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20 de mai. de 2011

Sete dores que não podem esperar!...

Para onde quer que olhe, Steve Hart, consultor tecnológico de 49 anos, vê um lembrete do risco que correu e que lhe danificou a vista. A visão antes perfeita de Hart foi prejudicada por um pequeno ponto que estará sempre fora de foco, como se visse uma imagem em 3-D sem os óculos especiais, em consequência da ruptura de retina que ele ignorou durante três dias. Se tivesse ligado para o médico na manhã de sábado em que começou a ver pontinhos flutuantes, poderia ter resolvido o problema com um simples tratamento a laser, e ele teria voltado ao trabalho na segunda-feira. Mas esperou até quarta-feira para consultar o médico, ao perder de repente quase toda a visão do olho esquerdo. Nisso, precisou de uma cirurgia que o deixou quatro semanas sem trabalhar, e a sua visão nunca mais foi a mesma.
 
“Quando há mudanças na visão, não hesite”, diz Hart. “Ligue para o médico onde estiver. Isso irá lhe poupar muita tristeza.”
Mas o que Hart fez – ou não fez – é alarmantemente comum. Muitos aprendem, desde a infância, que a reação dos adultos a dor, fraqueza ou transtorno emocional é ignorar e aguentar. E, com os problemas econômicos, há mais gente aguentando do que antes. Uma pesquisa recente da Kaiser Family Foundation revelou que 45% dos americanos vêm adiando os tratamentos médicos por conta da crise econômica que assola os Estados Unidos. Dizemos a nós mesmos que agir assim não traz consequências graves, que pode ser inconveniente e até doloroso mas que, no fundo, não há perigo. Só que as pesquisas revelam, cada vez mais, que suportar os sintomas traz danos irreversíveis.
 
Isso acontece na depressão, nas enxaquecas e até em coisas comuns, como uma entorse no tornozelo. De acordo com Jay Hertel, especialista americano em fisiologia das articulações, são muitos os que ignoram as entorses ou interrompem o tratamento antes que a lesão cicatrize, e bem comum o conselho assustador que se dá às crianças em toda parte: “Ande que sara.” Estudos recentes demonstram que, quando se torce o tornozelo, alguns receptores sensoriais dos ligamentos (que ajudam o cérebro a saber onde estão posicionados o pé e a perna) podem sofrer lesão permanente com o tratamento inadequado. Em consequência, o tornozelo perde um pouco da capacidade de se comunicar com o cérebro e de evitar novos traumatismos, e a pessoa fica vulnerável a novas lesões.
Proteja-se de sintomas incômodos, dor crônica e coisa pior. Eis aqui sete dores que nunca devemos ignorar – e como tratá-las.
 
1 A pior dor de cabeça da vida

Todos temos dor de cabeça, mas, em alguns casos, essa dor pode ser sintoma de uma emergência médica fatal, como o rompimento de um aneurisma ou um derrame.
O que fazer: De acordo com os especialistas da Clínica Mayo, “uma dor de cabeça forte e súbita como uma trovoada”, principalmente se piora mesmo com descanso e analgésicos comuns, pode ser um aneurisma – uma fraqueza na parede de um vaso sanguíneo – rompido que provocou uma hemorragia no cérebro. Isso é gravíssimo e exige cuidados médicos imediatos. A dor de cabeça acompanhada por fala arrastada ou fraqueza de um dos lados do corpo é sinal clássico de derrame, causado em geral por um bloqueio do fluxo de sangue no cérebro. Há um “período áureo” de apenas poucas horas no qual o tratamento é mais eficaz; vá para o pronto-socorro ou chame o serviço de emergência. Se a dor de cabeça piora depois de uma pequena queda ou golpe na cabeça, pode ser sintoma de um inchaço potencialmente letal do cérebro. Ligue para o médico a qualquer hora.
 
