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18 de mai. de 2011

Osama e Obama. O maior trava língua do jornalismo mundial


Seria a prova de que os opostos de atraem (e se confundem como memes)? O fato é que nunca um assunto foi tão comentado derrubando tantos jornalistas.




Trava-línguas e trava-dedos


Ok! Tivemos a erupção do vulcão finlândes (o Eyjafjallajoekull) no ano passado que parou o tráfego aéreo na Europa e me obrigou a aprender sua pronúncia na marra (agora já sei ler um nome na Finlândia).



Mas o efeito colateral de Barack Obama ter assassinado (ou executado, ou eliminado, ou descartado, ou retirado da lista dos mais procurados do FBI. Escolha o seu eufemismo) parece ter desencadeado um sinistro efeito colateral de ter que ouvir sua morte anunciada várias e várias vezes mundo afora com o Osama tendo sido o mandante.



O problema é tão comum que pode-se dizer que o canal de TV ou rádio que não errou é porque não tem noticiado o que ocorre no mundo sem teleprompter.



Especialistas, conforme explicação dada na Globo News, dizem que o problema está ligado ao fato do nomes só terem uma letra de diferença (óbvio) e que o cérebro antecipa a letra "B" do nome seguinte (no caso de Osama Bin Laden).

Some-se isso ao fato de serem nomes exóticos (no ocidente) e da oposição ter feito uma campanha para associar o Obama ao islamismo a ponto da Casa Branca ter que apresentar uma certidão de nascimento do presidente provando que ele nasceu no Havaí (que pertence aos EUA).

Mas o festival de erros é enorme no Brasil e no mundo. O que mostra que o problema não é só de uma língua. Mas é global.

Os jornalistas estão aprendendo a contornar o problema tentando pronunciar Osama como "oçama" e ou chamando apenas de Bin Laden. Mas, não tem jeito. Na hora da pressa de contar os fatos, de dar o furo. Acaba escapando que mataram o Obama.




Se ocorrer como em uma profecia auto-realizável (o que não é improvável, já que os terroristas que restaram vão tentar dar o troco e de vez em quando, um presidente dos EUA sofre um atentado), vão acabar considerando o Monteiro Lobato um profeta (já que em sua obra, O Presidente Negro, ele relata que o primeiro presidente negro dos EUA morreria no cargo).


É muita coincidência que várias pessoas tenham esse ato falho. É pegar o grande terrorista e o grande americano, duas grandes figuras de lados opostos, e aproximá-las. Agora, os motivos para isso podem ser o fato de que ideias opostas se atraem, há um estudo do Freud de que as palavras "alto" e "baixo" têm mesma raiz; e também o reflexo do modo como as pessoas veem a ação dos EUA no território dos outros, que seria, assim, comparada à ação terrorista.
 Psicanalista Chaim Katz


Mas isso é especulação. Fico pensando também se os jornalistas e a imprensa falada (se bem que até na escrita também se erra) não estariam errando mais que o aceitável. Como uma espécie de ato falho, ou mesmo uma mensagem subliminar para que a engraçada troca de nomes fique sendo mais lembrada do que a notícia em si.


Desde que Obama assumiu, setores da mídia mais ligados aos republicanos têm feito acusações como a de que Obama não seria americano, ou que ele teria origens muçulmanas. Essa confusão é uma forma de, pelo ato falho, marcar isso e atacar sua legitimidade. Ainda mais no momento em que ele consegue essa vitória política que os republicanos não conseguiram. A gente pode até pensar nesse "lapso de língua" como uma forma de os opositores de Obama desejarem sua morte. Além disso, quando a gente se desloca da política doméstica para a internacional, esse lapso é, também, uma forma de aproximar a prática do Estado americano de caçar inimigos em guerras com um ato terrorista.

Joel Birman. Psicanalista e professor da UFRJ e da Uerj