Como funciona o sangue
Por Carl Bianco, MD - traduzido por HowStuffWorks Brasil
Quando você se corta sem querer, já parou para pensar do que é composto isso que chamamos de sangue? O sangue é a parte do corpo humano que mais passa por testes. Cada célula do corpo obtém seus nutrientes do sangue.
Neste artigo, vamos saber mais sobre o sangue, o que irá lhe ajudar a entender melhor o que seu médico está dizendo quando lhe explica os resultados dos seus exames de sangue. Além disso, você vai aprender coisas incríveis sobre esse líquido maravilhoso e sobre as células que flutuam por ele.
O sangue é uma mistura de células e plasma. O coração bombeia o sangue pelas artérias, vasos capilares e veias para fornecer oxigênio e nutrientes a todas as células do corpo. Ele transporta os dejetos das reações que acontecem nas células.
Foto cedida CDC
Profissional da saúde tirando uma amostra de sangue de um paciente
O corpo humano de um adulto contém aproximadamente 5 litros de sangue, cerca de 7 a 8% do peso corpóreo. O sangue é composto por 2,75 a 3 litros de plasma e a porção restante é composta por células.
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O plasma é a parte líquida do sangue. As células sangüíneas, como as células vermelhas, flutuam no plasma. Também dissolvidos no plasma estão os eletrólitos, nutrientes e vitaminas, absorvidos pelo intestino ou produzidos pelo corpo, hormônios, fatores coagulantes e proteínas, como a albumina e imunoglobulinas (anticorpos que lutam contra as infecções). É o plasma que distribui essas substâncias enquanto circula pelo corpo.
Já a parte celular do sangue contém as células vermelhas (hemácias), células brancas (leucócitos) e as plaquetas. Elas possuem funções distintas: as hemácias transportam o oxigênio que chega pelos pulmões, os leucócitos auxiliam no controle das infecções e as plaquetas são fragmentos de células que o corpo usa na coagulação.
Células vermelhas
A função principal das células vermelhas é transportar oxigênio dos pulmões até as outras células do corpo. Elas conseguem fazer isso porque possuem uma proteína chamada hemoglobina, que é a responsável por transportar o oxigênio.
Nos capilares, o oxigênio é liberado e pode ser usado pelas células do corpo. É a hemoglobina que carrega 97% do oxigênio que chega aos pulmões e é transportado pelo sangue, enquanto os 3% restantes são dissolvidos no plasma. Graças à hemoglobina, o sangue pode transportar de 30 a 100 vezes mais oxigênio do que poderia ser dissolvido no plasma se elas não existissem.
A hemoglobina se associa livremente com o oxigênio nos pulmões, onde o nível de oxigênio é bem alto, para depois liberá-lo nos capilares, cujo nível de oxigênio é baixo. Uma molécula de hemoglobina contém quatro átomos de ferro, cada um deles podendo se ligar a uma molécula de oxigênio, que é formada por dois átomos de oxigênio, na fórmula O2,, o que dá um total de quatro moléculas (4 * O2) ou oito átomos de oxigênio para cada molécula de hemoglobina. Lembra que falamos que as hemácias são as responsáveis pela coloração vermelha do sangue? Pois é, para sermos ainda mais específicos, o responsável por isso é o ferro existente na hemoglobina.
33% de uma hemácia é de hemoglobina. A concentração normal de hemoglobina no sangue é de 15,5 gramas por decilitro nos homens e 14 gramas por decilitro nas mulheres. (Um decilitro são 100 mililitros ou um décimo de um litro.)
Além de transportar o oxigênio para as células do corpo, os eritrócitos também ajudam a remover o dióxido de carbono (CO2). Esse se forma nas células como um subproduto de várias reações químicas, vai para o sangue pelos capilares e é trazido de volta aos pulmões, onde é liberado e expirado por nós na respiração. As hemoglobinas têm uma enzima chamada anidrase carbônica, que ajuda a reação entre o dióxido de carbono (CO2) e a água (H2O) acontecer 5 mil vezes mais rápido. O resultado dessa reação é o ácido carbônico, que, por sua vez, se separa em íons hidrogênio e íons bicarbonato:
Anidrase carbônica Dióxido de carbono + água ==> ácido carbônico + íon hidrogênio + íon bicarbonato Os íons hidrogênio posteriormente se combinam com a hemoglobina, enquanto os íons bicarbonato entram no plasma. 70% do CO2 é removido do nosso corpo dessa forma, 7% do CO2 é dissolvido no plasma e os 23% restantes se combinam diretamente com a hemoglobina (sem passar pela reação com a água) e são liberados nos pulmões.
Todas as células sangüíneas são produzidas na medula óssea. Quando somos crianças, a maioria dos nossos ossos produz sangue, mas conforme vamos envelhecendo, essa produção vai passando somente para os ossos da espinha (vértebras), esterno, costelas, bacia e pequenas porções do braço e da perna. A parte da medula óssea que continua a produzir células sangüíneas recebe o nome de medula vermelha, enquanto o restante da medula óssea é chamado de medula amarela. O processo pelo qual o corpo produz sangue é a hematopoese.
Todas as células sangüíneas (vermelhas, brancas e plaquetas) originam-se do mesmo tipo de célula, a célula tronco hematopoiética pluripotencial. Esse grupo de células tem o potencial de formar qualquer um dos diferentes tipos de células sangüíneas e de reproduzir a si própria. Posteriormente, forma células tronco prontas para criar os diferentes tipos de células sangüíneas.
