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20 de mai. de 2011

Salve o seu filho com as próprias mãos

Foto: Elisabete e Bruno
Eis aí algumas técnicas para enfrentar situações imprevistas e ajudar a salvar quem você ama.

By Liana Fernandes



Elisabete se encontrava no escritório de casa com o filho, de apenas 7 dias de vida, no colo. Eles estavam sozinhos, e Bruno tinha acabado de mamar. De repente, ele começou a agitar os braços, balançando todo o corpo. Seu rostinho ficou vermelho e ele não emitia som algum. “Sacu­di o meu filho diversas vezes para fazê-lo chorar. Pensei: Se ele reagir, sei que está bem”, recorda Elisabete, que na hora ficou em pânico. Felizmente, Bruno chorou.
 
Mãe de “primeira viagem”, Elisabete Strøm, de 33 anos, não tinha ideia de como agir em situações como essas. Mesmo atuando na área de saúde – é professora de Educação Física e ex-dona de uma farmácia em Feira de Santana, na Bahia –, cuidar de um bebê nunca tinha feito parte de sua rotina.
 
Elisabete contou o que acontecera naquela manhã ao marido, o norueguês Torbjørn Strøm, de 39 anos, que a tranquilizou. No entanto, quando o menino completou 1 mês, outra situação perigosa de engasgo aconteceu. Eram três da madrugada quando Bruno acordou com fome.
 
Ela contemplava o rosto do filho quando, mais uma vez, ele parou de mamar, ficou vermelho, os olhos arregalados. Dessa vez, tossiu. Em alguns segundos, a jovem mãe pensou rápido e deu tapinhas no peito do filho. Como não adiantou, ela o deitou de bruços em seu colo e alternou batidinhas nas costas com uma leve pressão no peito. Bruno golfou e voltou a respirar. “Só conseguia chorar e tentar manobras com Bruno enquanto pedia a Deus que meu filho recuperasse o ar. Apesar do desespero, consegui ser racional.” Embora Bruno tenha se recuperado, Elisabete perdeu o sono. Decidiu que não podia suportar uma situação dessas de novo sem saber exatamente o que fazer. Passou o restante da madrugada na Internet e ficou espantada com a quantidade de relatos de engasgos e com o número de óbitos que encontrou.
 
Para auxiliar os pais apresentamos aqui técnicas e manobras que podem ajudar você a salvar o seu filho, explicadas pelo Dr. Aramis Lopes Neto, presidente do Departamento Científico de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria, e pelo Dr. Paulo Carvalho, professor do Departamento de Pediatria e Puericultura da Faculdade de Medicina da UFRGS.
 
A criança desmaia

Em primeiro lugar, é preciso usar estímulos verbais e dolorosos para confirmar que a criança perdeu os sentidos. Pergunte-lhe algo e veja se ela responde; belisque-a e veja se reage (bebês chorariam ou fariam careta). Isso não deve durar mais de dez segundos. É preciso verificar de imediato se o bebê ainda respira. Percebe-se isso pelo movimento de subida e descida do abdome. Em crianças mais velhas, observe o peito. Se ela estiver inconsciente e ainda respirar, deite-a imediatamente de lado, na posição lateral segura (figura a), para impedir a inalação de secreções caso haja vômito, e mantenha-a sob vigilância. Ligue imediatamente para o Corpo de Bombeiros (193).
 
A criança desmaia e para de respirar

Caso perceba que ela parou de respirar, retire da boca da criança corpos estranhos e secreções. Se você notar que a criança ou o bebê não voltou a respirar, inicie a Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP), fazendo 30 compressões torácicas – deve-se comprimir 1/3 do diâmetro anteroposterior do tórax, o que corresponde a cerca de 4 cm, na maioria dos bebês, e cerca de 5 cm, na maioria das crianças (figura b). Depois, pode-se aplicar as ventilações: inspire fundo e ponha a boca sobre a boca e o nariz da criança, se for um bebê (figura c), ou apenas sobre a boca, fechando-lhe as narinas, se for uma criança maior. Sopre duas vezes. Antes de cada expiração, inspire. Se o nariz estiver quebrado, faça respiração boca a boca; se a boca estiver cerrada, faça respiração boca a nariz. Confira se a respiração voltou. Se não houver sinais de que a criança está respirando, ligue para 193. Enquanto o auxílio médico não chega ou as funções vitais (respiração, circulação sanguínea) não se restabelecem, repita as compressões torácicas e depois as ventilações.
 
