz e, quando não é, ele se sente desanimado. Mas o problema é que o desejo é uma fogueira que queima com grande vigor, pedindo mais combustível o tempo todo. Um desejo leva a mais dez, e o homem se esgota tentando satisfazê-los. Ele precisa trocar esse caminho de desejos intermináveis pelo caminho do contenta-mento e da alegria internos.                                                        SATHYA SAI BABA
Aprendi a procurar a felicidade limitando os desejos, em vez de tentar satisfazê-los. J. S. Mill

Bom, uma vez que a dependência nicotínica já esteja devidamente instalada, a primeira e mais importante coisa que acontece, quando a pessoa fica sem a sua taxa habitual do alcalóide em seu sangue, é que vai dando uma vontade de fumar cada vez maior, a níveis, na maior parte das vezes, insuportáveis.
A nicotina tem uma chamada "meia-vida", isto é, um determinado tempo após o qual, o sujeito dependente tem que dar uma nova reposição para restabelecer o equilíbrio (?!?) anterior. Na maioria das pessoas, este tempo vai de vinte minutos à uma hora. Por exemplo, a pessoa acaba criando um tempo próprio, inconsciente, de fumar a cada 20 minutos. Quando dizemos inconsciente, quer dizer isto mesmo, que fuma-se naquele período apenas por necessidade, sem prestar-se atenção. Quando questionados, os fumantes confessam que de cada maço só uns poucos cigarros foram realmente degustados.
A imagem da publicidade dos cigarros Lucky Strike é um belo exemplo da nicotino-dependência, não tem hora para bater a fissura. Porém, como quase todos os adolescentes sonham em fazer barba, para sentirem-se mais velhos, porque não associar-se logo fazer-barba-ser-grande-fumar, tudo em uma fotografia só?
Pensando que das 24 horas do dia, passamos em média, oito delas dormindo, sobram portanto dezesseis de vida ativa. Aquele(a) que fuma num ritmo de 1 cigarro/hora estará consumindo praticamente um maço de cigarros por dia; o que dizer daquele(a) que se adaptou a 1 cigarro/20 minutos...
Há uma grande variação entre as pessoas, por motivos ainda não detectados claramente. Há as que acendem um cigarro com o anterior, e aquelas que podem ficar várias horas sem fumar sem aparente angústia. Há outras que quando vão dormir e percebem que os cigarros acabaram, pegam o carro e saem em busca de algum lugar que venda cigarros, por mais tarde que seja. Por outro lado, há as que só fumam em situações especiais, como em festas, etc. É um mistério. Hoje em dia há explicações inclusive genéticas para um fumante ter maior ou menor ligação com a nicotina. Infelizmente é impossível saber-se com antecedência que tipo de dependência cada pessoa terá.
Tem pessoas que precisam de apenas 2 a 3 miligramas de nicotina por dia. A média de consumo gira em torno de 20 a 30mg diários. Entretanto, há gente que chega a usar 80 mg / dia. Um grande sofrimento abateu-se, por exemplo, sobre uma senhora, Dona Madalena, já idosa, que consumia dez maços de cigarros em 24 horas

 
Dona Madalena, 10 maços de cigarros por dia, Enfisema pulmonar e Infarto do coração como consequência. Vida às custas de um CTI instalado em casa. Manteve-se com cigarros apagados entre os dedos e fósforos molhados. A sua filha, Alahyde, criou-lhe um site.
A publicidade influencia muito na ligação das pessoas à nicotina, seja a direta _ os anúncios de cigarros, seja a indireta _ quando, despretenciosamente, colocam-se figuras conhecidas usando tabaco em suas vidas cotidianas.
Revista QUEM, no. 179, 13/fev/2004
 
O galã, Fábio Jr., misto de cantor e ator, apresentado na capa da revista como "o galã mais desejado do Brasil", é mostrado fumando na capa e no interior da revista (de pijama). Este tipo de propaganda do fumo (só pode ser propaganda, pois, o cigarro não tinha qualquer relação com a matéria jornalística), é a pior para aqueles que estão tentando abandonar a nicotina ou para os que estão pensando sobre a possibilidade de entrar no tabagismo. Contra os anúncios ainda temos defesa consciente, porém, contra as mensagens subliminares é mais difícil. 
Na matéria da Quem, é ressaltado o seu poder de sedução e de macheza, inclusive com a reprodução de um insólito e muito instrutivo diálogo, que teria sido travado entre um espectador de um de seus shows e o próprio galã tupiniquim: "Um cara gritou: 'Pra mim você é viado!' Eu respondi: 'Ah, é, meu filho? Então deixa a sua mulher 24 horas comigo para ver se ela volta para você!". Do ponto de vista da saúde pública, associar-se tamanha manifestação de vigor sexual ao ato de fumar pode ser catastrófico. A imagem do galã de pijama, aparentemente preparando-se para saciar mais uma de suas fêmeas, ou tendo acabado de abatê-la, tragando prazerosamente o serial killer, derruba todas as mensagens anti-fumo que poderíamos criar para conscientizar os adolescentes sobre a babaquice que é fumar.
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A mesma imagem fumacenta nos passa o mais amado compositor brasileiro da minha geração, Chico Buarque.
Bom, por enquanto, o que se sabe, sem dúvida, é que tudo está relacionado com a taxa de nicotina no sangue circulante da pessoa. Respeitando-se as particularidades individuais, por exemplo, tem aquela que não fuma pela manhã ou, só depois de tomar café; existe a outra que precisa fumar imediatamente antes de dormir. Retirando-se estas particularidades, cada uma delas acaba tendo a sua quantidade ideal (!?) de nicotina para as suas 24 horas.
"Está enlouquecido?" "Não. Acabou o cigarro!"
A nicotina e seus derivados, são eliminados rapidamente pelos rins, junto com a urina: 40% em 3 horas, 85% em 6 horas e totalmente em 16 horas.
Existem situações especiais em que este ritmo pode se alterar mas, ainda assim, dependente da taxa de nicotina no sangue. Um dos casos mais comuns, é o da pessoa-fumante que está ingerindo bebida alcoolica:
"quando se fuma, a fumaça aspirada vai no sentido boca > traquéia > brônquios > alvéolos > vasos capilares (que tem este nome por serem finos como fios de cabelos), aonde enfim alcança o sangue. A partir deste ponto, a nicotina circula por todo o corpo, via sangue. Na passagem pelos rins, uma parte desta nicotina é eliminada, na urina, já com o nome de cotinina."
Continuando, o fumante, ao ingerir bebidas com teor alcoólico, altera o potencial Hidrogeniônico (pH) do seu sangue, com isto eliminando rapidinho a nicotina pelos rins, o que foi demonstrado dosando as taxas de cotinina na urina de indivíduos, antes e depois de terem ingerido álcool. Aí, o que acontece: durante o tempo em que aquele porre se avizinha, o(a) bacana começa a fumar um cigarro atrás do outro, desprezando totalmente aquele seu ritmo, inconsciente, mas que era o seu, de fumar a cada vinte minutos ou uma hora e, passa a aumentá-lo, chegando até mesmo ao exagero de acender um cigarro na brasa da guimba do outro anterior
Ilustração de Lobo
 
Mistura diabólica _ cigarro e bebida alcoólica
O aumento da necessidade de nicotina passa a ser tão flagrante, que muitas vezes vemos a pessoa acender um cigarro quando ainda havia outro aceso no cinzeiro, em parte por estar devidamente bêbado, mas também por total descontrole nicotínico.
Até aí, tudo bem (!?!). Será só uma ressaca piorada, com os efeitos da mistura maquiavélica de álcool com cigarro. O problema vem mesmo, quando decide-se não mais repor a nicotina perdida...

FALA LOGO, E QUANDO RESOLVE-SE
NÃO REPOR A NICOTINA ?

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Ilustração de Kamil Yavuz ©- Turquia
 Primeiro, as indústrias iriam reclamar muito...
Desde aquela vontade de fumar que o "cheio de birita" resolve fumando mais, como vimos no capítulo anterior, para aquela que começa a aparecer quando a pessoa decide não mais inalar nicotina, não há diferença no início, com o passar das horas é que o problema acontece.
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 O corpo e, principalmente, o cérebro, vão pedir nicotina. Não pensem que é fácil enganá-los com balinhas, drops, cenourinhas, etc. Eles sabem o que é a nicotina. Eles custaram um pouco, toleraram-na e agora só querem saber dela, digamos, a cada meia hora.
Nas primeiras meias-horas, com o(a) valente cheio de energia, daquela que move os heróis e as heroínas, as sensações são até agradáveis, tipo: " é comigo mesmo ! ", ou, " sou mais eu ! ", ou, " sou forte, não seria uma nicotinazinha que iria me derrotar ", ou, " aquele médico não tava com nada, quando dizia que poderia ser difícil ", ou " fulaninho é que é um fraco, olhe como foi fácil ", ou, " que grande decisão tomei, cuidar mais de mim ", ou, " bem que me disseram que esse mantra era poderoso ", ou, " o sangue de Jesus tem poder ", ou, blá,blá,blá,... ".
Enquanto isto, a taxa de nicotina começa lentamente a baixar. A cada meia hora ela desce um pontinho...
Para alguns, já mesmo no primeiro dia, a síndrome da abstinência nicotínica começa a dar seus sinais. Para outros, ainda é possível se vangloriar por mais algumas horas ou dias.