Durante a formação, as hemácias acabam perdendo seus núcleos e deixam a medula óssea como reticulócitos, que ainda contêm alguns restos de organelas. Mas essas organelas, eventualmente, deixam a célula e o eritrócito maduro é formado. Os eritrócitos duram uma média de 120 dias na corrente sangüínea e são removidos por macrófagos no fígado e no baço.
Os responsáveis pela regulação da produção de células vermelhas são o hormônio eritropoietina e níveis baixos de oxigênio. Qualquer fator que diminua o nível de oxigênio no sangue, como doenças pulmonares ou anemia (número baixo de hemácias), aumenta o nível de eritropoietina, que estimula as células tronco a produzirem mais células vermelhas e aumenta a rapidez com que elas maturam. 90% da eritropoietina é criada nos rins. É por isso que quando os rins são removidos ou quando a pessoa apresenta insuficiência renal, ela se torna anêmica: ocorre a falta de eritropoietina. E, finalmente, outros componentes essenciais para a produção de células vermelhas são o ferro, vitamina B-12 e ácido fólico.
Os neutrófilos, eosinófilos e basófilos também são chamados de granulócitos por possuírem grânulos com enzimas digestivas. Os grânulos dos basófilos são roxos, os dos eosinófilos são laranjas e vermelhos, e os dos neutrófilos têm uma coloração rosa-azulada fraca.
Os neutrófilos são uma das principais defesas do corpo contra as bactérias, que eles matam pela ingestão (esse processo se chama fagocitose). Os neutrófilos podem fagocitar de cinco a 20 bactérias durante suas vidas. Seu núcleo é polimorfonuclear (possui vários lóbulos e é segmentado) e, por isso, são chamados de PMNs. Além dos neutrófilos completos, também há neutrófilos imaturos vistos no sangue. Quando uma infecção causada por bactérias acontece, os exames detectam um aumento dos neutrófilos maduros e imaturos.
Os eosinófilos, por sua vez, matam parasitas e desempenham um papel nas reações alérgicas.
Já os basófilos ainda não são muito compreendidos, mas sabemos que trabalham nas reações alérgicas liberando histamina, que faz os vasos sangüíneos vazarem e atrai os leucócitos, e heparina, que impede o coágulo da área infectada para o leucócito poder chegar até a bactéria.
Os monócitos entram no tecido, onde ficam maiores, transformam-se em macrófagos e são capazes de fagocitar bactérias, até 100 durante toda sua vida, existentes em todo o corpo. Além disso, também são eles que fazem o trabalho de destruir as células mortas, danificadas ou velhas do nosso corpo. Podemos encontrar um macrófago no fígado, baço, pulmões, nódulos linfáticos, pele e intestino. Esse sistema de macrófagos que existe espalhado pelo corpo se chama sistema reticuloendotelial.
Os neutrófilos e os monócitos usam vários mecanismos diferentes para se aproximar e matar os organismos invasores. Eles possuem a interessante capacidade de se espremer pelas aberturas dos vasos sangüíneos em um processo chamado de diapedese. Além disso, movem-se pelo corpo usando movimentos semelhantes aos de amebas e são atraídos por certos compostos químicos produzidos pelo sistema imunológico ou pela própria bactéria, o que faz com que migrem para as áreas onde há uma maior concentração desses compostos químicos. O nome do processo de ser atraído ou repelido por compostos químicos se chama quimiotaxia. E o processo que eles usam para matar as bactérias, como já dissemos, é a fagocitose, no qual eles cercam toda a bactéria e a digerem usando enzimas digestivas.
Já os linfócitos são células complexas que controlam o sistema imunológico do corpo. Os linfócitos T (células T) são responsáveis pela imunidade mediada por células. Os linfócitos B, por sua vez, são responsáveis pela imunidade humoral (produção de anticorpos). E quanto à proporção, as células T compõem 75% dos linfócitos. Algo que diferencia os linfócitos dos outros glóbulos brancos é a sua capacidade de reconhecer e criar uma memória das bactérias e vírus que invadem nossos corpos.
Há muitos tipos de células T com funções específicas, entre elas:
Esta é a porcentagem média de cada tipo de leucócito no sangue:
A maior parte dos glóbulos brancos (neutrófilos, eosinófilos, basófilos e monócitos) são criados na medula óssea. Os linfócitos T iniciam seu desenvolvimento na medula óssea a partir de células tronco hematopoiéticas pluripotentes e depois migram para o timo, onde amadurecem. O timo é uma glândula localizada no peito, entre o coração e o esterno, o osso central do seu peito. Já os linfócitos B maturam na medula óssea.
Quando um granulócito (neutrófilos, eosinófilos e basófilos) é liberado no sangue, ele permanece por lá, aproximadamente, de quatro a oito horas antes de ir para os tecidos do corpo, onde dura de quatro a cinco dias, em média, mas esse tempo pode ser muito menor durante infecções graves.
Os monócitos ficam no sangue por uma média de 10 a 20 horas e depois vão para os tecidos, onde se tornam macrófagos e podem durar meses ou anos.
Já os linfócitos ficam viajando pelo tecido linfático, corrente linfática e sangue. Neste último ficam por várias horas. Os linfócitos podem viver semanas, meses ou anos.
