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19 de mai. de 2011

Santa paciência

SÃO PAULO (Reuters) - Quem disse que não é possível tratar de forma leve e bem-humorada temas que diariamente estão nas manchetes dos jornais e acabam se destacando pelo lado negativo? As históricas e tensas relações entre muçulmanos e judeus, por exemplo? É o que faz o diretor britânico Josh Appignanesi na comédia "Santa Paciência", que cutuca a onça com vara curta, mas sem apelar para baixarias.
"Santa Paciência", que estreia na sexta-feira, deve muito ao protagonista, o britânico de origem iraniana Omid Djalili, um comediante de stand-up que interpreta Mahmud, um impagável paquistanês em crise de identidade religiosa e cultural.


Às vésperas do casamento de seu filho, na comunidade muçulmana de Londres, ele descobre numa caixa de papéis velhos um documento comprovando que foi adotado. Curioso em saber quem são seus pais biológicos, ele procura o serviço público responsável pelo processo e descobre, de forma irregular, que nasceu em uma família judaica. É o que basta para ele, criado numa família muçulmana light, se sentir um estranho no ninho e perder o rumo.


Com medo de se abrir com a mulher, ele acaba revelando o segredo ao vizinho taxista, um judeu americano com quem vive às turras. Se Mahmud é um muçulmano que admite não seguir fielmente os preceitos de sua religião, o taxista Lenny (Richard Schiff), por sua vez, também não é um judeu-padrão.
Mas, mesmo que tenham divergências pessoais (o taxista insiste em estacionar o carro na porta de Mahmud), não é a religião que os opõem. Nesse ponto, o filme acerta ao mostrar como é possível a convivência entre as pessoas e ao ironizar as supostas diferenças que acabam tornando vizinhos em inimigos irreconciliáveis. O diretor brinca com os preconceitos e estereótipos de ambos os lados e não faltam provocações e piadas, que nunca descambam para o desrespeito.


Claro que a busca de Mahmud por suas raízes lhe trará muitos problemas, e o meterá em confusões, seja na família ou em seu círculo de amigos. E isso no momento em que seu filho lhe pede o máximo de empenho para assumir o papel de muçulmano disciplinado. O padrasto de sua namorada é um líder religioso radical e tudo o que o rapaz não quer é que Mahmud vire o mundo de todos de cabeça para baixo e arruíne seu casamento. Mas será que é pedir demais para o pobre Mahmud?


(Por Luiz Vita, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb