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20 de out. de 2011

Revivendo emoções

De Mais Ninguém

Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, De Mais NinguémA música "De Mais ninguém" poderia passar despercebida no disco "Verde anil amarelo cor-de-rosa e carvão", de 1994, talvez o disco que marque a maturidade de Marisa como cantora. Na verdade, a música é um belíssimo choro, gravado por Marisa Monte e o grupo Época de Ouro (que, na época contava, entre outros, com Dino 7 cordas, mestre de Raphael Rabello).
A composição é de Marisa Monte em parceria com Arnaldo Antunes, e a música parece mesmo uma daquelas músicas antigas, com uma bela letra melancólica....
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, De Mais Ninguém
De mais ninguém se refere à substituição da pessoa amada pelo sentimento da dor, a quase prazerosa dor... se ela (a pessoa amada) foi embora, porque quis ficar sozinha ou já tem um "outro bem", a dor não pode ir embora. A dor pertence ao "eu-lírico", como algo inalienável, insubstituível, que reconforta e preenche o vazio da ausência. Por isso, quase como um ato orgulhoso, o "eu-lírico" devolve a dó que eventualmente se sinta dele, pois ele exibe sua dor, marcas e cicatrizes com certo orgulho.
A dor então entra em substituição ao ser amado, e dessa vez como algo que não pode ser tirado ou perdido, como a pessoa amada se foi. E na casa, no peito e nos braços vazios, a dor acaba de se aninhar e ficar. 

Se ela me deixou, a dor
É minha só, não é de mais ninguém
Aos outros eu devolvo a dó,
Eu tenho a minha dor
Se ela preferiu ficar sozinha,
Ou já tem um outro bem.
Se ela me deixou a dor é minha,
A dor é de quem tem.

É meu troféu, é o que restou,
É o que me aquece sem me dar calor
Se eu não tenho o meu amor,
Eu tenho a minha dor.

A sala, o quarto, a casa está vazia,
A cozinha, o corredor
Se nos meus braços ela não se aninha,
A dor é minha.

É o meu lençol, é o cobertor,
É o que me aquece sem me dar calor
Se eu não tenho o meu amor
Eu tenho a minha dor (...)

Sublime. Mais uma banda que acaba com a morte do vocalista. Sua bela música Santeria

Pode parecer estranho uma referência a uma banda de punk rock, com referência fortíssimas de Reggae e ska. Mas me vi ouvindo (olha a figura de linguagem) a gostosa e triste música "Santeria", da banda californiana Sublime, e fui pesquisar um pouco sobre a história da banda, uma história de amigos, que foi tragicamente encerrada com a morte do guitarrista em face do vício pela heroína. Segue um breve resumo encontrado no sítio digital  http://whiplash.net:
Três super camaradas resolvem montar uma banda. Um é um genio pra escrever, compor, misturar estilos e tambem mostrar o próprio; o segundo é um baixista chapado que faz loucuras num solo; o terceiro é um batera que desempenha muito bem o seu papel e tambem solta os "samples" nas musicas, como um DJ. Tem tudo pra dar certo. Os amigos adoram, o pessoal da universidade tambem, e o Sublime se torna a banda mais popular do campus.
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Sublime. Mais uma banda que acaba com a morte do vocalista. Sua bela música SanteriaOs caras vão levando aquela vida de sonho, bebendo com os camaradas, fumando uns baseados, surfando, tirando um som com todo o pessoal e gravando as primeiras fitas. A banda é uma verdadeira familia. Todos são amigos, um desenha uns logotipos, outro ajuda numa letra, e as bandas amigas, como The Ziggens, No Doubt e outras desconhecidas como Filibuster, Slightly Stoopid e Happoldts (banda de um grande amigo de Brad, Miguel) estão sempre presentes dando um apoio e uma palhinha.
Mesmo ficando mais conhecida no circuito californiano e tendo shows pra fazer, o Sublime nao abre mão de manter a "familia" unida. Os caras compram uma van, enfiam equipamentos, amigos, namoradas, cervejas e até os respectivos cachorros (tratados como melhores amigos) e caem na estrada.
Conseguem gravar o primeiro CD, "40 Oz. to Freedom", um dos melhores, que saem vendendo para os amigos em Long Beach (California).
No segundo CD, "Robbin' the Hood", algumas musicas mostram claramente o sofrimento de Bradley na luta contra a heroina. Em "Pool Shark", ele diz: "Um dia perderei a guerra...", e quem ja o viu cantando essa musica afirma que a expressão em seu rosto era de dor. Com esses dois CD's lancados, a banda continua indo bem na escalada para o sucesso, mas a vida de Brad continua muito instável... A namorada, Troy, tenta ajudá-lo a se livrar da heroína, e ele resolve fazer tratamento. Tentou varias vezes, mas tinha recaídas.

Nasce o filhinho de Brad e Troy, Jakob James Nowell. O Sublime vai gravando o terceiro CD, "Sublime". Bradley se casa com Troy, e diz que está feliz por não estar mais usando heroína. Uma semana depois, é encontrado morto num hotel. Naquele dia ele acordou cedo, cheio de disposição, e foi levar Louie, seu dálmata, pra dar uma volta na praia. Foi a última vez que todo mundo o viu. Brad perdeu a guerra. Uma overdose de heroina levou a alma do Sublime bem quando a banda estourava nas paradas, e ele nem pôde presenciar esse sucesso...

Essa foi a Sublime, e Santeria (que faz referência a uma espécia de seita que cultua os santos), é uma canção sobre uma garota que o deixou por outro cara, ele está expressando o quão horrível ele se sente e se perguntando por que isso aconteceu, e aqueles sentimentos primitivos de vingança contra o "Sancho", e a demonstração de sua carência na medida em que ele necessita de amor. O Eu-lírico está  inconsolável e quer agir em sua raiva, questionando por que isso aconteceu, ele sabe que a única coisa que ele pode fazer é seguir em frente, ao mesmo tempo em que parece que a única linguagem que ele consegue externar para sua dor é a violência, uma ameaça de agressão a "Sancho" e "Heina"...
Santeria é uma religião, enquanto alguns afirmam que há maldições, na verdade ele quer dizer que não pratica Santeria nem tem uma bola de cristal. Em suma:  ele não sabe o que vai acontecer. Agora que sua garota se foi, ele diz que " vai se vingar, e para isso, sua alma vai esperar. 
Um som gostoso de se ouvir, e mais uma triste história do fim de uma banda...


http://www.pesbrasil.org/banda-sublime.html;
http://whiplash.net/materias/biografias/039106-sublime.html

Quando lembro da massa da mandioca, mãe...

O ano: 1980. A Rede Globo resolve reeditar os festivais da canção, com o denominado MPB 80. Um cantor baiano contagia o público com sua canção, e fica classificado em terceiro lugar. A composição até hoje ecoa... Raimundo Sodré, cantando a sua música, feita em parceria com Jorge Portugal. Seu nome: A MASSA. 
Quando se ouve a introdução, universal e regional, com samba-de-roda e de chula, já se percebe tratar-se de uma canção diferenciada.
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Quando lembro da massa da mandioca, mãe...Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Quando lembro da massa da mandioca, mãe...
A massa é, ao mesmo tempo, sujeito e objeto, a nossa dor é a dor do menino acanhado, do menino bezerro que vira massa no curral do mundo. A mão que amassa a comida, também molda e amassa "a massa dos homens normais". 
A canção tem uma série de interpretações, desde a crítica social dos meninos marcados que amassama a mandioca em casas de farinha, bem como a desindividualização do homem, que como jerimum amassado, é colocado como parte de uma massa, massa de meninos...
Essa dor se revela num gemido calado, que salta aos olhos, mas parece não haver alternativa a viver nesse moinho de homens, que amassam e são amassados, e a massa amassada é mansa (reparem na aliteração da massa que amassa e mansa é amassada), e que, quando se lembra da massa da mandioca, o que acontece???   
Raimundo Sodré, numa entrevista ao site http://aqueimaroupa.com.br, disse, sobre a canção e sua apresentação no maracanãzinho, em 1980: : 
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Quando lembro da massa da mandioca, mãe...- Ver aquele mundo de gente cantando A Massa foi muito especial pra mim, lá na frente meu pai pulando e cantando, segurando as bolsas de todo mundo e vibrando comigo! Ficamos em terceiro lugar, atrás de Oswaldo Montenegro e Amelinha. A música já era um verdadeiro sucesso, tocava em todas as rádios do país", pontua Sodré.
Sobre a inspiração que o levou a compor a música "A Massa", Raimundo Sodré conta que estava assistindo a um telejornal e viu uma notícia sobre determinada reivindicação da classe média e uma outra sobre a mandioca, quando deu o "estalo":
- Fui dormir, quando acordei no outro dia, já estava com o refrão da música na minha cabeça, ‘quando eu lembro da massa da mandioca mãe, a massa...' (cantarola). Ainda falei com minha mulher, imagine o Maracanãzinho cantando essa música... Dito e certo, previ o sucesso! Mas, antes, gravei a música, em 1976, e levei pra Jorge Portugal fazer a letra, aí ele fez e quando eu ouvi, me emocionei demais. Essa música foi coisa de Deus, porque quando peguei o violão para fazer os acordes, eles casavam perfeitamente com o refrão, acho que Deus colocou no meu ouvido... mas, minha maior tristeza é saber que minha mãe não acompanhou o sucesso da Massa, uma pena! - revela o artista.
E o que acontece quando a gente lembra da massa da mandioca?? Fazendo referências em inglês e francês, a "massa" pode ser lembrada como uma referência à maconha, quando fala que "nunca mais me fizeram aquela presença", em que "massa" e "presença" eram gírias referentes ao consumo...
Mas ele deixa claro que a massa que fala "é a que passa fome", para, em seguida, fazer referências a samba-de-roda, pontos de candomblé. A beleza dessa música não é a mesma de pouco mais de 30 anos atrás, é uma beleza nova, diferente, que se renova e transforma.Vale a pena ouvi-la.... 
A dor da gente é dor de menino acanhado
Menino-bezerro pisado no curral do mundo a penar
Que salta aos olhos igual a um gemido calado
A sombra do mal-assombrado é a dor de nem poder chorar

Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Quando lembro da massa da mandioca, mãe...Moinho de homens que nem jerimuns amassados
Mansos meninos domados, massa de medos iguais
Amassando a massa a mão que amassa a comida
Esculpe, modela e castiga a massa dos homens normais

Quando eu lembro da massa da mandioca mãe, da massa
When I remember of "massa" of manioc
Nunca mais me fizeram aquela presença, mãe
Da massa que planta a mandioca, mãe

A massa que eu falo é a que passa fome, mãe
A massa que planta a mandioca, mãe
Quand je rappele de la masse du manioc, mére
Quando eu lembro da massa da mandioca

Lelé meu amor lelé no cabo da minha enxada não conheço "coroné"
Eu quero mas não quero (camarão).
Minha mulher na função (camarão)
Que está livre de um abraço,
mas não está de um beliscão

Torno a repetir meu amor: ai, ai, ai!
É que o guarda civil não quer a roupa no quarador
Meu Deus onde vai parar, parar essa massa
Meu Deus onde vai rolar, rolar essa massa



Fonte: http://aqueimaroupa.com.br/2010/07/25/sodre-o-cantador-das-dores-e-amores-da-massa/


Ontem demorei pra dormir, tava assim sei lá, meio passional por dentro...

Foi uma coincidência: estava pensando nesse inusitado verso da música popular brasileira, quando na rádio toca aquele samba cantado por Jorge Aragão e Exaltasamba, Eu e você sempre, gravada no ano 2000.
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Ontem demorei pra dormir, tava assim sei lá, meio passional por dentro...É uma música simples, com 6 acordes, e que fala de um amor perdido, que diz que vai se afastar um tempo por causa da dor, e que tenta ter dignidade ao desejar que o outro tenha felicidade longe do eu-lírico. O sujeito deseja cantar sua dor, ao tempo que deseja figir para esquecê-la. A música se encerra com o encontro casual do anel esquecido, nol qual está gravado "só você e eu", e "aí é que o barraco desabou"... ou seja, 'é um samba brega, assumidamente brega...

Mas a frase que vai ficar para a história, a partir de suas muitas interpretações, é a famosa "meio passional por dentro", e saber o seu verdadeiro significado. Sabe-se que esse estado "meio passional" dificultou o sono do protagonista, e que, em seguida, ele gostaria de fugir, num "pé de vento", pra qualquer lugar, para não pensar no fim do relacionamento que aconteceu.
Mas que pista é essa? Afinal, o que é ficar "meio passional por dentro"? É possível ser meio passional? Passional significa ser motivado pela paixão... e como eu não conheço meia paixão, e não sei como é possível ficar meio passional... mas não se fica apenas "meio passional", mas neste estado "por dentro", é uma antítese a "meio passional por fora?" ou "passional por fora por inteiro"?    
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Ontem demorei pra dormir, tava assim sei lá, meio passional por dentro...É essa frase que ficou eternizada... experimente colocar essa expressão no Google, como vocês verão tanta gente no mundo que se encontra "meio passional por dentro". Esse samba-pagode romântico, então, requer, pelo menos, uma análise - se é que é possível - do teor dessa frase. Vamos tentar traduzir isso de alguma forma:
1 _ "Meio passional por dentro" é o sentimento afetivo do homem que não sabe expressar seus sentimentos por inteiro, então ele se diz meio passional, para não assumir integralmente sua paixão; 
2 _"Meio passional por dentro" se refere a um sentimento quase incontrolável; não é incontrolável totalmente, afinal, om sujeito está somente "meio" passional; 