As plaquetas (trombócitos), ao formar algo chamado de rolha hemostática, auxiliam na coagulação do sangue. Mas existe mais uma maneira do sangue formar coágulos: os fatores de coagulação. As plaquetas também ajudam a promover outros mecanismos de coagulação no sangue e são encontradas em uma concentração de 150 mil a 400 mil plaquetas em cada microlitro de sangue (a média é de 250 mil).
As plaquetas são fragmentos de células muito grandes da medula óssea chamadas megacariócitos. Elas não possuem um núcleo e não se reproduzem, sendo os megacariócitos os responsáveis por produzir mais plaquetas sempre que for necessário. A vida de uma plaqueta costuma ser de 10 dias, em média.
Elas contêm vários compostos químicos que auxiliam na coagulação, entre eles:
Como a pressão hidrostática (pressão sangüínea) empurra o líquido para fora dos vasos sangüíneos, existe a pressão oncótica (causada pelas proteínas dissolvidas no sangue), que equilibra a situação e faz o líquido permanecer dentro deles.
Responsáveis pela pressão oncótica, as proteínas compõem uma grande parte dos 10% de material dissolvidos no plasma. Suas moléculas são muito maiores do que as moléculas de água e tendem a ficar dentro dos vasos sangüíneos, pois é muito mais difícil para elas passarem pelos poros dos capilares. Assim, elas têm uma concentração maior nos vasos sangüíneos e tendem a atrair água para manter sua concentração relativa nos vasos sangüíneos mais parecida com a do líquido fora deles. E essa é uma das maneiras utilizadas pelo corpo para manter um volume constante de sangue.
O plasma contém de 6,5 a 8 gramas de proteína por decilitro de sangue. Entre essas proteínas, as principais são a albumina (60%), globulinas (alfa 1, alfa 2, beta e gamaglobulinas - imunoglobulinas) e proteínas coagulantes (especialmente, o fibrinogênio). Essas proteínas ajudam a manter a pressão oncótica (principalmente a albumina) e a transportar substâncias como lipídeos, hormônios, medicamentos, vitaminas e outros nutrientes. Além disso, elas também fazem parte do sistema imunológico (imunoglobulinas), ajudam o sangue no processo de coagulação (fatores coagulantes), mantêm o equilíbrio de pH e desempenham o papel de enzimas nas reações químicas que ocorrem pelo corpo.
Outra grande categoria de substâncias dissolvidas no plasma são os eletrólitos. Eles incluem:
Outros materiais dissolvidos no plasma são os carboidratos (glicose), colesterol, hormônios e vitaminas. O colesterol costuma ser transportado preso a lipoproteínas como a lipoproteínas de baixa densidade (LDLs) e de alta densidade (HDLs). Para mais informações sobre o colesterol, veja Como funciona o colesterol.
Quando o plasma coagula, o líquido restante se chama soro. Quando se coleta sangue de um paciente, permite-se que essa amostra coagule em um tubo de ensaios, onde as células e fatores coagulantes vão para a parte inferior do tubo e o soro fica na parte superior. Esse soro é utilizado em testes para vários dos itens que discutimos para determinar a existência de anomalias.
Quanto aos tipos sangüíneos, há quatro tipos principais: A, B, AB e 0. Os tipos sangüíneos são determinados por proteínas chamadas antígenos (ou aglutinogênios) existentes na superfície das células vermelhas.
Há dois antígenos: A e B. Se você tem antígeno A nas suas hemácias, o seu tipo sangüíneo é o A. Mas se tem o antígeno B, o seu tipo é B. Agora, se tiver os dois antígenos, o seu tipo sangüíneo é AB, o que nos leva à dedução de que caso você não tenha nenhum dos dois, o seu tipo sangüíneo é o O.
Quando um antígeno está presente na hemácia, o anticorpo (também conhecido como aglutinina) contra o outro tipo de sangue está presente no plasma. Por exemplo, o sangue tipo A possui anticorpos contra o tipo B. Já o tipo B possui anticorpos contra o tipo A. O tipo AB, por sua vez, não possui anticorpos no plasma, enquanto o tipo O possui os dois anticorpos. Esses anticorpos não estão presentes quando nascemos, eles se formam espontaneamente durante a infância e duram a vida inteira.
Além do sistema sangüíneo ABO, também há outro sistema, o grupo sangüíneo Rh. Há muitos antígenos Rh que podem estar presentes na superfície da hemácia, mas o mais comum é o antígeno D. Se esse antígeno estiver presente, o sangue é do tipo Rh+, e se ele não estiver presente, o sangue Rh-. Nos EUA, 85% da população é Rh+ e 15% é Rh-. Diferente do sistema ABO, o anticorpo correspondente ao antígeno Rh não se desenvolve espontaneamente, mas somente quando a pessoa com Rh- é exposta ao antígeno Rh (por meio de uma transfusão ou durante a gravidez). Quando uma mãe com sangue Rh- está grávida de um feto com Rh+, a mãe forma anticorpos que podem atravessar a placenta e causar uma doença chamada doença hemolítica do recém-nascido, ou eritroblastose fetal.