 
2 Enxaquecas

Ninguém afirma que essas dores de cabeça fortes e incapacitantes exijam providências imediatas. Mas estudos recentes fizeram achados inquietantes no caso das mulheres que têm enxaqueca com aura – distorções da percepção, geralmente visuais, como luzes que piscam e se movem em zigue-zague ou visão desfocada. Antes, essas dores de cabeça eram consideradas episódicas, “sem deixar vestígio de que tinham ocorrido”, diz Lenore Launer, Ph.D. e chefe de neuroepidemiologia do National Institute on Aging (NIA, Instituto Nacional de Envelhecimento dos Estados Unidos). Não são mais. Os estudos da Dra. Lenore no NIA verificaram que as mulheres que têm enxaqueca com aura apresentam quase o dobro de pequenas lesões no cérebro – áreas minúsculas do cerebelo com tecido necrosado – do que aquelas que não sentem dor. Ainda se estuda se essas alterações no cérebro são causa ou motivo da enxaqueca (ou alguma combinação das duas). Mas essa é mais uma razão para procurar tratamento preventivo.

O que fazer: Quem tem dores de cabeça fortes ou frequentes deveria consultar um médico capaz de oferecer os tratamentos mais modernos, e identificar e controlar os "gatilhos" que as provocam, com medicamentos capazes de impedir as crises e controlar a dor. Não há indícios de que essa abordagem previna ou diminua as lesões cerebrais, mas os especialistas acreditam que reduzem a probabilidade de as enxaquecas se tornarem crônicas. (Há quem sofra de enxaqueca durante 15 ou mais dias por mês, uma forma muito sofrida de viver). 

3 Depressão

Embora muita gente considere a depressão pouco importante, os especialistas sabem que ela é um transtorno debilitante que tem de ser tratado prontamente. As pesquisas mostram que quanto mais se retarda o tratamento, mais difícil fica controlar os sintomas. E estudos recentes por imagem levaram alguns pesquisadores a acreditar que a parte do cérebro chamada de hipotálamo pode encolher em quem tem episódios múltiplos de depressão.
O que fazer: Quem vive se sentindo triste ou ansioso, com desesperança, falta de interesse no trabalho ou em passatempos, e ideias recorrentes de morte ou suicídio, deve, segundo Kay Redfield Jamison, Ph.D., professora de psiquiatria da Universidade Johns Hopkins, buscar o auxílio de psicólogos, psiquiatras e outros profissionais de saúde mental. Pelo menos, converse francamente sobre o que sente com o seu clínico geral, que saberá quando encaminhá-lo a um especialista. As decisões sobre a duração da terapia, da medicação ou de ambas só devem ser tomadas junto com o profissional de saúde, nunca por conta própria. Muita gente simplesmente para de tomar os remédios, o que pode trazer mais sofrimento ou até recaídas.
 
 
4 Entorses de tornozelo

Quem torce o tornozelo distende um ou mais dos três ligamentos principais que seguram a articulação. Se a entorse não for adequadamente tratada, as fibras desses ligamentos podem sarar em posição inadequada, encurtadas ou estiradas, deixando a vítima com tendência a novas lesões. Na verdade, até 30% dos que torcem o tornozelo passam a ter “instabilidade crônica”, o que leva a um ciclo de lesões repetidas.

O que fazer: Quem torce o tornozelo e não consegue andar nem apoiar o peso nele deve ir ao pronto-socorro para ver se há ossos quebrados ou lesão grave dos ligamentos. Se é possível andar sem dor forte, deve-se enfaixar o tornozelo com uma atadura para reduzir o inchaço e repousar.
 
Mantenha o tornozelo erguido durante 48 horas e, de duas em duas horas, aplique gelo por cerca de 20 minutos.
 
Mesmo depois de passados a dor e o edema, não se considere curado, diz o cirurgião John Kennedy, do Hospital de Cirurgias Especiais de Nova York; para ter certeza de que não haverá outra lesão, é preciso fortalecê-lo. Kennedy recomenda uma série de exercícios para melhorar o equilíbrio, como este: fique num pé só e dobre o joelho da outra perna; depois, troque de perna e repita. Comece a escovar os dentes nessa posição, como um flamingo, durante trinta segundos; vá aumentando até ficar três minutos em cada perna.
 
 
5 Pressão forte no peito

Apesar de todo o apelo nos últimos anos para levar a sério os possíveis sintomas de enfarte, um estudo da revista da Associação Médica Americana mostrou que de 40% a 50% dos que têm sintomas os ignoram por até seis horas. Infelizmente, o músculo cardíaco começa a morrer na primeira meia hora do enfarte, de acordo com o Dr. David Fischman, cardiologista intervencionista da Faculdade de Medicina de Jefferson, na Filadélfia.
 