O fumante fuma só porque quer ?
Luíz Dutra Jr._10 anos
A influência sobre o(a) fumante é sinistra...
O primeiro sinal da síndrome é que, a partir de um certo momento (muito pessoal, que varia demais, de pessoa para pessoa), aquela vontade de fumar, que se tinha normalmente, vai ficando insuportável. A vontade de fumar torna-se absoluta, total. Não se tem vontade para mais nada, por mais interessante, apetitoso, lindo ou qualquer outro adjetivo que possa ter alguma outra coisa que esteja sendo oferecida para apagar " aquela vontade ".
Até aí, o herói ou a heroína conseguiu suportar (se não, não seriam dignos deste título) mas, a dita síndrome continua a fechar o cerco. Surge então a famosa irritação. Tudo passa a irritar (não à garganta e aos brônquios, pois, estes já estavam por demais irritados pela fumaçada crônica!!). É uma irritação mental e emocional que, a cada meia hora, tende a crescer. No início com coisas razoáveis de se irritar mas, rapidinho, por qualquer besteira. Tudo passa a ser motivo de grande irritação.
O quadro já começa a inspirar cuidados: a vontade de fumar está aumentando e, ao invés de se estar calmo para lidar melhor com esta situação (requisito básico de qualquer herói ou heroína em momentos decisivos), entra-se num " nervoso " de dar dó.
Vocês, por acaso, já estiveram com alguém num período destes?
A nicotina está começando a ganhar a guerra...
Não satisfeito, se o organismo ainda suporta esses traumas, vem uma avalanche de sintomas, como : ansiedade, tristeza, depressão, insônia ou sonolência.
Pode ocorrer uma tremenda perda de concentração para as mais simples atividades. Uma cliente nossa, por exemplo, esqueceu de pegar o filho na aula de judô, durante a fase inicial de sua síndrome de abstinência. Deixar panela no fogo, é café pequeno nestas situações. É muito descrita a sensação de cabeça ôca.
Além, é claro, daquele conhecido filme dos assaltos às geladeiras e balcões de lanchonetes, com o consequente ganho de peso que tanto preocupa homens e mulheres, vaidosos ou não.
Infelizmente, a maioria sucumbe, não aguenta e volta a fumar. Mesmo após passar, às vezes, por um longo período de sofrimento. Normalmente, engana-se com o famoso: " é só unzinho, depois eu paro de novo... ", ou então, " na segunda-feira, não tem erro... ", ou, " nas próximas férias, com a cabeça mais fresca... ", ou, " depois que passar este problemão que estou vivendo... ", ou, " foi tão fácil ficar esses três dias sem fumar... Vou fumar só mais uns dias antes de parar definitivamente. Foi moleza !! ", ou, " preciso me respeitar mais, ainda não chegou o momento, não vamos forçar a natureza ". Já era, a nicotina venceu mais uma vez !!
Tem até uma piada antiga, atribuída ao escritor Mark Twain: " parar de fumar é a coisa mais fácil do mundo, eu já parei mais de cem vezes ".
Muitos não passam por estes dissabores, alegam, pura e simplesmente, para si mesmos e para os antitabagistas das redondezas que, fumam porque isto lhes dá prazer (!?!). Com estes, nada há a fazer, no momento. Não o provoquem !
Uma experiência bem didática que sugiro que vocês façam, para constatarem o que vem sendo dito, é a de esconderem o único maço de cigarros de um fumante e, observarem as suas reações. Vocês verão como será difícil para ele ficar sem aquela " fonte de prazer ". Não encarem isto como uma sessão de sadismo e sim, como uma experiência científica, destas que vocês fazem na escola. Contudo, não levem o amigo fumante ao seu extremo limite pois, como poderão observar, sua tendência será a de tornar-se bem agressivo, correndo risco, inclusive, a própria amizade. É fundamental perceber a diferença entre o que é a busca legítima pelo prazer e, o que é pura e simplesmente o vício (de fumar, por exemplo).
Livre para fumar ou parar, campanha dos cigarros Free.
Contando com a ajuda da nicotina, fica fácil fazer blá, blá, blá, para tentar livrar-se de futuros processos judiciais e para sair bem na foto. As pessoas até podem ser livres para optar, porém, eles sabem que só três por cento conseguem sem tratamento. Eles sabem disto muito bem. A verdadeira questão de ser free (livre) é não entrar na escravidão do tabagismo agora, na idade de vocês, adolescentes.
Um trabalho muito interessante feito há alguns anos, mostrou que existem quatro situações que podem praticamente anular os sintomas da síndrome de abstinência, a saber : a entrada para algum tipo de seita religiosa, a entrada para algum grupo de prática de esportes competitivos, a notícia de estar grávida e, por último, receber do médico a notícia de que corre risco de vida (e, que seja fundamental para tentativa da sua salvação, largar o vício). Chamamos a atenção, em relação a estes tópicos, que não se trata de uma regra mas, de uma constatação estatística.