Doando sangue
Uma unidade de sangue tem 450 mililitros e é misturada com compostos químicos (CPD: Citrato-Fosfato-Dextrose) para impedir a coagulação. A cada ano, de 12 a 14 milhões de unidades de sangue são doadas nos EUA. Geralmente, um doador deve ter, pelo menos, 17 anos, estar saudável e pesar mais de 50 quilos.
Antes da doação, o doador recebe um panfleto informativo, e é feito um levantamento do histórico de doenças desse doador para garantir que ele não foi exposto a doenças transmissíveis pelo sangue e para determinar se a doação não apresenta riscos para a sua saúde. Também são medidos a temperatura, freqüência cardíaca, pressão sangüínea e peso. E, finalmente, retiram algumas gotas de sangue para terem certeza de que o doador não tem anemia. Na doação, costuma-se demorar menos de 10 minutos para tirar seu sangue, contando a partir do momento em que inseriram a agulha. E, por falar em agulha, todos os materiais são esterilizados e descartáveis, o que anula qualquer perigo de infecção. Recomenda-se que os doadores bebam muito líquido, evitem fazer exercícios no dia da doação e espere oito semanas até fazer uma nova doação.
A doação autóloga é a doação de sangue para uso próprio e costuma ser feita antes de uma cirurgia. Já a aferése é o procedimento no qual apenas um componente específico do sangue do doador é removido (normalmente plaquetas, plasma ou leucócitos), o que permite que seja retirada uma quantidade maior desse componente do que existiria em uma unidade de sangue.
Cada unidade de sangue pode ser separada em vários componentes, permitindo que cada um desses componentes seja dado, especificamente, a alguém que só precise dele. Assim, uma unidade de sangue pode ajudar várias pessoas diferentes. Os componentes incluem:
A transfusão do plasma, após ser derretido, trata os distúrbios de sangramento que ocorrem quando a pessoa não possui muitos dos fatores coagulantes. Isso é causado por insuficiência hepática, quando há excesso do anticoagulante Varfarina, ou quando grandes sangramentos e transfusões causam uma diminuição nos níveis de fatores coagulantes.
A transfusão de plaquetas, por sua vez, é feita em pessoas com um número pequeno delas (trombocitopenia) ou cujas plaquetas apresentam um funcionamento anormal. Cada unidade de plaquetas aumenta a contagem em, aproximadamente, 5 mil plaquetas por microlitro de sangue.
A albumina compõe até 60% das proteínas no plasma, é produzida no fígado e é usada quando o volume sangüíneo precisa ser aumentado, mas os líquidos não deram conta do recado. Exemplos desses casos são os sangramentos e queimaduras graves, e insuficiência hepática.
Já as imunoglobulinas são dadas às pessoas que foram expostas a certas doenças como a raiva, tétano ou hepatite, como uma forma de preveni-las.
A hemofilia A (hemofilia clássica) causada pela deficiência do fator VIII, é a situação na qual o fator VIII concentrado e o crioprecipitado são usados.
Já a hemofilia B pede o uso do fator IX concentrado, já que é a deficiência dele que causa essa doença.
São realizados muitos testes para garantir que uma amostra de sangue é segura. Por exemplo, verifica-se a presença de:
Quando se faz a transfusão de sangue para um paciente, é necessário determinar o tipo sangüíneo para que não ocorra uma reação à transfusão.
Essa reação ocorre quando os antígenos nas células vermelhas do doador reagem com os anticorpos presentes no plasma do receptor. Ou seja, se sangue do tipo A (que contém antígenos A) é dado a alguém com o tipo de sangue B (que tem anticorpos anti-A), a reação vai ocorrer.
Mas o oposto não ocorre, pois não é comum os anticorpos no plasma do sangue doado reagirem com os antígenos do receptor (uma quantidade muita pequena de plasma é transferida e ela é diluída a um nível baixo demais para causar uma reação).
Quando esse tipo de reação ocorre, um anticorpo se liga a antígenos de várias hemácias, fazendo com que elas se juntem e entupam os vasos sangüíneos. Então, elas são destruídas pelo corpo, num processo chamado hemólise, e liberam a hemoglobina das hemácias no sangue. Essa hemoglobina acaba sendo quebrada em bilirrubina, que pode causar icterícia. São esses mesmos passos que ocorrem também na doença hemolítica do recém-nascido, como já mencionamos acima.
Quando uma transfusão de emergência é necessária e não se sabe o tipo sangüíneo do paciente, usa-se sempre o tipo O-, que não possui antígenos que possam reagir com os anticorpos do plasma desse paciente. E é por isso que alguém com tipo O- é chamado de doador universal. Na outra ponta da história, alguém com tipo AB é chamado de receptor universal, pois não possui anticorpos que possam reagir com o sangue doado.
CO2 + H2O ===> H2CO3 + H+ + HCO3-
Foto cedida Garrigan.Net Ilustração: imagem de microscópio das células vermelhas |
As células vermelhas, também conhecidas como hemácias ou eritrócitos, são as células mais abundantes do sangue. São elas que dão ao sangue a cor vermelha. Suas quantidades são um pouco diferentes em homens e mulheres: a média nos homens é de 5,2 milhões por mm³ (microlitro), enquanto nas mulheres essa média é de 4,6 milhões. Para você ter uma idéia, as células vermelhas compõem de 40 a 45% do sangue, a porcentagem de células vermelhas no sangue é, freqüentemente, medida e se chama de hematócrito. A relação das células em uma amostra de sangue comum é de 600 hemácias para cada leucócito e 40 plaquetas.
