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19 de out. de 2011

Revivendo emoções!...

A suposta influência de Cassia Eller na obra de Maria Gadu

É comum, quando uma nova cantora surge, tentar compará-la, no estilo, na atitude, na voz, com alguém que já fizera sucesso anteriormente. Já disseram que Chico Buarque é o novo Noel Rosa, que Seu Jorge é o novo Jorge Benjor, ou, por razões óbvias, que que Maria Rita é a nova Elis Regina.
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No entanto, recentemente fui provocado a pensar sobre as inúmeras referências que se fazem, com a comparação de Maria Gadu (insisto em não colocar acento. Não se acentua oxítonas terminadas com a letra "u") com Cassia Eller. Pesquisando aqui e acolá, vi que existem inúmeros sites, blogs, comentários, insinuando que Maria Gadu se inspira em Cassia Eller, seria uma nova Cassia Eller, ou outras coisas do gênero. E percebi o quanto se confunde uma artista com seu público, o que é uma coisa bem diferente. 
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Fui ouvir atentamente a ainda emergente obra de Gadu, e percebi que a sua influência musical está muito mais para Marisa Monte do que para Cassia Eller, se formos comparar as duas maiores cantoras brasileiras surgidas na década de 90. Embora não se possa fazer um antagonismo entre Marisa Monte e Cassia Eller, pode-se perceber que Marisa, embora tenha começado mais pop, foi paulatinamente se aproximando do samba, e de um estilo mais suave e romântico, enquanto Cassia é mais pop/rock, mais crua, e nem por isso menos cantora.
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Com efeito, Cassia gravou no seu acústico "vá morar com o diabo", de Riachão, que dificilmente seria gravada por marisa, que, por sua vez, gravou "Pra ver as meninas", de Paulinho da Viola, que não parece se encaixar no reperório de Cassia.
Mas  isso é uma generalização, e como toda ela, reducionista, parcial e imperfeita. Mas o que parece evidente é que, se Gadu bebeu da fonte de Cassia, bebeu ainda mais de Marisa Monte, como ele mesmo reconhecera numa entrevista ao jornal Folha de São Paulo: 
"Meu disco é uma mistura do universo que a Marisa me apresentou", diz. "Foi por ela que conheci Arnaldo [Antunes], Nando [Reis], Carlinhos Brown, Paulinho da Viola. Ela tem um lugar muito bonito dentro do meu mundo."
Mas por qual razão, afinal de contas, se associa Gadu a Cassia, e não á Marisa? Muito mais pelo modo de vestir e por questões relativas à sexualidade do que pelo estilo musical. Maria Gadu tem um jeito de se vestir mais identificado com o de Cassia, mas não passa (e não tem porque passar) uma atitude semelhante à de Cassia Eller. Mas é fato que ela acabou cativando um público que tinha ficado órfão com Cassia Eller, mas que nem por isso é possível identificá-las musicalmente. A própria Gadu dissera isso numa entrevista: 
"Adoro a Cássia Eller, mas não sou a reencarnação dela, até porque quando ela faleceu eu já estava viva. (risos) Eu a acho simpática e insubstituível. Não tem essa de ser a nova Cássia Eller. Ninguém é o novo ninguém, só ela poderia se renovar, como fez ao longo de toda a carreira. Foi uma perda muito grande a nós e aos nossos ouvidos. Sempre gostei e ouvi muito, e ouço sempre".
A gravação de ambas da lanterna dos afogados mostra bem a diferença de voz, estilo e interpretação. Duas cantoras diferentes que atraem o mesmo público...
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/879500-maria-gadu-diz-que-compos-shimbalaie-aos-dez-anos.shtml

Carro Velho: 2 versões... Banda Eva (Com Ivete Sangalo)  A diversão

Falei há pouco da versão revoltada com a injustiça que permeia a música "Carro Velho", dos Paralamas, gravada em 1991. Em 1998, outra música com o nome de "Carro Velho" faz sucesso. Foi no último disco de Ivete Sangalo à frente da Banda Eva. 
Nesse caso, o carro velho é visto de uma maneira muito mais lúdica, como uma alternativa ao "andar a pé"... me fez lembrar do meu primeiro carro... carro velho, usado, que tinha o não honroso apelido de "Fumaça" (repararam que apenas carro velho tem apelido? Como se fosse para dar um certo charme ao veículo...)"
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Carro Velho: 2 versões... Banda Eva (Com Ivete Sangalo) (Parte 2) A diversão
Nas música, os defeitos do carro velho são elencados de maneira bem-humorada, como o pneu queimado e o  carburador furado, mas não tem problema, porque o importante, afinal, para o "eu-lírico" feminino, é ter o negão do lado, com quem ela pode se soltar, beber, e ele até guiá-la depois da bebida. 
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Carro Velho: 2 versões... Banda Eva (Com Ivete Sangalo) (Parte 2) A diversãoAfinal, esse carro velho, diferente da canção do paralamas, não é de alguém frustrado por não ter o carro novo e cuja saída é ganhar na loteria... aqui o carro velho não é vergonha, parece o primeiro veículo de alguém que andava a pé, ou, como se diz na Bahia, de "buzu", e que agora pode dirigir sua "arabaca", feliz da vida, com o negão do lado, de noite ou de dia, sem se preocupar com a carona ou com o horário do ônibus.
Composição de Ivete Sangalo e Ninha (muitos anos a voz da Timbalada), a músicva tem a cara e irreverência da sua intérprete, na época vocalista da Banda Eva. 
Cheiro de pneu queimado
Carburador furado, coração dilacerado
Quero o meu negão do lado
Cabelo penteado no meu carro envenenado