3_"Meio passional por dentro" é a emoção do sujeito simples, que quer guardar um mínimo de orgulho, então, em vez de dizer que está arrasado, ele apenas diz estar "meio" passional; mas como quer se referir ao sentimento, esse "meio" tem que ser por "dentro", isto é, dentro do peito. 

4_"Meio passional por dentro" é um recurso estético do compositor para referir-se ao ritmo interno da paixão, que se revela por dentro, mas que não se exteriorioza por inteiro, portanto, justifica a expressão "meio passional"

5_ "Meio passional por dentro" é algo que não tem nenhum sentido nem lógica.
Qual a opção escolhem?
Logo, logo assim
Que puder, vou telefonar
Por enquanto tá doendo
E quando a saudade
Quiser me deixar cantar
Vão saber que andei sofrendo...
E agora longe de mim
Você possa enfim
Ter felicidade
Nem que faça um tempo ruim
Não se sinta assim
Só pela metade...
Ontem demorei
Pra dormir
Tava assim
Sei lá!
Meio passional
Por dentro...
Se eu tivesse
O dom de fugir
Prá qualquer lugar
Ia feito um pé-de-vento
Sem pensar
No que aconteceu
Nada, nada é meu
Nem o pensamento...
Por falar em nada
Que é meu
Encontrei o anel
Que você esqueceu...
Aí, foi que o barraco desabou
Nessa que o meu barco se perdeu
Nele tá gravado
Só você e eu...



Put your records on - Corinne Bailey Rae. Imobilismo, movimento e homenagem a Bob Marley

Algumas músicas a gente escuta uma vez e ficam, outras se perdem e retornam a seus ouvidos... recentemente estava ouvindo a música Put your records on, de Corinne Railey Bay, do ano de 2006. 
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Put your records on - Corinne Bailey Rae. Imobilismo, movimento e homenagem a Bob MarleyCorinne, inglesa cujo pai é da ilha de São Cristóvão, cantora de soul músic, com uma boa formação musical, uma voz afinada, e uma música que evoca sentimentos de liberdade...
 Quando se analisa o refrão:

Girl, put your records on,
tell me your favorite song.
You go ahead, let your hair down.
Sapphire and faded jeans,
I hope you get your dreams.
Just go ahead, let your hair down.
You're gonna find yourself some where,some how.
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Put your records on - Corinne Bailey Rae. Imobilismo, movimento e homenagem a Bob MarleyNuma tradução livre, pode ser algo como assim:Garota, coloque seu som para tocar, me diga sua musica favorita, vá em frente, deixe seus cabelos soltos, coloque seu jeans desbotado, pois de alguma forma, você vai se encontrar... é como se o refrão dissesse, aproveite, não se preocupe tanto...

Bob Marley
No começo da canção, uma homenagem a Bob Marley (Three little birds, sat on my window), em homenagem à famosa canção Three little birds. (Aliás, Corinne gravou is this love, de Marley, o que mostra não ser por acaso a referência ao jamaicano), e num clima bem relaxado, esses pássaros dizem que não é preciso se preocupar, e se faz referência ao verão com cheiro de canela, as crianças brincando...
A partir daí, a música passa a fazer suas antíteses entre mudança e movimento, na medida em que as coisas mudam na medida em que parecem as mesmas, e que quanto mais você permanece o mesmo, mais as coisas mudam... o relativismo da imobilidade e da mudança  
Blog de musicaemprosa : Música em Prosa, Put your records on - Corinne Bailey Rae. Imobilismo, movimento e homenagem a Bob MarleyA personagem com quem o eu-lírico dialoga é instado a relaxar, mesmo havendo erros, mesmo com medo, é chamada a vencer a melancolia... o video da canção, com sol, paisagens abertas e bicicletas, é um convite à alegria e à felicidade, embora seja talvez mais interessante ouvir essa musica ao cair da noite... ou quem sabe, ao cair da madrugada. 
Música boa de se ouvir...

Fonte - musicblog