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8 de mai. de 2011

Operação grátis

Crianças com fissura labial são operadas gratuitamente por ONG em Maceió




Regina Vitória tem seis anos e mora em Barra de Santo Antônio, em Alagoas. Quando ela nasceu de sete meses, a enfermeira avisou a mãe que a menina tinha um defeito na boca que era operável. Mas a cirurgia custa mais de 15 mil reais Philipe Medeiros/Divulgação
Regina Vitória tem seis anos e mora em Barra de Santo Antônio, em Alagoas. Ela é filha do meio de Natália Maria da Silva, de 24 anos, que tem mais quatro filhos. Quando ela nasceu de sete meses, a enfermeira avisou a mãe que a menina tinha um defeito na boca que era operável. Mas a cirurgia custa mais de 15 mil reais.

Regina tem fissura labial, popularmente conhecida como lábio leporino. Em 2010 foi atendida pela Operação Sorriso em Maceió e este ano voltou a participar da campanha para operar o palato. “Antes ela não ia para a escola porque tinha vergonha. Se chegasse alguém em casa ela tapava todo o rosto com um pano ou ficava o tempo todo com a mão na boca. Hoje ela vai para a escola não perde nenhum dia e fala com todo mundo, quer ficar perto, perdeu toda a vergonha essa menina”, conta orgulhosa a mãe.
“Depois dessa nova cirurgia, quando fechar (a fenda palatina) muitas coisas vão mudar para melhor, ela vai falar melhor, comer mais e vai parar de vazar as coisas do nariz dela quando for comer ou beber. Vai ser ótimo!”, conclui Natália.


Operação sorriso

A menina é uma das 44 crianças operadas gratuitamente em Maceió de 27/04 a 03/05, com o apoio da Colgate. A fissura labiopalatal atinge um em cada 650 bebês no Brasil. É mais comum do que o câncer infantil e a Síndrome de Down, por exemplo.
A fissura labial consiste na separação do lábio superior em duas partes; quando ocorre também a fenda palatina, a abertura pode atingir todo o céu da boca e a base do nariz, estabelecendo comunicação direta entre um e outro. Isto ocorre porque o maxilar superior do bebê não se fecha como deveria na gestação, deixando uma falha que causa dificuldades de alimentação, respiração e fala. Além disso, os acometidos por este defeito congênito sofrem de diversos problemas psicológicos.
Dentre os 92 pacientes examinados por uma equipe médica, 44 foram considerados aptos para uma cirurgia.

“O mais importante além de operar é dar continuidade ao tratamento. Em 2008 o objetivo era trazer os profissionais locais para atuar e hoje os cirurgiões locais já têm condições de operar com regularidade e temos outros cirurgiões se colocando a disposição da equipe”, conta Clóvis Brito, coordenador do programa. “As missões internacionais da Operation Smile são a maior aula que já tive. O sorrido das crianças é o que nos temos em comum, ele é universal, a criança não precisa falar sua língua, ela pode simplesmente sorrir”.
Uma nova vida

Outro sorriso contagiante é de Cícero Venâncio da Silva, 44 anos. Após a cirurgia, ele ria ao ouvir a enfermeira dizer que agora ele iria arrumar “um monte de rabo de saia”. Cícero trabalha em sua plantação familiar em Garanhuns/PE, é casado e pai de cinco filhos. Ele não gosta muito de falar do preconceito e de sua infância, mas reclama: “Sempre alguém imita ou ri da gente”.
Ana Paula Maia Nobre, pediatra da UTI conta que muitas histórias são marcantes. “Para mim uma que foi extremamente marcante foi a de um senhor com mais de 50 anos que operou o lábio um mês depois de perder a mulher. Segundo ele era uma coisa que eles sempre queriam fazer, e a morte dela o impulsionou a correr a trás desse sonho. Segundo ele onde quer que ela estivesse ela ficaria feliz e orgulhosa dele ter se operado”, diz.
Para Mônica Gleice Ferreira da Silva, 28 anos, a situação foi complicada desde que seu filho Mateus Augusto nasceu há 1 ano. Ela conta que não quer ter outros filhos por temer que os outros tenham a mesma malformação. “Tem gente que diz que eu coloquei chave no soutien e por isso que ele nasceu assim. Mas eu nunca fiz isso. Também falam que ele é doente e eu fico muito triste”.
Mateus já está na segunda cirurgia pela Operação. “Acho que com a cirurgia vai mudar tudo na vida dele, porque o sorriso dele é a coisa mais importante do mundo para mim”, entusiasma-se.
O papel do fonoaudiólogo é muito importante para dar continuidade ao tratamento. Rita Tonocchi, mestre em distúrbios da comunicação e doutora em linguística na área de disfunções da fala, afirma que é ele que explica o modo de se alimentar, dá as instruções fonoaudiológicas de pós-cirurgia e também desperta para a necessidade de um trabalho posterior à cirurgia na questão da fala. “Sempre buscamos um parceiro local para indicar a continuidade do tratamento, por isso incentivamos e treinamos profissionais locais para atendimento gratuito”.

“O que espero desse trabalho, e creio que todos aqui também, é que o fissurado tenha uma vida normal, que vivam e não sobrevivam. Não quero que eles passem pela vida, quero que tenham relacionamentos, trabalho, amigos, estudem, se comuniquem que é tão básico”, ressalta a fonoaudióloga.
Para finalizar, Ubitaran Doro, dentista especialista em ortodontia, deixa sua mensagem: “É uma experiência em que a preocupação sai da nossa visão limitada de pensarmos apenas em nós, nossas rotinas e vai para algo ilimitado de nos doarmos, abrirmos para a necessidade do outro e de enxergar que precisamos fazer muito mais. Dá para reavaliar muita coisa e repensar muitos conceitos”.