Eu vou, eu vou
Então venha
Pois eu sei que amar a pé amor
É lenha

Eu vou pra la dançar, seja noite ou seja dia
E se eu beber alguma amor, ouou me guia

Quer andar de carro velho, amor
Que venha, pois eu sei que amar a pé amor
É lenha

A Lista - Uma análise crítica da canção de Oswaldo Montenegro

Conheço muita gente que se impacta com a música "A Lista", de Oswaldo Montenegro. A música foi composta para uma peça teatral do mesmo nome. 
Quando a ouvi pela primeira vez, pensei com detalhes da letra... dos amigos que se foram, dos sonhos que não se realizaram, dos amores que a vida trouxe e levou embora. Uma vida que remete a um passado de sonhos, de amigos, de segredos, de busca de mistérios, de "defeitos encantadores", de pessoas que se amavam e que hoje não o amam mais...
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, A Lista - Uma análise crítica da canção de Oswaldo MontenegroA letra, composta de estrofes de quatro versos, compara o passado e o presente, um presente de desecanto, em que a mentira, os "defeitos sanados" e as músicas quase esquecidas se contrapõem à juventide de sonhos, amigos e esperança...
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, A Lista - Uma análise crítica da canção de Oswaldo MontenegroQuando se pesquisa sobre a letra da música em blogs e textos, é difícil perceber quem faça uma análise crítica de sua letra. A maioria dos textos exprimem uma identificação, admiração pelo texto, pela mensagem. Ela foi classificada como "emocionante", "impressionante", "um tapa na cara"... Não há dúvida que é uma música nostálgica de quem se sente infeliz por ter desperdiçado a vida, os sonhos, os amores...  
Não há dúvida de que se trata de uma música nostálgica. Todas as referências ao passado são idílicas. Imagina-se o eu-lírico no passado, cheio de juventude, de sonhos, de amigos, cheio de amor para dar e receber... quantas ideias, quantos segredos, quantos mistério...
O hoje é tratado de maneira sombria e melancólica. É como se o tempo tivesse corrompido a pureza da juventude, ao ponto do sujeito não mais reconhecer sua "essência", pois ela está na "foto do passado" ou no "espelho de agora?"
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, A Lista - Uma análise crítica da canção de Oswaldo MontenegroOs sonhos se perderam, como se perderam "os amores jurados pra sempre"... há um pouco da famosa "síndrome de Peter Pan" na canção, porque ela relaciona o devir do tempo com corrosão, corrupção, o passar dos anos conspurca sua vida, seus sonhos, e por isso é uma canção de desencanto e de desesperança.
A mensagem final passa que éramos melhores quando éramos jovens, cheios de sonhos e de ingenuidade...  enfim... I want to be forever young... enfim, é uma idealização da própria juventude, em contraponto com a maturidade... e como toda idealização, exagerada e parcial, o que não retira o valor da canção...


A letra...


Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...


Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?


Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?


Maringá _ Primeiro a música: depois a cidade

No ano de 2008, tive uma breve passagem pela cidade de Maringá, no interior do Paraná, uma cidade agradável (rival da também bela Londrina). Pesquisando aqui e acolá, descobri uma música de Joubert de Carvalho, denominada "Maringá", e fui pesquisar para descobrir se haveria alguma relação entre a música e a cidade.

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Maringá
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Joubert de Carvalho
No entanto, para a minha supresa inicial, vi que Joubert de Carvalho não era paranaense, e sim mineiro de Uberaba, nascido em 1900. E para maior surpresa, a música "Maringá" foi composta em 1932, enquanto a cidade só foi criada em 1947 e emancipada em 1951. Em outras palavras, parece que, em vez da cidade inspirar a canção, foi a canção que inspirou a cidade... 