A criança engoliu alguma coisa e está sufocada

Coloque o bebê (com menos de 1 ano) sobre a parte superior do braço, com a cabeça para baixo. Apoie a cabeça dele com os dedos, colocados sob o queixo e levemente estendidos, de forma a abrir a boca. Dê cinco tapas rápidos nas costas (figura d). Vire a criança de barriga para cima e faça cinco compressões torácicas (figura e). Confira se a respiração voltou. Caso contrário, repita a manobra. Se a criança perder os sentidos ligue para 193 ao mesmo tempo que inicia a RCP, fazendo as compressões torácicas e as ventilações. No caso de crianças com mais de 1 ano, use a manobra de Heimlich (figura f). Coloque-se atrás dela, em contato próximo. Mantenha o punho fechado na parte superior do abdome, sob o esterno, com a outra mão por cima, posicionando os cotovelos afastados do corpo da criança. Puxe com força em sua direção, empurrando o punho para trás e para cima. Repita a manobra até cinco vezes. Se o que foi engolido não sair, faça as manobras de ressuscitação explicadas anteriormente. Caso a criança expulse algo pela narina ou pela boca, faça-a respirar.
 
A criança cai e se machuca

É aconselhável limpar o machucado usando apenas água corrente abundante. Não utilize álcool nem lenços umedecidos, que podem grudar na ferida. Se vocês estiverem num parque ou na praia, use ataduras esterilizadas a fim de proteger o ferimento, se tiver alguma à mão.
 
A criança está com febre alta

Se não puder usar antitérmicos porque há vômito ou diarreia, dê-lhe um banho de banheira com água morna, dois graus abaixo da temperatura da febre (por exemplo, se for uma febre de 40 graus, a água deve estar a 38 graus). Depois, deixe a água esfriar aos poucos. Mantenha a criança na água por, pelo menos, 15 a 20 minutos.
 
A criança sofre uma queimadura superficial

No caso de queimadura de primeiro grau (que apresenta ardência e vermelhidão no local), aplique uma compressa de água fria ou mantenha a área afetada sob um jato de água fria até a dor passar. Se for uma queimadura mais extensa, de segundo grau (com bolhas ou em carne viva) ou ainda de terceiro grau (superfície branca ou enegrecida), lave a região com água fria corrente e cubra a queimadura com atadura esterilizada umedecida apenas em água pura. Se a queimadura for muito extensa, enrole a criança em um lençol limpo e umedecido. Leve-a ao hospital, para que o ferimento possa ser avaliado por um especialista. Em casos graves, ligue imediatamente para 193.
 
A criança é picada por uma abelha ou outro inseto

Não esprema a picada em busca do ferrão do inseto. Cubra a área com uma compressa de água fria (ou um lenço limpo umedecido), para ajudar a diminuir a inflamação. Aplique no local da picada um gel anti-histamínico.
 
A criança sangra pelo nariz

A criança não deve inclinar a cabeça para trás e nem erguer os braços; basta manter o corpo e a cabeça inclinados para a frente, comprimindo o nariz no lado do sangramento (geralmente só sangra por uma narina). Podem ser colocadas compressas frias para conter o fluxo. Se, mesmo assim, o sangramento continuar, deve-se deixar o sangue sair. Se ele for decorrente de um trauma local, não comprima o nariz e leve a criança imediatamente para o hospital. Se o sangramento ocorrer com frequência, é bom procurar um otorrinolaringologista para exames.
 
A criança é mordida por um cão

A mordida deve ser lavada exaustivamente com água corrente e sabão, retirando-se todos os resíduos de saliva do animal, e coberta com uma compressa limpa. Depois, leve a criança a um hospital de doenças infecciosas. O pediatra deve ser avisado.
 
A criança quebrou o braço ou a perna

Se for uma fratura exposta, imobilize o membro na posição em que estiver e leve a criança ao setor de ortopedia do hospital. Se não houver ferimento externo, aplique uma bolsa de gelo ou uma compressa fria na área lesionada para reduzir a inflamação. Não tente pôr o osso deslocado no lugar. Vá imediatamente para o hospital!
 
Elisabete e Torbjørn nunca ouviram falar de cursos de primeiros socorros infantis. “Se fossem mais divulgados, eu faria. A alternativa foi ler muitos livros, pesquisar em diversos sites e assistir a vídeos, que, aliás, são ótimos para compreensão das manobras corretas”, diz Elisabete. Bruno completa um ano este mês, e Elisabete mantém o blog Meu filho, minha vida para trocar experiências e informações sobre a maternidade.
 
Hora da brincadeira
Fique de olho!

Moedas, balas, aparelhos eletrônicos e brinquedos dos quais você nunca suspeitaria podem causar problemas ao seu filho. Então, antes de comprar um brinquedo, verifique se a embalagem do produto tem o selo do Inmetro ou se contém peças muito pequenas e fáceis de destacar. E sempre respeite as recomendações quanto à idade da criança.