Há várias coisas nas hemácias que as fazem especiais:
- uma hemácia tem um formato estranho, um disco bicôncavo redondo e achatado, como se fosse uma tigela rasa;
- uma hemácia não possui núcleo, que é expulso da célula durante o processo de maturação;
- elas podem mudar bastante de forma, sem quebrar enquanto se espremem pelos capilares. Os capilares são vasos sangüíneos minúsculos pelos quais o oxigênio, nutrientes e dejetos são trocados com o resto do corpo;
- as células vermelhas contêm hemoglobina, uma molécula especialmente projetada para armazenar oxigênio e transportá-lo para as células.
Nos capilares, o oxigênio é liberado e pode ser usado pelas células do corpo. É a hemoglobina que carrega 97% do oxigênio que chega aos pulmões e é transportado pelo sangue, enquanto os 3% restantes são dissolvidos no plasma. Graças à hemoglobina, o sangue pode transportar de 30 a 100 vezes mais oxigênio do que poderia ser dissolvido no plasma se elas não existissem.
A hemoglobina se associa livremente com o oxigênio nos pulmões, onde o nível de oxigênio é bem alto, para depois liberá-lo nos capilares, cujo nível de oxigênio é baixo. Uma molécula de hemoglobina contém quatro átomos de ferro, cada um deles podendo se ligar a uma molécula de oxigênio, que é formada por dois átomos de oxigênio, na fórmula O2,, o que dá um total de quatro moléculas (4 * O2) ou oito átomos de oxigênio para cada molécula de hemoglobina. Lembra que falamos que as hemácias são as responsáveis pela coloração vermelha do sangue? Pois é, para sermos ainda mais específicos, o responsável por isso é o ferro existente na hemoglobina.
33% de uma hemácia é de hemoglobina. A concentração normal de hemoglobina no sangue é de 15,5 gramas por decilitro nos homens e 14 gramas por decilitro nas mulheres. (Um decilitro são 100 mililitros ou um décimo de um litro.)
Além de transportar o oxigênio para as células do corpo, os eritrócitos também ajudam a remover o dióxido de carbono (CO2). Esse se forma nas células como um subproduto de várias reações químicas, vai para o sangue pelos capilares e é trazido de volta aos pulmões, onde é liberado e expirado por nós na respiração. As hemoglobinas têm uma enzima chamada anidrase carbônica, que ajuda a reação entre o dióxido de carbono (CO2) e a água (H2O) acontecer 5 mil vezes mais rápido. O resultado dessa reação é o ácido carbônico, que, por sua vez, se separa em íons hidrogênio e íons bicarbonato:
Todas as células sangüíneas são produzidas na medula óssea. Quando somos crianças, a maioria dos nossos ossos produz sangue, mas conforme vamos envelhecendo, essa produção vai passando somente para os ossos da espinha (vértebras), esterno, costelas, bacia e pequenas porções do braço e da perna. A parte da medula óssea que continua a produzir células sangüíneas recebe o nome de medula vermelha, enquanto o restante da medula óssea é chamado de medula amarela. O processo pelo qual o corpo produz sangue é a hematopoese.
Todas as células sangüíneas (vermelhas, brancas e plaquetas) originam-se do mesmo tipo de célula, a célula tronco hematopoiética pluripotencial. Esse grupo de células tem o potencial de formar qualquer um dos diferentes tipos de células sangüíneas e de reproduzir a si própria. Posteriormente, forma células tronco prontas para criar os diferentes tipos de células sangüíneas.
Durante a formação, as hemácias acabam perdendo seus núcleos e deixam a medula óssea como reticulócitos, que ainda contêm alguns restos de organelas. Mas essas organelas, eventualmente, deixam a célula e o eritrócito maduro é formado. Os eritrócitos duram uma média de 120 dias na corrente sangüínea e são removidos por macrófagos no fígado e no baço.
Os responsáveis pela regulação da produção de células vermelhas são o hormônio eritropoietina e níveis baixos de oxigênio. Qualquer fator que diminua o nível de oxigênio no sangue, como doenças pulmonares ou anemia (número baixo de hemácias), aumenta o nível de eritropoietina, que estimula as células tronco a produzirem mais células vermelhas e aumenta a rapidez com que elas maturam. 90% da eritropoietina é criada nos rins. É por isso que quando os rins são removidos ou quando a pessoa apresenta insuficiência renal, ela se torna anêmica: ocorre a falta de eritropoietina. E, finalmente, outros componentes essenciais para a produção de células vermelhas são o ferro, vitamina B-12 e ácido fólico.
Células brancas
As células brancas, ou leucócitos, fazem parte do sistema imunitário (sistema imunológico) e ajudam nosso corpo a lutar contra infecções. Elas circulam no sangue e o usam como meio de transporte até uma área infeccionada. No corpo de um adulto normal há de 4 a 10 mil (em média, 7 mil) células brancas por microlitro de sangue, e quando esse número aumenta, é sinal de que há uma infecção em algum lugar do seu corpo.