Assim, pesquisando aqui e acolá, inclusive no sítio digital do próprio município, percebi que a relação entre a música e a cidade já é conhecida por muitos Maringaenses...
Eis aqui uma síntese de como surgiu a música, e depois, como surgiu a cidade: 
A história da canção achei no blog Capital da Seresta:
No seu livro "Dama do Encantado", o escritor João Antônio lembra como nasceu a canção. Conta, em síntese, o seguinte: - 1930. Convidado por Joubert de Carvalho, o paraibano José Américo de Almeida, à época um poderoso ministro de Getúlio (e também escritor, sua obra mais conhecida se chama A Bagaceira), foi à casa do compositor de "Pierrô", de quem se dizia fã. Naquela noite, Zé Américo esqueceu que era ministro, e mergulhou numa serenata que invadiu a madrugada carioca.
Dias depois, Rui Carneiro, seu oficial de gabinete, pediu a Joubert "uma composição sobre o Nordeste calcinado e penando miséria". Queria agradar o patrão. No primeiro momento, o poeta desejou compor falando de Areias, a terra natal de Zé Américo. Desistiu, alegando que "Areias não era musical". Restou-lhe compor em cima da cidade de Rui Carneiro, a cativante e sonorosa Pombal.
Mas Joubert achava que "em toda história sempre entra uma mulher". Tinha que botar na canção uma Maria. E essa Maria ele foi buscar na pequenina Ingá, cidade "onde a seca castigava mais tirana". Maria do Ingá, no primeiro instante; logo em seguida, Maringá. E com este nome, nascia a canção.
A Maria em questão morava na cidade de Pombal, interior da Paraíba, numa ruazinha coberta por ingazeiros. Consta que era uma linda cabocla, conhecida como Maria do Ingá. Era filha de retirantes nordestinos, dona de uma beleza encantadora, de corpo bem feito, pele morena, olhos e cabelos negros. Maria fascinava a todos inspirando ardentes paixões. Só que a seca levou a linda Maria, deixando o político Rui Carneiro desolado de tristeza.
Na fusão das palavras de Maria mais Ingá, surgiu Maringá, dando origem a Canção "Maringá, Maringá".
E a cidade? Consultando a página oficial do Município na Internet, vem a história: 
O certo é que por volta de 1940, esta área coberta por uma densa floresta, já era denominada por Maringá, tendo a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, colocado uma placa com esse nome nas imediações, a exemplo de outros nomes como Ivaí, Tibagi, Inajá e outros provenientes da língua guarani.
Os córregos e rios eram tantos que lhes faltava criatividade para nomeá-los. Por esse motivo, os funcionários da Companhia Norte do Paraná, escolhiam nomes de cidades de seus países, como por exemplo, Astorga e outras. Até marcas de cigarros davam nomes às águas, como o córrego do Fulgor. Ao demarcar essa região, nomeavam os rios e esses é que davam nomes às futuras cidades, como por exemplo, Marialva, Mandaguari e tantas outras.
Encontraram um ribeirão que recebeu o nome de Maringá, provavelmente inspirado na canção de Joubert de Carvalho. Esse córrego foi batizado pelo Senhor Raul da Silva, na época, Chefe do Escritório de Vendas da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, em Mandaguari. nome desse córrego passou ser o nome da futura cidade.
Assim, Maringá recebeu o nome da canção, que por sua vez também tem sua história. 
Quem diria: uma cidade com intensa imigração japonesa, alemã e italiana, inspirada numa morena, retirante nordestina, que a seca levou no agreste de um município do interior da Paraíba. Vale a história. 

A letra:

MARINGÁ, MARINGÁ
Foi numa léva
Que a cabocla Maringá
Ficou sendo a retirante
Que mais dava o que falá.

E junto dela
Veio alguém que suplicou
Pra que nunca se esquecesse
De um caboclo que ficou

Maringá, Maringá,
Depois que tu partiste,
Tudo aqui ficou tão triste,
Que eu garrei a maginá.

Maringá, Maringá
Para havê felicidade,
É preciso que a saudade
Vá batê noutro lugá.

Maringá, Maringá
Volta aqui pro meu sertão
Pra de novo o coração
De um caboclo assossegá.

Antigamente
Uma alegria sem igual
Dominava aquela gente
Da cidade de Pombal

Mas veio a seca
Toda chuva foi-se embora
Só restando então as águas
Dos meus óio quando chora

Maringá, Maringá,
Depois que tu partiste,
Tudo aqui ficou tão triste,
Que eu garrei a maginá.

Maringá, Maringá
Para havê felicidade,
É preciso que a saudade
Vá batê noutro lugá.

Maringá, Maringá
Volta aqui pro meu sertão
Pra de novo o coração
De um caboclo assossegá.


Fontes:
http://www.capitaldaseresta.kit.net/joubertdecarvalho.htm
http://www2.maringa.pr.gov.br/site/index.php?sessao=73f95edd0d1x73&id=17

Fonte - musicblog