Um colega de bairro, Leblon, e escritor famoso, imortal da Academia Brasileira de Letras, João Ubaldo Ribeiro, de quem sou tão admirador que, quando conversamos, duvido que me torne minimamente compreensível, de tal forma me desarticulo verbalmente de nervosismo inconfesso. Não riam. Vocês já estiveram frente a frente com alguém de quem vocês são tietes ? Não é fácil. Vejo, no bar do Chico, o Tio Sam, a naturalidade com que seus colegas de mesa, e de papo, o tratam. Quando tomo coragem para lhe emitir alguns monossílabos, pareço estar me preparando para fazer um discurso que irá , ou teria a pretensão de, mudar radicalmente o mundo. Não é mole. Um ídolo jamais deveria morar no seu bairro. Aliás, estou me preparando para em nosso próximo encontro, talvez na saída do colégio dos meus filhos, perguntar a ele se, como eu, teve vontade de chorar ao ver que uma das últimas livrarias do Leblon tinha virado a sua trigésima farmácia (sobraram apenas a Livraria Argumento, a Contra Capa e a Dantes. E, que Deus as proteja...). O importante, neste caso, são as suas crônicas escritas para o jornal O Globo, na época em que ele narra as suas tentativas de parar de fumar e deixar de precisar repor a nicotina. Eis, portanto, um trecho de uma destas crônicas, que me foi autorizado pelo autor reproduzir, entitulada:
"Deixando de fumar - Capítulo MDXXXI..."
"... Fico imaginando meu necrológico, já que provavelmente terei um, nem que seja pronunciado por um confrade amigo da Academia, no momento em que estiver sendo baixado ao Mausoléu dos imortais. Escritor, romancista e tal e coisa, abandonou repentinamente suas atividades aos 55 anos, para dedicar o resto de sua existência a deixar de fumar. Suas últimas palavras, já no leito derradeiro, foram: _ SERÁ QUE CONSEGUI ? Como ninguém certamente as responderá, já que meu leito derradeiro provavelmente será a enxerga de uma UTI e o anúncio de meu passamento um apito de um aparelhinho e, de qualquer forma, ninguém compreenderia os balbucios de uma boca entupida de tubos, JAMAIS SABEREI ".
Queridos amigas e amigos adolescentes, envio-lhes todo meu amor e o meu trabalho, para que vocês não entrem nesta furadíssima. Começar a fumar, é um trilhão de vezes mais fácil do que parar...
Na mesma época em que ouvi Djavan cantando uma de suas composições, chamada Nem um dia, estava tratando de um cliente para abandono do fumo. Vivíamos juntos a sua experiência e sofrimento. Subitamente, apropriei-me da idéia e inspiração djavaniana e senti a música como a melô da síndrome da falta de nicotina, do disco Djavan ao vivo:
"Um dia frio / Um bom lugar pra ler um livro / E o pensamento lá em você / Eu sem você não vivo.
Um dia triste / Toda fragilidade incide / E o pensamento lá em você / E tudo me divide.
Longe da felicidade / E todas as luzes / Te desejo como ao ar / Mais que tudo.
És manhã na natureza das flores / Mesmo por toda riqueza dos sheiks árabes / Não te esquecerei um dia / Nem um dia.
Espero com a força do pensamento / Recriar a luz que me trará você / E tudo nascerá mais belo. O verde faz do azul com amarelo / O elo com todas as cores / Pra enfeitar amores gris.
Para ajudar neste processo duro de abandonar o matador de gente, a metodologia dos 12 passos dos Alcoólicos Anônimos (AA) foi adaptada há alguns anos, sob a denominação de fumantes anônimos...
A indústria farmacêutica também tem esforçado-se para produzir tratamentos que possam ser eficazes na ajuda aos pacientes a ficarem sem fumar, portanto, sem nicotina. Outro dia, surpreendí-me ao ver NICOPATCH (um adesivo de nicotina) patrocinando um time da França de futebol, o Toulouse. Que vitória do movimento francês contra o fumo.

Apesar de toda a informação existente, os principais dirigentes das indústrias americanas de fumo afirmaram perante um tribunal que acreditavam que a nicotina não gerasse dependência. Foram todos condenados por perjúrio, por mentirem diante da comissão do congresso americano: eles disseram "I believe that nicotine is not addictive (Eu acredito que a nicotina não provoque dependência)".


Entrevista do Dr. Michael Thun, da Sociedade Americana contra o Câncer, à Rede NBC, sobre como a indústria do tabaco age para aumentar a capacidade de gerar escravos aos seus produtos (19/jan/2007).