Existem cinco tipos principais de leucócitos:
- neutrófilos
- eosinófilos
- basófilos
- linfócitos
- monócitos
Os neutrófilos são uma das principais defesas do corpo contra as bactérias, que eles matam pela ingestão (esse processo se chama fagocitose). Os neutrófilos podem fagocitar de cinco a 20 bactérias durante suas vidas. Seu núcleo é polimorfonuclear (possui vários lóbulos e é segmentado) e, por isso, são chamados de PMNs. Além dos neutrófilos completos, também há neutrófilos imaturos vistos no sangue. Quando uma infecção causada por bactérias acontece, os exames detectam um aumento dos neutrófilos maduros e imaturos.
Os eosinófilos, por sua vez, matam parasitas e desempenham um papel nas reações alérgicas.
Já os basófilos ainda não são muito compreendidos, mas sabemos que trabalham nas reações alérgicas liberando histamina, que faz os vasos sangüíneos vazarem e atrai os leucócitos, e heparina, que impede o coágulo da área infectada para o leucócito poder chegar até a bactéria.
Os monócitos entram no tecido, onde ficam maiores, transformam-se em macrófagos e são capazes de fagocitar bactérias, até 100 durante toda sua vida, existentes em todo o corpo. Além disso, também são eles que fazem o trabalho de destruir as células mortas, danificadas ou velhas do nosso corpo. Podemos encontrar um macrófago no fígado, baço, pulmões, nódulos linfáticos, pele e intestino. Esse sistema de macrófagos que existe espalhado pelo corpo se chama sistema reticuloendotelial.
Os neutrófilos e os monócitos usam vários mecanismos diferentes para se aproximar e matar os organismos invasores. Eles possuem a interessante capacidade de se espremer pelas aberturas dos vasos sangüíneos em um processo chamado de diapedese. Além disso, movem-se pelo corpo usando movimentos semelhantes aos de amebas e são atraídos por certos compostos químicos produzidos pelo sistema imunológico ou pela própria bactéria, o que faz com que migrem para as áreas onde há uma maior concentração desses compostos químicos. O nome do processo de ser atraído ou repelido por compostos químicos se chama quimiotaxia. E o processo que eles usam para matar as bactérias, como já dissemos, é a fagocitose, no qual eles cercam toda a bactéria e a digerem usando enzimas digestivas.
Já os linfócitos são células complexas que controlam o sistema imunológico do corpo. Os linfócitos T (células T) são responsáveis pela imunidade mediada por células. Os linfócitos B, por sua vez, são responsáveis pela imunidade humoral (produção de anticorpos). E quanto à proporção, as células T compõem 75% dos linfócitos. Algo que diferencia os linfócitos dos outros glóbulos brancos é a sua capacidade de reconhecer e criar uma memória das bactérias e vírus que invadem nossos corpos.
Há muitos tipos de células T com funções específicas, entre elas:
- células T auxiliares - possuem uma proteína em suas membranas chamada de CD4 e controlam o resto do sistema imunológico ao liberar as citocinas. As citocinas estimulam as células B para que formem plasmócitos, que, por sua vez, formam anticorpos, estimulam a produção de células T citotóxicas e células T supressoras, além de ativar os macrófagos. Imagine o que aconteceria se algum invasor atacasse essas células T auxiliares, que são as responsáveis por controlar o sistema imunológico, pois são exatamente essas células que o vírus da AIDS ataca;
- células T citotóxicas - liberam compostos químicos que se partem e matam os organismos invasores;
- células T de memória - permanecem ativas para ajudar o sistema imunológico a reagir mais rapidamente caso o mesmo organismo seja encontrado de novo;
- células T supressoras - as células T supressoras têm a incumbência de suprimir a resposta imunológica para que ela não fique fora de controle e destrua células normais quando não for mais necessária.
Esta é a porcentagem média de cada tipo de leucócito no sangue:
- neutrófilos - 58%
- neutrófilos imaturos - 3%
- eosinófilos - 2%
- basófilos - 1%
- monócitos - 4%
- linfócitos - 33%
A maior parte dos glóbulos brancos (neutrófilos, eosinófilos, basófilos e monócitos) são criados na medula óssea. Os linfócitos T iniciam seu desenvolvimento na medula óssea a partir de células tronco hematopoiéticas pluripotentes e depois migram para o timo, onde amadurecem. O timo é uma glândula localizada no peito, entre o coração e o esterno, o osso central do seu peito. Já os linfócitos B maturam na medula óssea.
Quando um granulócito (neutrófilos, eosinófilos e basófilos) é liberado no sangue, ele permanece por lá, aproximadamente, de quatro a oito horas antes de ir para os tecidos do corpo, onde dura de quatro a cinco dias, em média, mas esse tempo pode ser muito menor durante infecções graves.
Os monócitos ficam no sangue por uma média de 10 a 20 horas e depois vão para os tecidos, onde se tornam macrófagos e podem durar meses ou anos.
Já os linfócitos ficam viajando pelo tecido linfático, corrente linfática e sangue. Neste último ficam por várias horas. Os linfócitos podem viver semanas, meses ou anos.
As plaquetas (trombócitos), ao formar algo chamado de rolha hemostática, auxiliam na coagulação do sangue. Mas existe mais uma maneira do sangue formar coágulos: os fatores de coagulação. As plaquetas também ajudam a promover outros mecanismos de coagulação no sangue e são encontradas em uma concentração de 150 mil a 400 mil plaquetas em cada microlitro de sangue (a média é de 250 mil).