O mais chocante: um estudo de pesquisadores do Hospital Presbiteriano de Nova York verificou que metade das mulheres entrevistadas não ligaria para o serviço de emergência nem que tivesse um enfarte.
 
Parte do problema é que muita gente acha que enfarte dói. Segundo o Dr. Fischman, o sintoma mais perigoso não é a dor, mas a pressão: “A dor aguda tem mais probabilidade de ser musculoesquelética: incômoda, mas não perigosa. O que exige atenção é o desconforto súbito no peito, como se alguém se sentasse em cima dele. Isso pode se irradiar para os braços, as costas e a mandíbula. Se ao andar ou apertar o peito a sensação piora, provavelmente não é enfarte; se a sensação permanece a mesma quando a pessoa se move, corra para o hospital.”
 
As mulheres devem ficar mais atentas, diz o Dr. Fischman: a probabilidade de sentir pressão no peito é menor; mas um desconforto no braço, nas costas e na mandíbula, fácil de desconsiderar, é frequente. “É fundamental ter consciência do corpo.”

O que fazer: Ligue para seu médico – ou, melhor ainda, ligue a caminho do pronto-socorro. “E mal não vai fazer”, diz o Dr. Fischman, “se você tomar uma aspirina no caminho.”

6 Dor de barriga

O mundo é cheio de dores de barriga, mas algumas não devem ser ignoradas. Podem ser sintoma de apendicite e de outras doenças potencialmente fatais.

O que fazer: A dor de barriga aguda que piora com o movimento ou que faz a pessoa acordar de um sono profundo pode significar um problema perigoso, como apendicite ou mesmo uma crise de vesícula ou cólon, diz o Dr. Lawrence R. Schiller, do Centro Médico da Universidade Baylor.
 
Se a dor é acompanhada de febre, edema ou sensibilidade ao toque; vômitos, diarreia ou prisão de ventre; mudança da cor da urina ou amarelamento da pele ou do branco do olho, entre em contato com o médico imediatamente ou vá para o pronto-socorro. Faça a mesma coisa se houver dor súbita na barriga que se irradia para as costas ou para a virilha, ainda mais se ficar meio zonzo.
 
 
7 Mudança súbita da visão

De acordo com a Dra. Julia Haller, oftalmologista-chefe do Instituto de Olhos Wills, na Filadélfia, muita gente adia o tratamento dos problemas da visão – como aconteceu com Steve Hart, quando teve os sintomas de lesão na retina – por ser enganada pela capacidade de compensação do cérebro. “O cérebro passa prontamente de um olho para o outro”, explica ela.
 
“Muita gente nota que, de repente, há alguma coisa errada na visão, mas, como ainda enxerga bem com um dos olhos, não percebe como o outro está ruim.” Mas as mudanças súbitas da visão podem indicar vários problemas que exigem tratamento imediato.

O que fazer: Quem vê luzes piscando ou pontinhos, linhas, fiapos ou teias que flutuam, ou quando parece que há uma cortina se fechando sobre o campo de visão, ou quando se perde de repente a visão de um dos olhos, é preciso ligar imediatamente para o oftalmologista ou correr para o pronto-socorro. Embora a ruptura e o descolamento da retina sejam as lesões mais comuns associadas a esses sintomas (principalmente em pacientes com mais de 40 anos), há outras causas possíveis que o especialista precisa eliminar. A maioria delas pode ser tratada de forma relativamente não invasiva, quando diagnosticada a tempo; na ruptura de retina, há um período de algumas horas ou um dia em que se pode usar o tratamento com uma técnica a laser não invasiva. No descolamento, é preciso cirurgia. “Quanto mais se retarda o diagnóstico”, diz a Dra. Julia, “menor a probabilidade de recuperar a visão.”
 
Dependendo da gravidade dos sintomas, pode ser difícil ir ao médico ou chegar ao hospital dirigindo. A Dra. Julia diz que, em caso de emergência, não há problema em dirigir quando se enxerga com apenas um dos olhos; só não coma nada pelo caminho. “É bem possível que a pessoa precise de cirurgia”, diz ela. “E não se pode operar quem acabou de comer.”