As plaquetas são fragmentos de células muito grandes da medula óssea chamadas megacariócitos. Elas não possuem um núcleo e não se reproduzem, sendo os megacariócitos os responsáveis por produzir mais plaquetas sempre que for necessário. A vida de uma plaqueta costuma ser de 10 dias, em média.
Elas contêm vários compostos químicos que auxiliam na coagulação, entre eles:
- actina e miosina, para ajudá-las a contrair
- compostos químicos que ajudam a iniciar o processo de coagulação
- compostos químicos que atraem outras plaquetas
- compostos químicos que estimulam a reparação dos vasos sangüíneos
- compostos químicos capazes de estabilizar um coágulo sangüíneo
Plasma e tipos sangüíneos
O plasma é um líquido transparente e levemente amarelado. Mas ele também pode ter uma aparência meio semelhante a do leite após uma refeição gordurosa ou quando a pessoa tem um nível alto de lipídeos no sangue. Ele é composto por 90% de água e 10% de coisas essenciais à vida. Esses 10% são substâncias dissolvidas que circulam pelo corpo e entram nos tecidos e células em que são necessários através da difusão, uma troca de substâncias que ocorre das áreas de maior concentração para áreas de menor concentração. Quanto maior a diferença de concentração (gradiente), maior a quantidade de material transferido. Já os subprodutos e dejetos fluem na direção oposta, de onde eles são criados, nas células, para a corrente sangüínea, onde são eliminados pelos rins ou pulmões.Como a pressão hidrostática (pressão sangüínea) empurra o líquido para fora dos vasos sangüíneos, existe a pressão oncótica (causada pelas proteínas dissolvidas no sangue), que equilibra a situação e faz o líquido permanecer dentro deles.
Responsáveis pela pressão oncótica, as proteínas compõem uma grande parte dos 10% de material dissolvidos no plasma. Suas moléculas são muito maiores do que as moléculas de água e tendem a ficar dentro dos vasos sangüíneos, pois é muito mais difícil para elas passarem pelos poros dos capilares. Assim, elas têm uma concentração maior nos vasos sangüíneos e tendem a atrair água para manter sua concentração relativa nos vasos sangüíneos mais parecida com a do líquido fora deles. E essa é uma das maneiras utilizadas pelo corpo para manter um volume constante de sangue.
O plasma contém de 6,5 a 8 gramas de proteína por decilitro de sangue. Entre essas proteínas, as principais são a albumina (60%), globulinas (alfa 1, alfa 2, beta e gamaglobulinas - imunoglobulinas) e proteínas coagulantes (especialmente, o fibrinogênio). Essas proteínas ajudam a manter a pressão oncótica (principalmente a albumina) e a transportar substâncias como lipídeos, hormônios, medicamentos, vitaminas e outros nutrientes. Além disso, elas também fazem parte do sistema imunológico (imunoglobulinas), ajudam o sangue no processo de coagulação (fatores coagulantes), mantêm o equilíbrio de pH e desempenham o papel de enzimas nas reações químicas que ocorrem pelo corpo.
Outra grande categoria de substâncias dissolvidas no plasma são os eletrólitos. Eles incluem:
- Sódio (Na+)
- Potássio (K+)
- Sódio (Na+)
- Bicarbonato (HCO3-)
- Cálcio (Ca+2)
- Magnésio (Mg+2)
Outros materiais dissolvidos no plasma são os carboidratos (glicose), colesterol, hormônios e vitaminas. O colesterol costuma ser transportado preso a lipoproteínas como a lipoproteínas de baixa densidade (LDLs) e de alta densidade (HDLs). Para mais informações sobre o colesterol, veja Como funciona o colesterol.
Quando o plasma coagula, o líquido restante se chama soro. Quando se coleta sangue de um paciente, permite-se que essa amostra coagule em um tubo de ensaios, onde as células e fatores coagulantes vão para a parte inferior do tubo e o soro fica na parte superior. Esse soro é utilizado em testes para vários dos itens que discutimos para determinar a existência de anomalias.
Quanto aos tipos sangüíneos, há quatro tipos principais: A, B, AB e 0. Os tipos sangüíneos são determinados por proteínas chamadas antígenos (ou aglutinogênios) existentes na superfície das células vermelhas.
Quando um antígeno está presente na hemácia, o anticorpo (também conhecido como aglutinina) contra o outro tipo de sangue está presente no plasma. Por exemplo, o sangue tipo A possui anticorpos contra o tipo B. Já o tipo B possui anticorpos contra o tipo A. O tipo AB, por sua vez, não possui anticorpos no plasma, enquanto o tipo O possui os dois anticorpos. Esses anticorpos não estão presentes quando nascemos, eles se formam espontaneamente durante a infância e duram a vida inteira.
Além do sistema sangüíneo ABO, também há outro sistema, o grupo sangüíneo Rh. Há muitos antígenos Rh que podem estar presentes na superfície da hemácia, mas o mais comum é o antígeno D. Se esse antígeno estiver presente, o sangue é do tipo Rh+, e se ele não estiver presente, o sangue Rh-. Nos EUA, 85% da população é Rh+ e 15% é Rh-. Diferente do sistema ABO, o anticorpo correspondente ao antígeno Rh não se desenvolve espontaneamente, mas somente quando a pessoa com Rh- é exposta ao antígeno Rh (por meio de uma transfusão ou durante a gravidez). Quando uma mãe com sangue Rh- está grávida de um feto com Rh+, a mãe forma anticorpos que podem atravessar a placenta e causar uma doença chamada doença hemolítica do recém-nascido, ou eritroblastose fetal.
Doando sangue
enviados para o Golfo durante a Guerra do Golfo |
Antes da doação, o doador recebe um panfleto informativo, e é feito um levantamento do histórico de doenças desse doador para garantir que ele não foi exposto a doenças transmissíveis pelo sangue e para determinar se a doação não apresenta riscos para a sua saúde. Também são medidos a temperatura, freqüência cardíaca, pressão sangüínea e peso. E, finalmente, retiram algumas gotas de sangue para terem certeza de que o doador não tem anemia. Na doação, costuma-se demorar menos de 10 minutos para tirar seu sangue, contando a partir do momento em que inseriram a agulha. E, por falar em agulha, todos os materiais são esterilizados e descartáveis, o que anula qualquer perigo de infecção. Recomenda-se que os doadores bebam muito líquido, evitem fazer exercícios no dia da doação e espere oito semanas até fazer uma nova doação.
A doação autóloga é a doação de sangue para uso próprio e costuma ser feita antes de uma cirurgia. Já a aferése é o procedimento no qual apenas um componente específico do sangue do doador é removido (normalmente plaquetas, plasma ou leucócitos), o que permite que seja retirada uma quantidade maior desse componente do que existiria em uma unidade de sangue.
Cada unidade de sangue pode ser separada em vários componentes, permitindo que cada um desses componentes seja dado, especificamente, a alguém que só precise dele. Assim, uma unidade de sangue pode ajudar várias pessoas diferentes. Os componentes incluem:
- Células vermelhas
- Plasma fresco congelado
- Plaquetas
- Células brancas
- Albumina
- Imunoglobulinas
- Crioprecipitado de fator anti-hemolítico
- Fator VIII concentrado
- Fator IX concentrado
A transfusão do plasma, após ser derretido, trata os distúrbios de sangramento que ocorrem quando a pessoa não possui muitos dos fatores coagulantes. Isso é causado por insuficiência hepática, quando há excesso do anticoagulante Varfarina, ou quando grandes sangramentos e transfusões causam uma diminuição nos níveis de fatores coagulantes.
A transfusão de plaquetas, por sua vez, é feita em pessoas com um número pequeno delas (trombocitopenia) ou cujas plaquetas apresentam um funcionamento anormal. Cada unidade de plaquetas aumenta a contagem em, aproximadamente, 5 mil plaquetas por microlitro de sangue.
A albumina compõe até 60% das proteínas no plasma, é produzida no fígado e é usada quando o volume sangüíneo precisa ser aumentado, mas os líquidos não deram conta do recado. Exemplos desses casos são os sangramentos e queimaduras graves, e insuficiência hepática.
Já as imunoglobulinas são dadas às pessoas que foram expostas a certas doenças como a raiva, tétano ou hepatite, como uma forma de preveni-las.
A hemofilia A (hemofilia clássica) causada pela deficiência do fator VIII, é a situação na qual o fator VIII concentrado e o crioprecipitado são usados.
Já a hemofilia B pede o uso do fator IX concentrado, já que é a deficiência dele que causa essa doença.
São realizados muitos testes para garantir que uma amostra de sangue é segura. Por exemplo, verifica-se a presença de:
- antígeno de superfície da hepatite B
- anticorpo para o antígeno central da hepatite B
- anticorpo da hepatite C
- anticorpos do HIV-1 e HIV-2
- antígeno p24 do HIV-1
- anticorpos anti-HTLV-1 e anti-HTLV-2
- sífilis
- doença de Chagas (no Brasil e, desde 2001, nos EUA)
Quando se faz a transfusão de sangue para um paciente, é necessário determinar o tipo sangüíneo para que não ocorra uma reação à transfusão.
Essa reação ocorre quando os antígenos nas células vermelhas do doador reagem com os anticorpos presentes no plasma do receptor. Ou seja, se sangue do tipo A (que contém antígenos A) é dado a alguém com o tipo de sangue B (que tem anticorpos anti-A), a reação vai ocorrer.
Mas o oposto não ocorre, pois não é comum os anticorpos no plasma do sangue doado reagirem com os antígenos do receptor (uma quantidade muita pequena de plasma é transferida e ela é diluída a um nível baixo demais para causar uma reação).
Quando esse tipo de reação ocorre, um anticorpo se liga a antígenos de várias hemácias, fazendo com que elas se juntem e entupam os vasos sangüíneos. Então, elas são destruídas pelo corpo, num processo chamado hemólise, e liberam a hemoglobina das hemácias no sangue. Essa hemoglobina acaba sendo quebrada em bilirrubina, que pode causar icterícia. São esses mesmos passos que ocorrem também na doença hemolítica do recém-nascido, como já mencionamos acima.
Quando uma transfusão de emergência é necessária e não se sabe o tipo sangüíneo do paciente, usa-se sempre o tipo O-, que não possui antígenos que possam reagir com os anticorpos do plasma desse paciente. E é por isso que alguém com tipo O- é chamado de doador universal. Na outra ponta da história, alguém com tipo AB é chamado de receptor universal, pois não possui anticorpos que possam reagir com o sangue doado.